abril 16, 2013

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Já não sei quantas vezes mudei o início deste post e realmente nem sei como começar.
Este fim de semana ocorreu-me que não estava preparada para ter um filho. Que, apesar, de ter encontrado o melhor pai que podia, que apesar de ter a certeza de termos reunidos as condições afectivas e materiais para tomar esta decisão, eu não estava preparada para ter um filho. É uma conclusão alimentada por muita frustração, cansaço e desepero. É a conclusão de quem não sabe mais como educar e amar o seu filho de uma forma que o torne numa pessoa estável, tranquila e feliz. É a conclusão de quem procura respostas nas aflições de outros pais, nos conselhos de outras famílias mas nunca as poderá encontrar senão dentro de si.
Este fim de semana olhei muitas vezes para o meu filho e perguntei-me o que será que fiz mal nestes seus dois curtos anos de vida. Olhei para ele e comparei-o com a criança que eu imaginava que ele fosse, mesmo sabendo que ele não merece estas comparações e que essa ideia só está na minha cabeça. Ao mesmo tempo, tentei olhá-lo como um estranho olha para uma criança e consegui ver um miúdo cheio de vida, independente e destemido, cheio de vontade de abraçar o mundo inteiro. Debato-me constantemente com a forma como o vejo como mãe e com um olhar mais imparcial que me obrigo sempre a ter. Não quero desculpar-lhe tudo mas também não quero demonizá-lo e a linha entre estas duas maneiras de o olhar é demasiado ténue.
Este fim de semana, em que também trabalhei a partir de casa, o meu filho deixou-me à beira da exaustão e sem trunfos para fazê-lo entender o que é aceitável e o que não iremos tolerar no seu comportamento.  Não é que não lhe consigamos mostrar o que está errado no seu comportamento, simplesmente não conseguimos fazê-lo da maneira que tínhamos idealizado. A paciência, a tolerância e a calma, como outras coisas, esgotam-se. Às tantas, depois de tentar explicar-lhe tudo dando-lhe o exemplo, depois de falar calmamente e demonstrar-lhe o que estamos a querer dizer, a serenidade esgota-se. E no final do Domingo sentia-me como se a minha cabeça fosse do tamanho do Mundo, capaz de explodir a qualquer instante com tanto cansaço e desilusão. Desilusão comigo, claro, por não ter arranjado uma maneira de chegar até ele, por não ser eu exemplo suficiente que ele possa espelhar e repetir, por me sentir a falhar na missão mais importante da minha vida.
Há muito tempo que decidi deixar de ler histórias de vida perfeitas. Não posso lidar com a frustração de sentir-me incapaz de ser um modelo de pessoa, com um modelo de casa onde vivo com um modelo de família. Com filhos pequenos que não são menos que exemplares, adultos em ponto minúsculo com um sentido de timing e de responsabilidade desde o berço. Com mães de conjuntos imaculados, cabelo e unhas arranjadas, com tempo para brunchs, formações indispensáveis e dias passados na praia e ainda com tempo para tratar de uma casa e dos filhos. Não posso ler ouvir ver histórias destas sem me sentir um pouco mais miserável e duvidar das minhas capacidades de organização, de parentalidade, do meu sentido estético. Não é inveja, é simplesmente não entender o que é que me falta a mim para ter tempo para ter uma vida. E também saber que debaixo de tanta perfeição tem que haver alguma coisa que não está certa.
Ter um filho é mudar de estratégia constantemente, isso eu já sabia. Mas também é poder cometer erros que se vão reflectir para sempre na sua vida. Quero poder ter a certeza que estamos a criar um ser humano tolerante, consciente da sua liberdade, aberto ao mundo - só que nesta coisa da sua educação nunca há segundas oportunidades. Ou pelo menos é difícil desfazer o que já foi feito.
Mas depois acordei e era Segunda-feira. E, quando nos permitimos um espaço para respirar, olhar para trás e ver que nem tudo é negro, a coisa melhora. São lições atrás de lições, já sei. Tomara poder lembrar-me disto a toda a hora.

