tag:blogger.com,1999:blog-64210372024-03-07T08:24:58.199+01:00Borboletas na barrigaM.http://www.blogger.com/profile/11078905329178165263noreply@blogger.comBlogger1553125tag:blogger.com,1999:blog-6421037.post-69949285731717461632019-11-06T10:00:00.000+01:002019-11-06T10:00:07.049+01:00<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "helvetica neue" , "arial" , "helvetica" , sans-serif;"><span style="font-size: large;">Este blog despede-se da plataforma do Blogger e vai renascer noutro sítio.</span></span></div>
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<span style="font-family: "helvetica neue" , "arial" , "helvetica" , sans-serif;"><span style="font-size: large;"><br /></span></span></div>
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<span style="font-family: "helvetica neue" , "arial" , "helvetica" , sans-serif;"><span style="font-size: large;">Aqui deixo o meu legado de quinze anos, na forma dos arquivos, esperando que um dia os consiga reunir em papel.</span></span></div>
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<span style="font-family: "helvetica neue" , "arial" , "helvetica" , sans-serif;"><span style="font-size: large;"><br /></span></span></div>
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<span style="font-family: "helvetica neue" , "arial" , "helvetica" , sans-serif;"><span style="font-size: large;">Muito obrigada por terem estado comigo e, se quiserem continuar a acompanhar-me, podem fazê-lo <a href="http://www.borboletasnabarriga.net/" target="_blank">aqui</a>! </span></span></div>
M.http://www.blogger.com/profile/11078905329178165263noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-6421037.post-19052252304364504862019-04-24T14:28:00.000+02:002019-04-24T14:28:06.311+02:00Música para os meus ouvidos #2<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<img border="0" data-original-height="600" data-original-width="599" height="640" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjHtSty8dJz-3Wg0V0vBBA5sOZF8YDC6IfuYt1XbXKcPpklZ38gKdRtY9Trsq3pMLmOANgMp-2yYUXBSlmVd54DiCCUnkGKxpCXrf51qHohbea-laj2D8eSKz7eooWyGB01IR2Jsw/s640/IDEAL+CRASH.jpg" width="638" /></div>
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Vinte anos. Em 1999, eu estava no segundo ano da faculdade, saída de uma relação absurdamente tóxica e a experimentar finalmente o que era gostar e ser gostada a sério. Há vinte anos atrás, este disco fazia a ponte entre estas duas pessoas em extremos tão longínquos: uma insistindo em manipular-me e afogar-me nas suas mentiras, não deixando mais do que dor e uma espécie de ódio; outra mostrando-me o que era a liberdade de gostar, ensinando-me a poesia e restaurando o meu amor próprio. Há vinte anos atrás, ouvi no meu voicemail alguns versos duma música deste álbum, numa tentativa desesperada de resgatar um amor que já não existia. Mas também me deitei de sorriso na boca, sentindo que talvez não merecesse um coração tão acelerado enquanto compreendia finalmente o que era isso de amar alguém. Duas décadas, ainda me custa a dizer e a pensar nisso, duas vezes dez anos a dançar pela vida fora como no tal video da <a href="https://www.google.com/url?sa=t&rct=j&q=&esrc=s&source=web&cd=2&cad=rja&uact=8&ved=2ahUKEwjAxPr31-jhAhVPDOwKHeYCBMIQwqsBMAF6BAgIEAc&url=https%3A%2F%2Fwww.youtube.com%2Fwatch%3Fv%3DuyA01nH72NI&usg=AOvVaw0MTnKLy9UzoCqZiomaN53h" target="_blank">Instant Street</a>, a tentar (pelo menos) sentir <i>realmente</i> tudo o que faço, à procura da verdade, recebendo e aceitando prazer e dor em quantidades generosas, sem escolher. Tanto mudou desde esse ano, eu aprendi e mudei tanto, arranjei alguém com quem dançar de olhos fechados mas este álbum, estas dez canções carregam para sempre o peso dessas recordações: uma viagem de comboio a ouvir um conjunto de insultos gratuitos no meu voicemail, a súbita ideia de que talvez eu merecesse qualquer coisa diferente, o meu primeiro festival de Verão, as canções que cantei primeiro feliz e com as quais me isolei depois.<i><br /></i></div>
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<i>Of all of the fuckups that I do<br />I've saved up the best one for you<br />Heaven and moonshine, you gotta be kidding<br />You wanted to give it a try and I didn't</i></div>
M.http://www.blogger.com/profile/11078905329178165263noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-6421037.post-45072465499061485672019-02-26T13:49:00.001+01:002019-02-26T13:49:13.988+01:00Quatro anos de Malinha (como ela goste que eu lhe chame)<div style="text-align: justify;">
A nossa filha faz quatro anos hoje. A esta hora, há quatro anos atrás, já a tinha há muito nos braços e estava entretida a estudar-lhe aquela carinha inchada que parecia já vir zangada com o mundo. Não imaginava quão agitada seria a nossa vida nos anos que se seguiriam mas também não imaginava como iria gostar desta miúda, mesmo nos dias em que a sua missão é apenas uma: tirar-nos do sério. E olhem que são muitos os dias assim...</div>
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Hoje, Amália celebra o seu quarto ano de vida. É valente e, apesar de falar com algum receio de fantasmas e monstros, a verdade é que não tem medo de nada. Corre para todos os cães e gatos que vê na rua, perde tempo a estudar formigas e outros insectos que tal, admira os animais mais selvagens. Salta, trepa, atira-se como se o mundo fosse todo dela e, se por um lado sei que é porque ela não tem ainda noção do perigo, por outro sei que é a natureza dela. Ela é aventureira, audaz, ela quer experimentar tudo, parece querer engolir o Mundo duma só vez. O mérito não é nosso: é claro que a encorajamos a ser destemida e independente mas só ela sabe arriscar como se não houvesse amanhã.</div>
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É a filha do meio e isso vê-se bem, todos os dias. Tão depressa quer ser uma menina crescida como quer ainda ser uma bebé. Admira tanto o irmão mais velho e inveja um bocadinho do irmão mais novo, não se sabe para que lado se inclinará hoje. É irascível e doce: tão depressa me elogia (<i>Mãe, és tão bonita!</i>), como me proscreve do seu círculo próximo (<i>Já não sou tua amiga!</i>) apenas em alguns segundos. Diz muitas vezes que quer dar maminha aos seus filhos e, se a deixasse, ainda procuraria as minhas para se confortar. Parece que tem uma vontade gigante de crescer (<i>Mãe, quando é que vou ser uma senhora?</i>) mas logo se comporta como a menina de quatro anos que ainda é.</div>
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Aprende as coisas à velocidade e vontade dela. Sabe contar até doze em Luxemburguês mas emperra no sete em Português. Aplica-se em tudo o que faz e é capaz de se concentrar. Infelizmente, isto significa que também se pode concentrar nas birras que faz, o que origina às vezes mais de uma hora de choro e às vezes de gritos até chegarmos ao ponto de já não sabermos porque tudo começou. Quer mandar e impôr-se na escola e por isso talvez não seja muito popular. Se por um lado isto me parte o coração, por outro alivia-me saber que tem esta personalidade forte e só me resta esperar que a utilize para o bem. </div>
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Se antes dormia muito mal e quase me levava ao esgotamento com a privação do sono, hoje é normalmente a primeira a adormecer e não são raros os dias em que volto a entrar no quarto depois de os deitar e ela já ressona mesmo. Largou fraldas e chupetas no ano que passou, as primeiras naturalmente, as segunda fruto da falta de chupetas em boas condições em casa. Em ambas as vezes, ela provou que eu estava errada quando pensava que ia ser difícil ou que ela ia resistir: à parte de um choradinho a querer usar fralda e uma noite a choramingar pela chupeta, ela surpreendeu-me com o seu poder de encaixe e com a sua força.</div>
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Ela nasceu sem me dar a hipótese de pensar ou mesmo de uma anestesia. Ela vinha determinada, pequenina mas cheia de vida e assim continuou pelos seus primeiros quatro anos de vida. Apesar de muitas vezes eu não conseguir apreciá-la como ela merece no meio dos seus gritos e exigências, amo-a com todas as minhas forças e apenas espero estar à altura da minha missão: mostrar-lhe o caminho atribulado duma mulher nos dias que correm e fazer com que ela não se demova com nenhum obstáculo. E a continuar assim, o céu é o seu limite.</div>
M.http://www.blogger.com/profile/11078905329178165263noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-6421037.post-81732957065332556642019-02-14T11:28:00.004+01:002019-02-14T11:37:04.887+01:00Luxemburgo - Porto - Luxemburgo, pt. I<div style="text-align: justify;">
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<img border="0" data-original-height="1600" data-original-width="1600" height="640" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiqig2hApmkykqqBIs-VqZvnCv1g-hHXGhN4pfJzZXeBezPZ0jC-NjZ08a4DHrwhrBusZONVZYKYdR9GpaAuQJZdbO4po_630bvglY45ynBEZG7z78HXHxGtz7DSMpQTRVnAv92Xg/s640/AfterlightImage8.JPG" width="640" /></div>
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Aeroporto do Luxemburgo, dia um, nove da manhã</div>
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Às nove da manhã estava sentada frente a um café e a um sumo de laranja, a fazer tempo para a abertura da porta de embarque. Atrás de mim, dois homens falam numa língua incompreensível para mim, talvez sejam de qualquer parte dos Balcãs. Vão olhando para os monitores sem parar de falar ao telefone, cada um com seu interlocutor. No meio do discurso percebo que vão para Munique mas não compreendo mais nenhuma palavra.</div>
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Uma mulher pede para sentar-se na mesa onde outra espera o seu marido. Esta aceita com delicadeza e simpatia. O poder destes pequenos gestos tem ecos gigantes em mim e não posso evitar sorrir por uns momentos.</div>
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Deve ter aterrado um avião porque passam por nós pequenos grupos de homens de gravata e sobretudo. Trazem apenas o computador às costas, parecem vir só passar o dia. Às vezes parece-me absurdo mas há mesmo quem vá e venha todos os dias de Londres. Imagino que muitos devem estar a desbravar caminho para a mudança de Londres para o Luxemburgo.</div>
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É estranha a sensação de ir a Portugal e não ver os meus pais nem ir a Lisboa mas o tempo é curto e a viagem é de trabalho. Gostava de lhes dar um abraço e confortá-los um pouco. Não têm sido tempos fáceis: esta semana morreu-lhes um amigo, na semana passada uma tia. E eu aqui tão longe, a entristecer quando penso na distância. Para as coisas boas e para as coisas más, para as celebrações em vida e para as exéquias no fim.</div>
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Um hamburguer de alheira ao almoço, um polvo à lagareiro ao jantar. Se mais razões não houvesse, a comida far-me-ia sempre voltar.</div>
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Um escritório no décimo quarto andar, com vista sobre a foz do Douro. Poder trabalhar assim, em dias como estes em que não há uma única nuvem à vista, a luz sobre as secretárias, o Porto lá em baixo cheio de vida, é um autêntico luxo. Não vai haver tempo para visitas, nenhum turismo, a não ser durante o jantar. Mas nestas viagens acabo sempre a trabalhar muito mais ou pelo menos até bem mais tarde (porque não tenho ninguém à minha espera como em casa) e o dia termina sempre mais para o lado da exaustão.</div>
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Acabamos a primeira noite num Uber, sem muita vontade de falar. O carro cheira tão bem e está tão limpo e o motorista não diz uma palavra. Cada um entra no seu quarto de hotel, eu fecho as cortinas para poder dormir à vontade. E, hoje que posso dormir à vontade, rebolo na cama vezes em conta, com a sensação que pairo sobre o sono e que não estou propriamente a dormir. Já são horas de acordar?</div>
M.http://www.blogger.com/profile/11078905329178165263noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-6421037.post-69829619648188712712019-01-30T10:53:00.003+01:002019-01-30T10:53:50.809+01:00Aquela relação amor-ódio<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<img border="0" data-original-height="1600" data-original-width="1600" height="640" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhKXg3QLdCZ10HK3_awrchj0ujihCfidKQ3zJ3cmO7GGM6NlPeXculZkt9uiwRAYRRTzyT0HPZ2nC3e2NO-4QUW9kdsVwxHu7B4uGEmtus2GnpnlFePmr8w-en2wLakoa5KXa7_tg/s640/AfterlightImage%255B1%255D.JPG" width="640" /></div>
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<img border="0" data-original-height="1600" data-original-width="1600" height="640" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgdCrXbmye85zLbuMngP8rxVnrydqBrWYznVq1_VxGz_BMAN3H3OeeNhlVzJ4cHyBd-XHvliGT3QRw6oP_HRBvIeoCjmHYXmjnkzKPCflW_MeHDF8oWfefo2o7SEt4y6z5kCsja8w/s640/AfterlightImage.JPG" width="640" /></div>
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<img border="0" data-original-height="1600" data-original-width="1600" height="640" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEizy1LpPb1wRBSaHkz0XfXuRLycCF4XQ8JgfHZryNmvK1nI3g-YjhAghrJKrcjpn14E7Am9C1UpofghCjJILI9XYEAcPGIxUjZ-SwWc8CRuwMmnjmlx-0ZuirW42OJeHWf_e38d1Q/s640/AfterlightImage%255B2%255D.JPG" width="640" /></div>
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Odeio-a. Tudo bem, não vou negar que fico sensibilizada enquanto vou a caminho do trabalho e os campos estão brancos até perder de vista e há assim um véu místico a pairar sobre a floresta que ainda fica longe da estrada. E sim, é estranhamente satisfatório ouvir aquele <i>crunch</i> que os nossos pés fazem sob neve acabada de cair.</div>
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Mas depois há que equipar os miúdos a rigor: tudo cheio de fatos da neve, cachecol, as luvas de lã porque nos esquecemos mais um ano de lhes comprarmos umas luvas a sério, as botas para manterem os pés secos. Há que limpar, por lei, a entrada de casa edifício e todo o passeio à sua frente para evitar que alguém escorregue e tenha um acidente num pedaço da nossa propriedade. É pegar na pá gigante e no saco de sal, trabalhar no duro mesmo antes de irmos trabalhar a sério, raspar a neve do passeio e atirá-la para onde ninguém se possa magoar e finalmente espalhar o sal por todo o lado para garantir que não sobra uma réstia de gelo. Acaba-se a limpeza suando em bica, guarda-se o material até à próxima manhã mas depois é ainda preciso limpar o carro se queremos conduzir. É preciso calçado adequado e resistente e também é preciso que nos descalcemos antes de entrar em casa, sob pena de espalhar a água e o sal por todo o lado. </div>
