Ontem foi a primeira reunião a sério lá na escola do Vicente. A lei obriga a que se façam estas reuniões individuais com os pais para melhor acompanhar e orientar o desenvolvimento de cada criança. É a primeira vez que vejo algo tão bem organizado e documentado, desde que o miúdo entrou para uma creche aos cinco meses. A culpa será certamente nossa que, por distracção, necessidade ou desconhecimento não tínhamos encontrado até agora um projecto educativo tão bem pensado e, acima de tudo, executado.
Entrar para esta escola (aqui chamada de Précoce, o que equivale sensivelmente à pré-primária em Portugal) foi um alívio por diversas razões, mais ou menos importantes. Primeiro, a ideia de que sendo o ensino oficial, o projecto educativo seria mais sólido e mais adequado à integração do Vicente. Em segundo lugar, o facto do ensino ser gratuito, à excepção das refeições, que têm também um preço simbólico. Finalmente, o facto da escolha da escola ser baseada na nossa morada e por isso tê-lo mais perto, sem precisarmos de conduzir quilómetros e perder horas no trânsito sempre que tínhamos que o ir levar/buscar. Para mim, havia apenas um senão no meio disto tudo: é que para além do Francês, que já tinha começado na creche privada, o Vicente ia começar a aprender o Luxemburguês, língua em que eu ou o pai não nos conseguimos expressar nem mesmo compreender. Mas mesmo isto tem o seu aspecto positivo, porque é preferível que ele possa começar a aprendizagem com quatro anos - não irá demorar a apanhar-lhe o jeito.
A escola nova em Setembro foi mais ou menos tudo o que tinha idealizado: um edifício de um só piso, com o seu próprio parque infantil (na verdade um exterior e outro interior), com materiais pedagógicos totalmente novos, pronta a receber alunos de todas as nacionalidades. Devido às nossas óbvias limitações, falamos Francês com as educadoras e penso que nos conseguimos entender bem. Na sala dele, falaram Francês durante as primeiras duas semanas para que as crianças se pudessem ambientar e introduziram o Luxemburguês progressivamente. Hoje, falam inteiramente em Luxemburguês. Não faço ideia se o Vicente compreende tudo mas a verdade é que já se sai com algumas frases em Luxemburguês lá em casa. Há miúdos de todas as origens na sala dele e há pais que nem Francês falam e não foi por isso que deixaram de se entender com as educadoras. (Quero acreditar que as notícias que se ouviram nos últimos dias são casos extremos e isolados e não a regra.)
Há uma manhã destinada ao exercício físico e outra dedicada aos passeios pelo bosque, independentemente da meteorologia que se fizer sentir. O Vicente tem os seus dias, já se sabe. O balanço que fizeram foi até bem melhor do que eu esperava: gosta de mandar, o pequeno tirano, e faz questão de se expressar quando está de acordo e quando não está. É muito aplicado e exacto nas suas actividades e tanto gosta de fazê-las sozinho como em grupo. Precisa de melhorar o seu comportamento em grupo porque gosta de ser o centro das atenções e já se imaginam as consequências quando não é esse o caso. Ele não é daqueles miúdos doces e calmos, capazes de partilhar desde muito pequeninos. É o meu pequeno furacão que dá que fazer a quem toma conta dele, sendo que é a nós, pais, que faz a vida mais negra. É natural, já aprendi.
Ouvi-lo a interagir com os outros em Francês ou Luxemburguês para mim é tudo: um orgulho e a promessa de que se integrará melhor do que eu. Não é por me opor à punição daqueles que falam Português nas escolas que quero que o(s) meu(s) filho(s) desrespeite(m) o país onde escolhemos viver. Mas no meio desta misturada de línguas e aprendizagens, quero que ele nunca se esqueça de onde vem, o meu alfacinha que não nasceu alentejano para meu desgosto. Se a escola for sempre assim (organizada, inclusiva, consciente das particularidades de cada criança) estamos bem. Que pena existirem esses sinais de segregação por aí mas também nos cabe a nós, pais, ensinar que há tempo para tudo. Mesmo para se portarem um bocadinho mal :)
1 comentário:
Que bom, ainda bem que assim é.
Bom fim-de-semana
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