(Voltar ao Luxemburgo depois da meteorologia amiga que encontrámos em Lisboa é mais do que difícil, é uma verdadeira tortura. É como se o Inverno aqui nunca acabasse, de cada vez em que se vislumbra um raio de Sol logo se apressam a chegar nuvens de todos os tamanhos, feitios e quantidade de água, acompanhadas por um vento violento para qualquer altura do ano mas, possa, o Verão é daqui a sete dias e continuamos nisto. Mas não é só o cinzento eterno que dói: estar em Lisboa e fingir, literalmente, durante uma semana que aquela era ainda a nossa casa não podia trazer bons resultados. Lembrámo-nos que sentimos falta de tantas, tantas coisas que o fim dos dias foi com um balde de realidade gelada e interminável. Enquanto escrevo estas palavras olho peça janela e vejo a chuva insistente que torna as hortas dos vizinhos portugueses mais viçosas mas suspiro pelos azulejos da rua do Jardim à Estrela. Às vezes, estar aqui é de uma solidão tão imensa que parece que a garganta se nos entumesce até não podermos respirar, é como se nos olhássemos de fora do corpo e víssemos três pessoas a tentar funcionar em território hostil, alternando os dias de agradecimento por uma vida que melhorou de verdade com os dias em que o que deixámos para trás é milhões de vezes mais importante. Não me digam que a escolha é nossa, eu sei, eu lembro-me disso todos os dias e há muito que aceitei viver com ela mas não é isso que me impede de nos sentirmos deslocados, pequenos e desprotegidos - de desejar secretamente voltar, ao mesmo tempo que sabemos que por agora o nosso lugar será aqui. E todos os dias aprendemos a viver sem olhar para trás, a depender apenas de nós mas a tentar manter os laços que deixámos tão longe e tão frágeis. Se calhar ser emigrante é mesmo isto, são duas pessoas no mesmo corpo, se calhar uma tomou a cabeça e a outra ficou-nos com o coração, reinando sobre tudo em dias distintos. Tenho saudades e digo-o em voz alta, sem vergonha, sem pudor, sem medo de ser julgada. Posso ter aprendido a amar o Luxemburgo, a deslumbrar-me com os seus bosques cerrados, a gabar-lhe a justiça e organização, a sentir que cresce uma casa assim mas não é isso que me faz esquecer a nossa família, as minhas pessoas, o património tão rico e tão sub-aproveitado, a calma mesmo em tempos tão difíceis, a vida que gostava de ter no meu país. Olho pela janela e a chuva abrandou um bocado, como que a mostrar-me que até aqui há um silver lining. E depois lembro-me do Steve Jobs a dizer que os pontos se unem é olhando em frente e que mesmo as más decisões/os acontecimentos menos positivos têm uma razão de ser e enfim, tudo será o que tem de ser.)
2 comentários:
Como te percebo. Ao fim de 4 anos em Berlim, voltei por isso mesmo: tinha saudades. E, por muito bem que tenha feito ao voltar e que a vida me tenha sorrido em Portugal, a verdade é que sinto sempre uma grande nostalgia dos meus tempos de emigrante. Ser emigrante é isso mesmo, como dizes, "são duas pessoas no mesmo corpo." É conseguir tirar o melhor partido de cada uma.
Marisa, a palavra "homesick" consubstância tudo o que escreves e por duas vezes também a senti fortemente apesar de só ter sido emigrante duas vezes e com tempo de regresso absolutamente calendarizado! Por isso te compreendo. Mas tempo virá em que poderão regressar e depois, como diz o anterior comentador/a, também sentirás a nostalgia dos tempos que aí passaste, tal como a mim às vezes acontece. Agora há que ter coragem e nunca perder a esperança do regresso e... estou certa que um dia regressarás!
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