dezembro 30, 2007



Ando aqui às voltas há uns dias a pensar que chegou a hora, que é tempo de me sentar, sossegada, e tentar fazer um balanço do ano que está quase quase a a acabar. Por todo o lado (nos jornais e revistas, nos blogs que leio, na televisão) chegou a hora de resumir o ano de 2007 em factos, histórias mais ou menos embaraçantes, momentos de verdade e instantes de decisão. Mas a verdade é que ainda nem consegui fazer esse balanço interiormente. E por isso pensei que talvez a melhor maneira de o fazer fosse escrevendo porque sempre fui melhor com a tinta do que com o som.

Não sei como definir sequer este ano que passou. Vi muitos concertos, coisas que nem pensava ver tão cedo e surpresas tão boas quanto me eram desconhecidas. Voltei aos festivais para me sentir inadequada e para desejar estar noutros sítios, para descobrir que (já) não pertenço à confusão e ao pó mas segura de que tive o meu tempo. Vi a minha cidade renovar-se com tantos concertos bons e inesperados, com boas apostas e coragem de arriscar, o que só me dá mais vontade de regressar nos fins de semana.

Tive os meus momentos altos e aterradoramente baixos no trabalho. Criaram um lugar propositadamente para mim no dia dos anos do meu pai e promoveram-me, depositando em mim a responsabilidade da mudança. Viajei em trabalho até à Alemanha e trouxe de volta mais experiência e ideias. Fiz parte do projecto de comunicação da empresa, participei nas actividades radicais anuais, coordenei as comemorações do Natal. Fui considerada brusca e seca, fui repreendida por ser espontânea e usar o meu tempo livre como entendia. Tive os meus piores dias no que a relacionamentos profissionais diz respeito, especialmente com a minha chefe, que é uma pessoa de humores. Compreendi que trabalhar com pessoas, não, é mais que isso, orientar pessoas é uma tarefa ingrata porque quanto mais sobes, mais os outros te vêem longe. Mas tive na recta final do ano direito aos elogios das minhas equipas e finalmente os resultados de muitos meses a refrear a minha impulsividade.

Tive a minha parte de amores platónicos este ano. Terminei o ano passado quase apaixonada pela pessoa mais errada do momento mas safei-me a tempo. Pude ter ao meu lado uma pessoa certa mas não fui capaz de falar ou sequer aceitar que pudesse ser o momento. Tive a noite mais estranha e empolgante dos últimos tempos ao som de um filme espanhol de série Z, longe de casa, longe do Mundo porque é para esse sítio distante que a companhia me leva sempre. Tornei-me um bocadinho mais cínica, é verdade, mas nem por isso desfaleceu a minha esperança no amor. Senti abrir-se à minha frente um leque de possibilidades, que é mais do que posso dizer dos últimos anos. Andei tantas vezes com o coração a querer rasgar o peito que muitas vezes pensei que não resistia. Mas a verdade é que não amei ninguém como quero amar. Mas tenho tempo.

Viajei, fiz amigos novos, perdi amigos novos e guardei os velhos no sítio mais seguro do meu coração. Estive em três casamentos de amigos e perdi um por razões mais que conhecidas. Vi nascer outra sobrinha postiça e crescer muito o meu primeiro sobrinho emprestado. Perdoei-me por ser incapaz de mais aventura, por ser pouco atrevida. Fiquei contente quando cheguei onde quis chegar. Não chorei mais com pena de mim e aprendi as maravilhas de morar sozinha, resolvi ambicionar mais e adiar menos.

Acabo o ano a confiar na mudança. Aconteceu muita coisa nestes últimos doze meses e por isso, por estar exausta com tanta surpresa, apetece-me que o ano acabe. Para começar tudo de novo, como naqueles dias em que nos sentamos na nova secretária e sentimos na ponta dos dedos a emergência das novas possibilidades. As sms estão no telefone à espera de serem apagadas, há planos já delineados para o novo ano. Para mim e para vocês fica o meu desejo de um 2008 muito feliz! Vemo-nos nesse ano a estrear :)

E ao antepenúltimo dia do ano apaixonei-me.



Pela música, não tanto pelo vídeo. São os Low e é uma das minhas canções do ano.

dezembro 29, 2007

Dormir mais feliz #10

Come clean and off with your head
The streams of bright rosy red
Your heart will do the rest
And you'll always fade
You'll always fade
Someday you'll change
But you'll always fade

Where's M?

Na companhia do sr. K (cuja identidade preservei), em noite de grande alegria, o que necessariamente implicava festejar com gin tónico. Num dos meus sítios preferidos de sempre...

dezembro 27, 2007

So... how's being single these days?

Esta foi a pergunta que seriamente ponderei colocar a um amigo (especial) há momentos. A ironia é que ele vive com a namorada, que está temporariamente em casa, de férias. E também que, em termos de celibato, eu estou quase a doutorar-me. Por isso, a pergunta ressoa ainda na minha cabeça como a coisa mais estúpida para se dizer dos últimos tempos.

Não é que eu esteja triste por ser uma rapariga solteira. De outra maneira, não poderia ver O Maquinista enfiada na cama, deliciando-me com uma tigela de gelado de morango com coraçõezinhos de chocolate, enquanto maldizia o corpo-esqueleto do Christian Bale. Não é o facto de estar sozinha que eu acho preocupante (reparem na cuidadosa escolha de palavra... facilmente podia ter descambado para desesperante mas eu aguentei): o que me preocupa, isso sim, é a ausência de alguém por quem valha a pena suspirar. Que os há, há, que eles são como as bruxas. E eu, apesar de ser muito céptica, acredito em breves momentos de magia. Mas assim de repente não me lembro de ninguém. E, portanto, é preciso ter grande moral para sequer pensar numa pergunta tonta como essa.

E, no fundo, se fizesse essa pergunta, tinha já uma linha de resposta em mente. Ele responder-me-ia que era porreiro, que estava a saber bem, que já nem se lembrava do bom que era, que deviam repetir isto mais vezes. E, sem o saber, confirmar-me-ia toda a teoria do ser solteira e independente. Só quando, no fim, ele dissesse que já tinha saudades de lhe (a ela) adivinhar o corpo quente debaixo dos lençóis é que acabava a minha fantasia. E lembrar-me-ia de repente de como é bom acordar e sentir aquele calor do outro, enquanto o abraço por trás ainda de olhos fechados e me deixo estar. A imaginar os dias em que a cama está mais vazia, eternamente insatisfeita.

dezembro 25, 2007

I'm gonna shoot from the hip!

Ela este ano esmerou-se (ainda mais) e deu-me esta máquina. Já há uma viagem marcada para Barcelona e o dinheiro que juntei este ano faz-me sonhar com Cabo Verde em Maio. Pijamas, meias para dormir, livros e uma torradeira... Foi um Natal típico mas em versão melhor. Um dia destes, vou conseguir só receber vales da Fnac ou de alguma agência de viagens.

dezembro 24, 2007

Véspera de Natal

Amanhecer no alto do parque Eduardo VII, hoje

Entardecer na recta de Pavia, hoje

Um dia de trabalho como os outros em vez da véspera passada em casa, trincando pinhões e avelãs enquanto o bacalhau cozia lentamente. Um amanhecer claro e gelado em Lisboa, um final de dia morno e silencioso em pleno Alto Alentejo. Enquanto todos estavam em família, eu separava folhas de papel. Não queria mais Natal mas a verdade é que sentia falta das discussões repetidas ano após ano à mesa da consoada, do café em casa do vizinho e dos embrulhos revolvidos à procura de notas perdidas.

