abril 29, 2013

(continuar a ser uma chorona *)


Because I know there are people who say all these things don't happen. There are people who forget what it's like to be 16 when they turn 17. I know these will all be stories someday. And our pictures will become old photographs. And we'll all become somebody's mom or dad. But right not these moments are not stories. This is happening. I am here.

(é que de repente caí em mim e lembrei-me que já não faço parte dos que vão levando com o vento na cara. Lembrei-me que agora sou mãe de alguém e que grande, grande parte de mim ficou irremediavelmente para trás. E depois pensei - tanto drama, tanto vazio para quê? Ainda me falta perceber como é que se volta a subir para aquela parte da carrinha e, em último caso, se há mesmo volta. E às vezes sinto que a minha vida foi uma sucessão de acontecimentos irrelevantes. Noutros dias, penso que vivi de uma forma suficientemente intensa. Mas em quase todos sinto saudades daquela aura de irresponsabilidade, do poder conduzir sem destino sem me preocupar com o deixava para trás, dos dias de puro hedonismo. E de sentir que estava viva, única senhora do meu destino. Mas estas já são histórias que ficaram para contar.)

abril 28, 2013

Ready for the weekend



Eu acho que sempre foi mais ou menos assim: andava sempre a pensar no fim de semana. Claro que antes a ideia era estar com os amigos, sair um bocado, dançar às vezes. Agora, a coisa tem um ritmo menos acelerado, mais caseiro mas o sentimento é o mesmo: passar a semana trabalhando arduamente, contando os dias que faltam para chegar a próxima Sexta à tarde. Temos passado muito tempo em casa, já que a Primavera está em pausa por estes lados e isso deixa-nos muito tempo livre para as coisas que gostamos de fazer - o pai do Vicente fotografa, a mãe dedica-se aos bolos. Pelo meio, há horas a brincar na carpete e fora dela, há uma casa para cuidar e tentar que seja mais nossa. Há mais tempo para cozinhar, há disposição para uma garrafa de vinho ou para um licor depois do jantar, há vontade de ver um filme ou dois. As semanas deviam ser ao contrário: dois dias a trabalhar e cinco a descansar...

abril 22, 2013

Histórias tristes com gente dentro

Uma mulher espera o médico numa sala silenciosa, acompanhada por um estranho. Espera por uma ecografia que lhe mostre se o bebé está bem. Não fala a língua do país onde está nem nenhuma outra que a possa ajudar a comunicar com os outros. O estranho tenta traduzir-lhe as instruções do médico através de palavras soltas que repete articulada e calmamente. Às vezes ela percebe o que lhe dizem, outras não faz ideia do que se passa com o filho. Esperam os dois em silêncio, sem trocarem mais do que as palavras absolutamente necessárias. Este é o quarto filho dela mas o primeiro num país europeu, é difícil saber se alguma vez fez uma ecografia. Ao mesmo tempo, o marido atravessa a Europa em direcção ao primeiro país que o acolheu. Não tem o direito de ficar no mesmo país onde está toda a sua família e não lhe resta senão inventar alternativas. Um dia mais tarde, pede a um conhecido que ligue ao estranho que acompanhou a sua mulher. Falam os dois numa língua que lhe é estranha mas é o suficiente para que ele descanse ao saber que a mulher não está sozinha.

Noutra zona da cidade, uma família de onze pessoas vive numa só divisão. São nove crianças e os pais a dormirem em pouco mais de vinte metros quadrados. Fugiram do seu país, como tantas outras pessoas, sem se saber muito bem porquê. Perseguições políticas, religiosas ou étnicas - os motivos, no fundo, não são importantes. Esperam pacientemente que algum responsável político decida se o seu futuro passa pela liberdade num próspero país europeu ou se devem regressar ao pesadelo que tentaram deixar para trás. Uma equipa de estranhos tenta aliviar-lhes os obstáculos da integração e ajudar a estabelecer uma rotina quotidiana, especialmente importante para as crianças, para criar a ilusão de normalidade. Não podem trabalhar e devem viver com uma quantia irrisória que lhes é atribuída pelo estado mas têm um tecto e alguém que vai tentando tratar deles até que chegue o veredicto final.

