junho 29, 2010

Sobre o cansaço

De autocarro da Estrela ao Saldanha. De metro do Saldanha à estação do Oriente. De shuttle da estação do Oriente ao hospital. De shuttle do hospital à estação do Oriente. De metro do Oriente ao Saldanha. De autocarro do Saldanha à Avenida de Berna. A pé da Avenida de Berna ao Campo Pequeno. De autocarro do Campo Pequeno a Campo de Ourique. De Campo de Ourique a pé para casa.

Acontece que me canso muito. Canso-me até a tomar banho ou a tentar fechar umas sandálias. Canso-me a estender a roupa e a fazer compras. Lavar a louça implica necessariamente uma dorzinha de rins. Dormir de lado há mais de seis meses é o suficiente para me dar cabo do sistema nervoso, especialmente agora que o bebé está grande o suficiente para também não me poder deitar de costas. Falta-me o ar em casa e no escritório e estou a contar que o leque me vá ainda safando de algumas. Ainda quase não há sinal de inchaço no pés ou nas mãos mas temo que seja coisa para ainda vir. Dizem «escadas» e eu ouço «pesadelo», só de pensar em chegar ao topo a deitar os bofes pela boca. Já não posso fazer nada à pressa simplesmente porque não consigo (se não acordar a tempo, chego atrasada ao trabalho porque não me consigo apressar) e começo já a considerar usar mais o carro. E bem, nem quero imaginar os três meses que faltam...

Mas, se é este o preço a pagar por sentir o meu filho em constante actividade na barriga, por senti-lo crescer e ao tempo a passar cada vez mais depressa, então eu alinho. Também só já faltam umas 2352 horas para poder cheirar o meu bebé e depois volto a dormir de barriga para baixo!

junho 27, 2010

Há festa no meu bairro!

O mundo, como sempre, é visto por ele.

Há rituais que se perdem mas, de tempos em tempos, há rituais que se tentam recuperar, com maior ou menos taxa de sucesso. É o caso ali do bairro, onde, se bem me lembro, anos houve em que não se passou rigorosamente nada nos meses de Verão, a não ser algumas iniciativas de rua (ou seja, da autoria dos moradores de algumas ruas em particular). Ultimamente, e a bem duma tradição comunitária, têm-se resgatado festas, passeios e bençãos bastante participados e que eu vejo como um pouco de cimento, solidificando as relações dentro da comunidade. Isto ainda me faz sentir mais contente porque o meu pai é também uma peça deste movimento e, quanto mais não seja, encontra ali algumas actividades que o mantém ocupado e integrado.

Long story short, já é suficientemente bom estar grávida para ter desculpa para comer tudo e mais alguma coisa que me apeteça. Agora, se acrescentarmos as festas com as açordas e as sardinhas,a s máquinas de gelados e os sacos de algodão doce, bem... Vocês percebem.

(ainda hei-de voltar à minha terra, não só para comer e beber, mas para sentir que contribuo e faço parte de algo importante. Adoro Lisboa, com todo o coração, mas há dias em que me cansa ser apenas mais uma cara desconhecida, incapaz de fazer a diferença e com tanta vontade de ver a minha terra não morrer)

junho 23, 2010

Não sei se já vos disse mas adoro recados!

(e se por acaso pessoas felizes e tranquilas vos aborrecerem, que eu sei que há muita gente que se enfada com a felicidade dos outros, é capaz de ser melhor não passarem por aqui nos próximos anos ♥)

junho 22, 2010

Cine-Lapa

Este fim de semana, em menos de 24h, vimos mais filmes do que nos últimos meses juntos. Quem ler isto, poderia até pensar que o bebé já tinha nascido e que as oportunidades já escasseavam mas não, ainda faltam uns meses até o Vicente nos deixar de castigo em casa! A verdade é que temos descurado esse hábito e agora, que o tempo melhora, já não temos muita vontade de nos enfiarmos numa sala de cinema durante horas. 