Um Natal muito feliz a todos. Com ou sem bacalhau, sozinhos ou numa casa cheia, sejam é felizes.

dezembro 22, 2007

Ganhar...

quarenta euros para comprar alguma coisa de útil a toda a gente do piso e ficar com um projecto de geocaching para cumprir. Mais do que ganhar o concurso, foi bom sentir-me envolvida numa actividade deste género, motivando as pessoas, treinando os dotes decorativos femininos e vendo a mesa tomar lentamente forma. As recordações que sobram são o nosso presépio pós-moderno (como lhe chamaram), a fartura das outras mesas e a originalidade de outros pisos. E felizmente acabou...

dezembro 21, 2007

M e o mundo da doçaria alemã

Pois, o que tenho a dizer é o seguinte: 'TOU FARTA DO NATAL!

Pronto, era isso. É que a pressão destes últimos dias tem sido demais: foi o mês a fechar hoje, foram as ideias para prendas já há muito esgotadas, foram as desilusões de onde menos se podiam esperar, foi o concurso de Natal do trabalho, foi esta constante exigência para que estejamos mais perto uns dos outros quando na realidade não sabemos o que está mesmo ao nosso lado. Além do trabalho ter que aparecer feito, escolheram a gastronomia de cada país representado na empresa para o tema do concurso de Natal deste ano. Foi assim que, a medo, me aventurei com Früchtebrötchen, que apresentarei amanhã a concurso.

Já dizia o outro É a primeira vez que contacto com a doçaria alemã e estou maravilhada! Não sei se isto contribuirá para o sucesso do nosso piso mas eu já provei e posso garantir que o icing de limão por cima lhe dá um toque de classe. Tudo a torcer por nós, vá.

dezembro 18, 2007

Compras absolutamente inúteis

A minha nova consola. Reparem só como diz na própria que são 9999 jogos em 1. É que estava só a dois euros.

Bah ou os restos de um armazém

As patroas (um negócio dominado por mulheres, que lindo, não é?) vieram até Portugal e deixaram para trás uma Münster provavelmente fria para encontrarem uma Lisboa ainda mais gelada e com o tempo mais escuro que vi nos últimos tempos. Parece que querem criar o hábito de visitar os pobrezinhos durante as quadras festivas, agradecer-lhes toda a paciência demonstrada ao longo do ano face a tantas incorrecções, indecisões e precipitações (e mais coisas acabadas em ões.). Há um discursozinho na copa, em alemão como convém, depois de espalharmos pelas mesas pão de ló, broas de mel, salames e bolos-rei. Obrigada, contamos com vocês para mais um ano de trabalho harmonioso (como diz?), têm sido tempos de sucesso.

Mas agora, pergunto eu: se estes são tempos de sucesso, se o negócio evoluiu no sentido em que se previa, não há direito a uma prendinha de Natal um bocadinho mais elaborada? Só dá para trazerem estas sweat-shirts já usadas (ou então apenas sujas), com o nome da empresa e o slogan, como se as fôssemos vestir com todo o orgulho? Vestir a camisola só mesmo na maneira metafórica. E se continuam com estes presentes, qualquer dia ando mas é em tronco nú.

dezembro 16, 2007

Lately...

... estive no jantar de Natal do trabalho. Ao contrário do ano passado, o sítio escolhido foi bem mais pequeno e a comida (em vez de tradicionalmente portuguesa) era brasileira. Houve tempo para prémios e discos pedidos, caipirinhas que nunca chegaram à mesa e alguma cerveja pré-jantar. O momento era de amena cavaqueira (Eddie e eu) enquanto esperávamos que a fila para o buffet se dissipasse.
... voltei a casa pelo segundo fim de semana consecutivo, o que já não acontecia há algum tempo. Dias soalheiros mas gelados, o queixo a tremer à noite sempre que punha o pé na rua. Não houve música porque a viagem só acabou à uma da manhã mas espalhou-se a alegria com a surpresa que levei comigo de Lisboa. Da minha janela, enquanto tentava adivinhar quantos graus estavam na rua, olhava para o Gaspar, muito atento e preguiçoso. (Tu, pelo menos, reconhece-lo!) Se eu fosse um gato, não lamentava os dias tão mal utilizados e deixava-me ficar no parapeito, a gozar o Sol de Inverno.
... fico ainda mais deprimida quando penso no Natal. Não bastava não simpatizar muito com a quadra: este ano não vou poder mesmo festejá-la como antes. Trabalhar com base no comércio de retalho tem destas porcarias e, portanto, ninguém pode folgar no dia 24 ou 31 de Dezembro. Andamos todos à espera do milagre económico que nunca mais vem, esperamos vender as quantidades que nunca vão deixar os armazéns e por isso não temos direito a nenhum dia de descanso. Portanto, em vez de fazer a contagem decrescente para a noite de 24 em família, vou fazê-la em Lisboa e, em calhando, numa fila de trânsito qualquer em direcção a casa. Estou ansiosa que esta semana passe depressa... não me venham é falar da poesia ou da magia do Natal. Essa parte de mim fechou para obras.

dezembro 14, 2007

Saudades *

Praia fluvial de Fronteira, Agosto 2007

Do Verão. E de como no tempo quente a única preocupação era conseguir arranjar cerveja suficientemente gelada. Agora, entre jantares de trabalho cuidadosamente ensanduichados na semana, divido-me entre o entusiasmo de um projecto novo (sem telemóveis à mistura) e a desilusão já gasta de não ter o que quero. A preocupação com a cerveja gelada mantém-se.

* ou ando sem cabeça para títulos melhores

dezembro 10, 2007

Sehnsucht *

Continua a ser o álbum que mais vezes ouvi na minha vida. Se fosse um vinil, certamente estaria riscado ou gasto ou vazio: nenhum vinil poderia aguentar tantas e tantas tardes a dançar debaixo da agulha...

Há muito, muito tempo atrás, trocava cartas com um professor de Inglês de Aveiro que tinha nascido e vivido em Antuérpia alguns anos. Escrevíamos cartas sem saber exactamente quem era aquela pessoa que estava do outro lado, sem saber se as nossas linhas eram esperadas com a ânsia que havia no nosso lado. E trocávamos cassetes com as músicas que ouvíamos quando os dias eram menos felizes. Ele dizia-me Tens que o ouvir! e gravou-me o que tinha numa cassete, que rapidamente se tornou na única que ouvia. Lembro-me do dia em que peguei no CD, ainda na Carbono em plena Almirante Reis e pensei que dois contos não era muito dinheiro. Ouvi tudo e soube imediamente que ele tinha razão, que eu tinha que o ouvir.

Conheço cada inflexão da voz deste CD. Sei as letras, vi os vídeos que pude. Comprei uma VHS para conseguir vê-lo a actuar ao vivo. Imagino ainda hoje todas as mulheres para quem ele escreveu estas canções de amor, invento romances impossíveis numa cidade chuvosa, ele de guitarra às costas, perdido entre as pautas e os amantes delas. Deu-me horas e horas de conforto, amparou-me as lágrimas, atenuou-me a dor. Mas, de todas as vezes que me resgatava, mais eu pensava como era injusto eu ter chegado à música dele tão tarde.