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Dias de neve são dias de pegadas em todas as divisões da casa. São dias em que muitas pessoas desistem mesmo de sair de casa, embora eu nunca tenha visto nevar mais do que uns centímetros. São dias em que os engarrafamentos são intermináveis, em que se demoram horas para fazer meia dúzia de quilómetros, em que talvez tivesse mesmo sido boa ideia não sair da cama. Eu invejo o sentido prático das pessoas que vivem no Norte da Suécia ou na Finlândia ou na Sibéria: a vida tem de continuar e todas essas pessoas conseguem viver e trabalhar mesmo com temperaturas dezenas de graus abaixo de zero e nevões que realmente impactam a vida normal. Aqui, caem três centímetros de neve durante a noite e as pessoas subitamente transformam-se, como se fosse a primeira vez que conduzem com neve na vida.</div>
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É preciso dizer que, a par da paisagem silenciosa e branca, há apenas outra coisa que faz a neve valer a pena: os gritinhos de alegria dos miúdos no recreio da escola, enquanto a campaínha não se faz ouvir. A excitação era evidente e também na nossa casa se perguntou logo se não podíamos ir fazer um boneco de neve - óbvio! De resto, acordem-me quando já estivermos na Primavera.</div>
M.http://www.blogger.com/profile/11078905329178165263noreply@blogger.com2tag:blogger.com,1999:blog-6421037.post-91116243674084109832019-01-29T14:12:00.004+01:002019-01-29T14:12:47.949+01:00Eu e a música<div style="text-align: justify;">
Não me lembro de crescer numa casa onde se ouvisse muita música. Ainda restam alguns vinis lá em casa que provam que algumas canções se ouviram naquele gira-discos que sempre me pareceu gigante mas eu não me lembro de quais eram os cantores preferidos dos meus pais, por exemplo. Tudo o que sei sobre isso chegou mais tarde, talvez quando a música se tornou mais importante para mim e casualmente num tema de conversa lá em casa. Mas eu fazia os meus próprios concertos no quarto, usando o desodorizante (Vasenol, quem se lembra do formato?) como microfone.</div>
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Tenho talento zero para a música. Desafino quando canto, não tenho grande coordenação motora e não sei tocar nenhum instrumento. Fascinam-me as pessoas que compõem canções porque não consigo imaginar o que é inventar música e como se poder ter dentro de nós tantas canções diferentes. Não acho que haja um estilo melhor ou pior do que outro: só consigo explicar a minha adoração através da quantidade de emoções que uma certa música/banda me podem fazer sentir. </div>
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<br /></div>
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O poder que tem uma canção é incrível e tão mais imediato que um livro e tão mais disponível que um filme. Ouve-se uma canção de três minutos e parece que se abrem as comportas da nossas tristeza. Repete-se a mesma canção durante dias a fio: antes, era a cassete que se rebobinava vezes sem conta; hoje, o loop está à distância de um <i>repeat 1</i> - <i>click</i> e já está. Há canções eternamente ligadas a períodos específicos da minha vida. Há canções para cada desgosto amoroso e cada momento de superação. As pessoas de quem gostei têm a sua música, a pessoa que escolhi como marido tem várias. Aos meus filhos associo as músicas que ouvi quando descobri que eles estavam por nascer: não significa que fossem músicas escolhidas por mim, podia ser só aquele hit que estava a dar na rádio à saída da ginecologista. Os meus pais também têm as suas e a melhor cena é o meu pai ter como toque da minha mãe a <i>I was born to love you</i> dos Queen! A minha irmã vai ser para sempre as músicas que cantávamos em dueto em casa.</div>
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Já uma vez pensei que dificilmente ia ouvir mais música nova. Quando não tinha filhos, podia passar horas a pesquisar sobre novas bandas, novas canções, outros estilos. Comprei muito cds, gravaram-me outros tantos, fiz <i>mix tapes</i> que dei a pessoas de quem gostava muito, compus as minhas próprias cassetes de melancolia, recebi <i>mix tapes</i> pelo correio de pessoas que mal conhecia. Usei o <i>Napster</i>, o <i>eMule</i>, o <i>Soulseek</i>. Acumulei música em formato digital em quantidades industriais mas que conservo com aquele carinho de quem pensa que algum dia vai voltar a ouvir. Há anos que uso o Spotify e não consigo imaginar uma invenção maior do que ter toda a música disponível quando eu quiser. E agora, que os filhos me deixam muito lentamente voltar a ser um bocadinho da pessoa que era antes, começo a arriscar algumas coisas novas. O rádio liga-se quando se entra em casa e desliga-se quando os miúdos vão dormir. E agora que os miúdos se tornaram menos dependentes de mim, começo a nem hesitar quando anunciam os concertos aqui - é bilhete certo.</div>
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<br /></div>
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Posso não ser uma <i>expert</i> num determinado estilo de música ou não saber o nome de todos os membros dum banda de que até gosto muito. Mas há música para todas as ocasiões na minha vida, para todas as pessoas, para muitos dos meus sítios. Por isso, se se cruzarem comigo numa rua qualquer e eu estiver a sorrir melancolicamente, se calhar é porque uma música me apanhou de surpresa e de repente sou eu num <i>videoclip</i> qualquer.</div>
M.http://www.blogger.com/profile/11078905329178165263noreply@blogger.com3tag:blogger.com,1999:blog-6421037.post-82771549368653014062019-01-24T12:23:00.000+01:002019-01-24T12:23:20.656+01:00Música para os meus ouvidos #1<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
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<span style="font-size: x-small;">(Umas das coisas que mais tenho tido vontade de fazer é escrever sobre a
música que tenho escutado ou sobre o que tenho visto ou lido. Não com a
intenção de evangelizar alguém ou convencer da qualidade das minhas
escolhas mas simplesmente para escrever sobre o que estas coisas me
fazem sentir, pensar, imaginar. E por isso começo hoje aqui, com o álbum
que mais tenho ouvido nestes últimos dois meses.)</span></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: justify;">
<br /></div>
<span style="font-size: x-small;"> </span> <br />
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<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEi42WxoFGvnm1vsPb4P3C7hXqr7NkW9bUAY-0NH3S9FpQczHg7Xiy4wWYoDcEscKnDYvH8NLhRvjwvbFg8iqgevGm_Nz54_I-LYjmL7rw7tC4Kqfri6dnj72CF96hQUSdPavmhoDA/s1600/BOYGENIUS.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="1200" data-original-width="1200" height="640" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEi42WxoFGvnm1vsPb4P3C7hXqr7NkW9bUAY-0NH3S9FpQczHg7Xiy4wWYoDcEscKnDYvH8NLhRvjwvbFg8iqgevGm_Nz54_I-LYjmL7rw7tC4Kqfri6dnj72CF96hQUSdPavmhoDA/s640/BOYGENIUS.jpg" width="640" /></a></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Ouvir estas canções é dar comigo num carro, vidros escancarados, uma estrada interminável a meio de um estado americano, a paisagem a alternar entre os campos cultivados e aquelas formações rochosas dos filmes. Eu talvez fuja de qualquer coisa, talvez procure a cura para o coração que acabam de me partir, sem saber sequer para onde vou. O único plano é ouvir as canções delas até ao infinito. Eu sentada à janela num <i>diner</i> de beira de estrada, sem saber como acabar um prato de ovos mexidos sem que as lágrimas forcem a sua saída. Eu a atestar o depósito e a sentir-me mais sozinha do que nunca. Eu a trocar olhares com um estranho que acaba de deixar o motel onde hoje vou dormir. Eu a achar que sei tudo sobre a solidão. Eu a decidir que hei-de conduzir até chegar ao mar. Pequena cidade atrás de pequena cidade, manadas de vacas, cavalos selvagens, a imagem gasta do último <i>cowboy</i>, a imagem gasta do romance que já ninguém quer, que já ninguém procura. Talvez tenha visto demasiados filmes, talvez tenha escutado demasiada música triste, talvez, apesar de tudo, às vezes ainda viva demasiado virada para dentro. Mas depois elas cantam assim, depois elas aparecem com estas músicas que eu gostava de ter escrito e sabem tocar e parecem mais sábias do que eu. E às tantas eu só já quero prolongar a viagem e conduzir de olhos fechados.</div>
<div style="text-align: left;">
<br /></div>
<div style="text-align: left;">
<i> We had a great day I had a fever</i></div>
<div style="text-align: left;">
<i> Even though we forgot to eat Until I met you</i></div>
<div style="text-align: left;">
<i> And you had a bad dream Now you make me cool</i></div>
<div style="text-align: left;">
<i> Then we got no sleep But sometimes I still do</i></div>
<div style="text-align: left;">
<i> 'Cause we were kissing Something embarassing</i></div>
<div style="text-align: left;">
<br /></div>
<div style="text-align: center;">
<br /></div>
<div style="text-align: left;">
<span style="font-size: x-small;">(um <a href="https://www.google.com/url?sa=t&rct=j&q=&esrc=s&source=web&cd=1&cad=rja&uact=8&ved=2ahUKEwi6tdXspYbgAhVGXBoKHb6pD2kQwqsBMAB6BAgCEAQ&url=https%3A%2F%2Fwww.youtube.com%2Fwatch%3Fv%3DOS48Lp34Zic&usg=AOvVaw2UmR02WV5G7Zk6HPke5PMH" target="_blank">link</a> se quiserem também sonhar e outro <a href="https://www.wmagazine.com/story/boygenius-tour-interview?mbid=social_twitter" target="_blank">link</a> se quiserem saber mais)</span></div>
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<br />M.http://www.blogger.com/profile/11078905329178165263noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-6421037.post-54870512574857194412019-01-23T14:36:00.001+01:002019-01-23T14:36:39.546+01:00Viver com privação do sono<div style="text-align: justify;">
Normalmente são seis ou sete vezes. Com alguma sorte apenas duas ou três. Um que quer ir à casa de banho. Outra que quer que a tapem. Outro que nunca conseguiu dormir uma noite inteira. E quando acordo, especialmente durante o horário de Inverno, como ter energia para fazer desporto ou mesmo apenas para tomar banho?</div>
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Há oito anos que deixei de dormir como uma pessoa normal. Era rapariga para dormir até ao meio dia na minha existência pré-filhos e apreciava bem uma sesta a meio da tarde. Ainda hoje aprecio, só não consigo é dormir. Há oito anos nasceu o nosso primeiro filho, o primeiro a não saber nem gostar de dormir. Só o pai é que o conseguia deitar quando era apenas um bebé, enquanto eu chorava de desespero por não conseguir acalmá-lo, por um lado, nem conseguir dormir pelo outro. Li tudo o que havia para ler sobre o sono dos bebés, especialmente aqueles fórums de mães onde se encontram muitas soluções estapafúrdias mas também muita compreensão sobre o que é viver sem dormir. Nada funcionou com o nosso primeiro filho mas um dia foi ele a pedir-nos para ir dormir. Com quase três anos, e depois de muito sofrer com este hábito, acabámos com o leite durante a noite e ele acabou por começar a dormir bem. Mas nessa altura em que as noites começavam a ser mais calmas, nasceu ela.</div>
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Ela dormia muito pouco de dia e fazia-me desesperar porque eu nem podia tratar de coisas em casa nem podia dormir: tinha que tratar dela o tempo T-O-D-O. À noite, a coisa também não ia melhor mas o leite lá a ia acalmando. E acalmou até que a antiga pediatra me fez sentir como uma mãe quase negligente e ordenou que a menina não bebesse mais leite à noite. Foram precisas algumas noites de muito choro, de muitos gritos, da dor que é sentir que um filho está a sentir-se como se o tivessemos abandonado mas o milagre deu-se e ela começou a dormir. Só que exactamente nessa altura, pouco antes de ela comemorar os dois anos, nasceu o terceiro filho e aquele que pior noites dá.</div>
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Aos dois, ainda sou culpada de lhe dar leite durante a noite. Quem, como eu, vive com a privação do sono sabe que se faz o que for preciso para podermos voltar a dormir. A única coisa que evito é trazê-lo para a nossa cama - guardamos essas ocasiões para quando estão doentes. E portanto, aos dois anos de idade acabados de fazer, este menino ainda acorda de duas em duas ou de três em três horas. Agora somem-lhe outros dois filhos com as suas necessidades e façam as contas a quantas horas eu durmo por noite. Há oito anos, até me custa pensar.</div>
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Há dias em que me sento em frente ao computador, no trabalho, e nem sei o que estou a fazer. O despertador toca muitas vezes alguns minutos depois de ter conseguido voltar a adormecer, o que é claramente a pior sensação do mundo. Esqueço-me muitas vezes do que ia fazer a seguir, de preparar lanches nos dias de escola ou de fazer os sacos para a natação. Suporto dias inteiros de reuniões a baldes de café e a um esforço hercúleo para não cabeçear uma vez sequer. Estou sempre mas sempre cansada, não tenho vontade de sair de casa. Quero ler muito, ver muitas séries, tricotar até mais não mas acabo muitas vezes enfiada na cama logo depois do jantar, à espera do primeiro que irá acordar. Sinto muitas vezes, como na semana que passou, que mais dia, menos dia eu vou sucumbir a esta deficiência de descanso. Sinto que o meu corpo vai entrar em <i>shutdown</i> a qualquer momento. Tenho medo do que a falta de sono está a fazer à minha saúde em geral. Sonho as coisas mais bizarras quando finalmente consigo adormecer. E, sobretudo, entristece-me não ser capaz de estar mais presente ou de ter mais paciência quando estou com os meus carrascos do sono.</div>
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Às vezes, nos dias bons, consigo levantar a cabeça e imaginar que um dia os três vão dormir bem e que já nem deve faltar muito para que isso aconteça. Mas depois pergunto-me se alguma vez mais vou conseguir dormir como antes (e temo saber a resposta...). Nos dias normais, arrasto-me para o carro, multiplico-me em esforços para que o trabalho saia bem feito, às vezes consigo ver um episódio ou ler duas páginas depois do jantar. Já há muito tempo que desisti de tentar entender porque não dormem/dormiam eles mas juro que quando forem adolescentes sentirão o amargo gosto da vingança.</div>
