abril 30, 2012

E depois da angústia...

Esta que vos escreve hoje é uma mãe cansada e envergonhada de sofrer horrores com estas transições. É uma mãe que ouve os conselhos dos outros, que abana a cabeça afirmativamente quando pensa o miúdo vai safar-se, eles adaptam-se melhor que nós, ele nem vai dar por nada, ele vai adorar estar com outras crianças e depois que passa a noite inteira a acordar e a pensar nisto tudo outra vez. É uma mãe que sabe que é assim que tem que ser, que precisa (também ela) de voltar ao activo, que este é o curso natural das coisas e que só pode ser um belíssimo sinal estar a acontecer assim mas depois só tem vontade de chorar e apanhar dois autocarros para o ir buscar a meio da manhã ou pelo menos espreitar e ver se ele está realmente bem.

O bebé Vicente voltou hoje a uma creche. É um sítio onde não se fala Português, o que me manteve acordada esta noite. E se ele entrasse em pânico por não reconhecer nenhuma palavra? E se a educadora não percebesse se ele tinha fome ou se morria de sede? E, agora que já é tão crescido, se ele pensasse que nós o tínhamos abandonado ali, sem referências nenhumas, ainda sem nenhuma âncora àquela realidade, sem conhecer bebés nem funcionárias? A minha metade racional insistia em dizer-me que a adaptação havia de ser canja mas ao mesmo tempo pensava na educadora que nos recebeu e nos contou que a sua filha chorou todos os dias de creche durante os primeiros seis meses! E se entregá-lo nas mãos de estranhos em Portugal me custou muito, mais me custou fazê-lo aqui, não por algum preconceito mas porque me parece que aqui ele é muito mais indefeso. Mas ele precisava de ir, nós precisávamos que ele fosse para que a vida possa (ainda a custo) voltar verdadeiramente ao normal.

Pela hora de almoço, as notícias eram as melhores: ele não tinha dado trabalho nenhum, tinha comido muito bem e estava a dormir. Eu encolhi os ombros porque, apesar de já esperar que assim fosse, tinha sentido esta angústia e ansiedade em vão. E se muitas vezes ele me fez a cabeça em água aqui em casa, desobedecendo a tudo e nunca desistindo de tentar, espalhando livros e caixas pela casa fora, tentando mexer em garrafas de vidro, no aquecimento e nos tachos, ligando e desligando a televisão um milhar de vezes, hoje só me lembrei de o ver a correr, despachado, de livro na mão e pedindo para eu o sentar no sofá para lermos juntos. E agora só quero ouvir a chave na porta e abraçá-lo com força. Ainda estou para perceber como se pode gostar tanto de um homenzinho pequenino.

abril 29, 2012

Um dia pela memória


Hoje aproveitámos o intervalo nos dias de cinzento carregado, frio e muita chuva para passearmos um pouco. Já tínhamos ficado intrigados com umas indicações para cemitérios de soldados e resolvemos procurá-los. Ficam mesmo nos arredores da cidade do Luxemburgo, quase paredes meias com o aeroporto e por isso é muito fácil chegar lá. São dois sítios muito diferentes mas ambos de muita calma, rodeados por floresta frondosa no caso alemão e demarcados com grandiosidade no caso americano. Estava um dia tão bonito e o silêncio era tão grande que foi fácil caminhar e desfrutar também da natureza. 

É um passeio mórbido, poderão dizer. Mas a verdade é que ambos os cemitérios não têm aquela carga dramática dos cemitérios portugueses, parecem ambos feitos para convidar ao passeio, à meditação e à homenagem. E além disso, são ambos pedaços da história do século XX, documentando o horror que terá sido viver entre 1941 e 1945 na Europa. Enquanto passeávamos, discutíamos sobre isto e sobre se eram estes sítios apropriados ou não para passear. E a verdade é que o tempo passa, desgastando inegavelmente a nossa memória e não sabemos quanto da História vai restar quando o Vicente tiver a capacidade de a aprender. E estes acontecimentos não devem ser esquecidos e a sua lembrança deve sobreviver-nos para que nunca mais se repitam e por isso queremos também que o nosso filho compreenda esse pedaço de História. Agora ainda é cedo para isso mas nunca é cedo demais para correr pela floresta fora!

abril 24, 2012

Semeando na varanda

Por aqui resolvemos meter mãos à obra e fazer crescer alguma coisa que se veja (e, acima de tudo, que se coma!). Tinha olhado para as caixas onde compramos morangos e tinha logo pensado que as devíamos guardar, podiam ser úteis para alguma coisa. Daí até pensar numa pequena horta na varanda foi um passo.