Continua tudo a fazer sentido para mim. Gosto dele como no primeiro dia, como na primeira cassete que rebobinava só para ouvir partes tão específicas da música. Gosto dele como se um dia tivesse sido sua amante e o tivesse visto partir, fechar uma porta sem nunca virar as costas, sabendo que era isso que o fazia continuar. Gosto dele como no primeiro momento em que olhei a capa do álbum e ele me parecia piroso, em que me perguntava a mim mesma porque o tinha levado para casa. Gosto dele porque, sempre que o ouço, me lembro das manhãs que passei debaixo daqueles cobertores, a ouvir os autocarros subir a minha rua, a ouvir o candeeiro da mesa de cabeceira tremer com essa vibração e a pensar que tinha a vida toda na minha mão. E gosto de pensar que sobrevivi aos dias em que me afundava a uma velocidade supersónica na dor e que ele foi um dos que me estendeu a mão. Um morto, é a ironia disto. E o professor não mais tornei a ver. Roubou-me um beijo na Gare do Oriente sob o pretexto dum glorioso pôr do sol e enfiou-se no comboio. Quis procurar a cassete mas nunca soube onde. Na minha vida, parece-me que é uma constante: nunca chego à hora certa.

* brach mir das Herz.

(Outra) história de violência

É um filme a oscilar entre a contenção e a brutalidade. Mas eu gostei a sério desta tensão sexual mal resolvida.

(mas também da cara de pulha de Cassel, dos olhos frios do Rei e da excentricidade do tio russo, da cerimónia iniciática das tatuagens e da voz impregnada de melancolia do acordeonista, do código que nunca se quebra, da resistência à traição e da permeabilidade ao sofrimento dos outros)

dezembro 09, 2007

dezembro 07, 2007

Never trust anyone. Especially the ones you know. *

Mais um golpe, mais uma viagem. Enquanto cá andarmos há-de sempre existir alguém que nos surpreende e, depois de nos fazer confidências, depois de nos confiar coisas suas, é capaz de jurar que não nos conhece. A duração do estado de desilusão é cada vez mais breve. É capaz de querer dizer que estamos a crescer.

(mas na aquela altura sobem-me as lágrimas aos olhos, sobe-me a vergonha às maçãs do rosto e encho-me de raiva porque quero perguntar tudo, quero saber porquê, quero que ela diga que foi só uma frase sem sentido e só ouço a minha voz mais alta, cheia de indignação e vontade de gritar porque é que não me conheces melhor quando eu te conheço bem? e engulo em seco tantas vezes quantas me apetece levantar da cadeira e sair e enquanto faço o caminho para casa a desilusão amansa e passa a ser apenas um momento de nevoeiro num dia já de si imperfeito)

*frase roubada e (muito) adaptada aqui

dezembro 04, 2007

Falta de comparência

Esta é uma das razões para andar a postar menos nos últimos tempos. O Natal é quando eu quiser e para mim já foi. Agora, há demasiadas páginas daquele livro de instruções para ler. E muito para decifrar, já que o mesmo se encontra em francês, língua que não domino. Tem sido disparar, disparar, disparar. Sobre assuntos triviais, quotidianos. E gosto dela.

Depois, também houve o fim de semana que me esgotou as forças. Quase precisei de um horário para conseguir fazer tudo o que queria, estar com toda a gente que me apetecia ver. E houve música, pois. Com esta senhora e esta também. Foi uma noite de música bonita, com momentos em que parecia que se abria um túnel secreto para um lugar mais feliz.

E há tanta coisa a acontecer no emprego, tanta gente a sair, tanta má notícia a dar, tanta formação que planear e novos projectos que precisamos abraçar que continuo esgotada. A precisar dos cinco dias de férias que me faltam gozar. Assim que comece o ano, prometo. Por enquanto, só me apetece sentar no sofá, desligar a luz e deixar o filme adormecer-me. Pode ser?

novembro 29, 2007

Agætis Byrjun *

Estava a começar a escrever um novo post quando me apercebi. Este não é um sítio para deixar recados subliminares. Pelo menos, não às pessoas a quem os podemos dar pessoalmente. Posso tentar dar recados a quem não mais encontrarei, deixando que eles ecoem pelo espaço virtual fora até encontrarem os ouvidos a que se destinam. Mas não posso, isso não, usar este espaço para me atrever a escrever as palavras que podia efectivamente dizer, caso tivesse alguma coragem. Não me restando (hoje) um pingo desta última, remeto-me ao silêncio. Dos recados, claro.

(E assim, como todo este amontoado de palavras, se escreve mais do que se queria.)

E quando acabei de escrever a palavra coragem, o meu raciocínio desviou mais uma vez a atenção do que ia realmente escrever e fez-me pensar em momentos de coragem. Lembro-me de um, por exemplo. Passou-se comigo mas a coragem não era minha. Sentada no call center, atendendo o trilionésimo cliente mal educado e iletrado, vejo cair um bocado de papel quadriculado rasgado sem precisão sobre o teclado. Tinha um número de telefone e um nome, acho eu. É preciso ser corajoso para oferecer esta disponibilidade por escrito, como que assinando um contrato num pedacinho de papel. Foi o mais perto que tive assim daquelas cenas que se vêem nos filmes. A uma amiga, enfiaram um bilhete do metro com um email rabiscado à pressa dentro da mala. Dizia "Gostava de a conhecer blablabla@blablabla.com". Qual é a probabilidade de isto acontecer? A mim, nula. E de, ainda por cima, me tratarem por você... Pff.

Depois veio-me à cabeça a coragem da minha amiga J. Vai arriscar aventurar-se num doutoramento de quatro anos que conseguiu rés vés, Campo de Ourique (diz ela...). Acha que vai ganhar pouco mas eu já lhe segredei que será mais do que eu ganho. O que, visto termos as mesmas qualificações no momento, me parece razoável. É corajoso ou não, continuar a estudar, a investigar, a fazer a diferença? E a fazer isto tudo em Portugal, sublinhe-se. Não é um cérebro que foge para outro país, é um cérebro que lança definitivamente a âncora em Portugal. Eu cá gosto. E acho corajoso.

Às vezes, tenho tão pouca coragem que me envergonho. Noutras, sinto que posso tudo. Mas estas contam-se pelos dedos de uma mão. E enquanto assim for, pues nada, como dizem os espanhóis. Enquanto não conseguir fingir que faço da vida o que me apetecer, hei-de balançar entre estes dois estados. O de enfiar papelinhos no bolso de um estranho e o de remeter-me à minha invisibilidade.

* musicando os meus dias mais ocos.

novembro 27, 2007

E não me tinha ainda esquecido disto!

All the while the thing regarded us with what, later, when we had begun to appreciate the range of its emotions, we might too easily have recognized as contempt.

Thomas Pynchon, Against the day

A próxima é de quem a apanhar.

