janeiro 31, 2011

Vicente come a papa!

E chegou o dia que eu tanto esperava: o dia em que a médica me confirmou que sim senhora, o bebé Vicente está a crescer e a aumentar os percentis, está bem alimentado e pronto para começar a comer! O leite materno continua a ser a porção maior e mais importante da alimentação dele mas tivemos luz verde para as primeiras papas e primeiras sopas. Nem sei bem como explicar o que sinto quando o colocam em cima da balança e eu vejo o peso sempre, sempre a aumentar - é o melhor sinal de saúde que posso ter agora e a certeza de que isto com jeito vai. Fico muito feliz por ser a única responsável por este crescimento nestes quatro meses e não fico triste por ir partilhar essa responsabilidade com alimentos mais consistentes. A amamentação, apesar de agora correr de vento em popa, já está a exigir demasiado de mim e temos esperança que as coisas agora estabilizem mais. Além disso, continuo à procura de emprego e, a conseguir um, isso vai mudar radicalmente as nossas rotinas.

Não perdemos tempo e tratámos de comprar as papas para as prepararmos ainda hoje. Apesar de demorar muito mais tempo do que a amamentação, lá aguentámos o bebé Vicente até termos tudo pronto para começar. Ainda temos muitas dúvidas e ele deita fora mais papa do que aquela que come mesmo mas estas primeiras semanas são de adaptação ao acto de engolir e não devemos olhar muito a quantidades. Eu fiquei satisfeita com o resultado e ele também pareceu gostar, apesar de ainda ser um bocadinho resistente. Agora é esperar que todos os dias sejam diferentes e que ele coma cada vez mais, o que não deve ser difícil - afinal, ele é um rapaz de muito apetite!

janeiro 29, 2011

Mais uma estreia cá em casa

No dia em que completa quatro meses, o bebé Vicente teve a pior prenda que podíamos desejar: a primeira constipação, oferta da ranhosa da sua mãe. O mesmo é dizer noites sem dormir, um bebé cheio de ranho que não consegue respirar pelo nariz e que não sabe respirar pela boca, sem grande paciência para as festas habituais. A única coisa que se safa no meio disto tudo é que ele afinal é um valente e ainda não teve uma pontinha de febre sequer. Há duas noites que não dormimos nada mas ele vai aproveitando para recuperar o sono durante o dia. Já eu ando em modo zombie, porque enquanto ele dorme há sempre outras coisas para fazer. Acho que há dois dias que sonho com a consulta com a pediatra na Segunda: quero saber quanto pesa, como tem evoluído, se podemos avançar com as primeiras papas. Para já, tenho que me contentar com o facto dele não se saber assoar e, consequentemente, não conseguir respirar. Enquanto o dia avança e a noite se aproxima, aumenta a minha sensação de terror de saber que esta vai ser mais uma noite em claro, a tentar acalmá-lo e adormecê-lo de meia em meia hora. Eu tenho tempo para dormir quando ele fizer dezoito anos.

janeiro 26, 2011

Seis meses de dolce fare niente

Passam agora seis meses desde que fiquei desempregada. Na prática, apenas dois se podem considerar para o desemprego, já que os restantes foram gozados como licença de maternidade. Em todo o caso, são já seis meses sem ter algo exterior que me ocupe o tempo e a cabeça, que me estimule a pensar mais e a aprender, que me leve de volta à realidade. E isso custa.

Há uns dias conversei com outra mãe e descobri que partilhamos algumas ideias sobre a maternidade e o tempo que dedicamos aos nossos filhos. Obviamente, os nossos primeiros intuitos e objectivos é que nada lhes falte e que estejam sempre felizes. Acontece que neste percurso vamos deixando para trás aquela parte de nós que é ser mulher, que é ser uma pessoa interessada pelo Mundo, com gostos e passatempos especiais, com vontade de sair, passear, conviver para que possamos valer sempre aos nossos pequenos. Nem todas as mulheres serão assim e muitas conseguirão equilibrar o ser Mãe com o ser Mulher, Amante ou Trabalhadora - a essas, eu admiro a maleabilidade e flexibilidade.

