Não é segredo nenhum que todos os empregos que fui tendo até ao dia de hoje não são mais do que maneiras de ganhar dinheiro. Sei perfeitamente que preciso de trabalhar para viver (especialmente depois da responsabilidade acrescida que significa ter um filho), tenho-me aguentado sempre muito bem mas empregos de sonho? Não me parece. Claro que também sei que pessoas que fazem aquilo que gostam se contam pelos dedos de uma ou duas mãos mas elas existem e, mais do que isso, tenho visto o seu número a aumentar muito.
É preciso dizer que não tenho nenhuma vergonha do meu trabalho (corrente ou passado) como boa gente que vou encontrando por aí e que, digamos, embeleza os seus currículos com funções e experiência que estão muito longe da verdade. Sou daquelas pessoas que limpava escadas na boa, desde que isso fosse o necessário para poder viver dignamente e sem grandes sobressaltos de consciência. Não é isso que almejo mas não me sentiria muito constrangida se um dia a coisa se desse. Mas isto não significa que gosto de fazer qualquer coisa que me apareça à frente ou que não tenha ambição. Em todos os empregos que tive até agora olhei sempre um pouco mais à frente do que a minha posição do momento e sempre trabalhei para melhorar, eliminar os meus pontos fracos na medida do possível, ser a melhor. Se consegui ou não, isso são outros quinhentos.
Só que já tenho trinta e três anos e não faço aquilo de que gosto. Tenho trinta e três anos e normalmente sinto-me uma peça insignificante no meio de uma estrutura gigantesca e insensível, sinto-me como uma máquina de fazer dinheiro sem que isso traga nenhum bem ao Mundo. Nos melhores dias, eu entendo que todas as profissões são necessárias e, dentro de cada estrutura ou organização, farão sentido. Mas eu gostava de sentir que o meu trabalho é mesmo importante para alguém. E, talvez mais do que isso, eu gostava de poder encontrar a resposta mais importante: o que é que me faria mais feliz?
Tenho a certeza que não é ser mão de obra barata, dias cheios de tabelas de Excel, conceitos tão abstractos e obscuros para mim que me demoram uma eternidade a compreender. Gostava de trabalhar com as minhas mãos, as minhas ideias e, acima de tudo, com o meu coração. Gostava de trabalhar fora de um escritório, longe dos horários fixos e sufocantes, livre para sentir o mundo nos seus afazeres quotidianos. Gostava de criar os meus horários, a minha rotina e de ter capacidade de alimentá-los indefinidamente. Vejo a boa gente que larga empregos para fazer o que gosta, vejo as ideias a brotar de cabeças inquietas a toda a hora e pergunto-me se seria, se serei alguma vez capaz de tão grandes actos de coragem. Calha que os outros acreditam mais em mim que eu própria, só que isso não empurra para lado nenhum. Então, espero pacientemente o dia em que vou acordar e saber exactamente qual é o meu lugar na vida. Entretanto, amaldiçoo a minha falta de coragem e, acima de tudo, de estratégia e de determinação. Eu sei que ninguém pode fazer nada por mim mas um dia hei-de saber como começar.
4 comentários:
Que giro, ainda hoje escrevi um post no meu blogue sobre a insatisfação profissional. Na segunda parte das minhas considerações, iria também falar um pouco do que falas no último parágrafo. Acho que é isso, sim, sabemos o que nos falta, mas e chegar lá?
Olá Marisa! Descobri o teu blog há pouco tempo e sempre que por cá passo delicio-me na sua leitura! Este tópico tocou-me especialmente. Também lidei durante muito tempo com esta insatisfação e inerentes dúvidas e anseios. Depois da minha última licença de maternidade (em que tive muito tempo para pensar e me afastar deste rame rame em que engrenamos sem nos darmos conta) tomei a decisão de voltar à faculdade. Candidatei-me a psicologia e em princípio devo entrar em Setembro. É um plano a muito longo prazo, mas é um plano e já estou a executá-lo. Achei que era muito cedo para me conformar e condicionar o resto da minha vida profissional futura só por ter estudado Direito durante cinco anos...
Posso-te recomendar este livro? "Viver sem medos - Atreva-se a mudar de vida" de Sergio Fernández. Dá uma olhadela no excerto: http://www.presenca.pt/files//products/Exc83950001.pdf
Bjs
Nossa, esse texto traduz perfeitamente o que se passa na minha cabeça no momento. E olhe que ainda tenho 19 anos.
O pior de tudo é que essa inquietação atinge não só a parte profissional, mas todos os setores da minha vida.
Enfim, espero que a coragem apareça logo em nossas vidas! Boa sorte até lá.
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