maio 30, 2007

Crisfal



Sempre fui muito céptica em relação à transformação do nosso cine-teatro num simples bar ou restaurante porque me parecia que iriam desvirtuar um edifício cheio de história. Ontem fui recebida nas instalações da nova discoteca/bar que ali vai nascer esta sexta-feira e posso fizer que fiquei maravilhada.

Com uma decoração de muito bom gosto e mantendo a fachada e o interior do edifício intactos, a A., responsável pelo projecto, vem preencher um espaço que estava há demasiado tempo vazio na nossa cidade. É verdade que não pode ser considerado um equipamento de primeira necessidade mas é importante, na medida em que, caso seja gerido com excelência (como creio que vai ser), será um grande pólo de atracção para Portalegre.



A ideia principal foi manter o espírito do velho cinema. Foram recuperados alguns projectores muito antigos, foram espalhados pelas salas cartazes de momentos memoráveis ou de grandes nomes da história do cinema, bem como telas warholizadas de grandes actores e actrizes. Foram também resgatadas bobines, bilhetes e outras recordações de outros tempos. A isto juntou-se a escolha de mobiliário moderno mas sóbrio, a cor nalgumas zonas da discoteca/bar, a criação de zonas temáticas.

Tenho algumas expectativas em relação ao futuro deste projecto mas também algumas reservas. Se por um lado, é um conceito muito apelativo e (neste momento) único na cidade, por outro é um projecto de grande dimensão que poderá falhar exactamente devido ao facto de ser uma proposta demasiado arrojada. Podem espreitar aqui ou estarem presentes na abertura, já no dia 1 de Junho. Eu cá estarei por lá, desejando ao Crisfal e à A. longos anos de actividade com sucesso.

maio 28, 2007

Pelas terras do senhor Saramago


O começo destas duas semanas de férias foi... diferente. Rumámos até à Azinhaga, aldeia apelidada de 'mais portuguesa do Ribatejo', para as festas populares. Comecei, portanto, as férias com uma série de coisas às quais (normalmente) não iria assistir: largadas de touros, quermesses de igreja e ranchos folclóricos.

Sobre as largadas de touros, a minha opinião permanece intacta. Não gosto de largadas nem de touradas nem de picarias nem de corridas. Não suporto ver a forma como tratam os animais, mesmo que me justifiquem aqueles gestos dizendo que o touro, com os seus novecentos quilos de peso, não sente nada. Não aprecio os falsos gestos de coragem dos que fingem enfrentar o touro para, prontamente, galgarem as grades em busca da segurança. Posso até perceber que aquilo faz parte da tradição e que une a população em torno de uma actividade comum mas não consigo gostar. Não me peçam isso.

As quermesses da igreja não me despertavam muita curiosidade mas desta vez decidi participar. Voltei a ficar sem grande curiosidade quando, depois de setenta e tal rifas, saímos de lá de mãos a abanar. Não é engraçado.

Já os ranchos folclóricos tiveram em mim um efeito diferente. Acho que não me lembro de alguma vez ter estado num destes espectáculos de livre vontade, para realmente ver os ranchos. Desta vez fiquei e gostei bastante, para minha própria surpresa. Vimos as actuações dos ranchos de Vieira de Leiria, Nazaré, Quelfes e Azinhaga enquanto comíamos um churro recheado de chocolate. O rancho algarvio levava um conceito bastante diferente dos outros grupos, baseando a sua actuação no folclore misturado com um espectáculo de comédia. A média de idades de todos os ranchos era surpreendentemente baixa, o que acho um bom sinal: mantém-se a tradição que vale a pena manter.

E agora, se me dão licença, vou ali gozar duas semanas inteirinhas de férias. Que é como quem diz Vou ali mas já venho.

maio 25, 2007


Parece que desta é que foi.