M e a arte de controlar os nervos

Pois, foi hoje. E, francamente, acho que correu bem. Tirando uma ou outra hesitações breves, disse mais ou menos o que gostava e o que tinha que ser. Estava à espera de muita malta engravatada mas o que vi foram pessoas mais novas que eu, vestindo informalmente. O que, basicamente, é uma trampa, visto eu me ter esmerado e parecer uma pessoa demasiado séria. Quando hoje me vi ao espelho pela primeira vez, de toillette pronta e sapatinho calçado, estava frente a frente com uma senhora de sucesso e não com uma gaja simples. É claro que mais gente do escritório se esmerou também mas parece que todos embirram comigo - Márrise, você hoje... Cuidado.

O mundo das pessoas sérias e das miúdas que se empoleiram todos os dias em saltos altos não deve ser para mim. Se fosse, eu não sentiria que estava a desfilar numa passerelle o dia todo.

[edit: Então e o ar de senhora bem posta enquanto no Ipod rodava o White Pony dos Deftones? Um fartote.]

novembro 25, 2007

Diz que o David Fonseca veio a Portalegre...

Imprecisões

Dele já me disseram as mais variadas coisas. Já me disseram que não tem talento, que
é aborrecido e desinteressante. Já ouvi dizer que ele escreve coisas tiradas de um diário adolescente, que é inconsequente e não sabe falar inglês. Já me falaram sobre a sua (suposta) falsa modéstia e sobre essa mania de ser perfeito que ensombra tudo o que faz. Pois a mim nada disso interessa.

Ele tem em si - descobri hoje à noite - grande parte dos homens que são importantes para mim. Tem o gajo magro, tem o gajo com o cabelo perfeito, tem aquele que destila poesia apaixonada, o que toca guitarra sem nunca ter aprendido, tem o tipo engraçado sem ser hilariante. E tem a música que, por muito simples ou banal ou infantil que seja, me faz apertar as mãos com força. Como se eu não conseguisse aguentar aquilo tudo. Portanto, e nisto sou inflexível, ele é muito bom. É bom o suficiente para me fazer sonhar e para verbalizar os meus medos e os meus desejos e alguns fracassos. Sim, é claro que tem (muito) bom aspecto. E é óbvio que conquista muito público feminino por isso. Mas tem aquele ar de sonhador, tem dentro dele aquela dor mansa de gostar de alguém, tem vontade de dançar. Não passo de uma adolescente quando ele está na mesma sala do que eu. Antes isso que o cinismo cosmopolita que (sinto) está a tomar conta de mim.

Factos


Às vezes sinto que as pessoas em Portalegre não merecem ouvir música. Não sei se lhe hei-de chamar timidez ou desconforto ou falta de hábito mas sei que estar nesta sala de concertos se revelou (mais do que uma vez) uma situação embaraçosa. Não há reacções efusivas, não há movimentos nas cadeiras, quase não há aplausos para encore. É como se toda a gente não fosse letrada na arte de ver concertos, como se houvesse um livro de estilo que escapou a todos. Ter medo de expressar esta alegria ou ter vergonha de cantar é ser um bocadinho menos livre. E, ao contrário do que seria normal, torno-me mais livre em cada concerto que passa. Porque se isto me faz mais feliz que outra coisa qualquer, tenho o direito de dançar e aplaudir entusiasticamente. Mesmo que a malta da geração RFM (e sim, isto paga direitos de autor) olhe para mim desconfiada e só aplauda quando eles tocam aquela.

novembro 22, 2007

M e o mundo da alta finança

Imaginem que os directores financeiros de vários países (da vossa empresa, claro) vêm a Portugal participar numa conferência importantíssima. Depois, imaginem que alguém decide que a vossa área dentro da empresa é de importância extrema e que nos interessa trazer para Portugal mais trabalho do género. De seguida, essa mesma pessoa decide também que vocês devem fazer uma apresentação em inglês sobre a vossa área, exibindo as virtudes da vossa equipa (a flexibilidade, o domínio de várias línguas, a elevada produtividade) e mostrando que é uma área em franco desenvolvimento. As palavras de ordem são sell, sell e sell.

Agora, alguém me explica porque é que só penso como me vou conseguir aguentar em cima dos saltos o dia todo?

novembro 21, 2007

Sobre inevitabilidades e dias de folga


Tábua de queijo e enchidos, seguida de moelas. Duas ginjinhas bebidas de golo, para acompanhar os moços na cerveja. O despertador caladinho, às sete da manhã, e os vizinhos a fazerem algazarra desde as oito. Acordar mas ficar na cama a gozar a luz e as sombras que vejo desenhadas no corredor. Sair da cama a fazer planos, a desfazer planos, a ensaiar discursos, a imaginar desculpas. Constatar como às vezes os serviços camarários funcionam na perfeição. Fazer a viagem no 28, ida e volta debaixo de um sol morno de Outono, enquanto os turistas entram e saem em todas as paragens. Entrar no cabeleireiro mais próximo e pedir para arranjar as unhas, saindo de lá não só com as unhas arranjadas mas também com um tratado sobre cabelos brancos, vernizes no frigorífico, conselhos femininos que não pedi. Reforçar mais uma vez a ideia de que todos os cabeleireiros não passam de um grande cliché. Entrar em casa, planear um almoço saudável e uma tarde debaixo de cobertores, vendo episódio atrás de episódio de uma série qualquer. Esperar.

novembro 17, 2007



Foi hoje à noite. Não sei exactamente quando ou onde mas dei com esta música. E dar com esta música significou desenterrar uma série de fantasmas que eu resolvi esconder/recalcar/esquecer. Quer dizer, eu nem sequer decidi: eles foram empurrados para partes do meu cérebro às quais não quero ter acesso. Já passaram dez anos, nove anos, oito anos, tantos anos que passaram sobre esta pessoa que era Eu. De repente, vi-me à porta do Alcântara Mar com dezassete anos, sem um pinga de álcool no sangue, a tentar entrar com desconto de estudante. Era tudo tão novo para mim e para os outros, éramos nós na cidade grande, era termos liberdade e não ter ideia do que fazer com ela. Foram as noites que passei a destruir a vida que me tinha trazido até aqui para construir qualquer coisa nova, aprendendo a respeitar-me e a ser independente e a pensar pela minha cabeça.

Eu tinha uma ideia muito precisa sobre o meu futuro quando tinha dezassete anos. Eu pensava que tinha tudo resolvido e entendia tudo, entendia a vida e as desilusões, aceitava-as estoicamente, como se estivesse destinada a sofrer. Não fazia ideia de que havia vida fora, não conhecia o significado de conceitos tão simples como Amor ou Liberdade. A minha vida, o meu futuro passava por um casamento - não imaginava nada de outra maneira. Era feita de uma estúpida massa de ingenuidade e inocência, não era cínica porque acreditava numa espécie de Destino. E quando cheguei aqui, quando me mostraram o Mundo (que não era feito de discotecas nem de promiscuidade ou noitadas mas de poesia e saudades e uma sensação esquisita na barriga), eu passei a ser outra pessoa, não melhor nem pior mas apenas outra. E o perigo reside aí mesmo, no momento em que deixamos de precisar de alguém para pensar.

