Por muito que tentemos, por muito que respiremos fundo três e quatro vezes tem sido muito difícil lidar com os terríveis dois (anos) do bebé Vicente. Não chega ler o que há à mão sobre parentalidade positiva, não chega racionalizar comportamentos que são (à vista de um adulto) irracionais porque este bebé foi buscar forças sei lá onde.
Há umas semanas atrás cheguei a pensar que estávamos numa fase de namoro com ele: ele estava gentil, acedia aos nossos pedidos com alguma facilidade, choramingava sem chegar a fazer birra. Depressa mudei de ideias. As últimas semanas têm sido uma absoluta loucura no que diz respeito ao comportamento do bebé Vicente: não quer tomar banho e grita e esperneia; não quer mudar a fralda e grita e esperneia; não quer usar o cinto de segurança na cadeira e grita e esperneia; só quer descer todas as escadas do prédio sozinho ou grita e esperneia; se não faz o segundo lanche do dia grita e esperneia; não quer nenhum jantar e grita e há mãos no prato da sopa e há pratos pelo ar e comida espalhada pelo chão. Tentamos verdadeiramente falar com ele, num tom de voz (que nos parece) calmo, explicando o que fez de errado, tentamos que seja ele a exprimir-se e dizer o que lhe falta, o que lhe apetece mas ainda estamos muito longe de conseguirmos manter qualquer coisa parecida com uma conversa.
Passamos o dia longe uns dos outros e é normal que ansiemos pelo final da tarde para voltarmos a estar juntos. Não consigo descrever como é gratificante ver a cara dele, enquanto sobe as escadas, em antecipação do abraço que me está prestes a dar. Mas isto demora uns dois minutos e assim que se sente em casa começam as exigências e as travessuras. Não liga nenhuma a brinquedos, está numa fase em que nem os livros o entretêm e, resumindo, só quer fazer aquilo que não pode (ligar o forno, abrir a máquina de lavar, tirar café, atirar coisas pela janela, desligar e ligar a televisão até à exaustão, mexer no lixo).
Se eu acho que era suposto ser diferente? Na verdade não, parece-me tudo normal quando falamos de um bebé de dois anos activo e curioso. Se às vezes nos sentimos esgotados, incapazes e aterrados com a possibilidade de estar a falhar na educação dele? Vezes demais, é aquilo que sinto. Mas como não há grande coisa a fazer, respiramos fundo (muito fundo) e preparamo-nos para mais umas horas de agitação. Afinal, ninguém disse que ter um filho era fácil.
3 comentários:
É interessante usares a palavra bebé antes do nome.
O bebé, porque o é, pede limites e pede regras.
Ainda assim vai testá-las sempre, mas pede limites.
O Não seguro, calmo e sem explicações é muito poderoso.
O "porque a mãe diz" também!
Nem sempre, nem nunca.
Vais ver que resulta!
(e eu tirei a minha fila Mia, que é a mais calma de dentro da arca do congelador do Modelo, qdo tinha 2 anos. ahahahahahah
agora tem muita graça, mas na altura!!!!)
A minha sobrinha corre o dia todo (nunca anda, corre sempre) de divisão em divisão. Não se mantém quieta por mais de 3 minutos. Tem todo o tipo de brinquedos, mas as molduras de fotos são as coisas mais fascinante de sempre.
Os 'two' são mesmo 'terrible'. E alia-se a isso uma personalidade já de si muito voluntariosa e independente (desde os 6 meses). É mesmo preciso uma 'aldeia inteira' para a criar porque uma só pessoa não dá conta dela. Nem 2. Pensando bem, nem 3.
Mas depois ela bate com a mãozinha no chão "xenta, xenta" para brincarmos juntas, diz "ai ai ai" quando eu me porto mal (às vezes ela é a adulta e tem razão), e ri-se muito quando entorto os olhos. E eu não consigo imaginar um mundo sem ela.
Por isso, abençoada a hora em que vocês, os pais, geram estes crianças bestiais. Obrigada, em nome de todas as tias do mundo.
Acho que o bebé V. é um giraço que vai tornar-se num rapaz incrível. Porque olho para ti (ok, via blog e facebook, mas "acompanho" um pouco dessa viagem familiar) e penso que fazes um grande esforço e consegues dar-lhe tanta coisa! Acho que acertas em TODOS os aspetos importantes. Já há algum tempo que "tiro apontamentos" de ti, caso algum dia tenha um bebé (not likely, but still). Acho que devias ter uma caneca "The World's Greatest Mom". E olha que não acho que muitas mulheres tenham direito a ela (porque sou um bocado snobe em relação a essas coisas e assim).
Oh-so-Isabel, apesar de me sentir extremamente lisonjeada com o teu comentário, não me sinto merecedora de todos os elogios. Certamente não serei a World's Greatest Mom mas sou uma que se esforça, que às vezes grita mais do que queria, que perde a paciência quando tudo o que queria era ser mais tranquila.
Como este não é um negócio infalível, ficamos contentes por saber que tentamos muito, apesar do medo de estarmos a cometer erros que depois se reflectem no futuro.
E sim, ele precisa de regras. Regras e limites são muito importantes. Só há que escolher bem as lutas que queremos travar :)
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