Vimos então (e por ordem): o 2012, sobre o qual me apraz dizer que já sonhei variados fins do Mundo com melhores efeitos especiais e com mais realismo do que aquilo e que aquela história de reconciliação familiar foi do mais previsível e menos credível a que pude assistir; o She's out of my league, que escolhi depois de ler a sinopse no blog do Pedro Mexia e pensar que corria o risco de ver uma versão do (500) days of Summer mas que acabou por me surpreender, cumprindo na perfeição os requisitos de filme de Sábado à tarde; e finalmente o novo Shrek, cuja saga continua a valer pelo Gato das Botas e pelo maluco do Burro, já que aquelas mensagens e fábulas subliminares me passam um pouco ao lado.

E enfim, não me agrada a ideia de ser pirata mas, tendo em conta o tempo livre que em breve vou ter nas mãos - totalmente patrocinado pelo Estado, portanto todos podemos imaginar a fartura que dali virá -, terei mais uma alternativa aos livros em espera, aos passeios pela Estrela, às manhãs de praia e às sestas que aí vêm. E, em a minha musa querendo, hei-de escrever um bom bocado - como nos velhos tempos. A não ser que a minha mãe tenha razão e o bebé me esgote o tempo para as palavras - not.

junho 20, 2010

O David tocou na Estrela!

 O meu par registou a belíssima luz de fim de tarde.

A temperatura ainda não subiu aos níveis que justificam a chegada do Verão amanhã mas temos que nos contentar com aquilo que a meteorologia nos tem para oferecer. Ontem demos um salto à Estrela, assim uma coisa rápida só para ver o showcase do David, também conhecido como Noiserv. O cenário não podia ser mais adequado para ouvir as composições intensas e melancólicas, o xilofone e a máquina fotográfica em loop, a timidez quase infantil do cantor: um fim de tarde fresco, com os raios de Sol a surgirem apenas a espaços sobre o palco inexistente e o público ainda encasacado, um espaço aberto para acolher este one man show. Estamos à espera do próximo EP, que vai estar cá fora em Julho!

junho 19, 2010

Sentir orgulho

Ontem levei o Vicente à festa de despedida da escola onde o pai trabalha e foi divertido. Apesar de todas as dificuldades, da inexistência de material escolar, de infraestruturas longe de perfeitas, das vidas difíceis dos meninos que frequentam a escola (muitos nunca viram o Tejo, apesar de viverem nos arredores de Lisboa...) e da zona problemática, é no mínimo inspirador assistir à actuação de professores e alunos juntos em palco, unidos na escassez de meios mas também na ideia de que com pouco se faz muito. Apesar das dificuldades, acho que pelo menos compensa saber que se pode fazer alguma diferença na vida daquelas crianças. E o melhor é que a minha pessoa preferida faz parte dum projecto destes, sem desistir, com determinação e vontade de fazer bem. Isto é caso para o Vicente nascer já todo inchado de orgulho! Mesmo que o pai tenha dado uns pregos no baixo...

junho 16, 2010

Ser o melhor do Mundo é simples

Basta trazer-me balões em forma de coração lá da escola. Às vezes pode não parecer mas sou uma rapariga fácil de contentar.

junho 15, 2010

Vicente: há seis meses a crescer na barriga da mãe! ☺

Esta semana, e apesar das imensas confusões entre meses e semanas que normalmente se estabelecem entre grávidas e o resto do Mundo, o Vicente completa seis meses na minha barriga. É um grandessíssimo lugar comum mas a verdade é que já senti tanta coisa desde esse dia de Fevereiro em que descobri que ia ter um filho... Confesso que os primeiros tempos foram extremamente difíceis: a juntar aos enjoos, às náuseas e à vontade incontrolável de dormir, o facto do bebé ser ainda minúsculo fazia com que muitas vezes o sentisse como um intruso. Foi difícil para mim aceitar esta mudança tão radical nas nossas vidas, mesmo sendo este um fruto do amor não planeado, tão desejado pelos dois. Vejo agora que tudo não passava da imensa algazarra hormonal que me controlava os humores e os apetites e que tornou este no Inverno mais longo e escuro dos últimos tempos.