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(muitas vezes tenho vontade de escrever qualquer coisa por aqui. Às vezes são ideias minhas, outras o resultado de pessoas inspiradoras, a vontade de regressar à ficção sem deixar de escrever as crónicas sobre o que conheço. E a verdade é que não é só a falta de sono que me impede mas o facto do meu tempo livre ser ocupado a tentar dormir ou a tentar fazer alguém dormir também ajuda. Este blog comemorará quinze anos em breve! Quinze anos é demasiado tempo para que eu simplesmente feche a porta sem olhar para trás. E é precisamente por de vez em quando eu espreitar este sítio onde a minha vida se fez palavras que não posso simplesmente dizer adeus. Estou a fazer figas para poder ouvi-los ressonar em uníssono e conseguir finalmente voltar a viver um bocadinho.)</div>
M.http://www.blogger.com/profile/11078905329178165263noreply@blogger.com4tag:blogger.com,1999:blog-6421037.post-85572582564026611502018-10-10T16:23:00.001+02:002018-10-10T16:23:24.655+02:00Twickenham, TW1 3QS<div style="text-align: justify;">
Um esquilo entre árvores e os miúdos de uniforme a correrem no intervalo. O esquilo a passar sem que ninguém o ouvisse e os miúdos a distribuírem pontapés nos outros e no ar. Quando é que aprendemos a ser tão violentos, é a pergunta que se repete na minha cabeça enquanto os sigo do alto dum oitavo andar em Twickenham.</div>
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Gosto de apanhar o autocarro para o aeroporto de manhã. O som da mala a arrastar-se pelo passeio ecoa pelas ruas vazias do bairro. Espreito os quintais bem arranjados enquanto não chego à paragem do autocarro, com aquela inveja inofensiva de quem não tem tempo (nem jeito) para ter um quintal assim. Se o dia estiver bom, ouço o pequenino a brincar no jardim da creche, digo-lhe adeus baixinho como se ele me pudesse ouvir. De há uns anos para cá, custam-me sempre a despedidas. Não passa um dia sem ouvirmos histórias de quem saiu e nunca mais regressou. Nestes dias, penso sempre que posso ser a próxima.</div>
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Meia hora de autocarro, atravessando a cidade. O entra e sai de gente normal: os senhores de gravata que saem nas instituições europeias, as senhoras da limpeza que já vão no segundo ou terceiro cliente do dia, os fumadores inveterados que apagam o cigarro quase já dentro do autocarro, os outros viajantes que tentam enfiar as malas onde incomodem o menor número de pessoas, mães que eu imagino em licença de maternidade tentando regressar à vida normal com o bebé pendurado no marsúpio.</div>
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No aeroporto, chego a tempo de entregar a mala, comprar uma revista e passar tranquilamente pelo controlo de segurança. É o aeroporto mais pequeno de onde já viajei e é fácil calcular chegar perto da hora de partida. Como uma sandes de queijo com tomate que fiz à pressa em casa. É a minha <i>nova cena</i>, sandes de queijo com tomate. Faltava a alface mas em casa ninguém quer comer alface. Sento-me e momentos depois sou rodeada por um grupos de pessoas que parece ir em turismo para Londres. Aparentemente são franceses e falam muito alto. Estão excitados com a viagem, dá para sentir.</div>
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Escolhi a fila número quatro, um lugar à janela. Sou uma pessoa ansiosa e quero sair depressa do avião. Um lugar vago entre mim e o outro passageiro, um daqueles golpes de sorte.Ele não tenta meter conversa (felizmente, é que sou péssima a fazer conversa de circunstância e às tantas fico demasiado auto-consciente e sem saber o que dizer). Uma hora e poucos minutos de voo e aterramos em Heathrow. Pego nas minhas coisas e saio em direcção à recolha de bagagens. Preciso levantar dinheiro e páro num multibanco antes de chegar à passadeira onde as malas do voo do Luxemburgo ainda não começaram a desfilar. Espero uns dez minutos e dirijo-me à saída, onde alguém me espera com um cartaz com o meu nome. É a segunda vez que me acontece e não posso evitar sentir-me uma pessoa importante, mesmo sabendo que não é o caso e que o motorista não tem outra maneira de saber quem eu sou.</div>
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Todos os motoristas que me conduziram em Londres nestes últimos tempos eram indianos ou, pelo menos, originários das ex-colónias do Reino Unido. Dois não me dirigiram palavra (além de confirmarem a morada de destino), um mal sabia falar Inglês mas ainda ensaiou umas perguntas sobre o Luxemburgo, a única mulher falou o caminho todo entre o escritório e o aeroporto. TODO o caminho. Contou-me sobre a escola dos filhos, sobre como é ser mãe solteira, como está cansada mas precisa de trabalhar para ir ver a mãe à India. Parece que vai adormecer a qualquer momento e está claramente deprimida. Penso como deve ser difícil viver aqui, correr para todo o lado, as filas de trânsito que nunca mais acabam e parecem avançar a conta gotas, contas para pagar, um mercado imobiliário à espera de colapsar.</div>
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Nos tempos livres do trabalho (hora de almoço e depois das seis) passeio por Twickenham. Descubro o rio ali mesmo ao lado, barcos cheios de alunos em escolas de remos, uma turista iraniana que me toma por espanhola assim do nada, céus azuis e temperaturas que habitualmente não associamos com o Reino Unido. Um hamburger num pub conhecido pelos adeptos do rugby, um jantar num italiano, sozinha à luz de uma pequenina vela, um almoço no Nandos a matar saudades do frango assado, uma bento box num japonês discreto, o meu fascínio parolo pelos supermercados dos outros países.</div>
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Gosto do silêncio das viagens de trabalho. Gosto de observar as pessoas no seu ritmo diário, correndo da estação de comboio para o trabalho, fazendo Facetime pela rua fora, de chinelos e gabardine, de todos os cantos do mundo. Gosto do silêncio do quarto do hotel, mesmo que ligue a televisão por uns minutos até sentir os olhos pesados e vá mudando de canal até me cansar. Adoro as pestes lá de casa mas é relaxante poder sentar-me para jantar sem dois deles berrarem como loucos e o terceiro continuar a provocá-los com parvoíces. Sinto saudades mas não há nada como aquele duche cedinho mas poder aproveitar o pequeno-almoço de hotel tranquilamente. Parece que trabalho mais quando mudo de escritório porque não há rotinas a cumprir depois ou antes do trabalho. Na próxima, se calhar apanho um comboio para o centro de Londres para matar saudades. E depois volto para Twickenham, onde apesar de ter anotecido, a vida parece nunca abrandar.</div>
M.http://www.blogger.com/profile/11078905329178165263noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-6421037.post-31684295916083297282018-09-29T14:26:00.000+02:002018-09-29T14:26:06.531+02:00Ao Vicente, que fez de mim mãe há oito anos atrásHá oito anos atrás, neste dia, nascia o bebé Vicente. Eu tinha feito uma carrada de testes de gravidez para ter a certeza de que vinha mesmo aí um bebé, estava a rebentar de felicidade e de pânico simultaneamente. Tantas fantasias e expectativas, tanto tempo para fotografar a barriga que crescia e pensar em nomes e adivinhar-lhe as feições. Era meio dia e quatro do dia vinte e nove de Setembro de dois mil e dez e numa sala de partos no hospital CUF Descobertas chegava ao mundo Vicente Mauricio Tavares, puxado por um par de ventosas e já a dar provas das sua teimosia.<br />
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O Vicente foi filho único durante quase cinco anos. Nesse período, vivemos os dois (pai e mãe) centrados nesta pessoa pequenina que não gostava de dormir, que fazia as maiores birras (mal sabíamos o que o futuro nos reservava...) mas que era doce e mimoso, que brincava tão bem sozinho, enfileirando os carrinhos casa fora, que coloria com entusiasmo e fora das linhas, que gritava quando via tractores e moto-quatros, que já gostava de livros e detestava trovoadas. Durante cinco anos, todo o nosso afecto era dele, a nossa atenção não era dividida, estávamos ali ininterruptamente mas apoiar nas noites em que não dormia, quando estava doente, quando mudou de escola. Por ele chorei quando me soube à espera do segundo bebé: então e se não fosse capaz de sentir o mesmo amor? E como se sentiria o meu menino, a dividir o seu espaço com um outro bebé, sem que a nossa atenção fosse toda dele?<br />
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Fast forward para os dias de hoje: Vicente tem uma irmã e um irmão que olham para ele com muito amor e admiração. É teimoso como a mãe e só descansa quando consegue o que quer (ou quase, que nem sempre se pode ceder às vontades deles). Chora quando lhe passa pela cabeça que vamos morrer (já disse que não queria morrer porque deixaria de jogar futebol, deixaria de poder comer gelados ou deixaria de poder fazer cocó...) e acha que nunca vai querer sair da casa dos pais (<i>Mãe, quero viver com vocês para sempre!</i>, diz ele, ainda desconhecendo as mudanças que chegarão com quinze, dezasseis, dezoito anos...). Está indeciso entre ser futebolista e piloto (de qualquer coisa, o veículo ainda não está definido mas talvez seja um avião, para que possamos viajar com ele e onde nos vai preparar refeições especiais, segundo ele). Quer começar a falar Alemão comigo em casa, fala Luxemburguês perfeitamente, vai retomar agora o Francês e percebe a maior parte do Inglês que ouve por aí. Tem uma grande necessidade de aceitação e, por isso, nunca quer ter caracóis porque esse não é o <i>cabelo fixe</i>. Quer pertencer a alguma coisa e por isso diz <i>Bom dia!</i> a viva voz a todas as crianças que encontra no caminho da escola. Sabe o nome de todas, mesmo que elas nem desviem o olhar do caminho. O que mais o aborrece são as coisas previsíveis e que deve fazer todos os dias: lavar os dentes, tomar banho, arrumar a mochila. Quer participar nas tarefas da casa: quer lavar a louça, faz birra para cozinhar, gosta de arrancar ervas daninhas ou tratar da relva, limpa a mesa depois do jantar.<br />
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Às vezes dá-me vontade de gritar, como quando exclui um dos irmãos das brincadeiras ou quando deixa o saco do futebol cheio de roupa suja no meio do corredor. Às vezes dá-me vontade de chorar de tristeza, como quando nos contou que muitos meninos lhe bateram ao mesmo tempo ou como não compreende só ser violento não é compatível com ser amigo. Mas na maior parte das vezes só me enche o peito de Amor, como quando me olha nos olhos e eu me lembro que ele foi o meu primeiro bebé, quando repete que me adora, quando quis casar comigo, quando o vejo a aprender tanto e a ter ainda mais vontade de aprender. O meu menino faz oito anos e daqui a bocadinho tem barba e bigode mas há-de ser sempre a minha primeira pulguinha.<br />
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(porra, como é que já tenho um filho de oito anos?! Aaaahhhhh...)M.http://www.blogger.com/profile/11078905329178165263noreply@blogger.com2tag:blogger.com,1999:blog-6421037.post-66830291099520206922018-07-20T14:24:00.002+02:002018-07-23T10:09:47.721+02:00O ano escolar está quase morto. Viva o ano escolar!<div style="text-align: justify;">
Não vou esconder o alívio quando, no próximo dia 10 de Agosto, terminar oficialmente o ano escolar lá em casa. O mais velho já terminou as aulas na semana passada mas os outros dois continuam, como de costume, na creche e só darei as hostilidades terminadas quando forem cinco da tarde do dia 10 e entrarmos finalmente em férias.</div>
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Vamos então por partes e comecemos pelo mais novo elemento da família. O Augusto começou na mesma creche da irmã em Setembro do ano passado. Naturalmente, e como é o terceiro filho, foi talvez a separação que menos me custou, embora tenha sido difícil na mesma. Afinal, ele é o nosso último bebé e deixá-lo numa creche foi reconhecer oficialmente que os primeiros meses estavam decididamente para trás. Como estava com a irmã, a adaptação foi menos penosa - para mim, claro, porque acho que ele não reparou em nada. Desde essa altura, acho que os dedos de uma mão chegam para contar as vezes que chorou quando lá o deixei. Normalmente corre para o colo de alguém, empina-se em cadeiras ou bancos ou sai disparado para explorar a casa de banho. É verdade que começa agora a demonstrar um pequeno mau feitio em potência mas foi sempre um bebé tranquilo e muito mimado pelas educadoras. Zero problemas durante o ano escolar.</div>
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Saltemos para o irmão mais velho. Terminou há uma semana a sua primeira classe. As notas aqui vão do A+ ao D e o menino Vicente terminou o ano na sua onda positiva, com um A como a nota mais baixa! Foi muito interessado, aborreceu-se umas vezes um bocadinho porque sentia que podia aprender mais coisas e que a escola não ia à velocidade dele. Como diria a professora, academicamente falando um ás, o pior é o comportamento. Provocou muitas vezes os colegas, talvez porque ter demasiado tempo nas mãos. Chorou umas vezes desconsoladamente e deixou a professora sem saber como o fazer regressar à realidade. Trouxe alguns recados para casa ("O Vicente não obedece e não ouve a professora", "O Vicente baixou as calças ao Leo", "O Vicente não queria trabalhar"). Levou raspanetes mas e eu o pai rimo-nos das coisas que escreviam porque também não esperamos que ele seja uma criança sem sentido de humor ou sem vontade própria. Preocupámo-nos com a possibilidade de estar a sofrer <i>bullying</i>, explicámos-lhe que os meninos que lhe batem dificilmente podem ser chamados de <i>amigos</i>, pedimos que também ele não se comportasse assim. Acabou o ano a saber ler e escrever em Alemão, a ler apenas em Português e algum Inglês, a saber contar o dinheiro e a ver as horas. Às vezes pergunta-me se eu acredito em Deus e como é que Deus conseguiu criar isto tudo e eu não sei muito bem como lhe acabar com essa inocência e como lhe dizer que não, não acredito. O meu primeiro bebé faz perguntas e pensa sobre o Mundo, não há muito mais que queira para ele.</div>
