novembro 30, 2013

Uma party animal em potência

Ontem tive o jantar de Natal lá do trabalho. Foi um pouco menos sumptuoso que o ano passado, em que éramos umas cinquenta pessoas num salão de banquetes que devia levar bem mais de quatrocentas e em que até contrataram bailarinos brasileiros para fazer a festa.

Desta vez foi num restaurante no centro da cidade, sério e calmíssimo mas em que o maître d' fez cara de frete desde que chegámos até que a festa foi esmorecendo. Não entendo estas pessoas a quem a vida obriga a ostentar estas trombas, especialmente numa profissão que exige tamanha delicadeza e contacto com o público mas adiante.

Eu gosto de me divertir, apesar de às vezes me esquecer um bocadinho disso. Gosto de sair, comer bem, conversar com gente interessante, dançar muito e (talvez por aqui não ter muitas oportunidades de o fazer) aproveitar muito bem a ocasião. Por isso decidi (inconscientemente) que quando posso vou fazer tudo o que me dá na gana. Karaoke? Estou lá batida. Dançar guilty pleasures? A pista é toda minha. Participar nas actividades que alguém perdeu tempo a preparar? Estou nessa. Apreciar e agradecer o gesto que a empresa onde trabalho resolveu proporcionar a toda a gente? Evidentemente. Por isso ontem eu diverti-me muito e não foi por certo pelas pessoas com quem passei algum tempo.

Sabem aquelas pessoas que aceitam convites, aparecem na festa mas depois criticam tudo, desde o cabide do bengaleiro, ao material de que é feito o balcão, a decoração das mesas, a comida e o vinho? Lembram-se das pessoas que não participam em nada de livre vontade porque só vieram mesmo para marcar presença e odeiam toda e qualquer escolha de música, actividade ou ementa e passam o tempo a desdenhar disso mesmo? Imaginam aquelas pessoas que vão mas não queriam ir, mesmo que ninguém lhes estivesse apontado uma pistola à cabeça? E aquelas pessoas que acham aquilo tudo uma hipocrisia mas que mesmo assim aproveitam tudo o que lhes é oferecido até não poderem mais? Pois, ontem ouvi isto tudo e mais algumas coisas.

Eu não sou ingénua ao ponto de pensar que somos todos uma grande família e que a empresa faz tudo o seu alcance para premiar os seus trabalhadores mas quando me apanho em sítios destes é para me divertir. Beber uma ou duas flautas de champanhe enquanto esperamos por todos, tirar a fotografia da praxe mesmo que receie ser pouco fotogénica, participar no sorteio sem stress, saborear os pratos que vão passando pela mesa, enquanto provo também um copo de tinto, conversar com pessoas com quem não passo muito tempo normalmente, partir a pista de dança ao som daquelas músicas de há uns quarenta anos em cima de uns saltos imponentes, cantar a "Asereje" porque o CEO lembra-se que a cantei no ano passado e quer que eu repita, aceitar um conhaque pouco antes do final da minha noite que a festa ainda continuou para alguns.

Não quero saber das convenções, ou se os ordenados são justos ou se uma pessoa é ou não um bom profissional, isso fica para Segunda-feira. Em dias destes, eu deixo a malta a conspirar e vou fazer o que me apetece, vou festejar com quem quer que esteja nessa onda também. Uso chapéus, dou à perna no "I will survive", faço coros e discuto o Benfica com adeptos da Lazio. Já me bastam as semanas de espera e de inferno a fazer uma coisa que já me deixa nauseada, a aturar injustiças, ineficiências e incompetências também. Quando é festa, eu visto-me à altura da ocasião e deixo o trabalho para trás. E por isso saí de lá rouca mas contente porque passei um bom bocado. Mas que para o ano me contratem a mim para escolher a playlist que já vou tendo pouca pachorra para o medley do Grease!

novembro 24, 2013

Recapitulativo *



(Todas as vezes que tento enumerar as razões porque é bom estar aqui acabo por lembrar-me que uma das principais é poder sair daqui para fora e ver e dar a ver o Mundo ao nosso filho. Estou grata pelo belo ano que quase chega agora ao fim, por todos os sítios que pudemos visitar - inclusivamente Portugal, porque não há melhor que esse regresso -, pelas visitas que fizemos para matar saudades de bons amigos, pelas coisas novas. Também por poder criar estas memórias ao Vicente, que já vai lembrando nomes e sítios com alguma facilidade e que tem podido aproveitar um pouco de tudo. E finalmente por poder mais tarde ver tudo outra vez pelos olhos dele e saber, mas saber mesmo, que é bom estar aqui e não há volta a dar.)