Claro que o espaço é muito limitado e não podemos propriamente ter canteiros na varanda que, apesar de jeitosa, não permite grandes aventuras. Depois de comprarmos um vaso com mangericão para usarmos na cozinha, achámos que era mesmo muito bom ter ali a planta à mão, cheirosa e sem ser congelada e então achámos que podíamos ter algumas ervas aromáticas na varanda. Escolhemos umas quantas, eu pintei as caixas com algumas cores de Verão, tratámos de arranjar terra própria e agora só falta passar à acção. Eu não sou propriamente experiente nestas coisas mas não há nada que a internet não nos ajude a fazer! Vamos ver se realmente a coisa pega e passo a temperar tudo com muito mais gosto!

abril 18, 2012

Porque é que sair de Portugal foi bom?

Tratando da papelada para estarmos completamente legalizados, contribuindo mas também beneficiando dos nossos direitos, passámos no organismo que regula o abono de família aqui no Luxemburgo. Um dos documentos que nos pediram era uma declaração da Segurança Social portuguesa, atestando que não recebemos qualquer apoio em Portugal. Para nós, era uma situação fácil de resolver, uma vez que recebemos abono de família apenas no primeiro mês a seguir ao nascimento do Vicente, tendo o mesmo sido imediatamente cortado devido ao nosso escalão.

Fomos pedir esta declaração no site da Segurança Social Directa e qual não foi o meu espanto quando descobrimos que a única declaração disponível era que estamos a receber o abono de família no quinto escalão, o que é uma escandalosa mentira. Tentei por duas vezes contactar estes serviços por e-mail e não obtive mais do que respostas automatizadas de alguém totalmente incapaz sequer de ler um pedido de correcção. Como pelo telefone a ajuda também é a que se conhece, pedi ao meu pai que nos ajudasse indo directamente à Segurança Social.

Foi assim que ficámos a saber que de facto recebemos o abono de família em Portugal, estando inseridos no quinto escalão. Qual é o valor do abono do quinto escalão, perguntam vocês? É zero. Nicles, rien de rien, nothing. E então a funcionária da Segurança Social fez um enorme favor ao meu pai, passando uma declaração que é mais ou menos aquilo de que precisamos. Mas disse-lhe que para resolver realmente esta situação eu teria que escrever aos serviços centrais ou deslocar-me lá pessoalmente para pedir para não receber mais. Sim, é a mais aberrante verdade: precisamos de pedir o cancelamento do abono de família no valor de zero euros! Eu fiquei sem palavras quando o meu pai me explicou tudo e, sinceramente, adicionei esta a outras razões para sair do país. Eu não quero ser uma pessoa que se julga acima do país onde nasceu mas gostava de sentir nestas coisas alguma ponta de razoabilidade, algum sentido e francamente todas as prestações que se receberam no nosso agregado familiar (abono pré-natal, abono de família, desemprego) correram mal, TODAS. O meu grande objectivo em Portugal era conseguir sempre manter-me independente de qualquer subsídio ou benesse do Estado, não interessava a que custo. E agora só tive mais uma confirmação de que há algo verdadeiramente podre a influenciar os destinos do país, como se complicar a vida dos contribuintes fosse uma espécie de passatempo nacional. E neste campo, digam o que disserem, há países a anos-luz, onde a facilidade, organização e cruzamento de dados são coisas difíceis de perceber para um português habituado a um sistema kafkiano. Enfim, nem o Sol ajuda a esquecer a incompetência que grassa.

abril 17, 2012

Passeio de fim de semana

No fim de semana que passou aproveitámos a proximidade e o tempo livre para visitarmos um velho amigo (e sua namorada) em Bruxelas. São quase duas horas de viagem, sempre em auto-estrada gratuita, portanto é uma viagem que se faz muito bem. Deixámos o Luxemburgo com o primeiro dia de Sol dos últimos tempos e rezávamos para conseguir o mesmo na Bélgica mas não tivemos essa sorte! 


