Este fim de semana voltámos a meter o edredon na cama. Faz muito frio à noite e as manhãs não aquecem tão facilmente. Os rapazes já não saem de casa sem os seus casacos e na maior parte dos dias sem os seus guarda chuvas. Eu sei que as manhãs não estão propriamente agradáveis mas já vi pessoas de cachecol e luvas, o que prova a minha teoria de que há pessoas que não conseguem ver uma nuvenzinha sem pensar que já é Inverno. Não é mas também já não é Verão, acho que todos aqui o sabemos.
Quando tomo o pequeno-almoço na cozinha ainda silenciosa, olho lentamente pela janela e vejo que há já muitas chaminés a lançar aquele fumozinho para o ar, sinal de que o aquecimento já está ligado em algumas casas. O Verão acabou mas eu pergunto-me como, se nunca chegou realmente até aqui. Se calhar é este o resultado de um Inverno com apenas um dia de neve, se calhar os homens andam mesmo a brincar lá nas nuvens – seja como e porque for, a verdade é que está tudo trocado.
De vez em quando, uma trovoada. Todos os dias o céu a alternar entre inúmeros graus de cinzento, mais ou menos vento, intervalos de aguaceiros e chuva a sério, o miúdo que de repente ganhou medo à chuva e não consegue dormir enquanto a ouvir fustigar a janela. Não sei, honestamente, se já estou habituada a isto, mais de dois anos depois. Vim para cá com aquele peito inchado de quem diz que uma pessoa se habitua a tudo, basta querer, só porque tinha vivido seis meses em Berlim. Mas esses seis meses eram apenas isso, um curto intervalo após o qual eu sabia que iria regressar e por isso não me importava tanto com os dias a escurecerem às quatro da tarde. Viver em Berlim era cool, viver no Luxemburgo nem tanto.
Pergunto-me se algum dia me vou realmente acostumar a isto. Nem sequer penso se vou gostar porque isso está completamente fora de questão. Não vou negar que há um certo encanto no aquecimento central por todo o lado, que nos deixa confortavelmente apreciar o frio que faz lá fora. Eu sou uma alentejana de Verões de quarenta graus, do alcatrão a borbulhar, das tardes passadas em casa com tudo fechado para enganar o calor - não sou uma mulher de temperaturas de um dígito e a minha serotonina agradecia viver num sítio com Verão all year round.
2 comentários:
Quatorze anos depois de cá ter chegado, a minha serotonina ainda não se habituou a isto. :-) Coragem!
Paula Telo Alves
Nunca te habituas. E se um dia disseres que sim, acredita que és apenas tu a mentir a ti mesma.
Eu nunca me habituei.
Agora em Lx chove, mas há céu azul, e há abertas, e depois chove e as ruas ficam molhadas, mas eu consigo andar lá fora só com um casaquinho de malha e mesmo assim tenho calor. E vejo o céu, e não tenho frio. E percebo que realmente nunca nos habituamos ao que não está no nosso ADN. Mas suporta-se.
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