Os nossos dias têm sido esticados até à exaustão. Dividimo-nos entre as coisas que são obrigatórias (cozinhar, lavar roupa e outras tarefas que tais), coisas de que gostamos (escrever, tratar dum filho, tomar atenção ao Mundo) e coisas de que precisamos (burocracias, desporto). Habituados a horários bem diferentes em Lisboa, sofremos agora com a crónica falta de tempo para tudo.
Se em Lisboa ia de carro para o trabalho e demorava normalmente não mais do que quinze minutos, agora uso o autocarro, o que significa que o tempo que perco entre casa, trabalho e outros sítios aumentou exponencialmente. A única coisa boa disto é que voltei a ler nos transportes, poupo no carro (que ainda espera por nós em Portugal) e no gasóleo mas de resto estou sempre condicionada pelo trânsito que, para uma cidade tão pequena, às vezes é bem caótico.
Em Lisboa, o pai do Vicente conseguia quase sempre ir buscá-lo antes das quatro da tarde e agora nunca conseguimos o mesmo antes das cinco. Esta parte do dia pode incluir dois autocarros em direcção à creche e mais dois em direcção a casa - é tempo a mais. Chegamos todos a casa já bastante cansados e ainda com uma mão cheia de coisas para fazer. A única possibilidade foi começar a escolher uma tarefa por dia (excepto as diárias, como lavar a louça) e dividir as outras pelos restantes dias da semana. Isto também me obrigou a uma mudança radical: ignorar, calmamente, que há muitas coisas a fazer. Mesmo cozinhar não tem sido feito com prazer mas antes como algo inevitável, o que eu detesto.
Não temos tempo para um ginásio mas queríamos fazer algum exercício. A solução (óbvia)? Correr. Mas para podermos correr, é necessário que o façamos por turnos (numa base de dia-sim-dia-não) e a horas um pouco impróprias. Está fora de questão fazê-lo depois do trabalho porque estamos cansados e há outras coisas mais importantes. Onde fomos roubar tempo? Ao sono! E assim se começa o dia, a correr às seis da manhã, antes de um duche e do trabalho. Por enquanto, às quatro e meia da manhã já é quase dia, pelo que a questão da luz nem se coloca. Mas não sei onde vai esta boa vontade no Inverno...
Sofre-se um pouco para manter esta disciplina. Eu, que sempre disse que não me imaginava a ser outra coisa que não espontânea, vejo-me a planear passo por passo as minha manhãs (madrugadas!) para nem perder tempo. As quarenta horas semanais de trabalho ninguém nos tira, apesar da muita flexibilidade de horários e boa vontade dos chefes. O que assusta são as outras horas todas de trabalho fora do escritório e o nosso aspecto de zombie cerca das oito da noite. Se compensa? Ainda não sabemos, continuamos a procurar a fórmula certa. Mas como ainda não podemos pensar na reforma e num quintal gigante para o Vicente correr, é importante alguma disciplina!
3 comentários:
Por acaso às vezes penso em ti (e em outras mães trabalhadoras) e juro que não sei como conseguem.
Trabalho/casa/criança/tempo pessoal/tempo a dois... O dia não tem horas suficientes pata tudo o que queres/precisas fazer. :|
(E ainda consegues encaixar exercício físico! BRAVO!)
Nao sei se podes, se te compensa ou se tens espaco, mas tenho uma amiga q tem uma passadeira de correr em casa e faz a corrida em frente à TV ou a olhar pelo miúdo. Poupas tempo, consegues por uma máquina a lavar enqto corres e como sao dois, amortizas o investimento.
Outra coisa q te recomendo é que, se possivel, deixes o autocarro e procures vias alternativas pra te deslocares.
Last, but not the least, se puderes, muda de casa pra algo mais próximo do emprego. Se nao for possivel, mais proximo duma estacao de comboio. Foi o que eu fiz e apesar de ter menos dinheiro por mês tenho UMA VIDA!
Boa sorte :)
(o Vicente precisa do vosso tempo, e nestes Países como a Belgica e a Holanda, deixar os miudos na creche até às 5 todos os dias é altamente mal visto, ao ponto de as educadoras poderem chamar as autoridades e dizerem q negligenciam o miúdo. Pensa nisto, estou a falar mto a sério)
Se começarem a correr agora, no Inverno já estão tão "agarradinhos" que vão ter vontade de continuar.
Boas corridas.
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