junho 23, 2011

Viva o corpo de Deus!

Depois de descobrir quase em cima da hora que não trabalhava neste feriado, pensei que talvez pudéssemos ir à praia ou descansar um pouco. Essa do descanso fica para uma outra vida, porque nesta todo o tempo parece pouco para o desperdiçar com tardes de preguiça. Ainda tínhamos medo do trânsito que podia haver (afinal de contas era feriado, as temperaturas prometiam aumentar, há tanta praia aqui à volta) mas arriscámos ir direitos ao Guincho. Já tínhamos amigos à espera mas a ventania era tantta que o bebé Vicente nem conseguia respirar fora do carro e, caso ficássemos, íamos só ser fustigados pela areia.

Já é a segunda vez em pouco tempo que vamos para aqueles lados e eu só tenho pena que seja uma zona tão ventosa e de mar tão agitado: é que a paisagem é tão bonita, totalmente preservada e limpa que conseguia imaginar-me estendida naquelas praias a bronzear-me um bocado. Mas também pude confirmar que fico um bocado deprimida quando ando para aquelas bandas: há tanta, tanta casa bonita, descansando debaixo das grandes copas dos pinheiros mansos e a única coisa que me ocorre é que nunca terei dinheiro para viver num sítio assim. Enfim, há que aceitar um certo determinismo social que fez com eu entrasse na classe média-baixa logo assim de repente. O único remédio é continuar a sonhar que estou deitada à beira da piscina e que o único som que se faz ouvir é aquela espécie de crepitar das agulhas dos pinheiros e a gargalhada do bebé Vicente, entretido com qualquer coisa muito estranhar (uma toalha de papel, as costas de uma cadeira, um pacote de toalhitas).

Ainda deu para ver esta exposição, bastante fraca (na minha modesta opinião), feita de alguma repetição das imagens. Valeu pelo sítio, mais ou menos interessante no que à arquitectura diz respeito. Só uma nota negativa para o parque subterrâneo onde deixámos o carro, sem qualquer elevador ou rampa à vista, o que nos obrigou a subir e descer escadas que pareciam provisórias carregando o peso do bebé Vicente + carro à mão... E depois foi acabar a folga exactamente como a começámos: uma travessa de caracóis, uma de picapau e duas minis em mais um café do bairro. Ah como eu adoro o Verão...

junho 22, 2011

9 months in, 9 months out!

Está a aproximar-se o dia em que o (agora) grande bebé Vicente irá completar nove meses fora da barriga da mãe. Está imensamente diferente, o meu filho. É muito, muito curioso: tenta absorver todos os pormenores dos sítios por onde passa. Gosta muito de pessoas: é daqueles bebés que fica a olhar fixamente para alguém até chamar a sua atenção para depois se desfazer num grande sorriso maroto.

Ainda não dorme bem, como seria de esperar num bebé de nove meses. Tem vezes que acorda uma vez, outras que acorda duas, outras que se queixa de dez em dez minutos – dormir uma noite inteira é que não é com ele! Adora comer mas prefere as sopas da avó às sopas da mãe. Não rejeita nada no que toca à alimentação mas gosta especialmente de manga, papaia e framboesas.

Anda sempre no seu carrinho como se fosse um lorde, não aprecia muito as longas viagens de carro mas tem-se aguentado durante as quase três horas. Tem dois dentes à frente e não sabemos se tem mais escondidos porque ele não deixa que ninguém lhe mexa na boca. Adora andar ao colo de toda a gente e estende os braços mesmo a pessoas que lhe são estranhas. Alguém um dia o descreveu como um bebé de “olhos tão grandes e nariz tão pequenino” e eu adoro essa expressão porque o meu bebé Vicente tem os olhos mais espertos e vivos de que me lembro.

Gosta de brincar com a mãe e o pai e às vezes parece mesmo que nos dá beijinhos. Vai gritando para nos chamar a atenção e já diz mamamama e papapapapa mas sem significado aparente. Inventámos músicas para ele e é uma delícia ver como gosta que cantemos para ele.

Dá muito mais que fazer do que um dia de trabalho no escritório mas é infinitas vezes melhor carregá-lo para todo o lado ou alimentá-lo no jardim ou tentar adormecê-lo tantas vezes. Foram nove meses de sossego e de muitas cambalhotas silenciosas dentro da barriga da mãe e agora mais nove meses de vivacidade, ternura e total dedicação. E com esta brincadeira já conheço o meu filho há dezoito meses… O dia em que comemora os nove meses está a chegar e com ele aumenta o orgulho de ser mãe dum bebé tão agitado quanto amoroso!

junho 14, 2011

Missão cumprida!