(Mas eu não deixei de te amar, cidade do meu berço. Eu continuo a sentir saudades do fumo que te cobre nos dias em que a chuva está para vir e do silêncio que ouço sempre que estou no meu quarto. Nunca vou gostar de outro azul-céu como aquele com que te vestes no tempo bom e nunca hei-de esquecer como vi a serra a arder num destes Verões. Vou gostar sempre de ti, especialmente quando me dizem que ali já não há Alentejo, porque eu sei que o Alentejo não é só planície até perder de vista. Quando me perguntarem onde nasci, vou dizer o teu nome sempre com orgulho. Vou contar a toda a gente como é especial o Beco da Fava, como há Verões em que nos tentas sufocar, como já subi à torre do castelo para te olhar numa noite já escura. Se ainda puder, vou mostrar o que se sente quando voltamos e começamos a ver as antenas lá muito ao fundo ou como olho mil vezes para o retrovisor nos dias em que te deixo. O pragmatismo da documentação nunca há-de apagar a portalegrense que tenho cá dentro.)

maio 23, 2007

Post completamente destravado


Hoje estou demasiado cansada para escrever. Chego a casa já tarde, mole e com os olhos a carregarem quinhentos quilos cada. Sento-me no sofá e penso que vou instantaneamente deixar-me dormir... Mas ligo a televisão a tempo de começar a ver a bola. Detesto a maneira italiana de jogar. Mas simpatizo com brasileiros a jogarem à italiana. Consegui um motivo para manter as pestanas a mexer. Depois a cabeça voa-me para o que vou fazer depois de jantar: ver mais My name is Earl. E nesse instante reparo que o tipo é bastante atraente, mesmo considerando que é um gajo com bigode.

As pessoas têm fixações com outras pessoas. Muitas passam horas a fantasiar com pessoas que estão à distância de um simples olá. Ter fixações é bom, desde que a dose seja a recomendada pelos principais fabricantes. Não querer concretizar fixações, isso sim, é mais a atirar para o patológico. Sim senhor, a possibilidade da concretização é que alimenta essas fantasias. Mas eu cá prefiro matar as fantasias, mesmo que demore uma eternidade, e depois é seguir para a próxima.

(foi agora que se deu o curto-circuito ou já estou na fase da parvoíce pré-sono?)

M @ cozinha II



Partilho convosco alguns momentos na minha cozinha, desta vez em formato video (ideia que repesquei graças a este rapaz). As imagens são minhas e escolhi Take Five, de Dave Brubeck, para as acompanhar.

maio 21, 2007

Enquanto o Iglésias encantava noutra ponta da cidade...






... as miúdas pulavam ao som dos Bloc Party no Coliseu.

Depois da malta a decorar as letras à pressa dentro da carruagem do metro, da cerveja de 0,33cl vendida a 2,50€ (dois-euros-e-cinquenta-da-minha-vida!), depois de comer uma sandes de panado à pressa e constatar que a média de idades do público já me fazia corar, foi tempo de dançar. E que bem que se dançou!

(As fotografias atestam da minha fraqueza a empunhar a câmara ou da insistência em não usar flash. Ainda assim, dá para ficar com um gostinho.)

maio 20, 2007

A s s o m b r a d a

Foto de Eusapia


É assim que defino o meu estado depois de ontem ter assistido a Maldoror, o novo espectáculo dos Mão Morta. Mais impressões aqui.

maio 17, 2007

Magníficos dias atlânticos pt. II

Como se alguém pudesse não gostar de um dia assim.

(viagem de catamaran até ao Montijo - três miúdas num Polo até à Figueirinha - horas de calor devidamente tratadas com protector e banho na água fresquinha - imperial ainda no café da praia - paragem para retomar forças na marina fluvial - viagem de catamaran até ao Cais do Sodré - quase uma hora à espera do eléctrico para casa - banho - refeição frugal - cama, enquanto penso Isto sim, é uma folga)

maio 16, 2007

A melhor coisa de ter folgas durante a semana é ter tempo para fazer todas aquelas coisas que vamos deixando para trás, indeterminadamente, sem planos muito reais para as resolver. Também sabe especialmente bem poder acordar depois das sete e meia sem qualquer sentimento de culpa e pensar que o dia ainda está todo à minha frente. Hoje foi a primeira folga da semana (sim, porque amanhã há mais!) e sinto-me como se tivesse enfiado três ou quatro dias em apenas um.

