Quando chegar Setembro deste ano, passarão quinze anos desde que me mudei para Lisboa. Hoje, repentinamente, dei-me conta que já passei quase tantos anos aqui como em Portalegre, o que me faz sentir literalmente dividida entres estes dois amores. Tinha dezassete anos quando me mudei e comecei a viver com amigos, quase paralisada com a liberdade que me concedia esta independência e maravilhada com a vista que tinha daquelas águas furtadas na rua Sabino de Sousa. Não sentia medo de Lisboa nem achava que me ia perder e adorava contar ao meu avô que existiam muitos autocarros com o número dezasseis que passavam de dez em dez minutos e ver a sua cara de espanto. Já há uns anos que voto aqui porque não faz sentido escolher representantes numa cidade onde já não vivo e onde cada vez mais me sinto um pouco estranha. O meu filho nasceu lisboeta e tanto que eu gostava que ele fosse alentejano! Tenho uma tarefa muito difícil em mãos, que é fazê-lo ser um bocadinho alentejano.
Na prática, tudo isto significa que vive metade da minha vida em Portalegre e a outra metade aqui. Apesar de para sempre me sentir alentejana e de sonhar muitas vezes em voltar a casa, já não sei muito bem onde pertenço. Senti muitas vezes a solidão de viver numa grande cidade mas também pude gozar do seu anonimato. A minha racionalidade dita que é em Lisboa que devemos viver mas o coração às vezes grita que é para Portalegre que devíamos voltar. Às vezes penso que a solução seria encontrar um lugar a meio para poder alternar entre um mundo e outro. Entretanto, lá me vou rendendo ao laite e ao joalho.
6 comentários:
Como é que se costuma dizer? Home is where the heart is. Certo? Portanto, vivas onde viveres, vais ver que há sempre um pequeno pedaço do teu coração que ficou para trás, nos sítios onde foste feliz. Pelo menos é assim que me sinto quando penso em lisboa, no porto, em sintra, em seul, ou, porque não dizê-lo já, mesmo em portalegre.
Felicidade para ti. E para o teu pequenino alfacinha com costelas alentejanas. :)
Não me parece nada difícil a tarefa de tornar o Vicente também alentejano, basta, quanto a mim, que privilegie e promova o contacto com a terra, com os avós, deixá-lo explorar as origens. O encanto do Alentejo faz o resto.
Na minha família, o único alentejano, seu conterrâneo, era o meu pai, mas a paixão e o encantamento pela terra do pai, avô e bisavô, fazem com que todos nos sintamos alentejanos não de berço mas de coração. Tenho a certeza que o Vicente também vai sentir-se alentejano de coração.
Beijinhos
Eu também estou há tanto tempo em Lisboa como em Portalegre...mas, apesar de todas as oportunidades que Lx nos presenteia, o meu sonho é voltar à Minha Terra, Portalegre! É lá que eu me sinto mais feliz, é lá que tenho as minhas recordações de infância, lá é tudo!
Eu estou como tu, mas com a divisão mais a norte e mais a sul (sei que me entendes...). Acho que é uma vantagem podermos estar em dois sítios ao mesmo tempo, porque de facto é o que acontece.
BJSx3 F.
Quer dizer que fui tua professora precisamente há 16 anos!Como o tempo voa!
de certeza q consegues fazer o Vicente um bocadito alentejano. eu tb sou barreirense filha de pais alentejanos e também me sinto um bocadinho alentejana: faz-lhe umas açordinhas alentejanas, umas migas, uma carne de porco a alentejana que ele fica logo mais alentejaninho:P
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