Há coisa de uma semana atrás, chegámos à conclusão que a amamentação do bebé Vicente tinha chegado ao fim. Ele já não ficava satisfeito e ia bebendo leite em pó sempre como complemento; eu sentia que alguma coisa se tinha passado com o leite, apesar de não ter passado por nenhum período mais agitado ou de stress. Foi uma decisão tomada a dois, já que desde o início todo o processo de amamentação foi da responsabilidade de paí e mãe: mãe que efectivamente amamentava, pai que apoiava e ajudava a superar todos os obstáculos.

Já o disse antes, concordando com esta menina: a amamentação foi infinitas vezes mais difícil que o parto; um processo que, em mim, não foi tão natural quanto esperava; um desafio constante ao longo destes oito meses que me fez suar, chorar mas, acima de tudo, fez-me sentir orgulhosa por não ter desistido à primeira contrariedade e por ter conseguido que o Vicente crescesse saudável (e cheio de refegos!) exclusivamente com o leite materno até aos quatro meses. Apesar de tudo, vou ter saudades. Foi difícil, sim, mas nada se pode comparar com a sensação de vê-lo ali no meu colo, como se eu lhe bastasse para sempre, mesmo quando demorava mais do que uma hora para se satisfazer. Vou ter muitas saudades da mãozinha dele a enrolar o meu cabelo nestes últimos dias, de saber que lhe bastava e da maneira como ele sabia que era eu apenas pelo cheiro. Mas agora, que tenho um bebé que já come sólidos nas três principais refeições do dia, que já tem o primeiro dente quase, quase de fora, que repete vezes sem conta as sílabas que aprendeu na creche (é babababababababa a tarde toda!) eu sei: esse meu papel acabou pouco antes dos nove meses e tudo o que fica desse tempo é a imensa felicidade de ter conseguido. Se um dia vierem mais pulguinhas para fazer companhia ao bebé Vicente, já vou avisada e, experiente, serei uma mãe mais tranquila. Com muita vontade e uma boa estrutura familiar, há pouca coisa que eu não consiga.

junho 13, 2011

Quality time



Temos sempre arranjado um bocadinho para passear com o Vicente, para ele apanhar um pouco de Sol e de ar fresco mas acho que até agora não tínhamos tido uma tarde tão tranquila como a de Sábado. Estendemos a manta no jardim da Estrela, fomos carregados com os brinquedos dele, a comida dele, as fraldas dele e apenas o jornal e um livro. O bebé Vicente encarregou-se de destruir a capa do jornal e ficou-se por aí porque não conseguiu apanhar o livro! Conseguimos que ele dormisse uma mini-sesta, depois de um esforço hercúleo para que ele adormecesse em pleno jardim mas também conseguimos a proeza de nem sequer haver choro! E, depois de acordar, o bebé Vicente ainda teve tempo de comer um iogurte e uma bolachinha enquanto ficava intrigado com os passarinhos que saltavam de ramo em ramo.

Trabalhar nos feriados tem destas coisas: gostamos de aproveitar melhor os outros dias. Desde que me lembro que trabalho nos feriados. O facto de trabalhar maioritariamente para outros países faz com que nos regulemos pelos seus calendários em vez do nosso e acabamos muitas vezes desencontrados do resto do Mundo. Trabalhar nos feriados tem uma parte boa: o trânsito é praticamente inexistente, no escritório conseguem-se muitos momentos de silêncio (porque nos outros dias, o prédio fervilha de gente nova), estamos mais descontraídos. Mas a verdade é que custa imaginar que há um bebé lá em casa, livre o dia todo, pronto para conhecer praias, miradouros e jardins, amigos estendidos pelas areias desta costa tão vasta. E hoje, enquanto muita gente regressou ao trabalho, fiquei eu em casa, troquei o silêncio pela rádio, já tratei das compras e da casa e, mais importante que tudo, só saí da cama às dez e meia! É que ter tempo para mim também é importante e, respirar fundo nem que seja só um dia, já dá ânimo para enfrentar o que resta da semana.

junho 05, 2011

Votar (nos dias que correm)

Eu não sou propriamente a pessoa mais comprometida com a política e com a mudança. Não simpatizo particularmente com nenhum partido mas posso dizer que o meu coração pende para a esquerda do espectro partidário. Nunca me envolvi em nenhuma campanha, não sou filiada e estou, no fundo, tão desiludida como o resto da população votante. Mas mesmo assim, mesmo depois do circo em que se tornou a vida política nos últimos meses, custa-me a entender um número tão elevado de abstenção (previsões até aos 43%).

