São quatro e quarenta da manhã e o meu marido dorme tranquilamente. Mas na minha cabeça já são as dez e quarenta de Lisboa ou mesmo as onze e quarenta do Luxemburgo e por isso dormir, tá quieto!
No nosso primeiro dia de férias, e depois de termos entregue o miúdo às mãos capazes dos avós, enfiámo-nos num eléctrico, misturando-nos com a gigante vaga de turistas e subimos até à Graça. Turistas por todos os lados, em grupos ou casais, de tuk tuk ou segway, magotes de turistas na Praça do Comércio rendidos à sua grandiosidade ou na Ribeira das Naus absorvendo o magnífico Sol de Lisboa. Depois de respirarmos fundo no miradouro da Senhora do Monte, descemos tudo a pé: Graça, Portas do Sol, miradouro de Santa Luzia, Sé, Baixa. Já cheirava a sardinha, já se viam sacos de caracóis nas montras, os turistas compravam garrafas de água e chapéus de palha, eu acabei com um galo de Barcelos na mochila. Finalmente, no largo de Camões bebemos três copos de branco fresquinho, enquanto víamos as modas passar. Acabámos a noite no teatro da Trindade, a ver as 8 Mulheres (muito, muito boa! Garanto que se vão divertir!) e já passava da meia noite quando voltámos a entrar em casa. O nível de saudades tinha já baixado consideravelmente.
E agora são quase cinco da manhã e eu acordei em Secaucus, New Jersey muito antes do despertador. Tínhamos alugado um apartamento em Brooklyn, estávamos felicíssimos com a escolha até nos acabarem com o sono há um mês atrás. A dona, aparentemente ucraniana, cancelou-nos a reserva sob o pretexto de ter de regressar ao país para auxiliar a família, já não havia Brooklyn para ninguém. Ficámos incrédulos mas decidimos agir de imediato e resolvemos escolher o preço e comodidade sobre a localização cool e aqui estamos em Secaucus. É um sítio feio mas a apenas quatro quilómetros do nosso verdadeiro destino, a inconfundível Nova Iorque, com comércio e restauração à volta e que cumpre um princípio: apenas viremos cá dormir!
Lentamente espero que se faça dia ou que o despertador toque para apanharmos o autocarro e sermos esmagados pelos arranha céus, agitação e referências cinematográficas. Estar aqui é como entrar para dentro de um episódio da Girls, por exemplo, e é uma sensação muito estranha, esta de vermos materializados os cenários de tanto filme e tanta série que vimos em nossa casa. Da nossa janela, vejo outros hoteis que parecem ainda dormir mas imagino que haja tanta gente como eu por aí fora, desejando a reposição interna dos fusos horários.
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