Só agora que o bebé Vicente cresceu um pouco e se tornou menos permeável a choros insistentes e misteriosos começo a ter tempo para voltar a olhar para fora. O estar disponível para os estímulos exteriores tem, por muito contrário que possa parecer, contribuído para que o tempo que passo com o bebé seja de maior qualidade, uma vez que, lentamente, começo de novo a sentir-me Mulher. Em vez de estar absorvida no choro dele ou nas suas necessidades constantes de comida, conforto ou higiene, permito-me alguns minutos de contacto com as coisas de que sempre gostei e, devagarinho, sinto-me um pouco como a pessoa que era antes. Estar bem comigo é ser melhor para ele e conseguir superar-me todos os dias na nossa relação. Acredito que assim que o bom tempo se instalar as coisas vão ficar ainda melhores mas, até lá, vou dando passos de bebé, em direcção a uma mãe mais realizada e disponível. O Vicente (com certeza) agradece!

janeiro 23, 2011

Com os nervos em franja

Há uns tempos atrás, estava convencida que a amamentação era, muito mais do que o parto, a actividade mais difícil de manter com um bebé. Não é que agora não me custe acordar tantas vezes de noite, porque custa muito, mas enfim, acho que muitas vezes já o faço em piloto automático e sem qualquer dificuldade. Mas agora vejo que, como numa verdadeira maratona de etapas que devemos necessariamente percorrer, tentar que um bebé adormeça sozinho é que é verdadeiramente duro. O Vicente tem péssimos hábitos de sono, especialmente no que diz respeito ao adormecer: não o sabe fazer sozinho. Para evitar que esses hábitos se prolonguem, decidimos que passa a dormir no seu quartinho e que, mais importante que tudo, passa a adormecer sozinho.

O que é que isto significa? Choro quase ininterrupto durante mais tempo do que um coração de mãe consegue suportar. Ouvi-lo a gritar na divisão ao lado, saber que ele quer atenção, que não sabe ainda como se deixar cair no sono tem-me partido o coração em mil pedacinhos. Conseguimos, hoje à tarde, que adormecesse sozinho mas apenas por uns minutos. É verdade que este trabalho não se faz numa noite nem em duas: é coisa para demorar. Ando a tentar procurar coragem e motivação em casos de sucesso mas confesso que tem sido muito, muito difícil. Mas a ideia de que, numa creche ou infantário, o vão deixar ainda mais desamparado é suficiente para não me demover. Só eu sei o que tenho que lutar para não me levantar e pegar nele ao colo com toda a força que tenho e dar-lhe beijinhos até que fique tranquilo. O meu mantra agora é É para o bem dele mas tenho medo que comece a não resultar. Interromper este ciclo é garantia de falhanço certo mas vou buscar forças sei lá onde para ajudar o meu homenzinho a aprender a dormir. E peço a alguma entidade superior que me dê um sinal de que estamos a fazer bem.

janeiro 21, 2011

O nosso coelho é um artista

Só é pena eu não apreciar esta arte contemporânea por aí além.

janeiro 20, 2011

Sol de Inverno

 
Eu sou daquelas pessoas exageradas que não podem ver um dia de Sol sem pensar que, em calhando, as estações até mudam mais rápido do que nós julgamos. Os dias soalheiros de ontem e de hoje fizeram-me esquecer que ainda faltam dois meses de Inverno e, a julgar pelas esplanadas do jardim da Estrela, esse mal é comum a muita gente. Sem pensar duas vezes, enfiei o Vicente no carrinho, juntei alguma literatura útil (que é a que tenho conseguido devorar nestes últimos tempos) e saí de casa. Neste momento, sair de casa é terapêutico, especialmente se pensarmos no que é estar desempregada e cuidar de um recém-nascido em pleno Outono/Inverno. Antes de me dedicar a outras obrigações domésticas, escolho um dos bancos ao Sol (de preferência numa parte mais sossegada do jardim) e leio mais umas páginas sobre a tarefa hercúlea que é educar e acompanhar uma criança. A minha mãe diz que é muita teoria, sim senhor, mas só a prática é que nos salva e eu respondo que sim mas que saber um pouco mais sobre tudo nunca fez mal a ninguém. E de qualquer maneira, como já tenho um diploma em filtrar a informação que realmente interessa, não fica mal ler a opinião de mais um pediatra ou dois.

