Portanto, eu saio no final do dia, deixando para trás as chatices que eu não criei, não posso resolver mas das quais vou ser culpada na mesma, e dirijo-me ao meu filho que basicamente me salva o dia, quando a sua educadora me entrega o presente do dia da Mãe (sim, em maiúsculas, porque já não se sabe se ser mãe nos dias que correm é um dever ou um prazer e eu esforço-me muito para que seja as duas coisas ao mesmo tempo) porque aqui o dia da Mãe é só no Domingo. Por isso, enquanto todas as mães que conheço se estavam a babar com as devidas homenagens no primeiro fim de semana de Maio, eu estava de mãos a abanar e é apenas justo que, dada a distância a que fica este pedaço do Mundo, eu possa agora festejar sozinha enquanto as mães que eu conheço já tiveram a sua quota parte de festa.
Mas esqueci-me que ainda havia o jantar, que não se faz a si mesmo, embora hoje em dia já existam alternativas catitas, e que não posso dobrar as pernas porque ontem exagerei na primeira sessão de ginástica em casa e que eu juro vai ser o golpe final na banha que acumulei indevidamente até agora e não posso andar os 30m que estavam no plano de hoje. E então fico a sentir-me um pouco mais miserável e, não contente, dá-me para ver fotos de miúdas sãs e com juízo e acontece que já não sei como regressar a esse ponto. É como se jogasse Sonic e me tivesse esquecido de gravar o jogo - perdi todo o meu progresso e tenho que, dolorosamente voltar ao início. Com a desvantagem que toda a gente sabe que não há nenhum glamour em gente que se exercita em casa, que estende a roupa na cave e ainda sonha em ter tempo para as coisas de que gosta.
E depois o miúdo até se deita pacificamente, exige beijinho e abraço para se poder entregar ao sono, não sem antes querer abrir garrafas de vinho, tirar lasanhas do forno ou colar mais quinhentos cromos na caderneta do pai. E chorar para a maioria destas coisas. E eu volta e meia a pensar neste debate que por aí vai, disciplina ou deixa andar, muita teoria e pouca prática, muita vontade de fazer bem desajustada da realidade. Eu deixei de acreditar nos conselhos quando os livros me diziam que aos quatro meses o bebé havia de dormir bem, que a mãe havia de poder descansar se fizesse isto e aquilo, tudo técnicas que devem ter resultado em todos os bebés do Mundo menos no meu. Isso é grave? Claro que não, só valeu para eu aprender a escutar mais a minha intuição e menos os especialistas. Porque o meu bebé, como eu, não é os outros.
E no final do dia, neste exacto momento em que vos escrevo, em que finalmente dormimos apenas com o colchão novo (e dispensamos os outros que nos destruíam as costas), em que o silêncio é maciço e se pode quase sentir, em que o Sol decide que talvez agora seja a hora de descansar, em que a solidão se espalha pelas ruas onde se ouve apenas o automóvel ocasional de quem certamente não vive aqui, eu respiro fundo no escuro do nosso quarto, tratando de me convencer que amanhã vai ser um dia melhor. Honestamente, sei que isso é provavelmente mentira, admito. Mas estes breves instantes de engano são o suficiente para eu largar as reservas, fechar os olhos e me entregar à imensidão desta pausa. A vida só recomeça daqui a umas horas.
2 comentários:
Chamas a isto falta de inspiração?? Foi um dos teus melhores posts de ultimamente :)
Acabei de descobrir este blog. Bem interessante.
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http://osmeusremedioscaseiros.blogspot.com
Bjs
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