abril 08, 2012

O outro lado do espelho

É inevitável dizê-lo: nem tudo são rosas em terras luxemburguesas. É muito bom mostrar as coisas que correm bem mas também é importante manter a consciência de que nem tudo é fácil. A língua ainda continua a ser uma barreira para mim: não falo uma palavra de luxemburguês, que é bastante usado no comércio, por exemplo, e muitas vezes quando opto pelo francês bloqueio ou deixo que o alemão se intrometa. Um dos momentos mais embaraçosos até agora foi na nossa comuna: o funcionário perguntava-me a data do nosso casamento e eu, de repente, não consegui dizer 2012 em francês. Só me saía 20-12 e nem me lembrei que podia falar alemão ou inglês! Foi uma belíssima figura de ursa de alguém que até tem queda para as línguas... Mas neste campo, é fácil trabalhar e já há um curso de francês a caminho. O luxemburguês terá que ficar para mais tarde.

Depois há evidentemente a questão do trabalho. Estar desempregado é difícil em qualquer parte do mundo, não tenho a menor dúvida. Mas neste momento, é particularmente difícil para mim porque me está a impedir uma maior socialização. Passo muito tempo sozinha (com o Vicente, é certo, mas sem outros adultos) e isso também tem influência nas línguas, claro. Para a semana já reservei a inscrição no centro de emprego mas candidato-me todos os dias a novas vagas. Falta-me um bocadinho de experiência em produtos bancários ou em serviços financeiros e isso dificulta um pouco a vida. Depois também há aquela ideia de que os portugueses só vêm aqui para ser pedreiros e senhoras da limpeza, profissões completamente dignas mas cujo estereótipo ignora a possibilidade de existirem portugueses com formação superior e experiência na área dos serviços. Vemos muitos portugueses na construção civil, nos balcões e limpezas de supermercados, nas limpezas - o cliché é verdadeiro. E lêem-se muitos lamentos de quem veio ao engano, de quem passa dificuldades, sem sequer ter dinheiro para voltar a Portugal e para mim, que estou numa situação completamente diferente, isto continua a ser aterrador.

É evidente que só passaram duas semanas. Mas eu nunca estive verdadeiramente desempregada - apenas livre durante o final da gravidez e a licença de maternidade. Além de sentir falta da azáfama profissional, sinto sobretudo falta de poder dar a minha contribuição. Mas tenho alguns bons exemplos perto de mim, onde procuro o optimismo e a esperança nos dias piores. É respirar fundo três vezes, sacudir a poeira e repetir o mantra: vai correr tudo bem.

5 comentários:

Helena Barreta disse...

Quando menos esperar vai estar a trabalhar. Vai correr tudo bem.

Um beijinho ao Vicente.

Dalma disse...

Marisa,já foste ao consulado/embaixada portuguesa? Provavelmente é uma pergunta tonta feita a uma pessoa inteligente e pro-activa. Não precisarão de uma professora de português para a nossa comunidade? Não poderás lá encontrar dicas para saberes onde ir procurar? Pois, infelizmente pensa-se sempre no português Como "trolha" ou na portuguesa como "mulher de limpeza" O que se passa quanto ao infantário do Vicente? Em países em que a licença de maternidade pode ir até aos 3 anos estas instituições não são ubíquas como em Portugal!

M. disse...

Professora, ainda não fomos ao consulado porque eles só ajudam com pedidos administrativos (certidões e outras coisas do género) e porque a fila para ser atendido é tão grande que tiramos senha hoje e temos que voltar lá dois dias depois! Além disso, penso que a minha formação infelizmente não me deixa dar aulas, não segui a via ensino.

Em relação à creche, tudo encaminhado. Só estamos a aguardar um documento do trabalho do pai para que possam calcular a mensalidade e começar! As creches privadas são MUITO caras mas há uma ajuda GIGANTE do estado. Tudo incentiva a maternidade por estes lados :)

Katy disse...

Olá!

eu não posso acreditar que estive uns tempo sem vir ao teu blog e venho encontrar-te aqui tão perto de mim. Tb eu vim para o Luxemburgo pq o meu marido veio num projecto temporário que se tornou permanente. E cá estou eu, vai para 8 meses. Tb deixei uma carreira profissional para me dedicar a duas crianças. E vai ser assim pelo menos até Setembro. Acredita que não é fácil, mas com tempo vamos começando a conhecer pessoas com as quais nos identificamos e começamos a tentar mexer-nos. Neste momento estou dedicada a criar um grupo de tricot aqui no Luxemburgo (temos todo o gosto que também nos faças companhia), com a ajuda da CCPL e candidatei-me a ser voluntária deles tb. Assim não dou o meu pouco tempo como inútil. Mas sinto falta de muita coisa: da minha família, dos meus amigos, da minha Lisboa, de uma vida de gente adulta. Estar com as crianças tem as suas compensações, mas tb muitas limitações.. mas pensa que tudo isto serve para nos fortalecer :-)

Estou por aqui se precisares de alguma coisa

Mts beijinhos da Catarina
nolugarquechamocasa.blogspot.com

PS: Vou já colocar o teu blog nos meus amigos das "terras do Burgo" ;-)

M. disse...

Olá Catarina, obrigada pelo teu comentário! Esqueci-me de responder logo mas a resposta andava-me aqui na cabeça.

É bom saber que há gente como nós por terras luxemburguesas. É verdade que a adaptação não tem sido fácil mas lá vamos, bem devagar. Este gelo dos últimos dias não tem ajudado nada :\

Um beijinho e vemo-nos por aí :)