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E terminamos com a pequena <i>mademoiselle</i>, com o terror e a doçura lá de casa. Prepara-se para entrar em Setembro para a escola, para o que aqui chamam Prècoce (ou pré-pré-primária) com o seu feitio e atitudes peculiares. Fez-me sofrer grande parte do ano: todos os dias, quando os ia buscar, as educadoras desfiavam o rol de maldades que tinha feito às crianças da sala (e até mesmo ao irmão), como tinha deitado a comida para o chão, entornado a água sobre a sua cabeça, passado mais tempo na cadeira do castigo do que a brincar. OK, talvez não tenha sido assim todos os dias, mas certamente a maior parte deles. E nessa maior parte deles estava eu, cansada do trabalho, das noites sem dormir decentemente, com um bebé ainda a precisar tanto de mim, a tentar perceber o que raio estávamos nós a fazer mal e a pensar que ela tinha realmente um problema. Depois, como se tudo isto não chegasse, soubemos pelas educadoras que alguns pais, preocupados com os seus filhos, pensavam mudá-los de creche para estarem longe da Amália. Creio que não consigo descrever realmente como isso me fez sentir: posso, ainda assim, dizer que me senti uma nulidade como mãe. Que, mesmo amando profundamente a nossa filha, não conseguia encontrar desculpas ou motivos para o comportamento dela. Que fiz todos os esforços para compreendê-la melhor e amá-la ainda mais, porque era isso de que ela precisava. Que baixei a cabeça de cada vez que me cruzei com outros pais porque não sabia se eram eles os queixosos. Que os compreendo também e não posso ignorar como se deviam sentir magoados pelos seus filhos. No fim, foi o pai da Amália a deitar água na fervura como sempre faz e a fazer-me relativizar (sem nunca esquecer ou menosprezar a situação) toda esta angústia.</div>
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O ano escolar está quase a chegar ao fim e eu estou quase a respirar de profundo alívio. O mais velho avança, destemido, para a segunda classe. O mais pequeno liberta-se da sombra (mas também de uma certa protecção da irmã) e avança na creche. Ela começa a escola a sério, a escola em que os educadores não simpatizam muito com crianças muito activas, quanto mais com crianças teimosas, provocadoras e irascíveis. A educadora dela será a mesma que recebeu o irmão, há cinco anos atrás e que me disse algumas vezes que era muito duro lidar com ele. Agora, só tenho de me rir interiormente: ela não sabe o que a espera!</div>
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Ainda aqui estou. Parece mentira, passaram três meses desde a minha última publicação e pensei neste blog muitas vezes. Nunca estive tanto tempo sem escrever mas também nunca consegui decidir-me a acabar com este espaço que existe já há 14 (!!!) anos.</div>
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São três as razões que me afastaram do blogue. A primeira, e a mais óbvia também, são os meus filhos. Nós bem tentamos acreditar nessa de que quem trata de dois, também trata de três mas a verdade é que cada vez que adicionamos mais um filho à conta adicionamos também o tempo que passamos a tratar dele. São três banhos e três jantares, são horas de deitar diferentes entre eles, são uns menos birrentos e outros mais birrentos que não querem dormir/lavar os dentes/jantar no geral/vestir o pijama/mudar a fralda. Depois de deitados, ainda há os que cantam para acordar os que já dormem, os que batem com os pés na cama dos outros também para os acordar, o que não encontram posição, os que ainda querem mais um copo de água, os que dormem às mijinhas. Praticamente todo o tempo que tenho desde que chego a casa até que me posso sentar no sofá é dedicado a eles. E por isso muitas vezes nem vou ao sofá, passo directamente à cama...</div>
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A segunda razão para o meu afastamento chama-se trabalho. Veio disfarçado de promoção no mês de Março e deixou-me muito feliz porque foi o reconhecimento de algum esforço sem que eu precisasse de ter pedido alguma coisa. Não posso dizer que tenha exactamente sido surpresa, talvez apenas a posição em si ou uma ou outra condição mas senti que era o culminar de muito trabalho. Às vezes penso naquelas pessoas que trabalham mais de dez, quinze, vinte anos numa empresa e pergunto-me se alguma vez eu ia aguentar tal coisa. E de repente lembro-me que já trabalho aqui há seis anos, tantos quanto tenho de Luxemburgo também e que não penso mudar. Sinto que finalmente estou no meio de uma família, uma empresa que tem crescido a um ritmo alucinante mas em que as pessoas ainda se conhecem e sinto-me agradecida por todas as oportunidades que já me foram dadas aqui. Então, esta promoção trouxe esse reconhecimento mas também trouxe muito, muito trabalho. Sozinha durante quatro meses e agora finalmente acompanhada pela colega que voltou de licença de maternidade, vi-me a braços com todas as tarefas e todos os novos pedidos e a responsabilidade de montar um departamento do zero. Aqueles bocadinhos que tinha livres durante o dia e em que podia escrever aqui meia dúzia de palavras desapareceram: passei a ter apenas olhos para os meus ficheiros de Excel, a sentar-me nesta e naquela reunião, a pensar e repensar coisas novas.</div>
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Finalmente, os outros hobbies. Depois de passar todo o dia no computador, não tenho vontade de fazer o mesmo nos meus tempos livres e normalmente acabo o dia tão cansada que ligar o computador é coisa que nem me passa pela cabeça. Com a consciência de que não consigo chegar a tudo, comecei a preferir ler umas páginas antes de dormir. Ou fazer umas malhas em silêncio na sala. Ou ver algum episódio das séries que seguimos religiosamente. Ou a ouvir um dos podcasts que tanto me têm trazido. O ideal seria poder ditar o post e ele materializar-se aqui nem necessidade de escrever nem editar e por isso não se prevêem muitos posts para os próximos tempos.</div>
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E há ainda outra razão, que já confessei aqui noutras ocasiões: sinto que a minha opinião sobre coisas não interessa a ninguém. Não quero julgar decisões de outros pais, não quero falar de publicidade, muitas vezes esforço-me por me afastar da realidade feia e dolorosa lá fora e concentro-me no nosso pequeno e barulhento núcleo familiar. É tão fácil, hoje em dia toda a gente tem uma opinião sobre tudo, há especialistas em baixo de cada pedra, há quem tenha todas as soluções, há quem descreva com detalhe toda a sua vida. Eu aceito e até celebro a liberdade de expressão mas não quero fazer parte. E, como acho que a nossa vida não tem particularmente interesse, remeto-me muitas vezes ao silêncio. Partilho apenas fotos (onde entram os miúdos também, claro) com alguma frequência porque quero cristalizar esses momentos mas sem grandes histórias por trás ou sem extensas explicações. </div>
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Continuo a ler o que escrevem os outros, continuo a seguir famílias que conheço apenas virtualmente quando sinto que são partilhas genuínas, não encenadas. E tenho muitas, muitas saudades de escrever mas de certa maneira não sei sobre o que hei-de escrever. Não quero ser mais uma, não quero pertencer a nenhuma corrente, não quero criar uma realidade alternativa - apenas quero viver confortável na nossa realidade, ouvindo/lendo/vendo sobre outras famílias/pessoas que tentam fazer o mesmo, lendo livros em papel e em digital, procurando ouvir música nova aqui e ali, fazendo o jantar todos os dias ao som da Radar, não me deixando assustar pela quantidade de séries que há para ver, tentando ser positiva e não acreditando em tudo o que vejo/leio/ouço. E, talvez com um bocadinho de sorte, recuperando a musa e a vontade de escrever - noutro registo, quem sabe mas não perdendo a coisa que mais gosto de fazer na vida.</div>
M.http://www.blogger.com/profile/11078905329178165263noreply@blogger.com6tag:blogger.com,1999:blog-6421037.post-54393077262148297602018-04-09T10:14:00.003+02:002018-04-09T10:14:48.362+02:00FEM (Fiz Eu Mesma)<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<img border="0" data-original-height="1600" data-original-width="1600" height="640" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjjPutOLNVLaM2vWRVOQ9hHB_OdyEOrPi-HMFpRXuCvRALji1UYm_NydkNqqNsyhXvF5XWfYv1Ovlbr9lfefN-1vq8JREB7Q26C6MsM08yIcCq4qmBOv2XDiBMK4IxmjKC61uSsOw/s640/image1.jpeg" width="640" /></div>
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Não fiz nenhuma resolução de Ano Novo mas se tivesse feito seria simplesmente esta: aprender a fazer alguma coisa com as minhas próprias mãos. E, mesmo não tendo pensado nisso enquanto começava mais um ano, isso acabou por acontecer e eu comecei a aprender a tricotar.</div>
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Já tinha tido muita vontade no ano passado e até mesmo antes do Augusto nascer. Tinha comprado um kit (lãs, agulhas, instruções) para lhe tricotar um pequeno cobertor. Ia ser O cobertor do novo bebé, amarelo porque não sabíamos ainda o sexo e ele havia de se apegar ao dito cobertor e não poderia dormir sem ele. Mas entretanto aconteceu a vida e, mais do que isso, aconteceu que ele quis nascer um mês antes do tempo e eu não tive tempo de pegar nas agulhas. No Verão, ainda comprei mais material e esperava poder aprender com a minha avó mas não houve tempo para nos sentarmos com calma e para que ela me passasse esse conhecimento milenar. Voltei ao Luxemburgo desiludida comigo por não conseguir aprender sozinha e por deixar que o tempo leve sempre a melhor sobre todas as coisas que quero fazer. </div>
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Mas no princípio deste ano descobri <a href="https://www.mamieetmoi.com/en/">esta</a> associação (de que já falei <a href="http://borboletasnabarriga.blogspot.lu/2018/02/ainda-ha-aqui-gente.html">aqui</a>) e deu-se finalmente o click. Encontrei-me com a Miriam, uma americana que tem pouco de avozinha mas que tricota muito e bem, no café da Ouni (a primeira mercearia orgânica e sem embalagens do Luxemburgo). Começámos a sessão em Francês mas depressa mudámos para o Inglês em que ambas estávamos mais confortáveis. Partilhámos um pouco das nossas vidas (eu, três filhos e o caos que se conhecer; ela, sem filhos para poder viajar e fazer todas as asneiras do mundo) enquanto ela me ensinava o ponto mais simples do tricot (o <i>point mousse</i> ou <i>garter stitch</i>, em português não sei como se chama). Explicou-me o básico com muita calma, mesmo quando eu insistia em repetir o mesmo erro uma e outra vez, mostrou-me outros pontos, garantiu-me que mais mês menos mês estaria eu a tricotar sem ver, assegurou-me que o que era preciso era calma. </div>
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<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
E foi mesmo assim. Fiz muitas provas, fui tricotando amostras depois de jantar, quando o cansaço não era tanto. Depois aventurei-me na primeira peça a sério: um cachecol para o Vicente. Saiu horrivelmente mal (comecei com quinze malhas, acabou com vinte e três!) mas a minha primeira peça completa existia e o meu filho podia sair à rua com ela! Depois vieram os cachecóis para a Amália, Augusto, Mário e esta semana acabei o meu, o último da saga dos cachecóis. Pude treinar o mesmo ponto, aprender com alguns erros. Percebi que ainda preciso de olhar muito para as mãos enquanto estou a tricotar para não me esquecer de malhas ou fazer malhas a mais mas de cada vez que acabei uma peça enchi-me também de orgulho. </div>
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<br /></div>
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Nos entretantos, fui aprendendo coisas sobre a lã (a espessura, os banhos, o peso, a
matéria prima), sobre as agulhas (circulares, direitas, gigantes para as
camisolas, minúsculas para as meias), sobre os erros mais comuns,
sobre os diferentes usos para os diferentes pontos. Depois de compreender alguns conceitos base, abriu-se-me o mundo do tricot sem que esperasse. É que há muitos termos que não se usam em mais lado nenhum e isso fazia com que eu sentisse que nunca iria perceber nada daquilo. Não percebo tudo, não percebo muito mas já percebo qualquer coisa! </div>
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<br /></div>
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Por enquanto não sou perfeitinha e todas as peças que fiz denunciam ter saído das mãos de uma principiante. Mas o entusiasmo cresceu e muito. Eu finalmente percebi que não se pode tricotar bem à primeira, só com um par de meses de experiência. As pessoas que vejo tricotar bem fazem-no há anos e provavelmente com mais tempo para se dedicar a isso. Eu só tenho podido tricotar ao serão, quando as três pessoas pequeninas cá de casa já se deitaram ou às vezes ao fim de semana à tarde, quando estamos todos juntos a ver um filme. Conto expandir esta actividade para outros momentos do dia (sempre que esperar num consultório ou outro serviço, em viagens mais longas em que não tenha de conduzir, durante as férias) e aprender muito devagarinho antes de cruzar os braços e achar que não tenho jeito nenhum. Nas minhas buscas por tutoriais e ajuda, encontrei muita gente nova que tricota maravilhosamente, contrariando aquela ideia de que tricotar é coisa de <i>velhas</i>! Há tantos, tantos bons recursos online, há projectos colaborativos em que todos tricotam a mesma peça ao mesmo tempo, há bons livros também de gente que começou na internet, há sítios onde as pessoas se encontram para comer e tricotar ou simplesmente para conversar e tricotar! É mesmo incrível!</div>
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<br /></div>
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Tricotar veio ainda lembrar-me que muitas vezes não é possível aprender coisas de uma hora para a outra e que também existem actividades em que, mais do que o talento, o que conta é o empenho e, acima de tudo, a persistência. Oxalá consiga também lembrar-me que o mesmo também se aplica na vida...</div>
M.http://www.blogger.com/profile/11078905329178165263noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-6421037.post-34513823094449692452018-03-21T12:08:00.000+01:002018-03-21T12:08:04.970+01:00Seis anos de Luxemburgo!<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<img border="0" data-original-height="1600" data-original-width="1105" height="640" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgkcDBJGEphOk6Atrkz0RV94OtEQzDL3u6QLHNWrGNyV8uEcWrIYRoIOb55u1CTxtTYI-RXeitWIozl9pnGubAECuFZeq7dyfJOhiOi4hI4Rn3dt0i5kvEiRZIt3uxm-G3uRYKrVw/s640/Image.png" width="442" /></div>
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<span style="font-size: x-small;">(esta ilustração é da Julia Bres, que tem <a href="http://instagram.com/juliadebres">este</a> Instragam divertidíssimo sobre viver no Luxemburgo)</span></div>
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Há seis anos atrás saí de um avião e fazia muito frio. Tinha acabado de aterrar com um bebé de um ano e meio naquele que iria tornar-se o nosso país de estimação. Há seis anos atrás começou a nossa vida no Luxemburgo<span style="font-size: x-small;"><span style="font-size: small;">, este bebé tem quase oito anos e um irmão e uma irmã a fazerem-lhe companhia.</span></span></div>
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<br /></div>