Há muitas coisas das quais sinto saudades ainda hoje. Sinto falta especialmente da sensação de possibilidade com que acordava todos os dias, naqueles dias. Sentir que eu é que estava ao comando foi muito mais importante do que qualquer recomendação, qualquer conversa, qualquer conselho. Mas também sinto saudades de ter aquelas certezas todas, de sentir que a minha vida estava previamente planeada, que eu estava apenas a seguir as linhas mestras com que tinham cosido a minha vidinha banal. Hoje, sou livre e sou independente mas nem sequer faço a menor ideia de qual é a minha verdadeira direcção. Se estiverem indecisos acerca do meu presente de Natal, estou bastante receptiva a um GPS emocional. Porque sinto que estou num campo de minas, prestes a pisar qualquer coisa que vai rebentar debaixo de mim. E, francamente, dava-me jeito alguém/alguma coisa que me pudesse estender uma mão. É por aqui. É só isso que preciso que me digam.

novembro 16, 2007

Reflexos condicionados *

Aconteceu-me ontem. Quando descobri que amanhã, na sessão dupla do canal 2, passam (seguidinhos!) o Mon Oncle e o Il mio viaggio in Italia lembrei-me que preciso passar no supermercado para comprar uma garrafa de rosé. E talvez alguma água tónica para o gin.

* não propriamente a salivar mas sorrindo porque tenho uma razão tão boa para ficar no sofá num Sábado à noite!

novembro 13, 2007

Digamos que...

... me sinto um bocado esmagada por esta pressão de ser feliz.

(E que estou um bocado aflita com este nariz quase em ferida e que não pára de me manter acordada durante a noite. E, já agora, acrescento que posso não ser grande fã de crepes com molho de chocolate de leite mas aprecio alguém que tem assunto para mais do que dois dedos de conversa).

novembro 12, 2007

Parte III...



... e última, em que a autora descobre as maravilhas do fim de semana holandês (que dura até às treze horas de segunda-feira), faz a sua primeira incursão pela lojas de roupas holandesas, enche a mala de coisas doces e é transportada de bicicleta cidade fora.

novembro 10, 2007

Um furacão chamado Seu Jorge

Dezanove pessoas em palco. Cavaquinhos, pandeiretas e cuíca. Um homem muito magro entra em palco, ainda tem o casaco vestido e dirige-se de imediato ao público. Na sala, há quem saiba todas as letras de cor. A medo, as pessoas obedecem ao ritmo e levantam-se das cadeiras para deixar o samba tomar conta dos movimentos. Temos todos samba dentro de nós, diz ele. Ontem Seu Jorge fez a festa acontecer.


fotografias desta moça (cliquem para aumentar)

Cantou-se ali sobre a exclusão social no Brasil, sobre o amor que se desfez porque a ponte estava congestionada e sobre a colonização portuguesa. Cantaram-se as inevitáveis versões de Bowie e outras baladas apenas acompanhadas por uma guitarra acústica, obrigando o público a suster a respiração em momentos de delicada fragilidade, nos instantes em que Seu Jorge parecia oferecer ao público um olhar breve sobre o seu íntimo. Mas se a dor e a pobreza foram cantadas e se houve mesmo um momento profundamente político, em que o artista (porque ele não é apenas um cantor) falou das aflições das crianças brasileiras e da inexistência da sua infância, também a alegria contagiou a sala. E é em noites como esta que nós sabemos que há uma chama dentro de cada brasileiro que o faz encontrar uma espécia de força nas adversidades: a festa corre-lhes no sangue. Por isso, não foi de estranhar quando todo o público foi convidado a sambar no palco, juntamente com Seu Jorge e toda a banda. E também não foi de admirar que se tenha formado um comboio gigante de pessoas que, com o artista à cabeceira, dançaram sala fora. Foram quase três horas de brasileirices, batucada, de português com açúcar. Este furacão não provocou vítimas nem estragos - talvez apenas o suor bom de quem tenta sambar e sente a felicidade que se tira de todas as coisas simples.

novembro 09, 2007

Dormir mais feliz #10

Tonight I feel it closer
And I can almost touch it
To you it may be nothing
It's something to me
This raging light...

Parte II...

... em que a autora descobre as maravilhas do comboio na Bélgica; em que a (in) correcta leitura de um mapa nos leva a falhar um parque vezes sem conta; em que a autora descobre que os fins de semana são menos propícios a turistas e em que a sensação de cansaço passa a pura exaustão, motivando assim a (falsa) sensação de que as pernas não faziam já parte do seu corpo.

novembro 08, 2007

I ♥ Interpol

Já de volta a casa-casa e completamente estourada destes últimos dias, vêm-me à memória as imagens do concerto de ontem. Do lado direito do palco, mesmo mesmo de lado, aliás, ouvi um concerto cirúrgico na companhia da camarada de concertos e de um basco que conheci ontem mesmo* (maravilhas disto, é a tecnologia, estúpido!). Paul Banks é (talvez) o tipo menos simpático do Mundo, pouco efusivo e nada comunicativo mas isso não o impediu de fazer saltar um Coliseu cheio como há muito não via. Como dele não esperava palavras amistosas ou deliberamente falsas, fiquei contente com a alinhamento preciso e aguardado, com a Stella... a tornar o encore no melhor momento do concerto e com o sorriso do guitarrista que... francamente. A droga e as relações pós-modernas fazem-lhes bem.

* pois escreveu-me, dizendo que não tinha companhia para o concerto, estava solito em Portugal e eu pensei Ora, que se lixe! Venha o basco também! Simpática figura, muito empenhada em falar o português e em fazer amigos. Afinal, a internet não está só cheia de sociopatas e serial killers...

novembro 07, 2007

Parte I...



... em que a autora descobre no aeroporto de Bruxelas que tem o conteúdo de uma garrafa de azeite e de uma de vinho a cobrir toda a sua roupa e agasalhos; em que um colombiano à espera do divórcio introduz no parco vocabulário francês da autora a expressão faire chier; em que as ruas sujas e escuras causam primeiro uma impressão negativa e em que a autora se vê a braços com uma manifestação de dois mil turcos frente à Comissão Europeia.

Lisboa-Bruxelas-Leuven-Maastricht-Lisboa

Bola de espelhos gigante em Leuven, moi et Ricardo

Como seria de esperar, trouxe muitas memórias comigo. A viagem foi (mais ou menos) curta mas intensa o suficiente para parecer que durou muito mais tempo... Ao fim de dois dias, já parecia que tudo me era familiar ou que já estava lá há bastante tempo. Como é óbvio, ver os amigos foi a melhor parte da viagem. Ele recebeu-me efusivamente na Gare du Midi, enquanto ela, na estação quase deserta de Maastricht, me dizia várias vezes Eu não acredito que estás aqui! Visitar as cidades foi apenas um pretexto para matar as saudades e é por isso que vou insistindo que os meus amigos se vão espalhando por todo o Mundo.

Vou recordar muitas coisas nestes dias: o cinzento opressor do céu de todas as cidades que visitei (a contrastar com o azul da minha Lisboa...), as diferentes marcas de cerveja que experimentei num limitado espaço de tempo, as ruas temáticas de Bruxelas cheias de lojas de móveis ou galerias de arte ou chocolaterias, a ausência de pessoas em Leuven (cidade definitivamente flamenga), a calma manhã de Maastricht. Voltaria a todas elas e voltaria com tempo e calma para conseguir apreciar os encantos da(s) cidade(s) sem ser incomodada pelo frio cortante ou pela sujidade das ruas ou pela ausência de luz solar. Mas voltaria sabendo que posso sempre regressar à delicada luz outonal que vejo agora quando espreito pela varanda: esta cidade é seguramente o meu grande amor*.