Felizmente o primeiro trimestre acabou. Como todas as grávidas ouvi (e continuo a ouvir) de tudo: que os enjoos eram passageiros, que podiam demorar nove meses, que a barriga dizia menina, que preciso comer tudo o que me apetecer, que a barriga está pequena, que estou a rebentar... Ainda falta muito tempo até ao parto mas tenho a certeza que as pessoas ainda se vão esmerar nos palpites e mezinhas. E com o trimestre de ouro ainda a decorrer, comecei a experimentar a mais maravilhosa das sensações: sentir os movimentos do meu filho! Já se me acabou aquele medo irracional que alguma coisa errada poderia estar a acontecer porque pelo menos agora sei que ele está vivo e tenho sempre companhia a toda a hora, em todo o lado.

Começo agora a sentir os efeitos do peso a mais, da respiração cada vez mais pesada, da falta de posição para adormecer. E a minha barriga deixou finalmente de ter um tamanho e uma forma dúbia para passar a ser assumidamente de grávida. Já se abrem caixas de supermercado para eu passar e também já deixei de ter vergonha de ocupar os lugares reservados nos transportes públicos. O tempo passa depressa, eu sei, mas agora começa a crescer o desejo de ver a cara do Vicente e começar a trabalhar para fazer dele uma pessoa impecável. Esta semana lá vamos nós vê-lo mais uma vez e checkar se ele tem tudo a funcionar no sítio certo. A vida não tem sido propriamente fácil e as dificuldades prometem continuar mas que se lixe!, as férias permanentes estão quase aí para prepara a chegada do bebé. Se soubesse o que sei hoje, tinha embarcado nesta aventura mais cedo e, quem sabe, mais vezes!

junho 13, 2010

M. e os trabalhos manuais

 O pai foi responsável pelo making of.

Não sou propriamente uma pessoa com muito jeito para trabalhos manuais, é uma verdade. Isto é especialmente assim se os mesmos forem minuciosos e exigirem alguma paciência e muita atenção. Não foi exactamente o caso mas hoje vinha a caminho de Lisboa e ocorreu-me que quero fazer coisas divertidas com o meu filho, quero estimulá-lo e brincar com ele sem me lembrar que já lhe levo alguns anos de avanço. E se possível, quero fazê-lo rir, nem que seja por ter tido as ideias mais parvas e inúteis do mundo. É bem possível que, em parvoíce, eu o venha a bater aos pontos.

junho 10, 2010

O inferno são os outros

É verdade que tenho andado meio cega com esta história do Vicente: é tão maravilhoso senti-lo a mexer na minha barriga e ver que continua a crescer como manda o livro e imaginá-lo cabeludo e moreno cá fora que estava esquecida da facilidade com que me estragam um dia. Ora, se a pessoa que o fizer for ainda cobarde o suficiente para não admitir o que tem andado a esconder de mim, se preferir que seja eu a passar por incompetente e alguém mal formado, se já não lhe restar o mínimo de ética e seriedade, então é coisa para me deixar mesmo fora de mim. 

Certamente tenho muitos defeitos mas um deles não é, de certeza, ser mau carácter: com o passar do tempo, tenho aprendido a aceitar as minhas responsabilidades e assumir os meus erros sem vergonha. Agora, aquilo de que sou realmente culpada é desta infinita ingenuidade, esta vontade desmedida de acreditar que as pessoas não podem ser completamente más porque não acredito num mundo totalmente injusto. Acho triste e meio absurdo que as mesmas pessoas a quem vamos buscar algum conhecimento e até inspiração se revelem, tempos mais tarde, o exemplo mais podre da pessoa em que quem não nos queremos tornar. Sou cada vez menos uma people's person e tenho essa gente a agradecer. Mas enfim, as cambalhotas do meu  filho (caramba, dizer isto em voz alta é simultaneamente terno e assustador!) e a paciência da minha pessoa preferida não vão deixar que me torne numa pessoa amarga. É respirar fundo e colocar essa gente onde realmente merece estar: atrás das costas.

junho 06, 2010

A nossa vida enredada numa colina de Lisboa *

 Ele foi mais uma vez o repórter fotográfico de serviço.

Quando sabemos que a nossa ausência será curta, as despedidas são sempre menos dolorosas. Suportamos melhor os momentos finais, não tentamos prolongá-los além do emocionalmente aconselhável e confiamos mais no poder das nossas recordações. A noite de ontem foi especial porque não lhes dissemos propriamente Adeus, apenas um Até já que se espera mesmo breve.