Uma das melhores coisas que me aconteceu depois de me mudar para a minha casa é que posso usar o eléctrico tantas vezes quantas me apetecerem porque a paragem é praticamente à minha porta. Hoje foi andar até não aguentar mais ser esmagada por gordas turistas alemãs ou por velhas que ainda trazem posto o avental com que amanham o peixe, foi explicar se estavam no sentido certo, foi apanhar sempre o eléctrico à rasca, correndo uns metros para não o deixar fugir. Conto quatro viagens sob um calor mais típico de Julho do que de Maio, a temperatura apenas suportável porque as janelas iam todas abertas. Mas o que eu adoro andar de eléctrico... *suspiro*


Além das milhentas coisas que tinha para tratar (entre as quais, uma visita à Loja do Cidadão que me desapontou dada a ausência de material blogável...), acontece ainda o inesperado: saio de casa e, no mesmo instante em que largo o puxador da porta, lembro-me que as chaves estão do lado de dentro. E que o jogo de chaves suplentes mais perto está a sensivelmente a duzentos quilómetros daqui... Peço ajuda à minha vizinha, para tentar entrar pela janela das traseiras, sem sequer saber se consigo chegar à minha própria janela.



A primeira prova de fogo é tentar passar entre o estendal da roupa dela: em poucos segundos, ia ficando sem rabo, sem barriga e sem mamas! O estendal da vizinha era feito de uma qualquer liga de metal em vez das habituais cordas e eu... bem, eu não tenho a silhueta da Kate Moss. Depois, a medo, chego perto da minha janela e acontece aquilo que eu temia: a janela está bastante mais acima do que eu consigo alcançar sem esforço. Lanço os braços mas sem acreditar muito no que estou a fazer. A meio, tenho de parar para tirar o cinto e recomeçar tudo. Estou literalmente pendurada no meu parapeito, sem qualquer esperança de me conseguir içar mais e já há gente nos prédios atrás de mim a desconfiar da minha manobra. Completamente desesperada, decido que vou entrar, nem que bata de imediato com a cabeça no chão. E consigo! As cordas e arames não me mataram mas deixaram estragos.

E começo a temer pelo dia de amanhã. Hoje já foi o que foi e estou longe de me conseguir mexer, portanto amanhã tenho que proteger-me. Planeada está uma ida à praia (desculpem-me os trabalhadores, mas tinha mesmo mesmo que o dizer!) porque toda a gente me anda a falar nos trinta graus que vão estar amanhã. Vamos lá a ver se não me deixo enrolar por uma onda...

maio 14, 2007

Retrato de uma segunda-feira

A noite de sábado já tinha sido atribulada, fazendo-me saltar da cama a horas quase indecentes. Para complicar, a noite de ontem não foi melhor: eram duas e meia da manhã e a cadela da minha vizinha de baixo resolveu ladrar. Não sei exactamente porquê mas sei que ladrava. Muito. Mesmo muito. Tanto que tive que agarrar na minha almofada e mudar-me para o quarto livre. Era tão tarde e eu só pensava em atirar uma bolinha de tranquilizante para acalmar a bicha. Pronto, eu confesso: não era em tranquilizante que estava a pensar. Mas era madrugada e eu estava desnoitada e precisava recuperar o sono e ela desata a ladrar como se fosse o fim do mundo... Bah, tenho desculpa.

Cheguei ao trabalho e nem tive tempo de organizar as coisas: fui logo arrastada para uma sala de formação para o meu discurso. Que nem foi um discurso mas que me saiu quase perfeito: fui concisa e falei apenas sobre o essencial, com um discurso lógico, ideias perfeitamente encadeadas. Só as minhas mãos me podiam denunciar porque tremiam como varas verdes. Tremiam muito mas o meu olhar era firme e decidido. Portanto, não despedi ninguém porque nem autoridade tenho para isso. Mas discursei bem p'a caraças.

Um colega levantou-se, veio até ao meu lugar de propósito e perguntou-me O que é que se passa contigo? e eu pensei que as olheiras até ao pescoço me tinham denunciado. Nada, não tenho nada mas porquê?, respondi e perguntei eu. É que estás diferente... Pareces mais nova, mais fresca. De certeza que não se passa nada?, continuou ele e eu, de olhos muito abertos, Erm... Não... Mas jovem e assim? E ele, antes de voltar rapidamente ao lugar, diz Não sei o que é mas acho que te faz bem. Eu também não sei o que é mas parece que faz efeito.

