Se me perguntarem como me imaginava eu há uns anos a viajar pela Europa fora, teria que responder que imaginava a fazer um interrail, de mochila às costas, cansada de dormir em estações de comboio e de comer pão com pão mas imensamente feliz por poder gozar essa liberdade. Não imaginava eu que o pudesse fazer mais tarde, já com um filho mas ainda assim imensamente feliz por poder gozar essa liberdade!
Não vou dizer que é fácil - seria mentir com quantos dentes tenho, especialmente porque o nosso filho não é daqueles anjinhos tão especiais que não gritam, não choram, dormem e comem sempre muito bem, parecem adultos em miniatura. Pois, o nosso gaiato é daqueles que esperneia muito às vezes e chateia-se se não o levamos JÁ àquele carrossel, aborrece-se sempre que tem que estar sentado no carrinho muito tempo, aborrece-se se sai do carrinho e tem que andar, não quer comer nada do que escolhemos para ele e decide que não quer dormir assim que se deita na cama do hotel. Nestes últimos dias de férias, tive dois dias em que pensava que ia rebentar de tanta arrelia, tanta desobediência (que acabou até em marcas naquela cara boneca, quando aterrou de cabeça em plena areia), tanto cansaço à custa de recusar a sesta, tanta choradeira rua fora. Mas depois houve os momentos em que o vi tão feliz, sentado ao lado de outro miúdo numa feira no jardim das Tulherias, a forma entusiasmante com que perguntava "C'est quoi ça?" enquanto apontava para a Torre Eiffel, o seu ar compenetrado e sério cada vez que andávamos de metro, as brincadeiras no parque com miúdos alemães... Uma pessoa esquece-se depressa das coisas más.
O momento alto destes dias não foi nada do que esperávamos ou não fosse ele um verdadeiro gaiato nos terrible two: levámo-lo a ver o rato Mickey e falámos muito disto na semana antes e ele entusiasmava-se sempre. Quando chegou a hora da verdade, era uma sala pequenina, onde estávamos nós, um fotógrafo e um rato Mickey em tamanho real. A berraria foi tanta, o terror tamanho que até aposto que o pobre rato se sentiu constrangido, embora imagine que não lhe faltam birras épicas para contar. Estávamos nós mais contentes que o pobre miúdo aterrorizado!
Nós decidimos (foi mais uma coisa tácita, não verbalizada) que não íamos deixar de correr mundo porque temos um filho pequeno. Não é fácil lidar com as birras, com as teimosias irracionais (partindo do princípio que as há racionais...), com o cansaço (o nosso e o dele, especialmente o dele) mas a nossa vida precisa de continuar e a dele precisa de crescer e expandir e perceber que o mundo não é só ele. No fim de contas, as partes boas sobrepõe-se aos dias de neura e repetíamos tudo outra e outra vez.
3 comentários:
Continuação de bons passeios e boas viagens.
Final da história, tudo vale a pena por um bom passeio.Aqui vai a minha experiência: durante 15 anos viajei por essa Europa com os meus 3 filhos desde crianças até já andando na Universidade. Primeiro de roulotte, depois nos últimos anos em autocaravana. Quando eram pequenos a coisa era tal que, imagina que na bolsa da porta do meu lado ia a hoje famosa colher de pau, não para dar com ela mas para ameaçar e garanto- te que tinhavefeito dissuasor! Portanto imagina o que também acontecia naquelas viagens! Porém invariavelmente comprávamos o Guia Verde Michelin do destino das férias do ano seguinte...
Obrigada Helena, hão de continuar a ser :)
Professora Dalma,
eu lembro-me de si e não só, de outras famílias que eu conheço em Portalegre e que faziam o mesmo, com menos recursos (os leitores de DVD portáteis hoje fazem maravilhas!) e longe do centro da Europa. São mais ou menos uma inspiração ;)
Enviar um comentário