Para mim, foi a quinta visita a Bruxelas e para o pai do Vicente esta questão nem se coloca, visto que já lá viveu durante um ano. Foi apenas a estreia do bebé em terras belgas e logo num fim de semana que fazia um frio de rachar! Não faço ideia quantos graus estariam mas lembro-me de estar frente ao Atomium e a ventania ser tal que parecia que cortava. Tivemos direito ao essencial gaufre e, claro, às frites (um pouco africanizadas mas foi o que se arranjou). Com o estacionamento gratuito em pleno centro da cidade (é um segredo que preferimos preservar!) e uns anfitriões de primeira (belo bacalhau com natas, paciência para passear pelos sítios pela milésima vez e para um irrequieto bebé Vicente), foram dias tranquilos mas divertidos. Já pensamos no próximo passeio!

abril 13, 2012

Down under

Um dos hábitos que mais me intriga por aqui é este de grande partes dos apartamentos ter uma área de lavandaria comum. Quer com apenas uma máquina, quer com uma máquina por inquilino, costuma existir esta área em comum. No nosso caso, esta área fica na cave do prédio e existe mais do que uma máquina de lavar disponível.
Eu, que nunca me tinha aventurado nisto, resolvi usar o estendal à nossa disposição porque aqui não há outra maneira de secar a roupa (ou nesta área ou em estendais dentro de casa, coisa que eu odeio). Lá fui eu estender a roupa, ocupando o menor espaço possível para que outros pudessem também estender. Qual não foi o meu espanto que, quando regressei para recolher a roupa, alguém me tinha estendido a roupa toda novamente. Ou seja, retiraram tudo o que estendi e estenderam de outra forma! Fiquei um pouco indignada porque odeio a ideia de ter alguém estranho a mexer na nossa roupa, especialmente quando não o pedimos a ninguém. Mas já voltámos a usar o espaço e a coisa já correu pelo melhor.

Depois, e pelo menos no nosso prédio, as boxes de arrumação são um bocado assustadoras. Eu não sei porquê mas cada vez que desço as escadas e me deparo com aquilo só me lembro de câmaras de tortura ou de bunkers. Enfim, é a cabeça a viajar. A única coisa que podia ser boa nesta cave é o acesso directo a um quintal nas traseiras do prédio mas nem isso se safa: nem sabemos se é uma área comum ao prédio e todos a podem usar e a quantidade de silvas é tanta que nem dá para meter lá o pé! Portanto, lavar roupa é lá no apartamento e passear é nos jardins perto de casa!

abril 12, 2012

... e Domingos à chuva

No Domingo a coisa complicou-se um bocadinho. Além do escassos graus centígrados que se faziam sentir, ainda tivemos que lutar contra a chuva que se fazia sentir. Na Segunda combinámos com um amigo e fomos até ao mercado de Páscoa para procurarmos um Péckvillchen para o Vicente! Muitos havia para escolher mas decidimo-nos por este roussignol fofinho.

Depois, e como chovia cada vez mais, resolvemos enfiar-nos no primeiro café onde houvesse uma sala quentinha e, mais importante ainda, lugares sentados. A cidade estava cheia de turistas e também de pessoas que, morando noutras partes do Luxemburgo, aproveitavam o dia livre para passear pela capital. Encontrámos lugar na La Table du Pain, que é daqueles sítios que uma pessoa sonha abrir um dia num dos seus sítios preferidos. Depois foi saborear o chocolate quente, o bolo caseiro e o bebé Vicente a fazer olhinhos a toda a gente à nossa volta, sentado à mesa como um dos grandes.


abril 10, 2012

Sábados ao frio

Há uma certa característica portuguesa em mim que (ainda) não me deixa aproveitar mesmo os dias frios. É uma tendência que preciso contrariar, é certo, não é nada que me saia naturalmente e exige algum trabalho. O Sábado foi disso um exemplo: a primeira tentativa de sair antes do almoço resultou numa viagem em vão ao centro da cidade, que culminou comigo completamente gelada e convencida que não estava preparada para este frio. 


