De todo o mal que me fez, o que me magoa ainda hoje é a ingratidão, a incapacidade de aceitar que o que tínhamos juntos era o mais próximo que ele ia encontrar de perfeito. Passaram dez anos e a nossa vida poderá continuar mas provavelmente nunca estarei totalmente a salvo das suas tentativas reles de me magoar. E toda a dor que ele me causou apenas me deixou uma gigantesca percepção do que é o respeito por mim mesma, do que é não sucumbir à maior rede de mentiras que alguma vez me contaram, de procurar alguém verdadeiramente à minha altura. Deixá-lo foi a mais difícil e mais acertada decisão de toda a minha vida, foi acordar para um mundo em que eu era realmente uma pessoa, foi crescer e ver que a vida não precisa ser só um emaranhado de noites inquietas e dias confusos, em que nunca se sabe bem em quem confiar.
Por isso, se me perguntarem um dia qual foi o melhor momento da minha vida, eu vou responder que foi o dia em que te deixei, o dia em que encheste a minha caixa de mensagens com todos os insultos que pudeste inventar, o dia em que me perdeste para alguém incomparável e infinitamente melhor. Nada do que me possas dizer hoje ou amanhã me irá abalar porque, tanto eu como tu, sabemos que a tua vida é o castigo por tudo o que deitaste fora.
Apenas desejo não mais me cruzar com ele. Para que da minha boca não saia mais do que quero dizer.
*para mim, que um dia consegui perceber que se fazia tarde. Para mim, por ter perdido sete anos da minha vida a gostar de alguém. Para mim, no dia em que decidi que, de onde esta dor veio, não virá mais nada. Nunca mais.