* por ordem de aparição: Paris, Munique, Lisse-en-Champagne e Londres.

novembro 21, 2013

Uma nodoazinha no coração

Ontem, enquanto a senhora da caixa ia passando as minhas coisas, reparei num casal a algumas caixas de distâncias. Eram portugueses e sei-o sempre precisar de os ouvir falar, sei e pronto. Arrumavam as suas compras no carrinho: um bacalhau inteiro enfiado numa grandiosa caixa de cartão, caixas e caixas de vinho, muitos quilos de arroz, algumas bebidas brancas. Fez-se luz na minha cabeça: estão a preparar o Natal.

Foi isto que me lembrou que este ano, pela primeira vez em trinta e quatro anos de vida, não vou passar o Natal com os meus pais, com a minha irmã, com as minhas avós. Agora que a época se aproxima, e depois de muito racionalizar e desdramatizar o feito na minha cabeça, sinto uma angústia pequenina a crescer porque para mim Natal é com a família. Claro que tenho um marido e um filho que não me faltarão na noite da consoada mas ficar-me-á a faltar qualquer coisa.

Este ano não vou ver a cozinha lá de casa com tachos e mais tachos, as duas cozinheiras de serviço de roda deles, enquanto a cozinheira de profissão, velhinha e cansada pela vida, descansa um bocado no sofá. Não vou fazer companhia ao meu pai que com os anos foi perdendo os seus companheiros para acompanharem uns copos de um qualquer vinho especial escolhido para a ocasião e uma fatia de queijo depois de jantar. Não vou comer alhada de cação, talvez nos decidamos por um bacalhau com couves e também não hei-de ter mil doces para escolher à sobremesa. Não terei aquele abacaxio com vinho do Porto, nem as azeitonas retalhadas numa mesa coberta da toalha do Natal e do serviço de louça já antigo. Não vou fazer força, com a minha irmã, para abrir as prendas antes da meia noite porque as velhotas já dormem no sofá. O meu filho terá de certeza menos presentes porque não está ali e enviar um presente para o Luxemburgo sai caro e dá trabalho. Não vai haver chocolate quente à meia noite nem café nos vizinhos, mesmo com uma noite de lobos cheia de nevoeiro.

Pela primeira vez em trinta e quatro anos não vou passar o Natal em casa e isso custa-me. Eu até geri bem as emoções quando soube que não podìamos ir porque as circunstâncias falavam mais forte mas ontem, quando vi aquele casal a encher o carrinho de Natal, soube que a tristeza há-de crescer um bocadinho todos os dias, até finalmente tudo ter passado. Só não fico mais triste porque no final tenho todas estas memórias dentro da minha cabeça ( juntamente como meu avô Chico que nunca queria comer mas era sempre o primeiro a servir-se, o meu avô Mauricio que nos últimos Natais não era mais que uma sombra de si próprio, a minha tia Isaura que sempre passava a dar um beijinho, a minha madrinha e o irmão que nunca se esquecem de nós) e estas coisas não se apagam. Como o Natal em que fuzilaram o Ceausescu ou o outro mítico em que mandámos uma quinhentola para o lixo.

Custa-me mas dia vinte e seis já estarei mais aliviada e esperando que o próximo ano não me roube mais nenhum Natal.

novembro 14, 2013

Três mudanças nunca chegam sós!

