janeiro 23, 2019

Viver com privação do sono

Normalmente são seis ou sete vezes. Com alguma sorte apenas duas ou três. Um que quer ir à casa de banho. Outra que quer que a tapem. Outro que nunca conseguiu dormir uma noite inteira. E quando acordo, especialmente durante o horário de Inverno, como ter energia para fazer desporto ou mesmo apenas para tomar banho?

Há oito anos que deixei de dormir como uma pessoa normal. Era rapariga para dormir até ao meio dia na minha existência pré-filhos e apreciava bem uma sesta a meio da tarde. Ainda hoje aprecio, só não consigo é dormir. Há oito anos nasceu o nosso primeiro filho, o primeiro a não saber nem gostar de dormir. Só o pai é que o conseguia deitar quando era apenas um bebé, enquanto eu chorava de desespero por não conseguir acalmá-lo, por um lado, nem conseguir dormir pelo outro. Li tudo o que havia para ler sobre o sono dos bebés, especialmente aqueles fórums de mães onde se encontram muitas soluções estapafúrdias mas também muita compreensão sobre o que é viver sem dormir. Nada funcionou com o nosso primeiro filho mas um dia foi ele a pedir-nos para ir dormir. Com quase três anos, e depois de muito sofrer com este hábito, acabámos com o leite durante a noite e ele acabou por começar a dormir bem. Mas nessa altura em que as noites começavam a ser mais calmas, nasceu ela.

Ela dormia muito pouco de dia e fazia-me desesperar porque eu nem podia tratar de coisas em casa nem podia dormir: tinha que tratar dela o tempo T-O-D-O. À noite, a coisa também não ia melhor mas o leite lá a ia acalmando. E acalmou até que a antiga pediatra me fez sentir como uma mãe quase negligente e ordenou que a menina não bebesse mais leite à noite. Foram precisas algumas noites de muito choro, de muitos gritos, da dor que é sentir que um filho está a sentir-se como se o tivessemos abandonado mas o milagre deu-se e ela começou a dormir. Só que exactamente nessa altura, pouco antes de ela comemorar os dois anos, nasceu o terceiro filho e aquele que pior noites dá.

Aos dois, ainda sou culpada de lhe dar leite durante a noite. Quem, como eu, vive com a privação do sono sabe que se faz o que for preciso para podermos voltar a dormir. A única coisa que evito é trazê-lo para a nossa cama - guardamos essas ocasiões para quando estão doentes. E portanto, aos dois anos de idade acabados de fazer, este menino ainda acorda de duas em duas ou de três em três horas. Agora somem-lhe outros dois filhos com as suas necessidades e façam as contas a quantas horas eu durmo por noite. Há oito anos, até me custa pensar.

Há dias em que me sento em frente ao computador, no trabalho, e nem sei o que estou a fazer. O despertador toca muitas vezes alguns minutos depois de ter conseguido voltar a adormecer, o que é claramente a pior sensação do mundo. Esqueço-me muitas vezes do que ia fazer a seguir, de preparar lanches nos dias de escola ou de fazer os sacos para a natação. Suporto dias inteiros de reuniões a baldes de café e a um esforço hercúleo para não cabeçear uma vez sequer. Estou sempre mas sempre cansada, não tenho vontade de sair de casa. Quero ler muito, ver muitas séries, tricotar até mais não mas acabo muitas vezes enfiada na cama logo depois do jantar, à espera do primeiro que irá acordar. Sinto muitas vezes, como na semana que passou, que mais dia, menos dia eu vou sucumbir a esta deficiência de descanso. Sinto que o meu corpo vai entrar em shutdown a qualquer momento. Tenho medo do que a falta de sono está a fazer à minha saúde em geral. Sonho as coisas mais bizarras quando finalmente consigo adormecer. E, sobretudo, entristece-me não ser capaz de estar mais presente ou de ter mais paciência quando estou com os meus carrascos do sono.

Às vezes, nos dias bons, consigo levantar a cabeça e imaginar que um dia os três vão dormir bem e que já nem deve faltar muito para que isso aconteça. Mas depois pergunto-me se alguma vez mais vou conseguir dormir como antes (e temo saber a resposta...). Nos dias normais, arrasto-me para o carro, multiplico-me em esforços para que o trabalho saia bem feito, às vezes consigo ver um episódio ou ler duas páginas depois do jantar. Já há muito tempo que desisti de tentar entender porque não dormem/dormiam eles mas juro que quando forem adolescentes sentirão o amargo gosto da vingança.

(muitas vezes tenho vontade de escrever qualquer coisa por aqui. Às vezes são ideias minhas, outras o resultado de pessoas inspiradoras, a vontade de regressar à ficção sem deixar de escrever as crónicas sobre o que conheço. E a verdade é que não é só a falta de sono que me impede mas o facto  do meu tempo livre ser ocupado a tentar dormir ou a tentar fazer alguém dormir também ajuda. Este blog comemorará quinze anos em breve! Quinze anos é demasiado tempo para que eu simplesmente feche a porta sem olhar para trás. E é precisamente por de vez em quando eu espreitar este sítio onde a minha vida se fez palavras que não posso simplesmente dizer adeus. Estou a fazer figas para poder ouvi-los ressonar em uníssono e conseguir finalmente voltar a viver um bocadinho.)

4 comentários:

Maria disse...

a privação de sono é uma coisa terrível

Procura dentro de ti disse...

Credo. Li tudo num sufoco. Deve ser horrível. Com os meus filhos (também 3) tenho às vezes! más noites e sinto-me de gatas, por isso nem quero imaginar como se sente.

Beijinho. E força. Há-de melhorar.

Dalma disse...

Querida, eu sofri muito com as noites de dois, mas nada como o que contas!
Querida, não seria de ires ao médico e explicares essa privação de sono, ele com certeza que te ajudará com alguma coisa que te relaxe e não te deixe nessa ansiedade de estares já a prever qd outro chama por ti! (Eu sei do que falo, acredita!)
Beijos

Anónimo disse...

É uma super mulher, sem qualquer dúvida! Desejo muita força para aguentar e que eles começem a dormir melhor, para bem de toda a família! Beijinhos!