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Quantos anos pensava ficar, quando aterrei? Não faço ideia mas acho que secretamente tinha a esperança de que fossem menos de cinco, talvez só um enquanto as coisas não se ajeitassem. Eis que passaram seis anos e não estou a ver o fim desta vida luxemburguesa, embora pense sempre muito no que seria voltar a ter a nossa vida portuguesa. Se tivesse de escolher uma razão para que esta nova vida valesse a pena, seria apenas uma - os nossos filhos. Se não tivessemos emigrado, provavelmente teríamos só um Vicente para contar a história, que a vida lá não dava para mais. E depois nunca ia conhecer a rainha das birras e das doçuras, nem o príncipe da tranquilidade que estava cheio de pressa em chegar.</div>
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<br /></div>
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Estes seis anos foram, obviamente, os mais intensos da minha vida: muito chorei, muitas saudades me apertaram a garganta mas, principalmente, muito aprendi e isso não tem mesmo preço. Voltei a falar Francês e a dar uns toques no Alemão; descobri uma empresa em que sempre me senti em casa, mesmo quando as coisas não davam para isso; fiz coisas para as quais nunca estudei e outras a que já estava habituada; conheci gente de todo o mundo, confirmei e desfiz estereótipos, desiludi-me e surpreendi-me muitas vezes; não fiz muitos amigos, é verdade, mas sinto que a minha integração ainda está a acontecer e esforço-me por fazer parte desta sociedade.</div>
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O dia da nossa chegada aqui desfez-se um pouco na minha memória. Lembro-me da viagem com os meus pais para o aeroporto e do tristes que estávamos todos, com dificuldades em falar. Lembro-me de tentar suster o Vicente sossegado e adormecê-lo no avião enquanto ele se debatia como um louco. Lembro-me de sair do aeroporto e o dia estar cinzento e de soltar umas lágrimas no caminho para casa. Depois disso tanto, tanto aconteceu! Mudei de emprego, mudámos de casa, pari dois filhos em hospitais diferentes e sempre sozinha, fui muito feliz, chorei muito com a vontade de regressar a Portugal, fizemos muitos planos que concretizámos e ainda mais que continuamos a adiar. Ninguém me vai devolver estes anos que passo fora do meu país, longe da minha família e dos nossos amigos. Ninguém me ajuda a recuperar os nascimentos que perdi, as festas a que não pude ir, as mortes que não pude chorar. Mas é assim mesmo a vida e eu estou grata por termos tido esta oportunidade, mesmo que nos custe pensar no que deixámos para trás.</div>
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Nem de propósito, a minha chegada ao Luxemburgo coincidiu com a chegada da Primavera, com tudo de bonito que essa analogia pode trazer. E hoje está mesmo um dia de Primavera à Luxemburgo: gelado mas com um sol radiante, para me lembrar que não, não podemos ter tudo ao mesmo tempo. Resta agasalharmo-nos bem e fazer o melhor deste dia tão luminoso. É como na vida, também.</div>
M.http://www.blogger.com/profile/11078905329178165263noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-6421037.post-1099364723475244372018-03-15T13:59:00.001+01:002018-03-15T13:59:26.943+01:00É uma casa cheia!<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<img border="0" data-original-height="1600" data-original-width="1600" height="638" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjcuocu8arqtTImh9O2ZYB_bDRltctHMPL9LON4pvXFbXz6l2B-_g9BOeAohh17cYddqE5tdjWtjqzDoT0Rt4aUDEgqtC4QFC3lN4rR4wO1GU5DFyxlifAuVBDdPTniLeGZ7-S5ig/s640/handcratfs2.jpg" width="640" /></div>
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<img border="0" data-original-height="1600" data-original-width="1600" height="638" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjgUDc0F7y9iXgkYORJ3b7NbKPymakgTjuWsxuZ59pfVUzEu2I5dWNdG3lv1fmQbwt_rqVIm_bP__5sCXtvM1ItheP_WJ1Jenu8waatu8cSahDMPHGRoHn_uXqmBZAPhr2KrEHA-Q/s640/handcratfs3.jpg" width="640" /></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<img border="0" data-original-height="1600" data-original-width="1600" height="638" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiYK7dTZI_NV-i4Xly65kIscHoVim-P4QE_vRrhyphenhyphenf-CQ4v3a8x1YcVBjcCAl1ArYQ8b756D-e3Ihl6RusGW2y7GGyGwqMSo9v35GUHOdns9NgoHW3Nhf7LS6TaDLFjbkhX3iMuorQ/s640/handcratfs.jpg" width="640" /></div>
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Talvez a coisa que mais ouvi desde que temos três filhos seja a frase "É mesmo uma casa cheia!". Parece que a opinião geral de ter uma casa cheia é sempre muito positiva mas eu acho que é porque estas pessoas não têm que intervir a cada cinco segundos, ou para evitar que uma irmã estrafegue o mais pequeno, ou para evitar que o mais velho roube as coisas à irmã do meio, ou para evitar que a irmã do meio dê conta dos outros dois. É divertido, é, mas é extenuante na mesma medida e há uns cinco anos que a única coisa que me apetece fazer depois de jantar e metê-los na cama é - justamente - enfiar-me na cama também.</div>
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Cada família é diferente, eu sei, mas eu tendo sempre a comparar-nos com as famílias com crianças sossegadinhas, que não armam birras por absolutamente TUDO, que respondem com calma e atenção às nossas tentativas de argumentar e chamá-los à razão. É mais forte do que eu, mesmo que eu o combata todos os dias. É inevitável pensar muitas vezes "Mas o que é que eu estou a fazer mal?". Penso-o várias vezes ao dia, quando estou com os miúdos e não consigo dois minutos de sossego. Mas na verdade eu sei qual é a maior causa dos nossos problemas: com o Vicente, ele era só um. Tinha-nos aos dois concentrados nele a cem por cento, havia tempo para actividades e trabalhos manuais e mesmo assim ele fazia aquela birra ocasional. <i>Fast forward</i> para os dias de hoje: os filhos ultrapassam-nos numericamente, não há atenção que chegue para pessoas de sete, três e um ano, há uma rapariga que tem o feitio mais exasperante que já vi na minha vida, há um bebé que está literalmente a aprender a fazer tudo, há um irmão mais velho que, de vez em quando, se ressente e quase pede para voltar a ser bebé. Colo há sempre para os três, cabeça para parentalidade positiva é que está mais escassa.</div>
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Com três filhos, há que repensar o espaço que necessitamos para eles. Não só para dormir ou brincar mas também para guardar todos os desenhos, cartões, colagens, recortes, fotografias e demais trabalhos manuais que vão fazendo ao longo dos anos. Com um filho, ainda se arranjava um espacinho para expor as suas obras de arte. Com dois, a coisa ficou realmente mais difícil. Quando o terceiro começar a artes manuais, o melhor mesmo é mudarmos de casa para alguma que dê para manter um pequeno museu! </div>
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Mas há mesmo coisas muito boas quando se tem três filhos. Quando eles se controlam e chegam mesmo a brincar os três - o que aconteceu para aí uma vez, para ser honesta - é delicioso de se ver. Quando encontram uma brincadeira divertida e se riem a bandeiras despregadas, é maravilhoso de se ouvir. Quando se preocupam uns com os outros, quando parece que não sabem viver sem os irmãos, o coração acelera. Quando tomam banho juntos (e não estão ocupados a esvaziar a banheira), é incrível ver o nosso ADN a chapinhar todo junto num sítio tão apertadinho. Quando estão todos a dormir (podia brincar e dizer que é a melhor parte do dia...) e eu ouço as suas respirações tranquilas, sinto-me com toda a sorte do mundo. De vez em quando, no meio das queixinhas, dos gritos, das rasteiras e empurrões, das birras inexplicáveis, dos sonos a que às vezes todos parecem querer resistir, sinto que estamos a fazer um bom trabalho. Vejo-os a rir, saudáveis, a formar a sua personalidade, a progredir na sua educação, a desenvolver a empatia e a sua relação com os outros e, durante alguns minutos, tudo parece estar no seu lugar. Até que um grito noutra divisão me desperta do sonho e vou a correr separar mais uma disputa pela coisa mais banal e desinteressante que temos em casa. Casa cheia sim, monotonia é que nunca mais!</div>
M.http://www.blogger.com/profile/11078905329178165263noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-6421037.post-15344624413501871552018-03-01T16:15:00.000+01:002018-03-01T16:15:11.408+01:00Três anos do doce furacão Amália<div style="text-align: justify;">
Amália celebrou o seu terceiro aniversário na Segunda que passou. Como seria de esperar, houve muito choro e muita birra mas também aquela doçura de menina e aquela insistência chata de querer tudo em cor de rosa.</div>
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Às vezes penso (mesmo a sério) que ela veio ao mundo com o objectivo de me educar a mim e, em última instância, de me atazanar tanto o juízo que começo a ver tudo vermelho. Passámos estes últimos dias com os meus pais que, mais uma vez, puderam comprovar que ela chora por tudo e por nada: não quer acordar, não quer ficar na cama, não quer um vestido, não quer calças, não quer leite, não quer sopa, não quer ver bonecos, não quer ver <i>estes</i> bonecos, não quer lavar os dentes e, mesmo para acabar o dia, não quer dormir.</div>
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É a filha do meio e é mulher, ainda por cima, dizem-me por aí. Eu compreendo esta coisa do filho do meio ser meio esquecido: o mais velho já se desenrasca sozinho; o mais novo ainda precisa de nós para tudo. O filho do meio precisa e não precisa, tudo ao mesmo tempo. Mas a necessidade de atenção desta pequena Amália é tal que uma pessoa fica fora de si. Várias vezes por dia. Ora passa o dia a cuspir, ora bate em todos os colegas da creche, ora aperta o pescoço do bebé com os seus abraços descuidados, ora arranca das mãos do irmão mais velho tudo o que ele consegue apanhar. Foge quando queremos mudar-lhe a fralda, exige cuecas para fazer chichi nas mesmas segundos a seguir, salta na cama quando os dois irmãos já adormeceram.</div>
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Talvez a minha luta seja porque ela é mulher e eu lido mal com os constantes desafios. Respiro fundo muitas vezes e tento dar aos seus comportamentos a importância que realmente merecem mas depois de minutos a fio de choro descontrolado, de gritos e inflexibilidade, a coisa dá-se. Como outros miúdos, de manhã não quer ficar na creche e à tarde não quer ir para casa. Às vezes não quero acordar nem regressar a casa para não me deixar abater por aquilo que muitos chamam personalidade forte e eu chamo apenas teimosia pura.</div>
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Mas Amália é uma doçura também, com aquela ingenuidade de uma menina de três anos que me pergunta se o passador serve para caçar borboletas. Não pode ver-me a chorar que chora ela também por solidariedade. Não pode passar sem o seu 'Centinho (quer saber onde está, quando regressa da escola, se também vai dormir) para o bem e para o mal. Ri-se de tudo o que ele se ri, imita-o em tudo e segue-o pela casa fora. No outro dia, fez o seu primeiro puzzle pela primeira vez e ficou super orgulhosa. Desenha muito melhor do que o irmão com a mesma idade e faz tudo com muito mais cuidado do que o irmão: com três anos, quase pode tomar duche sozinha.</div>
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Não herdou a feminilidade da sua mãe, infelizmente. Mas chega a casa e só quer vestidos de princesa, tudo deve ser cor de rosa, quer o laço e os sapatos da Minnie. Gosta de fios e pulseiras, quer cremes como gente grande e anda a chatear-me para furar as orelhas. É um balanço muito curioso entre todas as coisas de meninas e dois irmãos que não estão obviamente para aí virados. Amália tanto joga à bola como está pela casa varrendo o chão, divide a atenção pela Princesa Sofia e pela Patrulha Pata - no fim, guarda o melhor de dois mundos.</div>
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Eu sei que me queixo muito dela. Eu examino as minhas reacções e reconheço que talvez dê demasiada importância às coisas más em detrimento de todas as coisas boas que a nossa filha faz, traz e é. Muitas vezes o cansaço não ajuda nada. Muitas vezes há um irmão que precisa de ajuda nos trabalhos de casa e outro que precisa de colo para acalmar os dentes que aí estão. E ela está no meio, a precisar do mesmo colo, a precisar que cantemos com ela ou que nos sentemos a ver um livro com calma. E eu sei que os outros também precisam de mim mas o meu compromisso é também com ela, para que ela nunca se sinta posta de parte e perca, finalmente, este síndrome de filho do meio.</div>
M.http://www.blogger.com/profile/11078905329178165263noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-6421037.post-7043203558413951702018-02-19T15:48:00.000+01:002018-02-19T15:48:01.396+01:00(ainda há aqui gente)<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<img border="0" data-original-height="1600" data-original-width="1600" height="640" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiOv4wB8SqrSynbe3snP7-_WdbT1K5p08WeomABzFUZi3SoxHbpelgjOiEJfjcA5f-gTeFioRW9pcsW0z-8ZYsyixPT85YWvmPv9nfvErGOBURI458g6QS6B7uF3qynRMfJqkMtzg/s640/IMG_4633.JPG" width="640" /></div>
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<img border="0" data-original-height="1600" data-original-width="1600" height="640" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjMDeD4JD337c-zEN-0b7EB8s_RPV-bCv8-kvF2CQUMesz-Ax7rax554xAj2dawnI5kx0dM7LnV7jkjtxJFUyLihf0ibNjMPgseSf3e_DWpRkc2kI57nGMXkEoj6jquogDAvB4Neg/s640/IMG_4537.JPG" width="640" /></div>
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<img border="0" data-original-height="1600" data-original-width="1600" height="640" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEh4Hf7cEMxBe9tbXQUb13fjTqXtzkWCeY8o-4_ApOZZZEHxRc3tkNtDjMYD-q80Ozyf3WIZ_QewJBc4HZT9IXP8gwLjz9KB-hvsFidP_KSdnDhyUICIhKYAMTBdq-rbhs8etx9Z_A/s640/IMG_4550.JPG" width="640" /></div>
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<img border="0" data-original-height="1600" data-original-width="1600" height="640" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgybCvr8ecYziwq-AT7Hd3W7Rm7eOAS1BVgu0BqqpyMzB3YbtFxp4COTulFkUlINFKsTdFm6SrA7gVwJw4LN93MoZ-lEdReok0XdxqIzY39UUHKk_XyrlHGIrs1eM7qVSl2J7HgGA/s640/IMG_4600.JPG" width="640" /></div>
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Ainda aqui estou. Muitas vezes sem vontade de escrever/dizer nada porque sinto que não tenho nada de interessante para dizer/mostrar. Muitas vezes sem qualquer tempo para rabiscar meia dúzia de palavras, dividida entre o trabalho cada vez mais exigente e os filhos a precisarem um olho a toda a hora.