Para as coisas piorarem um bocadinho , ou para eu  sentir ainda mais a mudança de bebé a menino, cheguei a casa esta semana e tinha uma carta da nossa comuna. Vinha endereçada “Aux parents de ...” e acho que soube imediatamente o que continha.
Aqui, as crianças com três anos feitos até o final de Agosto entram directamente para uma espécie de pré-primária, a que aqui se chama também adequadamente Éducation Précoce. Os miúdos seguem para a escola primária da sua área de residência (ou outra, caso os pais o desejem, possam justificar e haja vagas) e preparam a sua entrada no ensino primário (ainda precedido por um ano a que chamam a verdadeira Éducation Préscolaire).
Se no final do primeiro trimestre ainda existirem vagas na escola, a comuna convida as crianças que tenham feito os três anos até ao final de Setembro para começarem também, se os pais assim o entenderem. E o menino Vicente recebeu o seu convite esta semana. Portanto, apesar de ainda estar longe da educação primária, já me querem tirar o miúdo da creche e passá-lo para a escola propriamente dita.
Isto tem uma série de consequências para nós, algumas boas, outras mais desestabilizadoras. O principal ponto positivo é que ele estaria a avançar um pouco na sua educação. Depois de comentarmos o convite com a sua educadora, ela confirmou-nos que ele estava mais do que pronto para seguir em frente e se calhar já precisa de um salto destes para poder continuar a progredir motivado. De seguida, a escola primária fica a poucos metros da nossa casa – sempre imaginámos como seria boa esta proximidade, como nos facilitaria a vida porque deixaríamos de fazer quilómetros para o levar e como ele estaria bem na tranquilidade do nosso bairro. Na verdade, não podia ser mais conveniente. Se somarmos a isto o facto de o ensino fundamental ser gratuito, bem – são alguns argumentos a favor.
Um dos pontos menos bons (mas para mim, não para ele) é que esta mudança significa necessariamente começar com o Luxemburguês. Até há uns tempos, isto parecia-me uma realidade tão distante que não valia a pena pensar nela. De repente, caiu-me a realidade no colo e, mais cedo ou mais tarde, tenho o gaiato a balbuciar nesta língua que, francamente, não há quem entenda. Eu tinha um pouco medo do Francês mas pelo menos arranho o suficiente para compreender e fazer-me compreender. Passam-me perguntas pelas cabeça: e se ele não consegue? E se ele se recusa a aprender porque já são coisas a mais? E se isso lhe trava o desenvolvimento e prejudica a progressão escolar? E se eu não o puder ajudar com os trabalhos de casa? Dirão que não vale a pena preocupar-me com isso e eu sei que ele é um gaiato como os outros e que fará o melhor que pode e que até agora nos tem surpreendido com o seu poder de adaptação. Mas pode uma mãe ou um pai enfrentar todas as mudanças sem sequer pensar nas consequências, sem desejar que tudo corra pelo melhor?
O único problema real é que não temos onde deixá-lo nas tardes em que não há escola (Terças e Quintas). Ao entrar no prazo normal, é-lhe garantida a vaga numa espécie de atelier de tempos livres (maison de relais) onde tomam o almoço e ficam quando não há escola. A mesma vaga não é garantida para quem entra depois de Setembro.
Não sei porquê mas encontro um grande conforto em imaginá-lo no ensino público mas, acima de tudo, a crescer assim, perto de casa, numa escola que já espreitámos, num bairro tranquilo, aqui à mão de semear. Mas depois penso que é uma escola e o meu bebé não é o mesmo sem os seus caracóis tão bonitos e se ele está a crescer, eu estou a envelhecer. Ou a crescer também, se também eu me encher de optimismo. Enquanto procuramos um sítio para o tempo livre, habituo-me à ideia de estar a criar um rapazinho que se porta muito mal às vezes mas que também dá os abraços mais doces que conheço. Vamos lá, estou pronta.

novembro 09, 2013

Já não tenho um bebé.


Hoje chegámos ao fim de uma fase, não tenho dúvida. Chegou o momento de deixarmos mesmo de ter um bebé e passarmos a ter um menino.

Tudo começou há uns meses atrás quando o gaiato nos chegou a casa de cuecas. Sem dramas e também sem fraldas sem que tivéssemos dado conta. Na creche, aquela pressão dos pares resulta sempre - para comer bem, dormir, deixar as fraldas. Os outro fazem e não sei, ele não se tem ficado atrás. Ainda estamos a trabalhar para as tirar de noite mas de resto tudo aconteceu quase sem querer. Eu estava preocupada porque ele estava a chegar aos três anos e não queria avançar nem por nada mas achei que o melhor era não stressar com isso. Um ponto para a ausência de stress e de plano.

Depois foi a chupeta. O pai achava que estava na altura e, racionalmente, eu pensava o mesmo. Mas achava, ao mesmo tempo, que ele ainda dependia muito dela quando fazia birras ou quando dormia em casa (porque na creche há muito não usava) e ainda resistia. Além disso, parecia-me que era un sinal demasiado evidente e duro de que ele já não era um bebé e ainda o queria manter assim por uns tempos. Só que ele, nas suas mordidelas cheias de força, deu cabo da última chupeta que tínhamos em casa e não havia mesmo uma de reserva. Um descuido que, afinal, veio a calhar bem. Explicámos que não tínhamos outras, que realmente não existia uma substituta em casa. Na primeira vez, ainda gritou e exigiu que lhe achássemos outra; depois, nunca mais se lembrou de tal coisa e parece-me que arranjou as suas maneira de lidar com o stress. Eu fiquei espantada com a rapidez com que lidou com isto. Dois pontos para a ausência de stress e de plano.