Hoje dei um murro virtual numa mesa virtual e decidi que já é tempo de voltar a cozinhar. E não vale mais fazer a mesma lasanha de salmão de sempre ou aquela massa com brócolos e bacon. Portanto, hoje vai sair um pratinho típico que é uma maravilha.

(Se calhar até sei o que é - é fazer o que me dá na gana, sem medos e sem preocupações. Não existe um passado atrás de mim nem existe um futuro pelo qual esperar. Existe é o agora e o resto que se lixe.)

Os meus colegas são fofos!

Porque nem só de trabalho nos alimentamos... Os colegas foram passear e trouxeram prendinhas a mim. Na foto, o belo soquete vindo de Amesterdão, cortesia da M., a minha companheira de concertos e a fitinha do Bonfim, que é uma cortesia do M. Eu, que nem uso adereços nas mãos e nos pulsos e só gosto de meias sóbrias, abri uma excepção: a fita já cá mora, o soquete será estreado amanhã!

maio 13, 2007

Shortbus (ou da liberdade para sentir)



Não estava à espera deste filme. Não é que me tivesse enganado na sala de cinema ou que não quisesse vê-lo. Só não estava à espera dele, não sabia dele o suficiente para achar que ia gostar de o ver. E, talvez por isso, gostei muito. Não é aquele gostar de às tantas já pensar que eu podia ser uma personagem do filme, o campeonato é outro.

Um dia li Quero entupir os meus sentidos contigo e agora esta frase faz muito mais sentido. Estamos imersos num mundo de sensações, somos estimulados continuamente sem sequer darmos conta, temos os sentidos adormecidos. Quase todas as personagens do filme sofrem deste bloqueio e procuram no sexo, no prazer carnal a redenção. Não interessa se nos sentimos uma ilha ou se sentimos que do outro lado não há ninguém a ouvir - enquanto o nosso corpo puder sentir outro(s) corpo(s) haverá sempre esta espécie de retorno. É como se o sexo nos pudesse provar que estamos vivos - aqui estás, despida dos males do mundo, com os sentidos concentrados noutro corpo nu igual a ti, dá a ti mesma a possibilidade de te arrepiares.

Como tantas outras pessoas, as personagens do filme fogem do seu isolamento, da sua incapacidade em sentir, da impossibilidade de fazerem parte de alguma coisa maior. O sexo não as torna mais normais ou não lhes devolve a paz que procuram. Mas enquanto a pele toca outra pele, enquanto se beijam de olhos abertos, enquanto suam nada mais tem que fazer sentido. Esse momento é o sentido. Somos todos perigosamente iguais - abandonamo-nos por momentos, à espera de uma revelação. Ela chega e, depois de breves segundos, volta tudo ao que era. A sensação de satisfação nunca permanece mas, durante esses instantes, somos felizes a acreditar que aquilo é tudo o que existe. E não é?

Digamos que...

...da tua boca pode não sair uma palavra verdadeira. Mas as tuas mãos não te deixam mentir.

maio 10, 2007

A minha chefe pediu-me hoje que prepare um pequeno discurso para a próxima segunda-feira. Encarregou-me de falar com um membro da minha equipa, muito provavelmente para testar as minhas capacidades de liderança. A situação é esta:


a pessoa em questão não cumpre os seus objectivos de produtividade, não chega a horas, passa a vida distraído, sabe fazer reivindicações mas não pretende cumprir com os objectivos estabelecidos pelo departamento, estás prestes a não ver o seu contrato renovado.

O meu estado de espírito é este:


apetece-me mostrar mais firmeza e determinação e testar os meus próprios limites mas não quero tornar-me numa pessoa insensível às pessoas e sensível aos números. Tenho a oportunidade de falar com a pessoa sobre coisas que há muito me incomodam mas não quero desviar-me do propósito da conversa, sob pena de dizer mais do que quero.

Ouvi um dia dizer que, quanto mais alto se sobe, mais sozinho se está. Ouvi que não há amigos no trabalho, que as pessoas precisam todas de se fazer à vida. Neste momento, eu estou no meio de uma equipa que me mantém bem disposta o dia todo, que me faz rir e que, mesmo com todos os problemas que já ali vivemos desde há um ano para cá, tem aguentado a barra. Acho que não me apetece ainda passar para o outro lado e ser fuzilada com olhares ou ser considerada totalitária ou ser simplesmente ignorada. Não vou fugir à minha responsabilidade mas vou pensar muito, mas muito bem quando é que quero dar o próximo passo em frente. Não será em breve.

