Tratando da papelada para estarmos completamente legalizados, contribuindo mas também beneficiando dos nossos direitos, passámos no organismo que regula o abono de família aqui no Luxemburgo. Um dos documentos que nos pediram era uma declaração da Segurança Social portuguesa, atestando que não recebemos qualquer apoio em Portugal. Para nós, era uma situação fácil de resolver, uma vez que recebemos abono de família apenas no primeiro mês a seguir ao nascimento do Vicente, tendo o mesmo sido imediatamente cortado devido ao nosso escalão.
Fomos pedir esta declaração no site da Segurança Social Directa e qual não foi o meu espanto quando descobrimos que a única declaração disponível era que estamos a receber o abono de família no quinto escalão, o que é uma escandalosa mentira. Tentei por duas vezes contactar estes serviços por e-mail e não obtive mais do que respostas automatizadas de alguém totalmente incapaz sequer de ler um pedido de correcção. Como pelo telefone a ajuda também é a que se conhece, pedi ao meu pai que nos ajudasse indo directamente à Segurança Social.
Foi assim que ficámos a saber que de facto recebemos o abono de família em Portugal, estando inseridos no quinto escalão. Qual é o valor do abono do quinto escalão, perguntam vocês? É zero. Nicles, rien de rien, nothing. E então a funcionária da Segurança Social fez um enorme favor ao meu pai, passando uma declaração que é mais ou menos aquilo de que precisamos. Mas disse-lhe que para resolver realmente esta situação eu teria que escrever aos serviços centrais ou deslocar-me lá pessoalmente para pedir para não receber mais. Sim, é a mais aberrante verdade: precisamos de pedir o cancelamento do abono de família no valor de zero euros! Eu fiquei sem palavras quando o meu pai me explicou tudo e, sinceramente, adicionei esta a outras razões para sair do país. Eu não quero ser uma pessoa que se julga acima do país onde nasceu mas gostava de sentir nestas coisas alguma ponta de razoabilidade, algum sentido e francamente todas as prestações que se receberam no nosso agregado familiar (abono pré-natal, abono de família, desemprego) correram mal, TODAS. O meu grande objectivo em Portugal era conseguir sempre manter-me independente de qualquer subsídio ou benesse do Estado, não interessava a que custo. E agora só tive mais uma confirmação de que há algo verdadeiramente podre a influenciar os destinos do país, como se complicar a vida dos contribuintes fosse uma espécie de passatempo nacional. E neste campo, digam o que disserem, há países a anos-luz, onde a facilidade, organização e cruzamento de dados são coisas difíceis de perceber para um português habituado a um sistema kafkiano. Enfim, nem o Sol ajuda a esquecer a incompetência que grassa.
7 comentários:
Até fico parva ao ler coisas destas! Dá-me vontade de emigrar também...
Cancelar um abono no valor de zero euros... *big massive gigantic facepalm*
Consigo imaginar um belo truque estatístico para dizer que "1.000.000" de portugueses recebe abono de família. Mas não sei, que há conspirações há mas eu não atribuo a elas o que posso atribuir, liminarmente, à estupidez.
Nem sei que lhe diga, tamanha é a minha indignação.
Tudo de bom e que sejam felizes por aí.
Um beijinho
Se souberem de uma vaga para arquitecto digam!
Realmente isso é um anacronismo! Mas repara é muito difícil acabar com estas coisa em pouco tempo. Porém temos que concordar que apesar do que te aconteceu as coisas estão um pouco melhor pois há já mt papelada que se pode pedir online. Penso também que se pode aceder aos Serviços Sociais da mesma forma. Informa-te.
A tua professora
O cancelamento do abono em Portugal é um compromisso assumido pelo país perante o Estado luxemburguês que visa impedir a recepção da prestação aqui e no país de emigração. a coisa torna-se ridícula pelo facto do valor de abono ser 0 euros, mas talvez um pouco mais compreensível pela impossibilidade real dos técnicos da segurança social luxemburguesa conhecerem todos os escalões de abono de todo os países do Espaço Económico Europeu. isto não torna a sua jornada menos custosa, me talvez a torne menos críptica.
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