junho 25, 2005

Pela primeira vez em muitos anos, levantei-me cedo (não necessariamente por obrigação, mas especialmente porque perdi a capacidade para dormir até tarde) e fui à piscina com o meu pai. Já gozaram comigo, dizendo que me tornei numa menina exemplar. Mas não. Além do bilhete de borla, a boleia e a protecção (mesmo sendo desnecessária), esta manhã trouxe-me de volta algumas recordações. Eram coisas que odiava na altura e de que, mesmo passados muitos anos, não sei ainda se gosto. Estranhamente, o acto de recordar foi bom.


[...]Há muitos anos, as manhãs de Domingo estavam reservadas à ida familiar à piscina. Os meus pais ainda se divertiam com isso, a minha mãe preparava o lanche e íamos os quatro queimar os pés naquele pavimento que se transformava em fogo a partir das 11 da manhã. Não sei exactamente o que fazíamos lá mas sei que era divertido. A pior parte vinha depois. A hora do almoço dizia que tínhamos que voltar para casa e assistir ao Grande Prémio de Fórmula 1 da praxe. Isso era uma das coisas que estragava todo o fim de semana. Ainda hoje detesto a sensação de me deitar para a sesta, enquanto ouvia o barulho dos carros, em voltas aborrecidíssimas a um circuito fechado. Depois da sesta vinha a outra parte má: passear de carro, enquanto o meu pai ouvia os relatos de futebol do fim de semana. Parávamos em miradouros e abríamos as portas, para deixar escapar o tédio. Parece-me incoerente mas tenho saudades de uma coisa que sempre odiei [...]


Era cedo mas já estavam dois ou três madrugadores dentro de água, hoje. Pela primeira vez, naquela piscina, estendi a toalha numa espreguiçadeira e senti-me como uma turista num hotel de 5 estrelas. A água estava óptima, o sol estava indeciso. Chegaram os habituais miúdos, que jogam ao imita o dia todo e nunca se cansam. Eu só nadava, para trás e para a frente. O meu pai falava com velhos conhecidos, sobre o passado (claro!) e sobre o ano em que foi campeão de andebol (pensei 'O que mais não sei sobre ti, pai?'). Voltámos para casa, a hora do almoço tinha chegado depressa.
Eu sei que é um grandessíssimo cliché mas odeio a forma como todos temos que ser magros para ser bonitos. Mais do que nunca, tenho ouvido 'Tás gorda!' ou, na variante avós, 'Tás mais forte', o que é igualmente mau. Eu não comento o peso de uma pessoa quando falo com ela ou quando a encontro depois de muito tempo sem a ver. Eu posso saber que ela engordou/emagreceu mas isso é importante? Não, a não ser que seja um problema de saúde.


Será que as pessoas compreendem que não me estão a dar uma informação de última hora? Eu tenho espelhos, olho-me neles todos os dias, várias vezes por dia. Eu conheço o meu corpo e reconheço-lhe as fraquezas. Não preciso que me digam 'Tás gorda!' [ler num tom de quem tem pena de nós] como se estivesse com algum problema insolúvel ou realmente preocupante. Eu sei como o assunto é patético mas canso-me de pessoas sem nada para me dizer porque isso as obriga a comentar coisas que não lhes dizem respeito. Gostava mais que me dissessem 'Tás com um aspecto feliz!' ou 'Parece que estás de bem com a vida!' porque, ao menos assim, provavam que vêm para além de um bocado de carne.
... quando no emprego me dão o nome de guerra Tatiana Lopes e, imediatamente a seguir, me indicam o cacifo número 69, começo mesmo mesmo a odiar coincidências. Humpf.

junho 18, 2005

Entrei dentro do carro, já a sofrer por antecipação. Ao fundo da rua, há uma cratera imensa no asfalto guardada por polícias e bombeiros, todos param a ver (estas coisas lembram-me sempre do dia em que o mundo vai acabar). A tortura começa cedo, as calças colam-se às minhas pernas, sinto-me como se estivesse numa sauna finlandesa. Carros e mais carros por todo o lado e eu amaldiçoei-os a todos mais uma vez, a pensar 'Porque não tenho a estrada só para mim?', a tentar inventar uma lei que só me permita a mim usar as estradas. Já tenho a ponte nas costas e começa o pesadelo dos camiões mas só até àquele cruzamento onde comprei a rifa aos bombeiros na outra vez. Depois disso é recta atrás de recta, são buracos que nunca vão ser alcatroados, aldeias que são duas casas à beira da estrada. Quanto mais me aventuro no interior, mais quente é o bafo fora do carro (e dentro do carro e em toda a parte, na verdade, não há fuga possível ao calor). Já não há ninguém nas estradas, só há searas queimadas, velhos que se sentam nos bancos à espera que o calor vá embora mas só até amanhã que esta gente não sabe viver de outra maneira. A minha viagem é comovente, juro que é: dói ver como toda esta parte da terra vai sendo abandonada aos poucos - porque o calor é muito e o trabalho é pouco- e penso, de repente, como ia ser se um dia ninguém mais vivesse aqui? Não quero imaginar porque esta terra é minha. Quero-a, senão verde, pelo menos com gente que teima em ficar. Olho para trás, só vejo deserto

