A mais recente fixação do Vicente são os números. Como ainda usa o biberão, é vê-lo contar de 1 a 9 (as ounces
marcadas) de frente para trás e de trás para a frente. Quando vemos
noticiários, por exemplo, as horas estão continuamente marcadas no
ecran, o suficiente para ele se levantar a correr e, com um dedinho
espetado, gritar quais são os números que consegue ver. Lembrei-me que
era engraçado que ele pudesse jogar com os números como lhe desse na
telha e surgiu-me uma ideia.
Desde que fui mãe, descobri esta paixão assolapada por fazer coisas à mão.
Já o disse várias vezes, não tenho muito jeito com os trabalhos manuais
mas ele ainda me desculpa todas as imperfeições. Sinto-me feliz com os
meus passatempos pré-maternidade mas criar coisas para o Vicente
entusiasma-me de uma maneira muito mais intensa e desta vez tivemos a
recompensa. Como não me lembrava se alguma vez tinha visto um conjunto
assim numa loja de brinquedos, decidi criá-lo à minha maneira. Idealizei
o formato, arranjei uns moldes e os restantes materiais e, juntamente
com o paciente pai, criei um jogo do mais simples que há mas feito com
todo o carinho do Mundo. É possível que, dada a natureza dos materiais,
isto não vá durar muito nas mãozinhas destruidoras do Vicente mas vai
dar para entretê-lo umas quantas vezes. Dá para ele ordenar os números,
procurar os números iguais, adivinhar que números temos não mãos, irá
dar para ele os compor também (agora só chega até ao dez mas há-de
avançar). Arrumam-se as peças muito bem numa caixa de plástico, sempre à
mão. Só os gritinhos de felicidade dele quando brincou pela primeira
vez já compensam a tarde toda a desenhar, cortar e colar como há muito
não sei via.
É
a maravilha desta fase que começou há uns tempos: a interacção. Não
quero ser mal interpretada - eu adorei o meu filho em bebé, muito
redondo e bochechudo, mesmo chorão e a dormir mal, sempre senhor da sua
vontade. Mas agora as coisas estão num nível completamente diferente:
ele brinca connosco, ele exige que nos sentemos no tapete com livros e
camiões, ele interessa-se por tudo. Foi muito bom cuidar dele mas agora é
ainda melhor juntar a isso a curiosidade crescente, a sua empatia pelos
sentimentos dos outros, todas as vezes em que lhe explicamos alguma
coisa e ele parece finalmente entender. Por isso, guardo todo o cartão
que me chega a casa, encho a gaveta de tesouras, colas e pincéis, fico
indecisa entre aguarelas ou lápis de cera, perco-me em papelarias. Enquanto não nos faltar a imaginação, não lhe faltará com que brincar.
4 comentários:
Ter uns pais que o amam todos os dias, uns pais que têm consciência do seu papel, uns pais que o querem dessa forma, é a maior riqueza de uma criança.
Essa bênção e saúde, constituem um património valioso e único.
Até para os de fora do vosso núcleo, é bonito e tocante o apenas poder assistir.
Marisa, como vez tudo se vai ajeitando com o Vicente. Às vezes as birras resultam da impossibilidade que naturalmente têm em comunicar com os adultos. Quando o conseguem tudo melhora.
Já agora, nunca dei porque tivesses falta de jeito, o teu "caderno de Trabalhos Práticos estava sempre impecável!
São os momentos de cumplicidade e brincadeiras com os pais que ficam para sempre. Esses jogos e brinquedos, feitos por vezes a três pares de maõs, são os mais valiosos. Aos olhos do Vicente, não há imperfeições naquilo que constroem para ele, pensado e feito em exclusivo para ele e por ele.
Deixo-lhe uma sugestão, forrar as peças com autocolante transparente, ficam laváveis e mais protegidas.
@Pedro, não exageres! Fazemos só o que podemos e o que achamos pode ser mais útil para o gaiato :)
@Professora Dalma, é engraçado que fale nisso. Sabe qual é uma das minhas memórias mais límpidas e recorrentes da altura do Liceu? Um mapa da pluviosidade em Portugal que nos pediu uma vez para fazer em casa. Ainda o consigo imaginar como se fosse hoje :)
@Helena, a sugestão do papel transparente já vai ser posta em prática. Pelo menos assim as brincadeiras podem demorar mais uns tempos nas mãozinhas trapalhonas dele :)
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