Esta vontade de estar colada ao sofá ou pelo menos a casa nos dias mais frios é mais cultural, própria de alguém que vem de um país com uma média de horas de Sol de 2.500 anualmente. Por aqui, e visto que as condições meteorológicas nunca serão tão convidativas, há que fazer muitas cedências (leia-se enfiar várias camadas de roupa e pares de meias para enganar o frio) para poder aproveitar o verde dos parques e levar o miúdo a apanhar ar. Descobrimos um parque neste fim de semana que junta os tradicionais baloiços e escorregas com um barco pirata cheio de pontes de corda e esconderijos divertidos e com pequenos diques que podem ser manejados pelos miúdos. Não é exagero dizer que gostava de ter uns anos a menos para brincar nisto tudo agora!

abril 08, 2012

O outro lado do espelho

É inevitável dizê-lo: nem tudo são rosas em terras luxemburguesas. É muito bom mostrar as coisas que correm bem mas também é importante manter a consciência de que nem tudo é fácil. A língua ainda continua a ser uma barreira para mim: não falo uma palavra de luxemburguês, que é bastante usado no comércio, por exemplo, e muitas vezes quando opto pelo francês bloqueio ou deixo que o alemão se intrometa. Um dos momentos mais embaraçosos até agora foi na nossa comuna: o funcionário perguntava-me a data do nosso casamento e eu, de repente, não consegui dizer 2012 em francês. Só me saía 20-12 e nem me lembrei que podia falar alemão ou inglês! Foi uma belíssima figura de ursa de alguém que até tem queda para as línguas... Mas neste campo, é fácil trabalhar e já há um curso de francês a caminho. O luxemburguês terá que ficar para mais tarde.

Depois há evidentemente a questão do trabalho. Estar desempregado é difícil em qualquer parte do mundo, não tenho a menor dúvida. Mas neste momento, é particularmente difícil para mim porque me está a impedir uma maior socialização. Passo muito tempo sozinha (com o Vicente, é certo, mas sem outros adultos) e isso também tem influência nas línguas, claro. Para a semana já reservei a inscrição no centro de emprego mas candidato-me todos os dias a novas vagas. Falta-me um bocadinho de experiência em produtos bancários ou em serviços financeiros e isso dificulta um pouco a vida. Depois também há aquela ideia de que os portugueses só vêm aqui para ser pedreiros e senhoras da limpeza, profissões completamente dignas mas cujo estereótipo ignora a possibilidade de existirem portugueses com formação superior e experiência na área dos serviços. Vemos muitos portugueses na construção civil, nos balcões e limpezas de supermercados, nas limpezas - o cliché é verdadeiro. E lêem-se muitos lamentos de quem veio ao engano, de quem passa dificuldades, sem sequer ter dinheiro para voltar a Portugal e para mim, que estou numa situação completamente diferente, isto continua a ser aterrador.

É evidente que só passaram duas semanas. Mas eu nunca estive verdadeiramente desempregada - apenas livre durante o final da gravidez e a licença de maternidade. Além de sentir falta da azáfama profissional, sinto sobretudo falta de poder dar a minha contribuição. Mas tenho alguns bons exemplos perto de mim, onde procuro o optimismo e a esperança nos dias piores. É respirar fundo três vezes, sacudir a poeira e repetir o mantra: vai correr tudo bem.

abril 07, 2012

Palavra de ordem: reciclar!