Para piorar as coisa, perdeu o peluche preferido algures em Londres. Só demos por isso quando chegámos a casa e não fazíamos (ou fazemos) a mínima ideia onde ficou. Pensámos que se chupeta a coisa ainda ia mas que sem Kiko é que não. A minha irmã apressou-se a contactar com os transportes da cidade mas, claro, até agora nada de resposta. Já perguntou por eles umas vezes e nós dissemos-lhe a verdade: perdemos o Kiko. Ele fica sempre um pouco desapontado mas não chora. Dói-me o coração de me lembrar das horas que passou a mexer nos braços e nas pernas do boneco, como o abraçava ou o levava para que pudesse vê-lo a tomar banho. Três pontos paraa suê cia de stress e de plano.

E hoje foi o golpe final. Os caracóis tão bonitos que o gaiato tinha (e que toda a gente perguntava de quem tinha herdado) foram-se. Já tinha o cabelo muito grande e quase nem se podia pentear. O que lhe provocavaores quando lhe lavávamos a cabeça, por exemplo. Já falávamos disso há uns tempos mas hoje o pai resolveu pegar na máquina e passar à acção. Pensei que fosse espernear, dificultando a nossa vida e arruinando o corte de cabelo. Pelo contrário, e para terminar esta série em beleza, sentou-se tranquilo e cooperou durante o tempo que durou o corte. No final, quis ver-se ao espelho e adorou o que viu. Quatro pontos para aquilo que vocês sabem.

Quem não se conforma com isto tudo sou eu, não é ele. Fui eu que chorei hoje ao ver os caracóis no chão ou fui eu que fiquei desolada com o desaparecimento do Kiko. Ele foi muito mais corajoso e compreensivo do que eu alguma vez imaginei. Eu é que fui o bebé da relação, aí está. Não me conformo quando vejo aqueles bodies pequeninos em que ele há muito deixou de caber ou sempre que me lembro dos primeiros meses de vida dele, tão intensos e difíceis. Ele cresceu tanto, ele cresce tanto todos os dias e nós podemos assistir e ajudá-lo. Mesmo quando damos com ele a cantar Michel Teló e só apetece mandá-lo parar. Quem me dera poder conservá-lo pequenino, sempre debaixo da minha saia. É um pensamento egoísta, eu sei, mas custa sentir o tempo passar à velocidade da luz. O bebé Vicente passou a ser o menino Vicente de repente.

