Quantas mais notícias nos chegam de Portugal, mais triste fico. Por um lado, sinto-me um pouco envergonhada por ter deixado o país e não fazer parte da luta. É óbvio que o fizemos pelas melhores razões mas não posso deixar de sentir que, como um rato, abandonámos o navio mesmo antes deste afundar. Por outro lado, sinto um enorme alívio por termos saído na altura certa, já cansados de apenas sobrevivermos e antes das últimas (assustadoras) notícias.
Sinto algum rancor do Estado e da forma como funcionam, por exemplo) as prestações sociais do nosso país (critérios e processos labirínticos de atribuição, erros involuntários) mas não sinto rancor do meu país e muito menos da sua gente, que tem vivido calada e esperançada que os todos os sacrifícios darão resultados. Sinto rancor pelo que estão a fazer aos trabalhadores, retirando-lhes poder de compra, empurrando-os para a pobreza, enquanto as grandes empresas, especialmente aquelas que já antes podiam regozijar-se com o lucro, enchem ainda mais os bolsos.
Vejo direitos a serem cortados à minha família, vejo os meus amigos desempregados, sem esperança e sem perspectivas de futuro, vejo a pobreza a chegar a todo o lado. Sinto que se perde a esperança, o que é especialmente grave para famílias com filhos. Sinto-me aliviada por ter escapado um pouco a tudo isto mas culpada por não estar ao lado da "minha gente" neste momento tão grave.
Viver aqui faz-me sentir ainda mais rancor da nossa classe política. Ver como são distribuídas aqui as prestações sociais, perceber que direitos têm os trabalhadores, sentir como são mais justas e equilibradas aa contribuições de cada um só me faz perguntar mais vezes o que raio correu mal em Portugal. Se a riqueza podem ser distribuída mais equitativamente aqui, porque raio deve apenas encher alguns bolsos em Portugal? Se aqui a maternidade (e paternidade) são protegidas e quase encorajadas porque razão fazem contas os portugueses para ter um filho? Porque é que aqui as contribuições tributárias são simples de entender e justas na sua aplicação e em Portugal as pessoas se perdem entre escalões e descontos que nunca se traduzem na melhoria das suas vidas? Não tenho resposta mas creio que há uma certa maneira de funcionar aqui que não vinga em Portugal. E bem, não acho o Luxemburgo perfeito mas do que me é dado a ver é um país mais transparente, mais justo e, não sendo paternalista, mais protector dos cidadãos.
Os dois mil quilómetros de distância não significam que não esteja solidária e profundamente preocupada com o destino do meu país e das minhas pessoas. Assisto, atenta, ao desenrolar das coisas e espero, como todos os portugueses, que os custos da austeridade não caiam uma e outra vez sobre os mesmos. E, mesmo aqui, junto-me aos que gostavam de não ver cair o nosso país. Nunca me manifestei mas este Sábado seria certamente a minha primeira vez.
6 comentários:
eu tenho esperança e acredito que ás vezes (e atenção que não estou a falar das opções políticas actuais ou de anteriores governos)os sacrifícios são mesmo necessários...
As minhas opiniões são mais que muitas e são disconexas e contraditórias e variam ao longo do dia, mas para mim é aqui que devo e quero estar.
E isto dava uma conversa e tanto ;-)
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Adorei o teu Blog. Já sou tua seguidora. Infelizmente estamos a passar por momentos complicados e com tendencia para piorar. Que Deus nos dé forças para continuar a lutar.
Olá,
desculpe incomodar mas o meu marido vai a umas entrevistas de trabalho no Luxemburgo e eu gostava de saber se existe aí algum dress code, aqui em Portugal estamos a ficar cada vez mais informais.
Obrigada, tudo a correr bem :)
Olá Ana. Não lhe sei responder porque depende da profissão do seu marido. Das duas entrevistas a que fui aqui, tentei ir o menos informal possível mas sem exagerar.
Acho que é importante pensar na posição e empresa a que nos candidatamos e agir de acordo. Também ajuda perguntar directamente a alguém dos recursos humanos da empresa, por exemplo :)
Obrigada, acho que fiquei esclarecida :).
Tudo a correr bem
Calma Marisa, os portugueses da minha geração e até os da tua mãe já passaram por situações semelhantes!
Os novos como tu, os meus filhos e muitos milhares são dos bons tempos em que nos endividamos sem pensar no futuro e agora sobre tudo para vós é difícil compreender. Não, não estou a desvalorizar o povo que saiu à rua, que aliás era de todas as idades, só quero é transmitir-te um pouco de esperança relativamente ao TEU/MEU/NOSSO Portugal.
Embora a chuva comece a fazer falta, espero que este Portugal pelo menos te receba com o seu Sol. Sim, esse não o devemos a ninguém e continuará a brilhar para nós.
A tua Professora
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