É impossível não ficar impressionada com os Estados Unidos. Se pensar dois segundos, grande parte nas minhas referências musicais, cinematográficas, literárias giram à volta deste país tão livre e tão impossivelmente controlado desde que tenho recordações. Goste-se ou não, concorde-se ou não mas ele lá está: as brownstones das séries onde a malta se senta antes de entrar em casa, os ícones arquitectónicos e históricos mais ou menos recentes, o Woody Allen a filmar a ponte de Brooklyn, as tipas do Sexo e da Cidade saltando entre restaurantes mais ou menos exclusivos, os blogs que recentemente aprendi a adorar, os camiões imponentes, as banheiras pela estrada fora. Tudo isto na única língua que, na minha confusa cabeça, faz tanto ou ainda mais sentido que o Português. É uma enorme sensação de alívio e segurança sabermos de antemão que vamos visitar um país onde compreendemos e podemos fazer compreender.
Também seria mentir se dissesse que não tinha ideias feitas sobre muitas coisas: as pessoas, a comida, a segurança. Se posso dizer que fui surpreeendida em algumas coisas, noutras a nossa percepção está totalmente correcta. Tinha a ideia em Nova Iorque que toda a gente seria impossivelmente antipática, sem tempo para dedicar a estranhos ou sequer sorrir. Não podia estar mais enganada: muitas vezes fomos ajudados por alguém que, espontaneamente e topando a nossa desorientação temporária, se dirigia a nós oferecendo ajuda.Ficámos com boas memórias neste campo.
A comida é outro estereótipo: é geral pensar em doses industriais de comida rápida por todo o lado. Não tive, neste tempo que passámos lá, nenhuma experiência em que a quantidade tenha sido manifestamente exagerada mas posso afirmar que a comida (mesmo a que se intitula menos rápida) é tudo menos saudável: muitos fritos, muitos molhos espessos de sabor indefinível, bastante gordura. Há zonas em que não existem alternativas (perto do hotel onde ficámos, por exemplo, onde as escolhas quase não passavam do chili ou do hamburguer nas suas muitas variações. Em Miami também é um pouco assim, apenas com a vantagem que a cozinha cubana tem muita expressão. Mas é carne e molho com fartura.
Já a segurança... Bem, é tudo aquilo que imaginamos e ainda mais. Desde o embarque ainda em Lisboa, onde a área de espera foi primeiro evacuada para depois revistarem uma lista de passageiros escolhidos a dedo (adivinhem quem teve que abrir a mala...), as impressões digitais e a fotografia tiradas à chegada no aeroporto, as atracções com redobrados controlos de segurança e raios x e revistas... Eu estou bem familiarizada com os acontecimentos (já não tão) recentes mas será que ninguém vê nisto um bocadinho de paranóia? Nesse aspecto, a Europa está a anos luz do que se faz lá mas a verdade é que nunca sofremos um ataque da dimensão do onze de Setembro. Enfim, continuo a achar que aquelas cabecinhas pensam demasiado.
O que eu achei cómico e mesmo um pouco ofensivo é o tom das recomendações. Nas lojas, por exemplo, lê-se "You break, you pay" e nos hoteis qualquer coisa como "You puff, you pay!". Se compararmos com o estilo europeu, este é talvez mais paternalista mas pelo menos mais delicado, sendo mais normal ler "Please do not touch the cups" ou "This is a non-smoking room". Enfim, estilos, eu cá continuo a preferir o tom cordial e delicado aqui das nossas bandas. São gostos!
Mas aquilo que mais me fascina nos Estados Unidos (e o que seguramente me vai fazer voltar) é a sua diversidade, são os seus parques naturais e estradas desertas, são os arranha céus que desafiam as alturas e as pequenas cidades de beira de estrada, as praias imensas da costa Oeste, os extensos campos de cereais, os climas temperado e tropical num só país. Faziam-nos falta muitos dias de férias (e correspondente pocket money) para poder ver tudo com a calma e a atenção que um país destes merece. Até lá, como em tudo, vamos continuar a sonhar com destinos longínquos.
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