*no que a cidades diz respeito, pois claro.

novembro 06, 2007

Achtentwintig jaar oud

Achtundzwanzig Jahre alt. Vinte e oito anos de idade. Já está decidido, os próximos serão comemorados nas ilhas Fidji.

novembro 01, 2007

Vacances!

Agora, se me dão licença, vou até aqui.

Foto daqui (curiosamente, um português!)

Vou visitar o amigo emigra e a amiga que voltou para os Países Baixos. Levo na mala o obrigatório azeite e a garrafa de tinto que se impõe. Regressarei já mais velha um ano, com as saudades amansadas e com alguma coisa para contar. À bientôt!

Receita perfeita para a noite de Halloween

Não comemoro a data porque não lhe descortino qualquer significado que valha a pena. Não simpatizo particularmente com disfarces nem com bruxas, não me lembro sequer de alguma vez ter participado numa festa neste dia. Mas ontem descobri uma maneira perfeita para aproveitar esta véspera de feriado.

Um português, uma espanhola e eu. Uma cerveja pré-jantar. A conversa toda posta em dia. A curiosidade despertada pelos cheiros na cozinha. A prova dum tinto de reserva de uma adega algures nos Pirinéus. Peito de pato flambeado em brandy com molho de natas e três pimentas, acompanhado com tomate, batatas assadas com um fio de azeite, salsa e alho e espargos grelhados. Um Merlot espanhol de reserva, macio e frutado. Gelado de cheesecake de morango. Cubatas muito frescas (a versão espanhola da Cuba Libre, em que o sumo de limão natural torna tudo mais leve). Gargalhadas (e muitas memórias) em frente ao VH1 Classics. O sono dos justos depois das três da manhã.

Efeméride (s) #3 ♥



Faz hoje exactamente um ano que arrastei a minha tralha toda para a freguesia da Lapa, para aquela a que gosto de chamar, carinhosamente (como o Meu Pequeno Pónei ou a Minha Agenda), a minha primeira casa. Fez ontem um ano que, nervosa e ainda não certa de que tudo fosse resultar, assinei o maior cheque da minha vida (até à data) e ouvi uma notária falar numa língua estranha: não entendi nada, estava tudo desfocado, só olhava para os papéis na minha mão que me diziam É tua. Obriguei o meu pai a deixar o banco a correr para ir buscar mais cheques porque até no meu nome me enganei. Já tinha perdido uma casa, olhava para este bairro e não conseguia imaginar-me aqui.

Esta rua passou a ser a minha rua. Gosto das lojas da Ferreira Borges, gosto de ter o eléctrico à porta de casa e de ouvir os sinos da basílica da Estrela. A minha vizinha traz-me aletria numa caixa que depois lhe devolvo, os meus vizinhos espanhóis tocam flamenco com as janelas abertas nas tardes quentes e não há trânsito a incomodar. Os meus amigos já a experimentaram, já recebi tantas visitas aqui e não vivi ainda nenhum momento infeliz. Não é Verão mas o céu está muito azul e só corre uma brisa fresca que me agita os cortinados. Tenho uma varanda de grades antigas que adoro e não se ouve um único som na rua. Home is where the heart is e o meu coração está docemente instalado na rua do Jardim à Estrela.

outubro 29, 2007

Scorpio rising *

Apetecia-me escrever um post melancólico sobre os dias melancólicos que agora chegaram. Escreveria sobre este anoitecer precoce, sobre como já faço as viagens quase sempre à noite e sobre como saio do escritório e é noite cerrada, quando ainda na semana passada fazia Sol. Depois, descreveria como as noites ficaram geladas na minha cidade, as esplanadas vazias depois de semanas a fervilhar de gente, o aquecedor que já liguei no quarto, as noites que (penso) aí vêm sem vontade de festa. Mencionaria o transtorno do último regresso a Lisboa, enervada entre os condutores de fim de semana, as manobras perigosas de alguns e um leitor de mp3 que resolveu não funcionar durante toda a viagem, sabendo perfeitamente que antena também não existe. Se houvesse ainda tempo, dissertaria, por fim, sobre um vazio estranho; uma nódoa provocada pela rejeição; uma inaptidão para verbalizar emoções; e a incapacidade de assumir desejos.

Poderia escrever todo este post negro ou cinzento mas não quero. Apetece-me dizer que adoro esta época do ano porque há muita coisa que só acontece agora: as romãs, o bolo de milho da minha avó, os tortulhos de molho, os dias gelados mas de céu azul, o apaziguamento e a aceitação (vagarosa) de que só há Verão daqui a nove meses. No fundo, a minha respiração deixou de estar pesada porque sei que faltam dois dias para as férias e três dias para a viagem e os mesmos três dias para ver pessoas que me fazem falta e cinco dias para quem me deixou há mais tempo. Deixei de dormir mal e utilizo todo o espaço da minha cama de casal (e meio...) e, mesmo quando acordo a meio da noite, volto a dormir apenas em alguns instantes. Dou o braço a torcer e assumo que a vida não me trata mal, pelo contrário, e que não raras vezes me mima. E termino a pensar como é bom ouvir as palavras que escapam aos outros, como somos mais felizes quando perdoamos e relevamos, como sabe bem esquecer o romance por instantes e pensar só no superficial e como a vida continua. Apesar de tudo, de todos os infortúnios, de todas as desilusões e expectativas falhadas, apesar das contrariedades mínimas e máximas, apesar da inconstante vontade de avançar. É Novembro.

* ele aí está.

outubro 27, 2007



Este rapaz tem poesia lá dentro. E ironia. E consciência social. E é norueguês, ainda por cima.

...

Avó: Tu és como um pardal, filha.
Eu: E isso é como, avó?
Avó: Voas sem pousar. És daqui mas não és daqui.

outubro 25, 2007

Podes parar. Pára lá. Não, a sério...

Tenho o olho esquerdo a tremer desde ontem. É como se, em espaços de tempo exactamente iguais, tivesse um pequeno músculo em espasmos violentos na minha pálpebra. Já houve quem quisesse chegar perto para confirmar porque acha a ideia simplesmente hilariante, como se o meu olho tivesse vida e quisesse abandonar a órbita. Há quem ache que o olho me está a rejeitar, há quem diga que é uma vibração fantasma*. A mim, isto incomoda. Além da situação em si, que me deixa mais nervosa, o que me chateia verdadeiramente é não saber o que está a provocar este tremelique.

Muitas vezes tive um dos olhos inquietos com espasmos - é, obviamente, um fenómeno nervoso. Primeiro, a sensação desconfortável faz com que tente manter o olho aberto durante mais tempo do que o normal. Depois, passo à parte do auto-diagnóstico e tento perceber o que tenho cá dentro por terminar/por dizer/por atingir. Por norma, consigo perceber de onde vem este reflexo e tranquilizo-me quando sei como fazê-lo passar. Mas desde ontem que tento pensar no que me pode estar a incomodar e não encontro nenhuma resposta. Racional ou consciente, pelo menos. De maneiras que evito passar pelos homens que trabalham na obra mesmo ao lado do escritório, ainda assim algum não pense que estou no flirt.

