Se há coisa que me irrita (como a toda a
gente, eu já sei) é a injustiça. Fico piursa quando acontece com os outros e
completamente furiosa quando a vítima sou eu. Há outras coisas que me tiram
fora do sério, como por exemplo a recompensa da mediocridade. Agora se
juntarmos estas duas coisas a acontecer simultaneamente, então fico
completamente insuportável.
Quando se recompensa a mediocridade, a
preguiça, a falta de ética e de brio profissional está-se a passar uma mensagem
muito clara a toda a gente envolvida: não é necessário, nem sequer esperado,
que as pessoas sejam os melhores profissionais que conseguem ser. Não é
necessário nenhum envolvimento, nenhuma preocupação, não interessa se se
acredita no que se faz nem se se presta o melhor serviço possível. Estar
enconstado no nosso posto o dia inteiro, sem nenhum orgulho naquilo que se faz,
sem qualquer interesse em melhorar, em crescer profissionalmente vai dar no
final direito ao mesmo que aquela pessoa que dá o litro.
É claro que isto tem consequências para quem
se empenha de verdade e, em última análise para a empresa: quem se importa vai
começando a procurar alternativas, um sítio onde a meritocracia não seja um
sistema utópico, onde o desempenho seja realmente valorizado; consequentemente,
a empresa vai ficando com os medíocres, vai perdendo capital humano que sai
levando consigo conhecimento inestimável e deixando para trás um lugar
absolutamente frustrante. Se isto interessa às empresas? Inicialmente talvez
não, no mercado o que não faltam são pessoas a lutar por um posto de trabalho. Mas
nos tempos que vivemos, com tanta concorrência e tanta inovação, o grau de
satisfação dos trabalhadores com o que a sua empresa lhes oferece e a sua
percepção sobre a justiça nesta atribuição pode bem ser o sinal de que mudanças
são necessárias.
Posto isto, é ainda necessário contemplar a
flexibilidade e capacidade de adaptação dos critérios, os enganos e os
esquecimentos nas suas vertentes intencionais e involuntárias. Eu gosto da
ideia de que uma empresa é como um organismo vivo, uma entidade dinâmica
sujeita a falhas e a momentos de excepção – porque é feita de pessoas. Mas
parece-me que muitas vezes este organismo tende a auto-anular-se ao não praticar
uma selecção menos natural. Vejo muitas vezes não os mais fortes mas os mais
ineptos (com menos compromisso, pior desempenho, menor interesse) a sobreviverem.
E quando é assim, dá vontade de fugir. É que manter gente qualificada,
interessante e empenhada dá imensamente mais trabalho do que simplesmente deixar
os medíocres andar. Estes normalmente não precisam de nenhuma manutenção e
muito raramente têm exigências sérias.
Se calhar esta empresa perfeita não existe. É
o mais certo, aliás. Mas isso não implica que eu não a possa sonhar muitas
vezes: um ambiente de excelência, onde todos são convidados a contribuir e
participar, onde se premeiam os resultados e o empenho de cada um e onde não há
espaço para a mediocridade nem para tricas de corredor. Pelo menos, não
intencional e o que se vai vendo por aí é tudo menos animador.