Tem feito muito frio por aqui, mais do que no ano passado (se a minha memória não me falha).</div>
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<br /></div>
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Já nevou bastantes vezes mas nunca assistimos assim a um daqueles nevões de parar tudo. Neva, a neve transforma-se em gelo pouco tempo depois e o Sol depois encarrega-se do resto. Acordamos, levantamos as persianas e está tudo branco, sempre sem aviso e sem se fazer avisar. Quando está a nevar, parece que o silêncio se torna ainda mais dominador. Os miúdos têm brincado na neve nas respectivas escolas e nós saímos só um dia para ver a paisagem fora da cidade e levá-los a enfiar os pés em alguns centímetros de neve. Sair de casa nestes dias é um exercício contra a minha natureza, condicionada por anos a viver nos Invernos frios e molhados de casa e por aquele reflexo imediato: está mau tempo, o melhor é nem sair. E como eu sei que estar ao livre ia ajudar a passar o tempo (estas três pequenas feras precisam de muita actividade para não se concentrarem a implicar uns com os outros constantemente). </div>
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Foi Carnaval e este ano os mais pequenos tiveram direito a dois disfarces diferentes, um novo e um herdado do mais velho. Além dos disfarces, o pequeno Augusto começou agora a vestir a roupa que era do Vicente e isso ajuda muito. A Amália teve direito a muita roupa nova (quase toda, diria) por ser menina. Espero que as coisas não tenham passado muito de moda depois de sete anos mas a verdade é um irmão mais velho ajuda muito. E então sapatos!, nem vos conto quantos têm herdado os miúdos da altura do Vicente. Ter apenas um filho resultava naquele luxo de nos podermos concentrar apenas nele, comprarmos tudo apenas a pensar nele. Agora chegou a altura desse luxo compensar! </div>
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<br /></div>
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No trabalho, as coisas continuam a mudar e neste momento não me sobra nenhum momento para nada que não sejam os projectos que tenho em mão. Antes, encontrava momentos de acalmia de vez em quando, podia respirar fundo antes de me atirar ao próximo cliente. Agora não dá: há imensos relatórios para entregar, ha outras responsabilidades totalmente novas para mim, há um poder de decisão que ainda não tinha experimentado. E aconteceu-me a melhor coisa possível: deixei de trabalhar em equipa porque a minha equipa sou eu! Sim, eu sei que nas entrevistas de trabalho toda a gente diz que adora trabalhar em equipa mas será isso mesmo verdade? Eu cá sei é que é muito mais excitante depender apenas de mim para alcançar os objectivos, não ter que fazer esforços suplementares para compensar o resto. E atenção que eu adorava a minha equipa anterior, mesmo. Mas esta posição fora de uma equipa trouxe-me mais entusiasmo e mais realização. Se calhar descobri uma das minhas vocações: organizar a informação que temos à disposição. À semelhança do que sinto em casa, também agora sinto um prazer em organizar e preparar a informação de forma a ajudar a empresa a entender como correm as coisas nos diferentes mercados. Gráficos e tabelas tem sido comigo e acabo sempre ogulhosa dos relatórios que construo. É parvo, eu sei, mas faz com que acordar de manhã seja menos um sacrifício e mais um novo prazer. </div>
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<br /></div>
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Entretanto, no pouco tempo livre que me sobra, comecei a tricotar. Primeiro, tive um aula com alguém já experiente (este projecto <a href="https://www.mamieetmoi.com/">Mamie et Moi</a> é espectacular e recomedável para quem, como eu vive no Luxemburgo e quer aprender a tricotar) e depois comecei a praticar depois do jantar, quando os miúdos já estão deitados. Ainda estou muito no início da coisa mas já tenho planos para fazer três cachecóis para os miúdos com o ponto mais fácil. Depois, a ideia é voltar a ter uma aula, aprender mais pontos até conseguir aventurar-me em verdadeiras peças de roupa. Sonho com o dia em que consigo fazer roupa para os miúdos, não precisam ser muitas peças, até pode ser só uma peça daquelas essenciais para cada estação mas feitas por mim. Tricotar sabe-me bem porque é uma actividade tão repetitiva que me acalma, ao mesmo tempo que me entusiasmo a ver as peças a crescerem. Portanto, os meus bocadinhos livres são divididos entre o tricot e a leitura, mas a verdade é que estou muito atrasada para atingir o meu objectivo de leitura deste ano (24 livros.. ufff.. estou bem longe). </div>
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<br /></div>
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E agora resta-me esperar que esta semana passe depressa: os meus pais chegam Sábado para passar uns dias connosco e matar saudades dos miúdos. Nós, por sua vez, vamos poder respirar um pouco, quem sabe mesmo jantar fora a dois, aliviados com um pouco de ajuda. Isso e os planos para as férias deste ano têm ajudado a manter a cabeça à tona deste Inverno que tem sido escuro, cinzento e muito frio. Daqui já me vejo deitada ao Sol...</div>
M.http://www.blogger.com/profile/11078905329178165263noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-6421037.post-66392525680199693422018-01-19T08:54:00.000+01:002018-01-19T08:54:04.526+01:00Augusto, um ano (cheio) de vida<div style="text-align: justify;">
Há um ano atrás, perto da uma e tal da manhã, senti qualquer coisa que não devia estar a acontecer mas estava: as águas tinham rebentado. Ainda faltavam cinco semanas para a data prevista para o nascimento daquele bebé, não era possível que ele estivesse a querer ver o Mundo já. Num pânico controlado, liguei para a unidade de ginecologia e perguntei o que devia fazer naquele caso. <i>Venha com calma para o hospital</i>, disseram-me do outro lado da linha, <i>mas venha</i>. A mala ainda estava meio por fazer, enfiei meia dúzia de coisas de que precisava lá dentro. Acordámos os miúdos, que dormiam tranquilamente, enfiámos-lhes os casacos e gorros e botas e lá fomos os quatro para o hospital.</div>
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Fazia muito frio, nessa noite, como aliás nos dias que se seguiram. O M. ligou, sem querer, as luzes de nevoeiro porque não estávamos com o nosso carro, tínhamos um emprestado da oficina. Quando estamos mesmo a entrar na auto-estrada, um carro da polícia a fazer-nos sinais e eu já a pensar naquelas situações nos filmes em que a senhora grávida já vai aos gritos dentro do carro. Eu não gritava e eles queriam apenas alertar para o facto de não haver nevoeiro... Luzes apagadas, voámos até ao hospital.</div>
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Fui vista pela parteira de serviço, que ligou à minha médica para a avisar. Segundo ela, podiam passar semanas antes do trabalho de parto começar, por isso era melhor que eu me dispusesse a aguardar calmamente... mas no hospital. Levaram-me para um quarto às escuras, onde já dormia uma grávida de risco, tentando evitar o seu parto há já algumas semanas. Fazia muito frio porque estava uma janela aberta. Eu estava doente, devia ter uma laringite ou qualquer coisa do género e tremia debaixo dos lençóis. As contracções tinham começado e eu, moderna que sou, descarreguei à pressa uma aplicação para perceber a sua frequência e intensidade. Pelas minhas contas, o parto não devia estar longe. Pelas contas da enfermeira da manhã, não havia sinais de trabalho de parto no monitor fetal. Mas ela via como me contorcia com dor e, para não arriscar um nascimento ali no quarto, mandou-me para o bloco de partos. Passaram duas horas, um animal dum anestesista e muitas palavras de encorajamento de parteiras e médica - eu tinha mais um bebé, sozinha, sem o abraço do pai. Eu gritava <i>O que é, o que é?</i> e só depois de alguns segundos me disseram que era um rapaz e eu soube que tinha nascido o Augusto.</div>
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O resto já se sabe. Nascido com 35 semanas e 3 dias, o Augusto precisou de ir para a Neonatologia, embora tudo indicasse que era saudável. Passaram-nos brevemente pelos meus braços para que o beijasse antes de entrar na incubadora e eu senti-me mais sozinha que nunca. Parir um bebé e depois não ter bebé nenhum ao meu lado abriu um fosso no meu peito que só foi alargando com todas as horas que passei sem o ver no primeiro dia. Acho que o curei quando pude passar duas horas inteiras pele com pele, no escuro da Neonatologia. Deitados os dois, só a <i>estarmos</i>, a aprendermos a ser mãe e filho, o meu instinto de protecção a gritar milhões.</div>
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<i>Fast forward</i> para hoje. O Augusto comemora o seu primeiro ano, que, como sempre, passou incrivelmente depressa! Dos nossos três filhos, é talvez o mais bem disposto e bonacheirão. Como os outros, precisa de muito colo, muitos beijinhos, muitos abraços. Dá-se bem com toda a gente menos com o seu pediatra, apesar da sua gentileza e empatia. Como os irmãos, faz um ano e só dormiu duas vezes a noite toda. Se não pararem de lhe dar de comer, ele não pára de comer. Mexe em tudo o que está ao alcance dele (só na semanas passada conseguiu partir duas garrafas de vinho, <i>mea culpa</i>...), sabe o que é dançar, bater palmas e dizer xau. É o nosso último bebé e por isso custa mais sentir que o tempo avança sem piedade. Vou aproveitar muito que ainda o posso esborrachar com beijos!</div>
M.http://www.blogger.com/profile/11078905329178165263noreply@blogger.com2tag:blogger.com,1999:blog-6421037.post-25593655265776533722018-01-03T15:16:00.001+01:002018-01-03T15:16:54.973+01:00Olha, já estamos em 2018!<div style="text-align: justify;">
Quase um mês. Quase um mês sem ter tempo ou (muitas vezes) paciência para escrever uma linha que fosse. Quase trinta dias a ter rascunhos de posts na cabeça, a imaginar inícios e títulos, a pensar se fazia sentido escrever sobre isto ou aquilo e depois nunca me sentar para o fazer. É duro ser mãe de três, é verdade, mas o que é verdadeiramente duro é dormir (muito mal). Com a rotina (banhos, pijama, jantar, acordar, roupa, escola/creche) dou-me eu bem. O que não suporto é a falta de sono. E eis que, quase chegados ao primeiro ano completo do senhor Augusto, ainda não se dorme a noite toda nesta casa. Não vou descrever outra vez o suplício, embora agora sinta que a exaustão aumentou mesmo exponencialmente.</div>
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O mês de Dezembro não vai deixar saudades. Primeiro foram os rapazes com gastroenterite, coisa leve mas ainda assim de estar vigilante. Depois foi a pequena que com tanta, tanta tosse acabou por ficar internada na clínica pediátrica durante quatro dias para poder receber o oxigénio que tanto lhe faltava. Depois fui eu a cair com a gastro, enquanto tomava conta dela no hospital. Ela teve finalmente alta, eu melhorei e eis que as -ites voltam a atacar: eu com um ataque monstruoso de sinusite, ela com duas otites mesmo acabada de sair do hospital. Frequentei mais as urgências da clínica pediátrica e alguns médicos do que alguma vez imaginei possível. Não foi nada de grave, é claro, mas a sucessão de doenças e o facto de eu ter adoecido ao mesmo tempo que eles acabou com as minhas forças. Cheguei mesmo a chorar de desespero quando os deixei na creche um dia por alguns minutos: ela cheia de dor de ouvidos, o pequeno com alguma tosse mas eu a precisar que um médico me visse e me medicasse. Quando pensarem que a vida de emigrante é muito linda, pensem também como seria se não tivessem <i>ninguém</i> para vos ajudar - nenhuma família, poucos amigos, ninguém para ficar com os miúdos enquanto vocês mesmo tratam da vossa saúde. Foi a pior semana dos últimos tempos e rezo para que esta combinação de doenças nunca mais volte a acontecer.</div>
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Ainda conseguimos ir a Portugal. Foi a primeira vez que fomos de carro nesta altura do ano e, meteorologicamente falando, não foi horrível. Para lá, o primeiro dia (atravessar França de uma ponta à outra) é extremamente difícil para mim mas mais leves para os miúdos; o segundo dia passa num instante para mim e numa eternidade para eles, que estão realmente fartos de estarem presos no carro. No regresso, atravessamos Espanha sem grandes queixas e chegamos a Bordéus com alguma tranquilidade; o segundo dia é o pior, pela extensão do caminho e o humor dos três pestinhas. Nada que não se faça e felizmente as más memórias apagam-se depressa, é engraçada esta nossa capacidade. Um pouco com a memória do parto: agora estás a maldizer a hora em que resolveste engravidar, nos minutos a seguir só já pensas naquele pequenino ser que ajudaste a vir ao mundo e nada mais importa. Chegados lá, a melhor prenda que Natal que pudemos ter foi tempo para respirar, oferta da nossa família, claro. Ao ficarem com os miúdos sempre que possível, ajudaram-nos a esquecer a semana interminável que tínhamos acabado de passar (esta não foi tão rápida de esquecer, infelizmente). Viemos carregados de presentes para os miúdos, de Sol e temperaturas invernais agradáveis, a respirar melhor mas também com aquele bichinho de poder voltar à nossa casa. A um quilómetro da fronteira com o Luxemburgo, um nevão a parar o trânsito porque estas pessoas nunca conduziram na neve e não sabem como se comportar...</div>