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com árvores, mas é deserto, não se enganem. Não há nada que cresça ali, nada que se coma ou que valha a pena. Sobram os sobreiros mas já nem eles conseguem acalmar o calor. Há bichos mortos na estrada (já não tinham vontade de viver no desterro, no calor insuportável, numa terra que fica sozinha aos poucos?) e há velhas sentadas nos degraus, vestidas de preto, com o olhar perdido nas paredes caiadas do outro lado da estrada, perdido naquilo que um dia foi e não volta nunca, nunca atrás. A lembrar o tempo em que podiam trabalhar e ir lavar a roupa ao tanque e a pensar como lentamente ficaram sozinhas na terra, benditas as nossas vizinhas! Depois chego àquela recta interminável, 15 kms de recta, 15 kms sempre, sempre em frente, 15 kms em que me canso realmente de conduzir. Já vai a hora avançada, sei que em casa já não há ninguém e eu ainda estou dentro do carro. A lutar para não me sentir imunda, coberta de suor, a tentar por a cabeça de fora e sentir a brisa... A brisa? Fora da janela, a minha cabeça está dentro dum forno, o ar é denso, quase que o podemos agarrar. Eu quero fazer esta viagem sempre mas não a quero fazer nunca mais. Dentro do carro, sei que as minhas raízes estão aqui, que nunca lhes vou conseguir escapar, que vou voltar sempre ao mesmo sítio, mesmo que para isso tenha que desafiar todas as regras da higiene. Eu gosto de ser desta terra tão pouco fértil, onde pastam as vacas mas só durante poucas horas porque o calor não as deixa mexer. Não posso renegar a minha origem, eu SOU esta terra. Muito mais quando ela me recebe assim


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A insuportável melancolia de ser alentejana

Aqui está uma lembrança da noite de Sto.António. Uma noite de ruas sobrelotadas, bifanas comidas à pressa e cerveja a preços oportunistas. Ainda assim, eram os Santos em Lisboa. Para matar algumas saudades à Polliejean :)

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junho 12, 2005

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Parabéns Franchicola!

[É por estas e por outras que depois o relógio biológico duma gaja se começa a adiantar...]

junho 11, 2005

Há mitos sobre as mulheres nos quais não me revejo minimamente, como as tardes a fazer compras até à exaustão ou essa mania assustadora da arrumação. Mas há coisas (de mulheres, ora) que sabem bem esporadicamente. Por isso, pus a minha irmã a trabalhar e recriámos uma autêntica sessão de manicura em casa, com direito a muita conversa e, especialmente, a muita gargalhada. O resultado foi este

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[Hoje é a festa de anos do Francisco, o pequeno ex-vizinho do lado. Faz hoje (aproximadamente) dois anos e três meses que descobrimos que ele vinha aí. Foi um anúncio tardio e mal recebido porque as circunstâncias não o faziam esperar. Depois de muita lágrima derramada, muita amargura mal disfarçada e um conformismo tardio nasceu este Francisco de olhos grandes, do tamanho da ternura que despertava em nós. Mesmo sem um homem a quem possa chamar Pai, ele é feliz. Porque é um bebé saudável mas, principalmente, porque só tem à sua volta gente que o ama profundamente. Parabéns Franchicola! As fotos seguem dentro de momentos.]

junho 10, 2005

É verdade que podia aqui escrever sobre tanta tanta coisa esta semana: das saudades que tinha de uma noite de Verão realmente quente; do post que longamente tinha preparado em Lisboa sobre um assunto nem por isso interessante; sobre mais uma incursão minha no fantástico mundo do trabalho, que me vai arredar das praias e dessas coisas chamadas férias; do frustrante que é ir a uma Feira do livro e sair de lá só com dois livros de cozinha (quem inventou tantos expositores devia ser castigado); de como há amigos sempre iguais; de como há amigos sempre diferentes; das notas que me fazem inchar de orgulho; da experiência louca e pegajosa que é conduzir durante três horas neste Verão (semi) antecipado; da fuga de mais uma amigo para algures na Europa (quem vai e regressa pensa sempre em voltar...); da festa de anos do meu amiguinho Francisco, a quem já comprei um livro para colorir e um conjunto de canetas (a mãe a avó não vão achar muita piada mas enfim...); da vontade constante de praia; dos albuns que quero tanto ouvir; nas saudades, sempre. Mas não. Vou é escrever qualquer coisinha sobre os Media em Portugal no século XX :S