Quando às vezes ouço certas músicas na rua (como a Someone great, dos LCD Soundsystem), acho que não me vou conseguir controlar e vou começar a dançar sem reservas, ali mesmo, no passeio da rua Viriato. Já me imaginei, completamente tresloucada, as pessoas paradas sem saber sequer o que pensar e eu a dançar (no silêncio) a música que me enche a cabeça. Era mais giro que, em vez do espasmo do olho, eu começasse simplesmente a dançar. Irritava-me menos e sempre tinha uma memória mais interessante para partilhar.

* como aquelas que agora, como somos modernos, sentimos quando andamos com o telemóvel no bolso.

outubro 23, 2007

Soem trombetas, rufem tambores...

... que a menina decidiu, pela primeiríssima vez, passar a roupa a ferro. Sem obrigações mas também sem jeito nenhum. Estou a um bocadinho de me tornar na dona de casa ideal.

outubro 22, 2007

Ser grande é f*****! *

Não sendo diferente das outras pessoas, eu tenho um sério problema com o dinheiro. Não é que não saiba o que fazer com ele ou que ele seja demais - é só que ele nunca me chega. Odeio ter que depender dele e por isso já desejei muitas vezes voltar à época da troca directa, onde o comércio me parecia muito mais justo e adequado às necessidades de cada um. Hoje em dia é impossível não pensar no dinheiro, fazemos muito pouco sem ele mas também não somos necessariamente mais felizes com ele.

Há uns meses valentes que suspiro profundamente pelo final do mês, tentando adivinhar quando vai ser depositado mais dinheiro na minha conta. A prestação da casa asfixia-me e é um luxo que estou a pagar bem caro. Mas foram nove anos a morar sozinha, sem depender de senhorios ou companheiros de casa psicóticos/sujos/cleptomaníacos, sem ter que usar apenas o quarto e a cozinha, sem ter que aturar amigos alheios. E, precisamente por ser tão independente, encontro-me absolutamente dependente desta despesa e tudo o que planeio tem que ser feito a partir dela. Quantas pessoas é que conseguem poupar alguma coisa hoje em dia? Duvido que sejam muitas e eu não sou certamente uma delas. Tenho um pé de meia muito curtinho, quase roto, que me salvará em caso de doença mas pouco mais que isso.

A minha relação com o dinheiro teve basicamente duas fases: a de adolescente (até estar na universidade, inclusivamente) e a de jovem trabalhadora. Na primeira, todo o dinheiro que os meus pais me davam era pouco, havia crises que resultavam da minha má gestão, já havia sinais desta vício da não-poupança. Agora, independente financeiramente, não sei como viveria sem eles. Revolta-me saber que eles evitam pequenos prazeres para me poderem ajudar e, se antes agradecia todo o dinheiro que me davam, hoje já tento recusá-lo, normalmente em vão. E mesmo sabendo que o meu pai dormia mal porque tentava arranjar uma maneira de esticar um ordenado sempre curto, não podia imaginar que alguma vez o dinheiro me fosse tirar o sono. Ah a ingenuidade...

Por isso, acho estranho que hoje não entendam os meus pequenos prazeres. Fico excitadíssima quando posso gastar o meu dinheiro em bilhetes para concertos ou livros ou viagens modestas - é só a maneira que arranjei para me manter livre. E para fingir que o dinheiro não tomou conta de mais esta vida. Não que passe todos os meus dias a pensar nisso... Mas daqui a nove dias é finalmente final do mês. Ufa.

* ou eu havia de arranjar maneira de dizer isto num dia qualquer.

outubro 19, 2007

Cinco estrelas!

Em resposta ao desafio do Tiago, aqui ficam os meus cinco filmes preferidos. Escolho-os não pela estrutura narrativa ou por uma feliz sucessão de planos, em que o campo e contra-campo e fora de campo alternam em plena harmonia - isso não sei dizer. Escolho-os pela maneira como me falaram ao coração: é que eu sou absolutamente viciada em histórias boas.

Portanto, e numa ordem aleatória, os meus filmes preferidos são O carteiro de Pablo Neruda (já perdi conta às vezes que sonhei ter uma janela sobre aquele mar), Donnie Darko (nunca me vou esquecer do murro no estômago que é o final, sentada num quase vazio São Jorge), Lost in translation (como, com poucas palavras, se escreve uma história de amor), Eternal sunshine of the spotless mind (em que eu falo através da boca da Kate Winslett durante o filme todo) e [fazendo batota] um qualquer do Woody Allen (esse delicioso e franzino neurótico, completamente rendido às mulheres).

Jane, Catarina, Finn, Sónia e Rita Maria - passo-vos a batata quente. Queiram ter a gentileza de partilhar essa vossa lista connosco!

outubro 18, 2007

Doces dias *

Os dias passam devagar por mim mas deixam-me marca porque isto de acordar às seis e meia da manhã não é para mim. Quer dizer, é, mas francamente o facto de chegar a casa e querer dormir dormir dormir chateia-me. Ando a contar religiosamente os dias que faltam para os próximos sete dias de férias e a fazer planos para os dias que ainda me sobraram, isto é, a planear a minha próxima internacionalização, que deverá acontecer para os lados de Barcelona para visitar o amigo e ex-colega Jorginho. Isto é um detestável ciclo vicioso que se resume ao esquema pensar em férias--> descanso-->trabalho (revigorada)--> pensar em férias mas em períodos de tempo curtíssimos. Portanto, é no exacto momento em que o trabalho começa a render mais que o pensamento das férias me ocupa toda a parte do cérebro não dedicada a relatórios de produtividade, alocação de pessoas, faltas e atrasos e esquemas de motivação.

Por isso, não é de estranhar que um dos confortos venha da comida, mais precisamente dos jantares com outras pessoas que não o Chandler ou a Phoebe ou o Ross. Na semana passada, passámos uma noite a comer enchidos de Portalegre, a degustar queijo da Serra da Estrela, tudo regado a Periquita. Não foi bem um jantar, mas sim uma gigante tábua de queijos e enchidos, daquelas que enchem a vista no restaurante. Mas a pièce de résistance foi um maravilhoso cheesecake (foto deste menino, confecção deste *), o qual me tem assaltado o palato de vez em quando. Mas, prometido que está o encore do cheesecake, estou mais descansada. Ontem foi a vez do costumeiro sushi caseiro, onde não arriscámos mais que o pepino, a pasta de atum e o salmão crú/fumado. Como é hábito, fizemos quantidades industriais, que sobraram e que alguns reservaram para o seu pequeno-almoço [ar de náusea]. Não fosse o facto de termos começado a jantar às onze e meia da noite e tinha sido quase perfeito.

Resta dizer que ontem foi dia de ginásio. E hoje devia ter sido. Amanhã será certamente. É que o corpo não se compadece com os jantares de amigos. E se eu quiser continuar a comer uma cacholeira de assar, seguida de queijo da Serra e arrematar tudo com tostas e pasta de atum, há muito trabalhinho a fazer. Suar. É urgente.

outubro 16, 2007

Ainda vou a tempo!