Mas o jardim vai hoje ser mais importante do que isto: quase um ano depois, vou finalmente voltar a correr. Agora que o pós-parto está aparente e finalmente atrás das costas e que o Vicente é maiorzinho, vou aproveitar a ajuda do pai para poder fazer exercício de novo. Também isto é terapêutico, já que preciso de perder peso mas também de limpar a mente, que é uma coisa muito natural quando se corre. Vou retomar tudo devagar para ver como se comporta o meu corpo. É que no Verão quero ser uma mãe mais bonita e com a cabeça bem no lugar!

janeiro 17, 2011

Crescer no campo

Eu não cresci no campo, pelo menos não no sentido literal da palavra. Nem os meus pais nem os meus avós herdaram nenhum pedaço de terra e não temos propriedades em lado nenhum mas eu ainda pude saber como era a vida numa horta. Os meus avós quase sempre trabalharam no campo, ajudando outras pessoas ou para seu próprio proveito e eu tive a sorte de os acompanhar de vez em quando. Sei bem o que é descansar debaixo duma figueira, ouvindo o som dum gerador, da água dum poço e dos grilos em tardes de Verão e sei o que é molhar mãos e pés em tanques cheios de lodo, enquanto os alfaiates iam deslizando sobre a água turva. Sei como se cavavam regos para conduzir a água pela horta e acho que ainda sei distinguir o sacho da sachola e da enchada.

Ontem, no caminho para casa, vi uma cena que me deixou algumas saudades: o que parecia ser uma avó depenando uma galinha e uma neta de uns cinco anos que se divertia com as plantas à volta. O que me ocorreu é que o Vicente já não vai ter oportunidade de correr assim debaixo de oliveiras e figueiras, nem vai poder fazer as suas próprias canas de pesca para pescar os alfaiates nos tanques, nem vai poder comer figos directamente apanhados da figueira. Dificilmente poderá andar a passear entre cabras ou pequenos rebanhos de ovelhas para as tentar apanhar e fugir atrás delas e não saberá como é dar leitinho a um cabrito acabado de nascer. Eu não sou uma pessoa do campo, apesar de também não ter nascido numa grande metrópole, mas gostava que o Vicente pudesse experimentar os dois lados da coisa para que não crescesse sem saber a que se assemelha um frango. Mas enfim, sempre tenho esperança que possa passar parte das férias da escola com os avós que o hão-de levar aos pombos e às piscinas no campo e partilhar com ele uma parte da tradição que ainda resta. E posso não gostar da actividade em si mas adorava que ele ainda pudesse ir aos ninhos.

janeiro 16, 2011

São Miguel, Açores, dia 4


As fotografias são, como sempre, dele.

Resolvemos guardar o melhor para o último dia, até porque era o caminho mais longe que faríamos na ilha (percurso aqui): a Lagoa das Sete Cidades. Percorremos a costa Norte da ilha sem muitos planos mas mesmo assim conseguimos encontrar piscinas naturais bem escondidas e mais miradouros que valiam a pena. Desviámo-nos ligeiramente do traçado para comermos o sortido regional (um prato com várias iguarias da zona como o feijão assado, o polvo com batatas ou a vitela assada) e para vermos a primeira praia de todos os nossos passeios. A praia não a chegámos a ver porque, com o depósito na reserva, fomos obrigados a voltar para trás e procurar o posto de combustível mais próximo antes de ficarmos definitivamente a pé no meio do nada.

Depois de reabastecer, tinha chegado a altura de subir ao miradouro para ver a lagoa. Mas, com a nossa enorme sorte, o nevoeiro era tão espesso e tão cerrado que mal víamos um palmo à frente do nariz. O que aconteceu foi estarmos no miradouro, sim senhor, frente a uma das nossas grandes maravilhas naturais mas sem ver absolutamente nada! Só se conseguia ouvir o som calmo das águas muito ao fundo e ver o muro que estava imediatamente à nossa frente, mais nada. Foi uma grande desilusão mas já devíamos saber que estamos em Janeiro e a probabilidade de um dia de céu totalmente limpo ainda é remota mas, quando marcámos a viagem, já sabíamos que estávamos a arriscar. Regressámos a casa com uma certa sensação de  desalento mas com um super motivo para voltar: rever as maravilhas da ilha na Primavera ou no Verão e descobrir mais segredos. Mas pelo menos podemos riscar uma ilha da nossa (extensa) lista de sítios a conhecer. Vão lá que vale bem a pena!

