Os mortos dormem ao sol. E quanto mais calor eu sinto, mais tranquilidade eles reunem. Eles dormem enquanto nós suspiramos tanto. Debaixo dos ciprestes, eles estão dormentes, indiferentes à nossa dor, à sua ausência. Nada magoa mais e nós sujeitos ao ritual sempre exagerado e triste que os coloca definitivamente sob terra. Não quero chorar. Ninguém especial morreu mas continua-se a suspirar e ansiar pelo seu retorno.
Prolongamos demasiado uma vida que já não valia nenhum esforço: nem o choro, nem o cuidado médico, nem a dor.
Sopra o vento com força lá fora. As persianas batem zangadas, como se nos avisassem do fim. Não há fim. Não há nada depois disto. E eu queria acreditar, como fazem aqueles que demonstram sofrer mais. Queria acreditar que a vida é menos dolorosa depois, que nem o vento perturba aqueles que descansam sem querer. Eu quero descansar assim, sem que ninguém me peça contas de nada. E depois morrer sob este calor desumano, que não te deixa dormir e não ter que ouvir que alguém vai para casa só porque não aguenta o peso da mortalidade. Desistir é tão fácil. E eu estou zangada, porque nada impede que ele me sinta, nem mesmo a vontade de morrer antes de tudo, antes de todos... Nunca irei perceber a tua voz, embora me tenha enamorado da tua cara. À primeira.
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