Ainda não tenho propriamente o estatuto de groupie mas apenas porque o meu tempo não o permite. Gosto d'A Naifa o suficiente para ver o mesmo alinhamento todas as noites, plateia após plateia, com públicos entusiasmados e turistas que não sabem ao que vão, puristas do fado que talvez se deixem surpreender pelo Destino menos convencional de uma Mitó sem xaile negro ou uma guitarra portuguesa mais electrónica do que achavam possível. Sou suspeita por estas e por tantas outras razões: por achar aqueles pinheiros mansos da Praça d'Armas um cenário desarmante, por ignorar deliberadamente a noite fria de Junho, por ter ficado contente com um lugar mais atrás, por achar que talvez A Naifa estivesse já um pouco esgotada pelas emoções deste regresso e no final ter ficado, mesmo assim, deliciada com o último concerto da digressão. A Libertação, cantada a meias com Celeste Rodrigues, foi um momento absolutamente impagável de perfeita simbiose entre tradição e contemporaneidade. E perceber, no momento da despedida, que todos se abraçavam com o que parecia ser alívio e a sensação de que uma nova porta se abrira deixa-me tranquila porque a memória, essa, subsiste.

* A Naifa tocou ontem à noite na Festa do Fado no Castelo de São Jorge

Querido Vicente,

 Ele fotografa a nossa pausa sobre uma Lisboa de arraiais.

nunca hei-de conseguir esgotar os sítios e as vistas que te quero mostrar. Tenho muita vontade de vejas o Mundo com olhos de ver e que fiques tão esmagado pela beleza dos sítios como eu costumo ficar. Ainda tens a minha barriga entre ti e o Mundo mas eu tento levar-te pelo menos a sentir a paisagem. Ontem, levei-te (levámos-te) para os lados de Santa Luzia e estava um dia muito fresquinho de Junho. Os turistas apareciam de todas as vielas vindas do Castelo, demoravam-se pelos miradouros e faziam fila nas paragens do eléctrico. Era já o fim do dia Vicente, e apesar de algum cansaço, subi (subimos) contigo ao Castelo para ouvires mais música e não me admiro se um dia chegares a ser tão fã como a mãe. Fazer tudo contigo dá um sentido completamente diferente às coisas e faz-me sentir como se finalmente houvesse um propósito. Se continuares a ser um bom rapazinho, vemo-nos dentro de cento e vinte e um dias!

junho 05, 2010

Gostar do Verão *

 
Ele fez uma pausa para poder registar a minha satisfação.

Já andava (não andamos todos?) há uns tempos à espera disto. Com um Inverno rigoroso e longo como o último, é óbvio que o desejo de caracóis e sardinhas estava prestes a ultrapassar os limites do suportável. A desvantagem é apenas que nada disto pode ser acompanhado por uma mini bem fresca ou um copo de vinho verde - é que o Vicente ainda não bebe e assim continuará pelos próximos dezoito anos (!). Já tinha provado caracóis mas neste feriado aproveitei para juntar-lhes uma mão cheia de sardinhas que não me podiam ter sabido melhor. Pelo menos o peixe não me dá que pensar, já que a grelha já se encarrega de eliminar os potenciais inimigos.

O único problema deste Verão é que, exactamente quando chega o tempo em que as mulheres (e os homens, eu sei, mas com menos dramatismo) mais desejam estar em forma, as formas do meu corpo estão a mudar drasticamente. Antes, estava grávida, sim senhor, mas a barriga era discreta, muitas vezes imperceptível. Neste momento, a minha felicidade está à vista de todos, o que torna as idas à praia numa verdadeira luta entre o dispo e o não dispo. Não nego que é uma altura maravilhosa, especialmente agora que as cambalhotas do Vicente já são visíveis e pronunciadas mas também não posso ignorar que é necessário algum tempo, alguma paciência para tolerar estas mudanças e relativizar o que vejo no espelho. Impedida de correr e com apenas uma leve sessão de hidroginástica por semana, a única coisa que posso prometer é tratar bem de nós. As gorduras localizadas têm que se haver comigo no Outono.

* ou porque é que ultimamente há muitos posts sobre comida