As paredes já estão vazias. Nos armários não resta um pacote, um livro, um filme que seja. Os brinquedos estão empacotados, alguns móveis guardados em local seguro. Apesar de não sabermos ainda o dia exacto da partida (o pai partirá Segunda-feira mas nós só nos podemos juntar quando as condições necessárias se verificarem...), começámos a época das despedidas.
A primeira de todas começou com a nossa casa, o sítio que viu nascer esta família. Entrar hoje aqui é muito estranho, especialmente por não ver todas as nossas recordações espalhadas pela parede. O quarto do Vicente está nesta altura transformado em arrecadação e muitas vezes não conseguimos evitar tropeçar numa montanha de caixas ou objectos para empacotar. É que isto não é bem só mudar de casa: é não poder levar tudo, ser obrigado a escolher o essencial e esperar que se possa mandar buscar o resto muito em breve. Esta espécie de limbo torna as coisas um pouco mais difíceis do que gostaríamos mas, felizmente, não há nada que um bom par de amigos não se ofereça para aliviar.
Depois, os amigos. Almoçamos com uns, jantamos com mais outros, bebemos uma cerveja com mais três ou quatro. Muitos nos ofereceram a sua ajuda e nós aceitamos quase tudo o que podemos. Eu sei que na verdade isto é mais um até já do que outra coisa: o mundo hoje já nos ajuda a ficar perto de quem mais gostamos. Mas a proximidade física é outra coisa e ficamos tristes por deixarmos tanta gente boa para trás e com ela petiscos na tasca da esquina, jantares e lanches ajantarados, passeios pela marginal, cafés em praças geladas. E logo eu, que não sou propriamente muito boa a fazer amigos, vou deixar pessoas que me vão fazer muita falta, com quem aprendia a partilhar os meus dias, ganhando confiança e à vontade, já pronta a juntá-las aos amigos de longa data. Respiramos fundo e esperamos encontrar gente assim daqui para a frente.
Próxima etapa? Dizer adeus à família, ainda que nos sobrem uns dias para as despedidas. Vai ser coisa para custar e fazer-nos esquecer como foi empacotar uma vida e deixá-la em stand by. Esperamos sobreviver com alguma sorte.
4 comentários:
Marisa, estás realmente triste e eu compreendo-te muito bem. Aqui fica um conselho de alguém que teve despedidas muito dolorosas quando da guerra colonial: nunca digas adeus, diz sempre até já!
Eu neste momento estou na Flórida (pressuponho que não tens tempo para me visitar no meu blog e por isso não deves saber), voltarei a Portalegre dia 14 de Março, se entretanto por lá estiveres gostaria muito de te ver e conhecer o Vicente.
Beijinhos da tua professora
Vai correr tudo bem e depressa farão outros amigos e o Luxemburgo também não é muito longe e nos tempos que correm fica mesmo a um clic de distância, os abraços e os beijos vão ser virtuais, mas de certeza que não vão perder a carga afectuosa e quando por cá estiverem ainda vão ser mais sentidos.
Não será a mesma coisa, mas de certo que os nossos conterrâneos lhes saberão indicar o café, a mercearia, ou o supermercado onde encontram produtos portugueses, só assim para matar saudades dos petiscos nacionais.
Desejo-vos as maiores felicidades e que encontrem as oportunidades e façam a vida que, infelizmente, no nosso país não conseguiram. Boa viagem e tudo de bom.
Se puder vá dando notícias.
Um beijinho
Muita sorte!
A 2.ª edição está já aí!...
Para quem gosta e QUER escrever:
http://escrita-online.blogspot.com.
Boa sorte!...
Enviar um comentário