Umas das coisas que mais me agrada aqui é o processo da reciclagem. Como noutros países da Europa, e ao contrário do acontece em Lisboa, as próprias câmaras (ou comunas) estão mais activamente envolvidas para que tudo resulte. Há um calendário pré-estabelecido para os dias de recolha do lixo (diferentes tipos de lixo são recolhidos em dias e com periodicidades diferentes), alguns sacos são distribuídos gratuitamente pela câmara (ou comuna) e pelo centro de reciclagem e é possível solicitar recolhas de materiais especiais por marcação. Mas o que realmente me impressiona por aqui é que o cidadão é convidado a participar também ele activamente, o que só é possível com altas doses de civismo.
A nossa comuna dá aos habitantes nela registados um cartão pessoal de acesso ao centro de reciclagem. Este centro encontra-se aberto durante a semana e pode substituir as recolhas periódicas do lixo, assim as queiramos antecipar ou atrasar. É-nos pedido que façamos uma separação metódica do nosso lixo e que a distribuamos pelos recipientes devidamente assinalados no centro. A separação é um pouco mais específica do que apenas papel, vidro e plástico e também há lugar para o chamado lixo verde (limpezas de jardins, por exemplo) ou para equipamentos eléctricos ou outros.
A melhor parte disto tudo? É que efectivamente este é um sistema que funciona! Tivemos já a oportunidade de ver a azáfama no centro de reciclagem, de perceber como cada um organiza o que traz, como as crianças também são desde cedo envolvidas no processo, assimilando-o como natural e aprendendo enquanto crescem. Eu não sou nenhuma ambientalista radical: acredito que todos podemos fazer um pouco para diminuir a pegada ecológica mas acho que, acima de tudo, esta é uma questão de civismo e eu fico contente por podermos fazer a nossa parte. Há até uma loja de objectos em segunda mão para quem se quer desfazer de objectos ainda perfeitamente utilizáveis - é uma ideia ganhadora a cem porcento. Gostava que isto também funcionasse em Portugal mas não sei, acho que ainda há muito a mentalidade Não separo o lixo porque estou a gerar mais emprego ou Eu pago, alguém que faça isso por mim. Enfim, eu sou uma fã da organização e responsabilização das pessoas, nada a fazer!

abril 04, 2012

The terrible two

Agora que tenho demasiado muito tempo livre, e uma vez que estou novamente com o Vicente 24h por dia, tenho pensado muito nesta coisa da parentalidade positiva. Eu sou muito impulsiva e uma pessoa de emoções muito fortes e isso, combinado com um filho que adora uma boa birra, uma boa gritaria no posto dos correios ou num simples regresso a casa, não pode dar muito bom resultado. A verdade é que ele é um mini tornado, desarrumando tudo à sua passagem, mexendo em todos os sítios proibidos, gritando sempre que não lhe fazemos a vontade mas termina estes acessos temperamentais com um gigante abraço, dando-nos palmadinhas nas costas como sinal de afecto.

Tenho lido alguns artigos sobre esta fase e sobre esta dura provação: ele quer testar os nossos limites mas não sabe ainda lidar com a sua frustração; ele está a pedir-nos disciplina mas quer tudo feito à maneira dele; ele está a crescer e a dar-nos cabo do juízo! Às vezes, até as tarefas mais simples (como a mudança de fralda) são justificação para uma birra monumental, um pequeno homenzinho contorcendo-se em cima do fraldário, gritando como se estivesse a ser alvo da pior tortura. Muitas vezes, pergunto-me o que é que os vizinhos (que mal nos conhecem e que não acompanharam o primeiro ano do Vicente) pensarão das gritarias que se ouvem nesta casa e chego a ter medo que reportem isto como maus tratos! Se o sentamos na cadeira por uns minutos que nos permitam arrumar a casa ou fazer o jantar, grita quase até lhe faltar a voz e dou com ele esganiçado e vermelho da força que faz. Como já domina a marcha, andar com ele no carrinho é um castigo e um tormento ver como se contorce para se libertar. Mas enfim, uma pessoa vai-se esquecendo das coisas com os abraços que já distribui voluntariamente, com os barulhinhos de satisfação que faz quando encosta a cara ao nosso ombro, com a maneira fofa como aceita a nossa mão para ir a qualquer lado ou com as suas expressões/palavras mais perceptíveis: banana e já tá.

Ler sobre as birras ainda não me levou onde eu gostaria de estar, obviamente. Tenho tentado seguir algumas recomendações positivas para ajudar o Vicente a superar estes acessos de frustração mas nem sempre as estratégias resultam. Uma das melhores opções é envolvê-lo nas actividades ou participar nas brincadeiras dele mas são duas coisas que não resolvem a questão dos sítios públicos, cheios de gente vs. um Vicente que não quer estar preso na cadeira e que por sua vontade correria, apertando a mão a quem se cruzasse com ele. E às vezes também é difícil pensar que os pequenos acessos de raiva não são nada de pessoal contra nós mas apenas expressões visíveis dessa frustração de ainda não se dominar o Mundo nem o corpo nem as vontades. Tudo isto é obra mas o verdadeiro esforço é pensar que tudo não passa de uma fase importantíssima para a criação da independência e da autonomia dele. E o melhor é continuar a sair da sala, respirar fundo umas cinco vezes e voltar, esperando que ele já não tenha vontade de espernear.