(já vou sentindo falta de fazer zapping mas não há pachorra para o Mundo)

maio 08, 2007

Está decidido.

Não vou voltar a ligar a televisão até que a cachopa desaparecida no Algarve volte a aparecer.

maio 06, 2007

Senhor dos Aflitos


Comer uma bifana quentinha às nove da manhã é uma das melhores coisas que já me aconteceu. Dispensei a mini que a devia acompanhar porque continuo a ter as minhas reservas quanto à possibilidade de beber alcóol antes do meio dia. Foi assim que terminou a minha manhã, depois de ter acordado às seis (!) da manhã para fazer quinze quilómetros a pé.

O dia amanheceu lindo, com um céu azul daqueles que só se vêem aqui e uma temperatura fresca, ideal para a caminhada. O percurso é todo feito em alcatrão mas a paisagem é, muitas vezes, de uma beleza incrível. São as vinhas que se estendem por encostas sem declives, as vacas que aguardam no curral o seu começar do dia, os campos ainda verdes, apenas interrompidos pelo lilás do rosmaninho. A maior parte das pessoas foi cumprir promessas, nós fomos apenas pelo prazer de andar, o mesmo prazer que no final se tornou em dor e na sensação esquisita de termos pernas que andam automaticamente, já não respondem ao cérebro. À chegada, há uma feira montada, há o cheiro enjoativo da massa frita a competir com as bifanas que fritam ao lado, há balões e algodão doce, há demasiadas pessoas a entrar na igreja e ainda mais pessoas a tentar acender uma vela.

Com mais tempo, podíamos ter ficado a dormir debaixo de uma oliveira, a gozar o dia e a agitação. Como tempo não há, regressámos à cama durante breves horas, a antecipar a segunda viagem do dia. Dissemos 'Até para o ano!'.

maio 05, 2007

Da simplicidade

Hoje foi um dia bom, a contrariar os fins de semana passados em casa, a vegetar de pijama vestido e a alternar entre o sofá e a cama. Podia ter muitos mais dias assim se não fosse tão preguiçosa.

A noite de ontem já tinha sido como nos bons velhos tempos: malta que vem a Portalegre pouquíssimas vezes, o sítio do costume, o último grito na música que se dança por aí. Ninguém estava interessado em fazer sentido ou em poupar os corpos. Ainda faltou gente e a alguns faltou (talvez) a vontade de arriscar mas, quando me deitei, já a noite ia muito longa e já não havia tempo para fantasiar muito mais.

O dia foi começado à pressa. Tive tempo de engolir um pequeno-almoço à pressa, tomar banho ainda mais rapidamente e ainda começar a almoçar antes do primeiro compromisso do dia: o voluntariado no Banco Alimentar contra a Fome. Tínhamos sido convidados a participar já há algum tempo por gente de Portalegre, gente com muita vontade de fazer e fazer bem. À hora marcada, chegámos para recebermos o tour das instalações e desde logo foi claro que a organização não tinha descurado nenhum aspecto. Havia uma cantina para que os voluntários pudessem fazer as suas refeições ou apenas uma pausa para o café, muita gente a auxiliar os recém-chegados e outros voluntários, que prontamente nos ajudaram a integrar.

Para os trabalhos menos pesados, onde estávamos, a maioria dos voluntários eram mulheres. Os homens ocupavam-se das tarefas que incluiam lidar com grandes pesos ou com o transporte da mercadoria. Na zona da separação, nós dividíamos os produtos doados. Estes eram depois pesados e etiquetados e, finalmente, armazenados. O ambiente esteve sempre muito animado, embora o rádio estivesse lá fora. Rapidamente ganhámos ritmos de trabalho paralelos, de forma a conseguirmos não incomodar as outras pessoas e a conversa foi-se soltando mais com o passar de poucas horas.

