Eu estava a conduzir, a voltar para casa mas foi como se de repente as minhas mãos e pés dominassem a minha cabeça e a minha vontade e trouxeram-me aqui. Vejo pastos verdes, charcas, sobreiros e algumas queimadas até os olhos alcançarem o horizonte. No ar, apenas o som de alguns carros que passam ao longe e uma motoserra que alguém opera nas redondezas. De resto, só o som do vento frio a esgueirar-se entre as urzes. Está frio mas esse é um pormenor secundário para quem precisava deste momento há tanto tempo.
Se alguém passar, ficará provavelmente intrigado com aquela jovem mulher sozinha, sentada inspirando a vista com sofreguidão, gravando da memória o silêncio desta serra. Quem passar não compreenderá e por certo estranhará a sua imagem, olhando de frente o Sol, imóvel num banco de tijoleira. Só que esta é a calma que tanto procura, este é o sítio com que sonha frequentemente e que, não lhe podendo aliviar as dores, dá ao menos para respirar bem fundo.
Esta mulher que criou já a sua herança, que gerou no seu ventre o melhor legado que pôde, hoje está só, perdida apenas entre os seus pensamentos e o frio que desce da serra da Estrela. E é apenas mesmo isso, apenas uma mulher escrevendo debaixo do Sol de Inverno.
1 comentário:
Faz-nos falta, por vezes, ouvirmos o nosso silêncio.
Um beijinho
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