7 comentários:

Anónimo disse...

Se me permites... através da tua reflexão, revi-me na maioria das coisas que tentas verbalizar... Muitas vezes ainda caio no erro de chegar ao desespero com o Afonso mas, agora, muito mais controlada e consciente.
Sinto que faço o melhor que posso e também sei que às vezes o meu melhor não chega, nessas alturas penso: "azar! é como eu quero e ponto final". Levam-nos à loucura, a extremos, a dizer coisas que doem horrores... e depois a coisa acalma, há um momento de amuo seguido de uma mudança de assunto e ponto final na questão. Ninguém tem tempo para tudo! Não é a ti que te falta nada, faltam sim prioridades aos outros.

bjs
Ana Bárbara Braz

M de M disse...

Aposto que só o facto de teres desabafado já tornou a coisa mais leve e sobretudo vais ler comentários de muitas mães que vão dizer que te percebem perfeitamente e que não, não estás a ser má mãe e muito menos perdeste a razão.
E nem te atrevas a comparar a vida real com o que vês por aqui ou por ali relatado ou fotografado.
beijos, força , calma e acredita mesmo que estão no caminho certo.
beijos

Tati disse...

ninguém saberá melhor como educar o teu filho senao tu. erros todos cometemos. nao penses de mais q isso faz mal a saude:P

eu cá sou da opiniao que uma palmada no rabo de vez enquando nao faz mal a ninguem. assim como nos adultos temos aqueles dias q digam o que disserem, nos levamos a mal, os putos tb devem ter dias em que aquilo que lhe dizem entra a 100 e sai a 200, nao sei, digo eu...mas o que é q eu sei? mas nao fiques assim! alegra-te! upa! upa!

Dalma disse...

Marisa, o Vicente SÓ TEM DOIS ANOS!
Muita coisa para ele é difícil ainda de compreender! Depois também andas, com toda a certeza, esgotada de trabalho a que se acresce a falta de sol( nasceste no Alentejo não te esqueças, aquele que eu vos ensinei ter Verões, quente, longos e luminosos...!). Já pensate ir ao médico para te dar algo que te ajude? Eu, quando eras minha aluna e tinha os meus três filhos e às vezes com o pai fora em trabalho, muitas vezes tive que recorrer a algo que me mantivesse a força física tal o esgotamento que também sentia. Pensa nisso. Beijinhos

Helena Barreta disse...

Pelas suas palavras presumo que esteja cansada e a precisar de desanuviar. Só pode ser isso a falar. Mas que desânimo e palavras são estas? Acredita mesmo nessas histórias de vida perfeitas que deixou de ler? Eu não.

Mais do que palavras são as acções e comportamentos dos pais que os filhos apreendem e o que o Vicente vê dos pais é bom, é trabalho, é amor, família, é a luta e a preocupação pelo bem estar de todos. O Vicente tem os melhores pais e com certeza é um menino feliz, traquinas e educado, obediente e desobediente, com birras e sem birras, com beijos e meiguices, lágrimas e gritos, a descobrir e a testar limites, os dele e os dos pais, a esticar a corda, o Vicente está a crescer e a dar-se conta que tem personalidade, tal como todas as crianças o fazem.

Não se menospreze e, se me permite, não compare o Vicente com outros meninos, de certo que também não gosta nem acha razoável e justo que façam comparações consigo.

Um beijinho

|b| disse...

Se o V se porta mal não quer dizer que não perceba os vossos ensinamentos. Aos dois anos, depois na adolescência e por fim na velhice, as pessoas precisam de se portar mal. É saudável. bjs

M. disse...

Obrigada a todos os pais (e a ti também, Tati) pelas palavras amigas. Libertar estas angústias faz-me realmente bem, faz-me pensar sobre o que sinto e relativizar com os vossos conselhos e experiência :)