Há dias muito maus e ontem foi um deles. Fechados em casa há quase uma semana à conta desta doença (um nome um bocado parvo, uma total desconhecida para nós), não tem ajudado a manter a calma e a serenidade. Primeiro houve aquela fase de choro e mimo resultantes do mau estar, os queixumes permanentes naturais de quem não podia sequer comer ou dormir. Depois, uma ligeira melhoria que infelizmente terminou em quatro horas absolutamente inquietas no hospital. E finalmente chegámos ao dia de ontem, em que os desafios, as desobediências, os disparates se sucederam em catadupa.
Penso muito nas coisas que leio e pelas quais me interesso quando me relaciono com o meu filho. Escolhi (escolhemos) a via da conversa, da explicação de causas e consequências, tentar entendê-lo e aceitá-lo como a personalidade única que é, fazendo um esforço para não o julgar e desvalorizando o seu temperamento irascível. Falar é muito simples mas poder manter esta visão depois de horas de berros, choros, empurrões, faltas de paciência, exigências e birras (aparentemente) sem sentido é impossível. Cheguei ao ponto de questionar as minhas qualidades como mãe, assumi silenciosa e dolorosamente uma derrota neste nosso caminho. Estarmos aqui, sozinhos, a dois mil quilómetros da família e dos amigos também não ajuda: na maior parte dos casos, não temos tempo para sair apenas e respirar fundo durante uns bons minutos, o tempo suficiente para nos refazermos e ganharmos novo fôlego. Não existe espaço e, apesar de ser esta uma consequência de uma decisão nossa que tomámos conscientemente, isso custa.
O melhor destas situações é acordar no dia seguinte. É poder ter essas horas de silêncio para tomar coragem para começar a luta outra vez. É perceber (vezes sem conta) que esta batalha não tem fim mas é exactamente isso que faz de nós mãe e filho: crescemos juntos, às vezes gritamos mas abraçamo-nos muitas mais vezes, discordamos, insistimos e rimo-nos um bom bocado. O melhor é sentir como nos esquecemos das horas amargas quando começa um novo dia. Cruzar os braços é que não pode ser.
2 comentários:
ainda bem que aqui voltas....é que o teu silêncio inquieta-me. Aqui (e no nosso correio) sempre explodimos e partilhamos as nossas alegrias e tristezas e dúvidas e angústias, e aposto que não cura tudo, mas ajuda saber que não estás só. Eu estou sempre aqui e aqui não há distância.
Beijos minha querida e força. Amanhã é um novo dia e a sério que tudo melhora.
As melhoras do Vicente.
O putos sabem mesmo bem como nos levar ao limite, mas também sabem dar abraços e beijos como ninguém.
Um abraço
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