novembro 06, 2013

Trinta e quatro considerações aos trinta e quatro anos

😪1. Continuo a ter muita inveja das pessoas que fazem anos no Verão. Sempre quis ter nascido num mês de calor, acho que até a passagem do tempo me pareceria mais leve. Mas não: os trinta e quatro chegaram num dia em que céu estava carregado, cinzento e quase a tocar no chão.
2. Este ano quase me esquecia que fazia anos. Às vezes andava a antecipar o dia nas semanas antes, excitada com a festa ou simplesmente com a data mas este ano quase só me apercebi disto no dia. Não senti nenhuma euforia, nada. É como se de repente percebesse que a ocasião quase não traz nada de novo. Acho que deve ser a indiferença que se sente antes de se deixar de gostar de aniversários definitivamente.
3. O dia teve três pontos altos: comemos sushi no carro, enquanto chovia torrencialmente; visitei o pior supermercado de que me lembro pela primeira vez; o meu filho trouxe-me flores. Empolgante, eu sei.
4. Às vezes sinto que vivi muita, muita coisa e que aprendi outras tantas. Outras parece que cheguei agora ao Mundo e ainda estou no início da aprendizagem. No geral, o balanço entre as duas não me deixa arrependida de nada.
5. A minha maior riqueza é o meu filho. O amor que sinto por ele e a forma desmesurada e desinteressada como ele gosta de mim fazem-me esquecer todas as noites que não dormi, todos os momentos de pânico que vivi por não saber o que fazer, todo o cansaço e birras por que passámos até hoje.
6. Passaram trinta e quatro anos e continuo a não gostar muito de pessoas. É claro que conheço bons espécimes e gente que não cabe nessa categoria mas a pessoa comum com quem me tenho cruzado deixa muito a desejar. Claro que isto vale especialmente para as pessoas com quem me cruzei profissionalmente, afinal é com elas que passo grande parte do tempo.
7. Já sinto os efeitos do generation gap. Muitas vezes já me perguntei se sou eu que sou velha ou se há gente muita maluca por esse mundo. Seja como for, às vezes apetece-me mesmo dizer "Antes é que era...".
8. Afinal, gosto de queijo, vinho e cerveja.
9. Se pudesse voltar atrás, mudaria apenas uma coisa na minha vida: escolhia um curso mais útil, mais pragmático, com mais saída profissional. Mesmo que o resultado fosse o mesmo. Sinto que perdi tempo e fiz perder tempo e dinheiro aos meus pais para chegar ao fim e não ter sequer uma profissão, apenas um diploma que me custou mas que de pouco me serve.
10. Hoje beijei mais colegas de trabalho do que gostaria.
11. Tenho a sensação que a vida me reserva ainda alguns sucessos.
12. Não gosto de viver na era em que se passa constantemente a ideia de que toda a gente é especial e talentosa: não devemos ter vergonha de ser normais. Não há espaço para tanto prodígio.
13. Acredito que pequenos gestos têm muita importância na vida de toda a gente. Sigo esse lema, nem que isso signifique só deixar passar um carro num cruzamento.
14. Se soubesse o que sei hoje, seria cozinheira.
15. Sou do tempo em que os professores ainda eram exemplos e não uns chatos quaisquer. Eu acho que não era marrona nem demasiado mal comportada: estava exactamente a meio do espectro e acho que ouvir bem o que me dizem me poupou muitas horas de estudo.
16. Gosto de comprar livros simplesmente pela capa.
17. A minha mãe passou-me o sindrome da limpeza e não posso parar antes de arrumar o que posso. Felizmente, entendi que não posso fazer tudo o que há para fazer e isso poupa-me imensos esforços. Mas desarrumação só porque sim é que não.
18. Desisti de tentar ter uma vida/família/casa imaculada e aceito que vivemos da melhor maneira que podemos a maneira mais real e simples possível.
19. Neste ponto da minha vida, viajar é a nossa maior conquista.
20. Aos trinta e quatro anos, continuo a ter na cabeça que hei-de escrever um livro. Não consegui ainda idealizar o estilo, o tema ou a estrutura mas sinto que vive qualquer coisa dentro da minha cabeça.
21. Dá para funcionar sem café mas é chato.
22. Apesar de gostar muito de escrever, adorava saber se tenho realmente nem que seja uma ponta de talento para qualquer actividade ou se sou simplesmente um cepo, criativamente falando claro.
23. Deixar de fumar há nove anos foi das melhores decisões que tomei na vida. Às vezes ainda. E dáassim uma moinha, especialmente depois das refeições, mas não há nada a fazer: tornei-me numa chata ex-fumadora.
24. Sou casada há quase dois anos mas ainda me custa falar no meu marido. Ele há-de ser sempre o meu namorado. E o melhor do Mundo, ainda por cima.
25. Cresci no meio de muitos rapazes e por isso acho que eles ficam, enquanto as raparigas se vão perdendo pelo caminho.
26. Sinto-me como uma velha senhor sempre que aqui me tratam por Madame.
27. Tenho trinta e quatro anos e a sensação que sou um ser imperfeito e inacabado.
28. Todos os dias que passo no Luxemburgo servem para fazer crescer uma certa raiva que sinto pela classe política do meu país e debato-me com um grande dilema para mim: o orgulho de ter um filho português mas a quem posso alargar os horizontes e mostrar mais um bocadinho de Mundo. Custou-me tanto afastá-lo do país e de quem mais gostava dele mas estes dois anos têm provado que foi a decisão certa.
29. Eu odeio neve e já estou em alerta para os primeiros flocos do ano.
30. Três anos depois e consegui finalmente recuperar um pouco da pessoa que era antes: já consigo ler bastante e até ouvir música.
31. Dava tudo para voltar a Portugal mas não quero por nada sair daqui.
32. Aos trinta e quatro anos estou-me mais ou menos marinbando para o que os outros pensam de mim e até consigo sair à rua sem um pullover a tapar o rabo.
33. Tenho bons amigos activos mas também belos amigos passivos e gosto deles de qualquer das maneiras. Às vezes estar visível não é tudo o que importa.
34. São trinta e quatro anos de certezas e de outras tantas dúvidas a nascer. Estou grata por tudo,em tirar nem pôr mas por favor não me quero tornar numa optimista oca ou numa pessimista deprimida. Quero apenas e só ser normal.