(nas fotos, podem ver as piscinas naturais de Santo António, a ponta da Cabeça do Elefante e uma igreja em Santo António.) 

janeiro 15, 2011

São Miguel, Açores, dia 3



As fotografias são, como sempre, dele.

Guardámos o terceiro dia para conhecer Ponta Delgada (percurso aqui) porque achámos que teria suficiente para ver e para nos ocupar o tempo. Para dizer a verdade, fiquei um pouco desiludida com a cidade mas talvez a culpa tenha sido das circunstâncias: era Sábado, já passava da uma da tarde, as lojas estavam a fechar e a maior parte das pessoas que encontrámos na rua parecia regressar a casa. Passeámos um pouco pelas ruas do centro e também sentimos alguma falta de restaurantes com comida mais tradicional. O tempo - ameaça constante de chuva - também não nos deixou explorar a cidade como gostaríamos porque não é muito fácil fugir à chuva quando se é acompanhado de um carrinho de bebé. Gostava de dar outra oportunidade a Ponta Delgada, talvez na Primavera, com mais Sol e mais tempo.

No regresso a casa, ainda arriscámos visitar o parque da Ribeira do Caldeirão, com as suas inúmeras quedas de água, recantos para descanso e um giríssimo presépio gigante mesmo depois do dia de Reis. Não pudemos ver tudo com a calma que gostaríamos porque o senhor Vicente resolveu fazer a sua maior birra em terras açoreanas, o que nos fez voltar ao carro. Vai-se a ver e era apenas fome mas este bebé é assim: quando quer uma coisa, não quer esperar um segundo por ela, vai-nos sair fresco... Estávamos contente porque tínhamos guardado o melhor para o fim: a visita à Lagoa das Sete Cidades e entretanto íamos descansar um pouco.

(nas fotos, podem ver uma das praças centrais de Ponta Delgada e uma das quedas de água do parque.) 

janeiro 11, 2011

São Miguel, Açores, dia 2

As fotografias são, como sempre, dele.

 Decidimos que o segundo dia não devia ser tão extenso, pensando em nós mas também no Vicente que se podia ressentir de tanto passeio. Concentrámos as atenções na zona da Ribeira Grande (percurso aqui) e aproveitámos para visitar a Caldeira Velha e, num rasgo de sorte, ver também a Lagoa do Fogo. O tempo que se fazia sentir não nos deixou visitar a Ribeira Grande como gostaríamos e durante o almoço choveu mesmo torrencialmente, de forma que nos afligimos sobre como levar o Vicente do restaurante até ao carro. Depois, a chuva abrandou e as nuvens foram dando tréguas e nós arriscámos ir ao miradouro espreitar a Lagoa do Fogo. Chegámos e toda a área estava coberta por um nevoeiro cerrado mas, como havia muito vento, depressa a vista ficou desafogada e foi com uma satisfação quase infantil que começámos a ver os contornos da lagoa.

Nesta altura da viagem, já sofríamos um pouco do síndrome que nos faz sonhar com todos os lugares bonitos que visitamos - então e se viéssemos viver para aqui? O Vicente cresceria com muita calma, nós viveríamos rodeados de vaquinhas e do verde das pastagens e poderíamos viver tranquilos. Mas depois facilmente regressamos à realidade e enfim, é ver como vivem as populações que passámos a conhecer (a agricultura e a pesca ainda são rainhas) para duvidarmos do sucesso da nossa missão. Aprendemos algumas coisas sobre os habitantes daquela zona da ilha (Nordeste): quase todos usam botas de borracha e quase todos acham que estacionar um autocarro/carrinha/carroça em plena faixa de rodagem numa estrada com muito trânsito é a coisa mais normal do mundo. Mas se calhar isso até é um sinal da forma como se vive para aqueles lados: tudo é familiar, todos se conhecem, ninguém sabe sequer o que significa a palavra stress.