Já tinha sido voluntária antes, não em campanhas deste género mas conhecia a abnegação de muita gente que tenta fazer a sua pequena (grande) parte nesta tentativa de melhorar o Mundo. Esta iniciativa não foi diferente. Quando acabou o nosso turno, haviam já sido recolhidas sete (7!) toneladas de alimentos apenas no distrito de Portalegre, que vão depois ser distribuidas por institutições particulares de solidariedade social. Não quero sequer pensar naquelas dúvidas que surgem na cabeça de alguns sobre o destino que vai ser dado a todos os alimentos: eu ainda sou capaz de acreditar que as pessoas são honestas. E bastava a qualquer um ter visto a alegria com que se trabalhava ali para se deixar contagiar por ela e pensar que, depois desta grande campanha, vai haver mais gente feliz. E é tudo tão simples, realmente.

Com a cidade completamente cheia de energia (uma prova de BTT e a queima das fitas trouxeram tanta tanta gente...), a noite de hoje promete voltar a ser longa. Se o tempo ajudar, há-de ser uma noite de Praça da República, a falar com gente bonita e interessante, a esquecer-me que segunda-feira começa mais uma semana que promete ser infernal. Hajam muitos fins de semana assim e o pijama há-de ficar esquecido atrás das almofadas.

maio 02, 2007

Porque é que...


... um homem com cabelos brancos é charmoso e uma mulher com cabelos brancos é velha?

(acho que tenho medo - eles já estão por todo o lado.)

maio 01, 2007

E só porque agora é mesmo oficial...


Perdi a cabeça e o amor a muitos euros. O dinheiro fez-se para gastar, já me diziam há uns tempos. Agora é só entrar em contagem decrescente e esperar que o corpo se mantenha rijo durante todos estes dias. O resto é festa.

let down and hangin' around

(A foto é confusa. Não, não é isso que quero dizer: não se percebe nada. Às vezes é o que vemos quando temos os sentidos concentrados noutras coisas.)


O local: Lisboa, véspera de feriado
As condições climatéricas: noite de vento, aguaceiros incómodos mas temperatura agradável.

Há muito que não saio. Fico boquiaberta quando descubro que o Largo Camões está relvado, pelo menos temporariamente mas não estranho as pessoas que esperam por alguém neste ponto de encontro. Já há quem nos espere, portanto consigo fugir à angústia inicial do sítio a escolher, de ouvir mais uma vez 'Vá lá, tu é que sabes. Sabes que eu nunca decoro nada...' - eu também não consigo. Na rua não há tanta gente como suspeitava, o que significa que ainda é relativamente fácil chegar à cerveja (o mesmo não acontece com as casas de banho imundas que nos ofereciam naquele lugar). Conversamos em mais do que um idioma e rimos que nem tontos quando falamos dos casamentos em Espanha e quando comentamos o jogo do nosso Benfica. Na rua passa um rapaz de pestanas enormes que tinha visto o jogo no mesmo café da Estrela: só lhe decorei as pestanas.

Quando tentamos mudar de pouso, está tudo tão cheio, há tanta gente à porta, não sei, se calhar já devíamos estar à espera. Começa a chover e não conseguimos abrigar-nos. 'Vamos dançar?', pergunto eu a medo, temendo que os outros corpos não desejassem movimento como o meu. Para meu espanto toda a gente concorda na hora. 'Estamos nas tuas mãos', diz alguém. Apressamos o passo e entramos no Incógnito completamente encharcados - não entrava lá há demasiado tempo. A pista está cheia, mal consigo mexer-me mas já tinha decidido que nada me ia privar de dançar. Nem mesmo rapazes demasiado grandes e desajeitados ou tias que por ali param porque querem ser da moda. Apetece-me mais uma cerveja mas não quero sair da pista. Não vou. Danço tudo e fecho os olhos muitas vezes: é como se estivesse num Karrera Klub. Um rapaz muito atraente e muito latino, de blaser escuro e cabelo puxado com gel dança à minha frente, vai dançando cada vez mais perto, até que preciso afastar-me para não dançarmos colados. Ele sabe que se está a colar a mim. Está de costas para mim e consigo cheirar-lhe o perfume. Ele sai e nós ficamos. A pista está finalmente mais descomposta e podemos fazer movimentos mais amplos. É a segunda vez que danço a Rebellion (Lies) fora de casa e ainda me custa a crer.


O rapaz moreno está à porta mas não me vê sair. Subimos as ruas com cuidado, tentando não escorregar na calçada molhada. Deito-me cansada e confusa, já sei que vou sonhar. Francamente, devia andar mais vezes na rua.