É o terceiro aniversário da Revolução que passo longe de casa e fico triste por não poder fazer parte das celebrações desse momento fracturante para o nosso país. Não sei muito sobre política e o estado actual das coisas faz com que me afaste mais e mais porque afinal, no nosso país, o que vejo é uma cúpula de gente que vai alternando no poder e que não pensa senão nos seus próprios interesses, em vez de trabalhar para o povo que a elegeu democraticamente.
Repito que não sei nada de política mas nos dois anos que já levo no Luxemburgo, vejo como se trabalha em prol de uma comunidade, de uma cidade, de uma região. Vejo como aqui há um esforço para melhorar a qualidade de vida dos cidadãos, para promover o bem estar, para fazer com que as pessoas possam realmente viver. Não sou, no entanto, ingénua e admito que estes políticos não são perfeitos ou imunes à intoxicação que chega inevitavelmente com mais poder. Também já se noticiaram casos de corrupção por aqui mas no geral tenho mais confiança depois de dois anos aqui do que em trinta e dois anos em Portugal.
O meu país festeja hoje os quarenta anos da revolução que o libertou, do movimento que rompeu as barreiras e conseguiu finalmente trazer a democracia até nós, permitindo a todos trilhar o caminho lento e difícil da liberdade mas a gente que o faz tem na verdade poucos motivos para festejar. Foram quarenta anos a fazer um caminho cheio de enganos,vitórias, muitas conquistas e outros tantos retrocessos. São quarenta anos de diferença mas a verdade é que agora mesmo outra ditadura impera: a da austeridade, responsável pela diminuição drástica de salários e benefícios, de encerramentos de escolas e centros de saúde, tudo em prol da suposta salvação do país. A mesma ditadura que me empurrou (e a outros milhares valentes de pessoas) para fora do país, à procura de um sítio onde possamos viver num sistema mais justo que nos permita contribuir para a sua riqueza mas também usufruir dos frutos do nosso trabalho. A mesma ditadura que faz muita gente questionar esta saída, baseando-se no argumento que é ficando que ajudamos o país mas que se esquece que não é vivendo com dificuldades, adormecendo todos os dias a fazer contas à vida que se vai empurrar o país para a frente.
No dia de hoje, gostava de poder comemorar com a minha família de sangue e a outra família de coração um país livre e próspero, um país que trata os seus cidadãos com respeito, que reconhece os seus direitos mas também exige os seus deveres, um país em que a justiça não perdeu o seu significado, um país livre de lobbies, resgates bancários e interesses obscuros, um país onde viver não é simplesmente trabalhar para sobreviver sem educação, arte ou cultura. Não podendo comemorar essa ideia de país, viva então a Liberdade, vivam os que ficaram para combater a corrente e os que saíram para não serem arrastados! O meu desejo? Poder voltar a festejar a liberdade em solo português, capaz de lutar pelo meu país, recebendo de volta a dignidade e esperança a que todos temos direito.
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