Por esta altura, já estávamos mais do que deslumbrados com a vegetação luxuriante, virgem e às vezes quase impenetrável daquela zona. Perguntei-me muitas vezes como é possível ainda manter tão grande extensão intocada nos dias em que vivemos, com tanta ganância e especulação imobiliária: havia ali tanto terreno para empreendimentos turísticos a contaminarem a paisagem  que é quase um milagre ver tanta terra no seu estado natural. Mas não diríamos que não a uma casinha naquelas aldeias típicas e tranquilas que se debruçam sobre as escarpas rochosas e que descansam debaixo de céus estrelados à moda antiga.

(nas fotos, podem ver a vista sobre a Lagoa do Fogo e uma das milhentas quedas de água que há pela ilha, desta vez perto da Caldeira Velha)

janeiro 10, 2011

São Miguel, Açores, dia 1


As fotografias são, como sempre, dele.

Regressámos, sãos e salvos! O Vicente portou-se lindamente na viagem para lá porque tive a sorte de o conseguir adormecer antes de entrar no avião. Depois disso, foi dormir a viagem até que se preparava a aterragem, sempre sossegadinho. Claro que à saída do avião ele tinha que dar um ar da sua graça e ainda conseguiu berrar como se não houvesse amanhã, o que nos valeu ainda uns comentários simpáticos do pessoal de bordo. De qualquer modo, estávamos orgulhosos: o Vicente tinha superado a sua primeira viagem de avião.

Depois de tratarmos de alugar o carro, fizemo-nos à estrada, que não é composta, como sugerido pela moça da rent-a-car, apenas de vias rápidas: caminha-se nesse sentido e é verdade que vimos muito esforços de modernização mas grande parte do nosso caminho ainda foi feito em estradas com curvas sinuosas, estradas apertadas e cheias de buracos. Ficámos aqui e não podíamos ter escolhido melhor sítio para ficar, quer pela casa em si (totalmente remodelada, mantendo a traça original), quer pelo anfitrião - o senhor Ricardo - que foi de uma enorme simpatia e que nos traçou um roteiro daquilo que era obrigatório ver/comer/experimentar. Com um simples mapa e as indicações dele, aproveitámos ao máximo os nossos dias. Abrimos as hostilidades com um passeio pelo Nordeste (percurso aqui), a região mais deslumbrante e virgem da ilha, com grandes reservas naturais e um sem número de miradouros maravilhosos sobre a costa. Depois, rumo ao centro, demos um salto às Furnas para comer o obrigatório cozido e, aconselhados por um prestável empregado, acabámos por comer e beber apenas produtos da região. Cada vez mais acho que podia fazer apenas turismo gastronómico!

Ainda conseguimos ver a imponente Lagoa das Furnas antes do nevoeiro tomar conta de todos os sítios com uma altitude simpática mas não conseguimos ver a imponência da vista do Salto do Cavalo, pelo que já encontrámos motivos para voltar! O Vicente colaborou sempre e deixou-nos almoçar tranquilo, depois de ele próprio ter almoçado. Ainda não consegue aproveitar as vistas, os passeios, os pratos regionais mas já se vai aguentando como um homenzinho. São boas notícias para as viagens e os anos que aí vêm.


(nestas fotos, temos a vista da Ponta da Madrugada, as caldeiras borbulhantes nas Furnas e a própria Lagoa das Furnas.)

janeiro 04, 2011

Reality check #542: as creches

Isto é tudo muito bonito, quatro meses de licença de maternidade e depois desemprego volta para mim, vinte e quatro horas com o bebé Vicente, muita energia dispendida neste tempo todo. Mas e depois? Depois, a licença acaba mesmo a vinte e nove deste mês e, supostamente, eu deveria voltar à procura de emprego. Mas pergunto-me como se não tenho onde deixar o meu filho. Esqueçam entrevistas e aceitar propostas de emprego porque não há quem em tome conta dele.