De ter dar os parabéns por vinte e seis anos que mais me parecem dez, porque nunca deixarás de ser a minha baby! De te dizer que te adoro (como se precisasse de dizer mais...) e de te desejar toda a felicidade que me cabe no coração. E de me humilhar publicamente, publicando esta fotografia em casa da avó :) Não cumprimos o sonho de morar juntas (ainda!) com os nossos bebés e maridos mas não há nenhum dia em que não pense em ti. Parabéns macaca! (L)

(Sim, os pormenores da mãozinha no bolso e da cara de quem fez das boas são impagáveis.)

outubro 15, 2007

Do multiculturalismo

Ler um livro em alemão sobre a Namíbia. Agora sem rede, aka, sem dicionário ao lado da cama.

[fingers crossed]

outubro 14, 2007

... *



Um dia de preguiça em casa, quando o tempo prometia cem porcento de nebulosidade e afinal o sol ainda brilhou. Acordar tranquilamente até as palavras ditas no dia anterior ressoarem outra vez na cabeça: afinal aconteceu mesmo. Acabar o jornal, almoçar os restos de ontem, pairar entre a máquina de lavar e o sofá. Sentir que não há grande coisa a dizer, a boca é como uma nascente seca. Ele disse-me Amanhã seremos outros e eu sei que sim. Mas enquanto o nosso corpo não muda e a nossa cabeça se concentra em coisas vagas, custa. Quis forçar as palavras mas não há aqui nada. Vou ficar encostada na minha varanda, a sentir a algazarra dos meus vizinhos espanhóis, a espreitar as nuvens descerem para o rio, a fingir que posso tocar nos aviões que estão prestes a aterrar, sem falar. Amanhã sou outra e no outro dia também e no dia a seguir. Só esta nódoa é sempre a mesma.

* you rock. They do too.

outubro 13, 2007

Let's face it.

Daqui a três semanas faço vinte e oito anos e sou uma anormal. Tenho casa própria, tenho um carro velho mas que anda, tenho saúde e amigos, viajo e vou a concertos, passeio e leio muito mas sou uma anormal. Porquê? Simplesmente porque tenho quase vinte e oito anos e não tenho namorado. Não sou eu que o penso, é toda a gente à minha volta. É a minha chefe que me aconselha a ir à PT procurar um rapaz jeitoso, sãos os pais das minhas amigas (que já casaram) que me olham com uma certa compaixão, são os amigos que pressionam. Mas sei que sou mesmo anormal quando a minha própria mãe já não acredita que algum dia vá conhecer alguém interessante. Porque, para toda a gente, a culpa é minha, eu é que não devia ser esta anormal que simplesmente não quer uma pessoa qualquer, que não precisa de uma relação de conveniência para se sentir menos só.

Eu devia arranjar um namorado. Mesmo que eu não o amasse ou que não suportasse os hábitos dele mas, pelo menos, se o arranjasse, podia encarar toda esta gente de frente e passava a ser como as outras. E eu até quero ser como as outras mas quando chegar a altura certa. Só com um namorado é que os outros me podem imaginar feliz. Mesmo que ele me batesse ou fosse ignorante ou escondesse um segredo horrível ou desprezasse as mulheres ou só me quisesse por estar tão só como eu. Mas isso ninguém precisava de saber, bastava que me apresentasse com ele por aí. Francamente, já não sei o que está certo. Mas sei, quando ouço as pessoas falarem por aí, que sou uma anormal duma anormal.

outubro 12, 2007

Sobre a sorte (outra vez)

Adivinhem quem é que acabou de ganhar um bilhetinho (no sítio do costume) para ver os Ingrid Eto no Santiago Alquimista hoje à noite.
[assobio]

outubro 10, 2007

outubro 09, 2007

Dormir mais feliz #9 *


Desire me so deeply
Drain and kick me hard
Whisper secrets for me
Try to go too far


* ou Eu ando a acordar assim há muitos dias...

Tenho mais uma prova de que realmente sou totó quando...

... descubro que tenho mais nove dias de férias para gozar e não sei o que fazer com eles.

outubro 08, 2007

A regra que confirma a excepção



Pois o que me aprazia dizer era que tinha gostado imenso da actuação de Electronicat, um rapaz francês radicado em Berlim. Mas não foi isso que aconteceu e, portanto, não vou mentir. Foram apenas alguns momentos de ruído, em que uma boa batida (resultante de programações prévias) combatia com uma guitarra estridente e pouco espectador friendly, o que, acompanhado com uma voz pouco segura, tornava a música numa muralha de som intransponível. Eu respeito imenso os artistas, especialmente quando se apresentam sozinhos em cima de um palco, arriscando o desaire musical sozinhos perante uma plateia de onde podem surgir as mais díspares reacções. Mas isso não me obriga a gostar. Respeito mas ao vivo não quero repetir.

outubro 06, 2007

Duas noites numa noite!

O que é que têm em comum uma grelha de churrascos velhas, uma marioneta mexicana, um termo e uma panela, uma caixa de ferramentas e um jogo de sinos? São todos tocados pelas irmãs mais criativas que já vi até hoje, as Vermillion Lies. Poucas vezes me aventurei a ver um concerto de um artista ou de uma banda que não conhecesse mas, pelos vistos, ando a perder todo um outro Mundo. Acompanhadas por um guitarrista, um violinista e duas bailarinas (connosco na foto), as irmãs Kim e Zoe conquistaram (a custo, é certo) a sala portalegrense.

Uma irmã compõe as músicas alegres para a guitarra, a outra arranca as cantigas mais tristes do piano e fazem as duas aquilo a que se chama twisted folk. Cantaram sobre o avô que morreu, sobre a pessoa de quem mais gostam no Mundo, sobre o aquecimento global e sobre o namorado que as deixou ficar mal. O registo oscilou entre a cantiga de cabaré sob o tom aveludado das luzes vermelhas e a doçura das canções sobre os males de amor. Todo o público foi chamado a participar, quer em partes da letra (It's hot!), quer na própria percussão. As irmãs sabem dizer O que está na caixa?, Boa noite Portalegre e [sic] bacalau. Disseram-se encantadas com a nossa comida e com as pessoas e estiveram disponíveis depois do concerto para fotografias para venderem a sua própria roupa interior. Que maravilhosa surpresa, esta noite.

Depois da primeira noite, houve uma outra - a diferença foi só de dez ou quinze minutos. Os Capitão Fantasma ocuparam o café-concerto para um espectáculo abrasador. Para mim, era outro momento de descoberta porque muito pouco conheço deles, as recordações levam-me até aos meus catorze, quinze anos. Havia malta muito estilizada, naquele estilo rockabilly que sempre associei à música destes rapazes, havia aquele pessoal que cresceu a ouvi-los e agora, já para lá da fronteira dos trinta, reviveu grandes momentos da adolescência. O café-concerto esteve a fervilhar, especialmente quando Bruto subia para cima do monitor e gritava para a massa de rapazes que se empurrava na frente, as cristas a deslizarem e os punhos em riste para cantar as letras todinhas de cor. Esteve Lisboa a arder, as caveiras a serem convocadas para o rock e toda a gente bem disposta. Haja fôlego* para acompanhar esta gente!

* e a ver se hoje ainda resta algum, para o senhor Electronicat.