Nem quero acreditar que este ano já acabou! Parece que ainda ontem estava a programar a passagem de ano com os meus miúdos aqui em casa, a tratar das playlists e da pista de dança, a encher a mesa de petiscos e já estamos aqui outra vez.
Este ano foi... intenso, para dizer o mínimo. Com as novas responsabilidades profissionais seguiram-se os voos para visitar clientes e potenciais clientes (passei cento e quatro horas em aviões e percorri cerca de cinquenta e oito mil quilómetros, o que chegava para 1.45 circumnavegação da Terra...) e outros em passeio. Pude, finalmente, concretizar o meu sonho de pisar outro continente, ao mesmo tempo que visitava uma cidade do meu imaginário. Pude tomar banho nas fresquinhas águas portuguesas e também nas águas com temperaturas caribenhas. Em Ibiza, não vi mais do que o interior de um hotel e a vista a partir do aeroporto. Comi umas quantas tapas entre Madrid e Barcelona mas sozinha, o que lhes retirou algum encanto. Fui a Portugal mais vezes do que podia imaginar e por isso consegui atenuar as saudades de casa.
Vi-me num novo trabalho para o qual, entendi mais tarde, não estava realmente preparada. Mas creio que estive à altura do desafio e fui fazendo o melhor que podia e sabia, tentando, em silêncio e com muita observação, aprender com os outros. Muito do que sei hoje resulta dessa atenção e desse estudo meio dissimulado das atitudes que são esperadas neste meio. Ainda tenho um longo caminho pela frente, que nem sequer sei se quero percorrer. Foi o ano das piores dúvidas da minha vida: perguntei-me muitas, muitas vezes o que fazemos nós aqui. Posso dizer que foram meses de total angústia, a pensar que nada disto tem sentido, a querer fugir a pessoas e a responsabilidades sem nunca o conseguir inteiramente, a pôr em causa todas as minhas decisões, a minha vocação, até o meu instinto maternal. Chorei muito, durante esse período, e pensei que podia ter entrado em depressão. Felizmente, tive a mão de sempre à minha espera para me ajudar a levantar e ver para além das... hormonas!
Entendi depois que a pior parte das minhas dúvidas chegou ao mesmo tempo da notícia por que tanto esperávamos: vinha aí mais um bebé! Muita da minha angústia se pode explicar com essa fase inicial da gravidez, onde tudo me parecia aterrorizador e onde eu me sentia completamente perdida, sem saber o que queria ou como deveria mudar. Já o disse antes: foi um ano e meio a tentar ter este bebé, à procura de razões para esta demora, à procura de respostas que não precisava - apenas precisava de descansar e deixar as coisas acontecerem naturalmente. Depois seguiram-se os meses de dúvida (será que a gravidez aguenta? Será que o bebé está vivo? Será que está inteiro e são?) que finalmente se dissipou. Apesar de me sentir muito mais tranquila agora, a verdade é que as semanas de enjoos e náuseas constantes e agora os dois últimos meses de dores nos ossos não me têm propriamente ajudado a gozar tudo como queria. Eu brinco a dizer que é da idade mas não sei, se calhar é mesmo e o corpo começa a dar os primeiros sinais de que necessita abrandar.
Acabo este ano a agradecer a família que me calhou em sorte e a família que escolhi. Os que estão longe tudo fazem para minimizar esta distância e estão sempre disponíveis para nos ouvir; os que tenho ao meu lado são realmente a melhor coisa que me aconteceu: um amor que nunca desertou, mesmo depois de tanto disparate e tanta crise hormonal, sempre pronto a ouvir-me e a abrir-me os braços, mesmo que às vezes precise de ser lembrado que esses abraços fazem falta; um filho que se tem tornado numa criança mais sociável, que amadurece e ainda luta para deixar as birras, que gosta muito dos outros, que é sensível e preocupado, que me fala em Português, Francês e Luxemburguês, que gosta de mim com tanta força que às vezes preciso de o afastar. E agora uma filha, uma menina para aumentar a família e encher ainda mais a nossa casa de gritaria, choro e amor.
Em 2014 passei mais tempo sozinha e isso fazia-me falta, consegui fazer mais coisas de que gosto (ler vinte e cinco dos trinta livros que tinha previsto já me parece uma vitória), só me faltou um bocadinho mais de Sol e de céu azul. Para o ano que aí vem só peço muita paciência e muita calma para o momento em que passarmos a ser quatro. Peço clareza de ideias e confiança no meu instinto maternal - afinal, já temos um filho de quatro anos, portanto alguma coisa fizemos bem! E espero poder resolver o emaranhado de ideias que me assombra as decisões profissionais, ao mesmo tempo em que encontro o tempo para mim no meio das três outras cabeças cá de casa. E para vocês, o que ainda vêm aqui ler-me, desejo um ano memorável, em que possam viver com muita tranquilidade e prosperidade, mesmo que isso signifique diferentes coisas para diferentes pessoas. Que não tenham que viver na incerteza e que encontrem sempre forças para lutar pelo que desejam. Para o ano há mais!