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E finalmente terminou 2017. Eu cá não dei por nada porque, costume desde que a Amália nasceu, estava a dormir. Quer dizer, acabei por saber quando tinha chegado a meia-noite graças aos inúmeros foguetes e outros espectáculos pirotécnicos que se faziam ouvir um pouco por todo o lado. Mas o sono era tanto que não fiz questão de estar acordada e, já que não tínhamos planos com mais ninguém, jantámos todos juntos (depois de um dia dos demónios fechados em casa), eu e o marido bebemos uma garrafinha de Esporão e depois acabou 2017 para mim. Já perdi a fé nas resoluções de Ano Novo mas há uma coisa que gostava mesmo que mudasse neste novo ano: gostava de ter mais paciência para os miúdos. Gostava de os entender melhor e, sobretudo, de vê-los como as outras pessoas os vêem: curiosos, livres, divertidos, inteligentes. Passam-se noites em que penso no que é que estou a fazer mal e sei reconhecer que muitas vezes estamos demasiado cansados para prestar toda a atenção necessária a cada um deles. Eu sinto que estamos a tentar fazer o melhor mas também que a coisa estoura muitas vezes por <i>dá cá aquela palha</i>. Tenho esperança de poder dormir mais este ano e, descansando um pouco mais, espero poder não me irritar por tudo e por nada. Não prometo mas gostava de chegar aqui no final do ano e riscar o meu únido desejo para este ano. Acrescento apenas mais um, de que me lembrei agora mesmo: gostava de aprender a tricotar mas as minhas tentativas até agora dizem-me que talvez tenha que ficar para uma próxima encarnação!</div>
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De resto, desejo a todos que ainda lêem este (muitas vezes moribundo) blog um Feliz Ano Novo! Espero que vos traga aprendizagem, tempo, paz de espírito e muito amor. E, já agora, algum dinheiro, que uma viagem ou dois ou três livros não se compram sozinhos!</div>
M.http://www.blogger.com/profile/11078905329178165263noreply@blogger.com4tag:blogger.com,1999:blog-6421037.post-5823597674846584792017-12-06T11:06:00.003+01:002017-12-06T11:06:35.333+01:00“A single person is missing for you, and the whole world is empty.”<div style="text-align: justify;">
Há dois dias acabei de ler o livro mais triste de que me lembro. Chama-se <a href="https://www.goodreads.com/book/show/7815.The_Year_of_Magical_Thinking" target="_blank"><i>The Year of Magical Thinking</i></a> (O Ano do Pensamento Mágico em Português), escrito pela jornalista e escritora Joan Didion. Quando peguei no livro, não sabia muito bem ao que ia. Já o tinha visto recomendado por algumas pessoas com quem partilho os gostos literários mas não estava preparada para o enorme murro no estômago que foram estas duzentas e poucas páginas de não-ficção.</div>
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O livro centra-se no ano que se seguiu à morte do marido de Didion, John Dunne, e em que a sua filha estava também internada em coma após uma pneumonia e um choque séptico. É o retrato de uma mulher sozinha, apenas acompanhada pelas muitas memórias de quarenta anos de vida em comum, dividida entre fazer o luto pelo marido e acompanhar a filha no hospital. É um relato brutal da dor mas principalmente das maneiras como ela tenta enganar-se a si mesma com o tal <i>pensamento mágico</i>: se ela fizesse muita força, se ela, por exemplo, guardasse os sapatos do marido, talvez ele não estivesse realmente morto e ainda pudesse voltar. Didion tenta evitar todos os sítios onde criaram memórias os dois (ou os três) mas descobre que até as mais pequenas coisas têm o poder de despertar memórias sobre as conversas, as discussões, as promessas, os planos que tinham feito, quase sempre trabalhando lado a lado. E depois há o facto da filha estar em coma aquando da morte do pai (acabou, tragicamemente, por morrer também em 2005) e de isso ter, de certa maneira, adiado o luto, tão necessário, quanto inevitável.</div>
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Não sou muito boa a lidar com a morte. Ninguém é, dirão vocês e com razão. Muitas vezes penso nela - não na minha mas na dos que me são próximos - e choro antes de dormir. Noutras vezes, não consigo compreender como pode a vida ser só isso, umas dezenas de anos sobre a Terra, uma passagem breve e totalmente desprovida de sentido. Há noites em que percebo que o Mundo como o conhecia está a desmoronar-se lentamente e que vamos ver mais e mais pessoas de quem gostamos ou com quem tivemos algum tipo de relação a ir também, sucumbindo à implacável passagem do tempo. Noutras ocasiões, penso na tristeza de (um dia) deixar de ver os meus filhos e imagino a tristeza que isso também lhes trará e isso dói. Sinceramente, nada faz sentido porque não acredito na vida depois da morte. Então vir ao Mundo, crescer, aprender, trabalhar, amar - é tudo um desperdício de matéria.</div>
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Mas devo dizer a verdade: na maior parte do tempo não penso na Morte. Na maior parte do tempo, é como se fôssemos todos imortais e não me consigo aceitar a ideia de que o nosso destino é todo o mesmo. Na maior parte do tempo, não penso em agências funerárias, em atestados e certidões, em termos médicos incompreensíveis, em coroas de flores e velórios, no vazio que são aqueles primeiros dias após. Na maior parte do tempo, tento convencer-me que tudo aceitarei, que nada me magoará, que serei capaz de tudo sem chorar. Não vou ser capaz, eu sei. Todos morremos, não precisam lembrar-me. É a conclusão esperada desde sempre, claro que sim. A vida continua, com um bocado de sorte. Mas nada me preenche esta sensação de vazio, de escuridão e de inutilidade quando penso nos porquês.</div>
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(às vezes há períodos assim, cheios de Morte. Para mim, foram as noites a ler o livro. Depois morreram o João Ricardo, o Pedro Rolo Duarte, o Belmiro de Azevedo e o Zé Pedro. Há pessoas a morrerem em ataques terroristas no Egipto e no Iemen. Há colegas de trabalho que morrem ou a quem morre alguém. E no meio disto tudo, num rasgo de puro egoísmo, eu penso: quando é que me vai tocar a mim?)</div>
M.http://www.blogger.com/profile/11078905329178165263noreply@blogger.com3tag:blogger.com,1999:blog-6421037.post-45342954692885747622017-11-13T13:30:00.000+01:002017-11-13T13:30:00.146+01:00#metoo<div style="text-align: justify;">
Este é um post que queria não escrever mas não posso ficar indiferente àquilo que se tem passado nos últimos tempos. Refiro-me, claro, às acusações de assédio sexual, violência ou puro comportamento misógino de muitas figuras públicas que têm vindo a público depois de muitas mulheres ganharem a coragem de (finalmente) falar.</div>
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Para mim, a questão fundamental é que este tipo de comportamento não se verifica apenas em posições de poder: está, literalmente, por todo o lado e às vezes vem mesmo de pessoas que estimamos e que julgamos imunes. Não me choca mais saber que o Harvey Weinstein, por exemplo, usou o seu poder para abusar de mulheres à procura de um lugar na indústria cinematográfica do que me choca saber que as mulheres estão sujeitas a este tipo de abuso todos os dias, na rua, nos seus locais de trabalho, nos sítios onde se vão divertir. Não me interessam apenas os nomes sonantes que se vêem agora envolvidos nestes escândalos, mas também os abusadores anónimos que provalmente nunca serão denunciados e, pior ainda, nunca compreenderão o efeito que têm sobre uma mulher.</div>
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Eu sofri na pele este comportamento misógino durante tantos anos da minha vida. Talvez até ganhar o poder sobre quem me pode magoar e deixar de prestar atenção a este tipo de abusos. Desde ser gozada por ter uma voz grave e, logo, pouco feminina; não encaixar nos padrões de beleza das miúdas de 12 ou 13 anos e ser gozada por isso; quase ser agredida por um rapaz numa festa (cheguei mesmo a ter a minha cabeça debaixo do braço dele e fui salva de um murro por um grande amigo, que infelizmente ganhou um olho negro) só porque não estava interessada nele e queria apenas dançar; terminar uma relação cheia de abusos e traições e nos dias seguintes ter o voicemail cheio de mensagens de ódio gravadas pelo ex-namorado, melhores amigos dele (incluindo uma mulher), confirmando a necessidade da minha decisão; apanhar um táxi para voltar a casa à noite e ter um taxista a perguntar-me repetidamente <i>E se eu agora a levasse para um sítio escuro, sem ninguém ver?</i>, como se isso fosse uma brincadeira; clientes que me perguntaram se não havia um homem para os atender porque não se sentiam confortáveis com o meu nível de experiência - muitos mais exemplos teria para dar, como creio que outras mulheres, anónimas e muitas vezes impotentes, devem também ter.</div>
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Em parte, sinto que cheguei a um ponto da minha vida em que este tipo de agressões (quase todas apenas verbais, felizmente) deixou de ter importância para mim e consigo simplesmente continuar a minha vida. A minha auto-estima deixou de se construir pela validação que buscava nos outros e passou a ser totalmente dependente apenas de mim. Aceito os meus defeitos e vivo especialmente bem com os defeitos físicos porque não são eles que me definem. Mas a verdade é que elas condicionaram a mulher que eu era e ainda continuam a ferir muitas mulheres por aí. Este tipo de comportamento não é exclusivo de um país, uma faixa etária, nível de escolaridade - está disseminado e, mesmo que muitas vezes abafado pelo silêncio das vítimas, bem vivo. E o único defeito desta movimentação toda, destes relatos (muitas vezes já antigos) é que vem tarde.</div>
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Mas ponhamos de parte tudo aquilo que se passou conosco e façamos a pergunta que se impõe de seguida: é este o Mundo que queremos deixar para os nossos filhos? Eu espero que a minha filha nunca tenha que passar pelo mesmo, que nunca veja a sua auto-estima destruída por um homem abusador, que saiba sempre de onde vem <i>realmente</i> o seu valor. E gostava que os meus filhos nunca fossem responsáveis por abusos deste tipo (de nenhum tipo, claro), que respeitem todos os seres humanos e lhes reconheçam o valor e apreciem as suas diferenças. É um legado muito difícil de atingir mas é o único pelo qual vale a pena lutar: fazer deste Mundo um sítio mais justo, com as mesmas oportunidades para todos, onde as diferenças se celebram e não servem os propósitos da discriminação, onde a simples biologia não constitui nenhuma fraqueza. É muito provável que eu não viva para ver estas mudanças mas que possamos, pelo menos, ajudar a desbravar caminho.</div>
M.http://www.blogger.com/profile/11078905329178165263noreply@blogger.com2tag:blogger.com,1999:blog-6421037.post-15469394758637247232017-11-06T12:00:00.000+01:002017-11-06T12:00:10.840+01:00Trinta e oito viagens à volta do Sol<div style="text-align: justify;">
<a href="http://borboletasnabarriga.blogspot.lu/2016/11/fiz-37-anos-o-trump-ganhou-e-o-cohen.html" target="_blank">2016</a></div>
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<i>Depois de trinta e sete anos, continuo sem perceber muitas pessoas (os americanos, por exemplo), começo a perceber outras (a minha pequena filha, por exemplo, que se tem revelado numa pequena tirana em potência) mas conheço-me melhor. Não me importo de falar em público, empenho-me mil por cento em tudo o que faço, só fico contente quando sou a melhor.</i><br />
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<a href="http://borboletasnabarriga.blogspot.lu/2015/11/36-ou-salganhada-de-sentir-tudo-ao.html" target="_blank">2015</a></div>
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<i>Cheguei aos trinta e seis com dois filhos e num estado de exaustão que me preocupa. Cheguei aqui e há dias em que eles são aquilo que me define: se os amei tudo o que pude, se lhes dei banho a correr, se consegui não gritar. Cheguei aqui e às vezes parece que eles são tudo o que interessa, mesmo quando me lembro que eu sou a minha própria pessoa, com desejos, falhas, neuras e vontades.</i><br />
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<a href="http://borboletasnabarriga.blogspot.lu/2013/11/trinta-e-quatro-consideracoes-aos.html" target="_blank">2013</a></div>
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<i>Às vezes sinto que vivi muita, muita coisa e que aprendi outras tantas. Outras parece que cheguei agora ao Mundo e ainda estou no início da aprendizagem. No geral, o balanço entre as duas não me deixa arrependida de nada.</i><br />
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<a href="http://borboletasnabarriga.blogspot.lu/2012/11/um-lema-para-os-trinta-e-tres.html" target="_blank">2012</a><br />