Posso não ser propriamente uma cidadã muito envolvida e até muitas vezes de costas voltadas para a política mas ainda sinto que estou perante um momento solene quando, na sexta mesa de voto da Lapa, me vejo perante um boletim de voto. Sinto que faço parte de algo muito maior e, por momentos, sinto também que o meu singular voto pode fazer alguma diferença. E é por isso que gosto de ir votar, apesar de desconfiar de qual vai ser o resultado destas eleições. Acima de tudo, gosto de deixar a mesa de voto com a sensação de dever cumprido, com a legitimidade de criticar as escolhas e as decisões de quem vai estar à frente do nosso país nos próximos anos.

Eu entendo que o nosso país está completamente enterrado numa dívida que não foi provocada por nenhum de nós, pessoas normais, contribuintes (cumpridores ou não) mas antes por quem, à custa destas mesmas pessoas, tomou decisões para seu próprio proveito, ignorando os mais básicos fundamentos da democracia e usando o poder para dele obter dividendos pessoais. Só por isso é que entendo o desencanto brutal em que vivemos e que afasta as pessoas dos políticos e, mais importante ainda, das urnas. Não é possível alguém ainda hoje votar e ter a sensação de que o país vai ser bem entregue. Só que acho que ficar em casa, votar em branco ou votar nulo também não vão ajudar a alterar este cenário de crise profunda em que vivemos. E acho que a situação é tão grave que estas pessoas nunca mais deviam abrir a boca para falarem sobre o que quer que seja. Mas infelizmente, e como é costume, serão as primeiras a fazerem-se ouvir. E, a somar a isto os resultados que aí vêm, já se entende a vontade que uma pessoa tem de emigrar. Uma pessoa bem tenta pensar diferente mas o que aí vem não pode ser bom.

junho 02, 2011

O intergaláctico e doce rapaz-pássaro

 
      

Há algum tempo atrás, não poderia imaginar que um dia o chegaria a ver. Já tinha passado muitas tardes de trabalho, muitas noites de insónia e muitas manhãs de coração partido a ouvir a música dele, na esperança que, milagrosamente, o meu coração pudesse cicatrizar apenas com a doçura da sua voz. Via fotografias dele e ele era apenas um rapaz: parecia que podia encontrá-lo no autocarro ou passeando um carrinho no supermercado. Mas ele cantava sobre os estados americanos, sobre miúdos que se beijam às escondidas, sobre segredos que se escondem debaixo do soalho ou sobre os pobres de espírito em canções cujos títulos desafiam todas as leis editoriais. Mas as semanas e os meses passavam e eu achava que ele nunca tocaria numa sala portuguesa.

Na Terça-feira vi-o, finalmente. Uma oportunidade de ouro que vou guardar para sempre como um dos bilhetes que mais valeu a pena, especialmente depois de estar perdido em alguma estação de correiros de Lisboa. O rapaz-pássaro chegou, abriu as asas mas quem levantou voo fui eu: fiquei espantada com toda a sua versatilidade, com as explicações tão extensas sobre as coisas que o fazem escrever, com o pedido de desculpas por todos os dramas que iria cantar de seguida. E depois foi todo o impacto visual - os confetis para a celebração, o grandioso trabalho do auto-proclamado profeta Royal Robertson, a esquizofrenia da geometria acompanhando o aqui-e-agora e os balões, Céus!, os balões do final. Foi de uma pessoa ficar absolutamente rendida ao talento do rapaz, que alternou momentos de intimidade impressionante com a mais desvairada festa de que me lembro. Este rapaz merecia um Coliseu mais cheio e nós merecíamos vê-lo mais vezes, especialmente para celebrar esta nossa mania de alternar as saudades que temos do passado com a vontade que temos que o futuro chegue. E talvez pudéssemos também nós levantar voo e esquecer os nossos momentos mais pantanosos, as nossas fraquezas e desilusões diárias, as pessoas que gostaríamos de ser.