Hoje fizemos a nossa pré-inscrição numa creche aqui perto de casa. Fomos o número vinte e cinco da fila, por isso suponho que não nos podemos queixar. Mas o desconsolo é muito grande quando chegamos ao balcão propriamente dito e a primeira coisa que nos dizem é que não irá haver vaga para o Vicente em Setembro. Sim, é mesmo em Setembro, o único mês em que aceitam novas entradas. E também é um pouco deprimente ver mulheres grávidas a fazer (por via das dúvidas) a pré-inscrição de bebés que ainda não nasceram para garantir um lugar. É claro que provavelmente há centenas de vagas em creches privadas mas, comigo no desemprego, não consideramos essa hipótese. E então como promove este país a natalidade? Com promessas idiotas de 200 e tal euros por cada nascimento em vez de garantir condições aos bebés que já existem e de proteger os pais nestes momentos de maior transição (já nem vou falar dos mais de trezentos euros que tive que devolver à segurança social porque eles se enganaram a calcular as minhas prestações... Enfim, só mimos.). E eu nem compreendo muito bem os critérios de selecção na entrada e nem faço ideia do valor das mensalidades mas quis tentar, ainda assim.

Portanto, esta é uma pescadinha de rabo na boca: se quero trabalhar, preciso de uma creche para o Vicente; se quero pagar uma creche ao Vicente, preciso de trabalhar. Também é preciso uma grande dose de optimismo para resistir a tanto obstáculo, a tanto erro e mal entendido, a tanto entraves para a vida voltar ao normal. Depois, quando se queixarem dos níveis de produtividade do país não venham falar comigo. É que eu ando deserta de produzir, mesmo que isso implique separar-me do meu homenzinho.

Voar voar: a primeira vez

Amanhã o Vicente vai entrar num avião pela primeira vez. Eu, que já me sinto naturalmente aterrada com as viagens de avião, acho que estou em negação mas sinto ainda mais medo por levar o bebé connosco. Vamos gozar alguns dos últimos dias de licença até aos Açores, aproveitando para passear e estarmos juntos. É engraçado como estas experiências acontecem cada vez mais cedo: a minha mãe voou pela primeira vez cerca dos quarenta anos, eu perto dos vinte e o Vicente vai logo aos três meses. Como seria de esperar, estou com grande expectativa sobre como vai correr a viagem e a preparar-me mentalmente para, na pior das hipóteses, duas horas de choro sem remédio. Mas enfim, posso estar enganada e ele pode surpreender-nos e ser um perfeito anjinho na cabine. Até lá, vou torcendo para que tudo nos corra pelo melhor...

janeiro 03, 2011

Cá estamos!

É verdade, o ano novo já cá canta e desta vez não foi preciso recuperar da festa. Foi sem dúvida uma passagem de ano absolutamente diferente, especialmente se pensar nos últimos anos. Pensei mais na comida que ia fazer do que na bebida que tinha que comprar, tive a certeza de ir festejar no sítio confortável (nada de fumo, nada de tabaco, nada de frio, apenas o conforto duma casa e duma família amiga de três) e sabia, à partida, que este ano tinha sido feliz sem precisar de grandes momentos de introspecção.

É claro que o Vicente alterou toda a logística e fomos carregados com a espreguiçadeira para que ele pudesse ir descansando. Podemos dizer que se portou à altura, sem grandes birras, só o choro normal antes das mamadas, que este rapaz quer as coisas à hora que entende e quer que elas aconteçam já! Comemos bem, sem pressas e eu fiquei toda contente com o cheesecake de ricotta que levei. Comemorei com muito sumo de laranja, não provei o champanhe e também abdiquei das passas - os desejos pedem-se mesmo sem elas e, de qualquer maneira, o meu único desejo para este ano é que possamos viver os três tão felizes como até aqui. Vimos mais de dez fogos de artifício (uma varanda brutalmente desafogada em Paço d'Arcos tem destas coisas!) e regressámos a casa antes do Vicente acordar para mamar. É claro que tenho saudades de sair e dançar e esquecer-me que tenho esta responsabilidade gigante mas compensadora que é ter um filho. Mas o tempo passa e, mais cedo ou mais tarde, vou-me permitir essa nesga de liberdade. Por agora, desejo-vos um Feliz Ano Novo, independentemente de crises ou da austeridade anunciada. Que possamos, pelo menos, ser positivos e optimistas acerca do futuro que aí vem.