<i>E prometo tentar viver com menos ansiedade, aceitar os ensinamentos que os momentos mais vulgares nos trazem tantas vezes, ser menos colérica e impulsiva, duvidar menos do meu desempenho maternal, gastar menos e não me esquecer que o nosso filho é apenas uma criança.</i><br />
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<a href="http://borboletasnabarriga.blogspot.lu/2011/11/diga-trin-ta-e-dois.html" target="_blank">2011</a></div>
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<i>Fazer anos quando já se tem um filho é estranho: é como se me revisse neste pequeno gorducho que grita pela sala fora.</i><br />
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<a href="http://borboletasnabarriga.blogspot.lu/2010/11/trinta-e-um-outonos.html" target="_blank">2010</a></div>
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<i>O ano foi definitivamente de renovação: começou com uma imensa tristeza a oito de Janeiro, seguiu com uma notícia espantosa dia oito de Fevereiro, abanou-me no dia trinta e um de Julho e mudou a minha vida para sempre a vinte e nove de Setembro.</i> <br />
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<a href="http://borboletasnabarriga.blogspot.lu/2009/11/borboletear-desde-1979.html" target="_blank">2009</a></div>
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<i>Ainda sou uma chorona, na verdade. Choro por tudo e por nada, enervo-me a sério, comovo-me demasiado. Portanto, comprometi muitas horas de sono aos meus pais e esfrangalhei-lhes os nervos de vez em quando.</i><br />
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<a href="http://borboletasnabarriga.blogspot.lu/2008/11/trinta-menos-um.html" target="_blank">2008</a></div>
<i>São vinte e nove anos de alguma desorientação, certezas abaladas, vontade de arriscar e muitas descobertas. Que seja um ano para nunca mais esquecer.</i><br />
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[a escrever aqui há treze anos, hoje olho para trás e espreito o que escrevi sobre o meu aniversário desde que este blogue é gente. Descobri que nem sempre escrevi qualquer coisa, revi algumas fotografias minhas em bebé, viajei no tempo. E dou mais um passo gigante em direcção a esses monstros assustadores chamados quarenta (arrepio).]<i><br /></i></div>
M.http://www.blogger.com/profile/11078905329178165263noreply@blogger.com2tag:blogger.com,1999:blog-6421037.post-70849712562999856742017-10-27T15:41:00.001+02:002017-10-27T15:41:22.212+02:00VLOOKUPs e outras funções que tais<div style="text-align: justify;">
A minha saga profissional continua. Parece que quanto mais tempo trabalho, mais me vou afastando do que sonhava fazer.</div>
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Na minha inocência de criança, queria ser professora. De Inglês, de preferência, que era a minha grande paixão. Não admira: o Inglês está por todo o lado - filmes, televisão, música, livros, tudo coisas que eu sempre consumi avidamente. Não me lembro de querer ser outra coisa. No liceu, juntou-se-lhe o Alemão porque era assim o grupo de ensino, Inglês e Alemão, e porque eu tinha queda para as línguas. Mas quando começou a faculdade, tudo mudou. Durante um tempo ainda achei que ia fazer as cadeiras pedagógicas e passar pelo estágio mas dei um trambolhão metafórico que me fez perder o Norte e demorei nove anos a fazer o curso. Em algum momento, que não consigo isolar ou definir, deixei de querer ser professora e passei a sonhar com alguma coisa na área da cultura. A escrever, se pudesse ser.</div>
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Mas depois começaram as contas, as responsabilidades. Os meus pais levaram-me ao colo durante nove anos (mesmo depois daquele trambolhão), o que nunca lhes poderei agradecer de maneira satisfatória, mas tinha chegado a hora de me fazer à vida. Muitos dos meus colegas seguiram a via do ensino mas creio que muito poucos acabaram professores no sistema de ensino público. Outros seguiram tradução e safaram-se melhor. Muitos de nós terminámos a fazer simplesmente pela vida, um emprego que (se calhar) era para ser temporário e acabou a condicionar os anos que se seguiram.</div>
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Trabalhei em cinco ou seis sítios diferentes, na maior parte dos casos em posições ligadas ao apoio ao cliente, quer directo ou indirecto. Sempre que tive tempo, comecei pela posição mais básica e fui trepando pela cadeia hierárquica a pulso, mesmo quando não sabia criar um relatório ou fazer uma apresentação em público. Cheguei à empresa em que trabalho agora e fui apanhadas em sucessivas cambalhotas: primeiro, um conhecimento técnico que não tinha e fui obrigada a obter à força; depois, passar para uma área totalmente distinta, para a qual não tinha formação (as vendas) mas sobre a qual aprendi milhões com os meus colegas de equipa. E agora, um regresso aos bastidores para ajudar a equipa a fazer mais e melhor, para ajudar a empresa a compreender quem são os nossos clientes. Só há um pequeno problema: são ficheiros intermináveis de Excel com centenas de milhares de linhas, são análises que me vi obrigada a aprender sozinha (obrigadinha, Google), é lidar com o peso opressor dos números.</div>
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Eu sempre quis escrever. E nunca fiz nada por isso, há quem diga e com muitíssima razão. Despertei para essa paixão tarde demais e agora é difícil uma pessoa ser paga para escrever. Isto se não quiser viver de fazer publicidade, claro, porque se for para vender produtos, há aí muito boa gente. Eu sempre sonhei escrever, não aqui, não apenas num blogue, mas um livro a sério, sem que fosse preciso pagar para o editar. E agora vejo-me a braços com ficheiros de Excel que nunca mais acabam. Pelo contrário, têm apenas tendência a multiplicarem-se. E, que remédio, contento-me em escrever na minha cabeça ou um post aqui e ali. E no fundo aprendi uma coisa muita importante sobre mim: eu gosto é de trabalhar. Invejo aquela malta que consegue viver daquilo que gosta. Mas por enquanto, só ainda plantei uma árvore e fiz três filhos. O livro fica para depois.</div>
M.http://www.blogger.com/profile/11078905329178165263noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-6421037.post-11911803399768605012017-10-19T11:12:00.003+02:002017-10-19T11:12:59.042+02:00Augusto: nove meses dentro, nove meses fora<div style="text-align: justify;">
Para mim, é uma data quase tão importante com o primeiro ano de vida. O meu pequenino Augusto, o meu ratinho apressado, cumpre hoje nove meses fora da minha barriga!</div>
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Ao terceiro filho, tudo devia ser mais fácil. Dormir devia ser canja, sentar-se devia ser canja, comer devia ser canja. Eu já me devia ter acostumado às noites sem dormir, não devia ter dúvidas nem medos irracionais, devia saber sempre interpretar o seu choro - devia saber sempre o que fazer. Mas o meu Augustinho veio lembrar-me que o terceiro filho é, tantas vezes, como o primeiro (e o segundo): uma pessoa totalmente diferente, com o seu próprio temperamento e personalidade. A única coisa que os meus filhos partilham como característica é o facto de terem demorado uma eternidade a dormirem bem. E o Augusto ainda está a trabalhar nisso.</div>
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Levei-o sempre para todo o lado, já fez milhares de quilómetros de carro como um valente, já voou como os irmãos (estar longe tem, pelo menos, o benefício de um baptismo de voo bem cedo!). Nasceu antes do tempo e pequenino mas o tempo se encarregou de o fazer crescer devagarinho. Eu bem quis acabar com a amamentação mas ele não deixa e parece que gosta hoje de mamar mais que nunca. Secretamente, fico feliz por ser assim, por poder prolongar este laço, mesmo que isso me roube ainda muitas horas de sono.</div>
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Passámos oito meses juntos e foi o bebé mais fácil dos três. Na unidade de neonatologia, era o bebé que menos chorava: só não gostava quando o despíamos para mudar a fralda mas fora isso não me lembro de o ouvir a chorar. Às vezes estávamos em casa e eu esquecia-me que ele também estava ali porque não o ouvia. Ainda me olha como quem está sempre feliz por me ver uma e outra vez, com aqueles olhinhos castanhos sempre a brilhar. Já se entretém com os seus brinquedos, sentado ao pé de nós e gosta pouco de estar sentado na cadeira, a não ser que veja que vem lá comida. Quer literalmente mexer em tudo o que entra no seu campo de visão e delira a chapinhar no banho.</div>
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Tem os dois irmãos muitas vezes a fazerem palhaçadas para ele se rir. E não lhe falta muito amor: dos irmãos, dos avós e dos tios mesmo longe, da pessoas que se cruzam com ele na rua e não resistem àqueles olhinhos de azeitona. O pequeno Augusto veio lembrar-me que ser mãe é um papel sempre inacabado, que todos os filhos são diferentes e muito especiais, que eu me posso sempre superar-me. E agora, a todo o vapor em direcção ao primeiro ano! De preferência, a dormir durante as noites mas havemos de lá chegar!</div>
M.http://www.blogger.com/profile/11078905329178165263noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-6421037.post-22119749035585294162017-10-11T14:46:00.001+02:002017-10-11T14:46:33.795+02:00Nick, uma história de amor tardio<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<img border="0" data-original-height="1600" data-original-width="1600" height="640" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgTmeJATsEBeyuLb3XSq_1fqfc9CfOoD0h5sf4Leb_Vf70PxAQdqaY5Om0d5Ab7AL6IJUkcqzdDqLNy7-ENDZCG7A39T-JHkCuntRRwbaD5XjkGg3ftQmwIjhcuPR87M0nW6b4T8w/s640/IMG_3815.JPG" width="640" /></div>
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Li esta semana no <a href="http://gentesentada.blogspot.lu/" target="_blank">blogue</a> da Marta: <i><span><a href="http://gentesentada.blogspot.com/2017/10/dia-dois.html" target="_blank">percebi que aprendemos certas matérias com mais antecedência do que o nosso cérebro tem capacidade para as entender</a>.</span></i><span> E eu diria </span><span>ainda mais</span><i><span>:</span></i><span> ouvimos e lemos muitas coisas em alturas da nossa vida em que não estamos preparados para compreendê-las.</span></div>
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<span>Comigo aconteceu com alguns artistas e com alguns livros: cheguei a eles cedo demais. Não quer dizer que agora os compreenda na sua totalidade mas o passar do tempo ajudou-me a ter menos menos do desconhecido, a aceitar melhor a diferença nos outros, a ter mais tempo para pensar e digerir tudo o que consumo, culturalmente falando. E há uns tempos cheguei, finalmente, a Nick Cave, não só através da sua música, mas também através do documentário <a href="http://www.imdb.com/title/tt2920540/" target="_blank">20,000 days on Earth</a><a href="http://./">.</a> Num mundo em que cada vez mais é o plástico e o vazio de ideias/carácter/personalidade que imperam, foi quase um alívio ver um documentário sobre um homem que, apesar de normal, se move num misto de escuridão e luz insuportável. Vê-lo criar, cantar e ensaiar, vê-lo no seu ambiente natural provou-me que nem sempre os ídolos têm pés de barro e ainda há quem justifique o <i>hype</i>.</span></div>
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<span>Ontem pude vê-lo ao vivo. E vi-o de tão perto que, por momentos, me parecia estar a sonhar. A certa altura, o Mário chama-me e diz <i>Olha, ele vem mesmo na nossa direcção!</i> e no meio da multidão incrédula, de impecável fato e tão branca como um fantasma, uma espécie de aparição. Os olhos pequeninos, a camisa meio aberta, as mãos sempre à procura das mãos do público, a ironia sempre pronta a envergonhar quem, como eu, queria guardar o momento em vez de apenas o apreciar. Há muita dor na maneira como canta, pode sentir-se. Há um filho que já não vive e de cuja morte foi difícil recuperar. Ouvem-se os excessos da juventude, mistura-se luxúria com religiosidade, solta-se urros do fundo do ser, sussurram-se histórias ao microfone. Um concerto de Nick Cave é todo surpresa: a maneira desconcertante como se envolve fisicamente com o público, as forças que convoca para transmitir tudo o que é seu, as palmeiras projectadas debaixo de um tornado, um miúdo em câmara lenta num areal de Brighton.</span></div>
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<span>Tocou coisas antigas e intensas como <i>Tupelo</i>, <i>The Mercy Seat</i> ou <i>Red Right Hand</i>. Tocou coisas novas e impregnadas de dor como <i>Anthrocene</i>, <i>Jesus Alone</i> ou <i>Jubilee Street</i>. Levou um monte de gente para cima do palco, dançou com miúdas, emprestou microfones, caminhou sem medo entre aqueles que o idolatram. Os Bad Seeds emprestaram-lhe solenidade, conduziram os momentos de fúria e também se mantiveram em silêncio quando foi preciso.</span></div>
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<span>Lembro-me de implicar com os meus amigos (e primos) Monteiro porque não entendia a sua devoção a este Australiano misterioso. Mas lá cheguei e é melhor abrir-lhe os braços tarde do que nunca ter sentido o abanão que são a sua música, as suas palavras.</span></div>
M.http://www.blogger.com/profile/11078905329178165263noreply@blogger.com0