setembro 19, 2014

Aterrar (definitivamente)

Comecei a fazer as minhas últimas viagens antes de chegar Janeiro e com ele o início da licença de maternidade (oito semanas antes da data prevista do parto). Há qualquer coisa de desconfortável em voar tantos quilómetros grávida. Nenhuma indicação médica me impede de fazê-lo mas, secretamente, gostava que a minha médica o desaconselhasse veementemente. À mínima agitação no avião, o meu primeiro pensamento é para o bebé que ainda aí vem, depois a família que já deixei em terra. Tanto que ficava por cumprir, arrepio-me enquanto tento concentrar-me na música em vez do copo que se agita com a turbulência.

Mas viajar grávida tem a vantagem de que me sinto sempre acompanhada e assim o vazio dos quartos de hotel, as esperas intermináveis nos lounges de aeroportos, as viagens de táxi para todo o lado, os longos minutos que antecedem a descolagem, bem como os que passo à espera do embarque - enfim, todos os momentos até ao regresso a casa - me parecem bem mais suportáveis. Ainda estou numa fase em que barriga apenas se revela em condições muito específicas ou com algumas peças de roupa, de resto julgo ter apenas a minha figura de mulher gorda e por isso o meu estado ainda não me consegue aquela simpatia extra que geralmente se guarda para grávidas e bebés de colo. Como na primeira gravidez, é à noite que sinto a barriga maior, mesmo quase a crescer em tempo real mas ainda não cheguei à fase em que sinto realmente a pele a esticar.

Agora escolho os lugares do corredor em vez das janelas para satisfazer os caprichos da minha bexiga e para não sentir aquele aperto claustrofóbico. Felizmente os voos, mesmo com escalas, não me têm obrigado a correrias aeroporto fora e posso calmamente arrastar a bagagem sem me preocupar em chegar atrasada à porta de embarque. Só tenho o cuidado extra de ter sempre acesso a algum alimento em períodos curtos de tempo para não sofrer com a fraqueza e é tudo.

Tento despachar as últimas visitas o melhor que posso: hoje Luxemburgo-Amesterdão-Madrid, hoje Madrid-Amesterdão-Luxemburgo. Segunda faço Luxemburgo-Zurique-outra-vez-Madrid, Terça o caminho inverso. Lisboa já está nos planos, Barcelona há-de vir a seguir e quem sabe ainda lhe junto umas ilhas Baleares ou, no limite da loucura, podia justificar uma visita às Canárias. Depois disso, o silêncio, o descanso, o progressivo afastamento dos afazeres profissionais para dar lugar à chegada do segundo filho. Adeus aeroportos cheios de gente que discute negócios até o avião descolar, adeus escalas geograficamente absurdas mas economicamente justificáveis, adeus turbulência em maior ou menor grau, adeus reuniões, gravatas e centros de negócio, adeus quartos de hotel mais ou menos reformados com melhores ou piores buffets de pequeno-almoço, adeus pessoas que que se esquecem que o banco à sua frente no avião não é seu, adeus ver os meus miúdos pelo Skype. E olá terra firme, durante muito muito tempo.

1 comentário:

Helena Barreta disse...

Já há muito que aqui não vinha, por isso só hoje lhe dou os Parabéns.


Bom fim-de-semana