abril 03, 2012


O fim de semana começou com um tempo muito cinzento, algum frio e algumas pingas de chuva mas o Domingo logo se apressou a mostrar que tudo não passara de um capricho da meteorologia. Seguimos a sugestão de uns conhecidos e lá fomos nós para o Parc Merveilleux para aproveitar a tarde fora de casa. Para quem não tem filhos, o sítio não é assim muito interessante mas para quem já tem descendentes é quase um paraíso: é um parque bem no meio duma floresta, com alguns animais (longe mesmo assim de ser um zoo), com parques infantis gigantes no meio da floresta. O número de carrinhos de bebé por km2 pode ser desanimador para quem não tem que empurrar um!


O bebé Vicente dormiu no início mas depois lá acordou e foi gritando para os cães com que nos cruzámos e para quase todos os animais que foi encontrando. No pequeno Zoo ainda conseguimos pô-lo a fazer festas em cabras e em burros, o que ele adora, apesar de às vezes se arrepiar um bocado e hesitar. É um sítio extraordinário para respirar um pouco de ar puro e também para deixar os miúdos correr um bocado. Eu confesso que tenho andado um bocado preguiçosa e no início não me agradava a ideia de andar mas poucos minutos depois a caminhada já me sabia bem, mesmo empurrando o carrinho mais os doze quilos do Vicente. Uma pessoa deve aproveitar estas coisas para pôr algum exercício em dia! Depois foram mais dez minutinhos para regressar a casa com o Sol ainda alto e terminar o Domingo no sofá. Sai daqui um grande bem haja a este país tão pequenino!

abril 02, 2012

Sábado na praça

Nos Sábados, existem duas boas razões para mexer o rabo e estacionar perto do centro da cidade do Luxemburgo. Em duas das principais praças da cidade encontramos um mercado de produtos frescos e um mercado de velharias.


No que aos frescos diz respeito, fiquei um pouco desapontada com os preços, embora já desconfiasse que assim seria. Quase tudo era mais caro que num supermercado regular, muitas vezes custando o dobro do preço e sem trazer grande novidade. Coisas a reter: uma roulotte a vender queijos gigantes, algumas que vendem peixe (esta coisa de sermos do Sul da Europa e estarmos habituados a comer peixinho grelhado não combina com estes países mais a Norte, onde o peixe não é assim tão famoso). O que realmente valeu a pena foi a parte das flores, plantas, sementes e árvores. Eu cá andava a invejar as janelas dos vizinhos, todas compostas com os seus vasinhos de flores e como tal resolvi alegrar também o nosso parapeito. Não sou grande conhecedora de flores e também não gosto delas muito exuberantes e por isso decidi-me por uns vasinhos fofinhos para dar outro ar à casa!

Como ao Domingo quase nada abre por aqui, a manhã de Sábado é super movimentada no centro da cidade. A juntar aos turistas, que ainda estão longe de ser magotes, encontramos muita gente a fazer as suas compras e muitas, muitas pessoas a passear o seu cão! Esta coisa dos Domingos é qualquer coisa a que custa habituar. Uma pessoa vem duma cidade em que, pelo menos nos centro comerciais, as lojas estão abertas todos os dias da semana e, nesse caso e na maior parte, até perto da meia noite. O mesmo vale para hiper ou supermercados, o que nos facilita imenso a vida mas também diz alguma coisa sobre os nossos padrões de consumo. Aqui não há quase nada aberto ao Domingo, por isso todas as compras devem ser pensadas de antemão e os supermercados também fecham (mais tardar) às 20h durante a semana. A compensar temos o facto de o estacionamento ser gratuito nas grandes superfícies, contrário ao que acontece em alguns sítios em Lisboa. E de resto, nada de passar tempo livre em centros comerciais: há uma nesguinha de Sol e muita relva para aproveitar!