Ouço estas e outras histórias diariamente da boca do meu herói. Somos filhos da última vaga de emigração mas não somos refugiados. Temos direitos e podemos circular livremente pela Europa. Podemos escolher e candidatar-nos a qualquer emprego. Não dependemos de uma decisão estatal nem de nenhuma comissão de avaliação incapaz de pesar e decidir na proporção dos dramas que lhe aterram no colo. Deixámos o nosso país para trás mas continuamos a ser mestres do nosso próprio destino. Ouvir falar desta gente é, às vezes, tão inspirador quanto profundamente triste. E faz-me sentir absolutamente fútil e superficial com as minhas angústias de primeiro mundo. Faltar-me-ia estômago para lidar com isto todos os dias e ver famílias inteiras serem deportadas para o sítio de onde tentaram fugir. Mas vivo ouvindo estas lições sobre solidão, coragem e solidariedade e sou feliz por ter escolhido um marido que vive para tentar fazer o Bem. Oxalá tenha sempre forças para aguentar estes nós na garganta e para ver além do superficial. Não se fazem muitas pessoas assim.

abril 16, 2013

...

 
Já não sei quantas vezes mudei o início deste post e realmente nem sei como começar.
Este fim de semana ocorreu-me que não estava preparada para ter um filho. Que, apesar, de ter encontrado o melhor pai que podia, que apesar de ter a certeza de termos reunidos as condições afectivas e materiais para tomar esta decisão, eu não estava preparada para ter um filho. É uma conclusão alimentada por muita frustração, cansaço e desepero. É a conclusão de quem não sabe mais como educar e amar o seu filho de uma forma que o torne numa pessoa estável, tranquila e feliz. É a conclusão de quem procura respostas nas aflições de outros pais, nos conselhos de outras famílias mas nunca as poderá encontrar senão dentro de si.
Este fim de semana olhei muitas vezes para o meu filho e perguntei-me o que será que fiz mal nestes seus dois curtos anos de vida. Olhei para ele e comparei-o com a criança que eu imaginava que ele fosse, mesmo sabendo que ele não merece estas comparações e que essa ideia só está na minha cabeça. Ao mesmo tempo, tentei olhá-lo como um estranho olha para uma criança e consegui ver um miúdo cheio de vida, independente e destemido, cheio de vontade de abraçar o mundo inteiro. Debato-me constantemente com a forma como o vejo como mãe e com um olhar mais imparcial que me obrigo sempre a ter. Não quero desculpar-lhe tudo mas também não quero demonizá-lo e a linha entre estas duas maneiras de o olhar é demasiado ténue.
Este fim de semana, em que também trabalhei a partir de casa, o meu filho deixou-me à beira da exaustão e sem trunfos para fazê-lo entender o que é aceitável e o que não iremos tolerar no seu comportamento.  Não é que não lhe consigamos mostrar o que está errado no seu comportamento, simplesmente não conseguimos fazê-lo da maneira que tínhamos idealizado. A paciência, a tolerância e a calma, como outras coisas, esgotam-se. Às tantas, depois de tentar explicar-lhe tudo dando-lhe o exemplo, depois de falar calmamente e demonstrar-lhe o que estamos a querer dizer, a serenidade esgota-se. E no final do Domingo sentia-me como se a minha cabeça fosse do tamanho do Mundo, capaz de explodir a qualquer instante com tanto cansaço e desilusão. Desilusão comigo, claro, por não ter arranjado uma maneira de chegar até ele, por não ser eu exemplo suficiente que ele possa espelhar e repetir, por me sentir a falhar na missão mais importante da minha vida.
Há muito tempo que decidi deixar de ler histórias de vida perfeitas. Não posso lidar com a frustração de sentir-me incapaz de ser um modelo de pessoa, com um modelo de casa onde vivo com um modelo de família. Com filhos pequenos que não são menos que exemplares, adultos em ponto minúsculo com um sentido de timing e de responsabilidade desde o berço. Com mães de conjuntos imaculados, cabelo e unhas arranjadas, com tempo para brunchs, formações indispensáveis e dias passados na praia e ainda com tempo para tratar de uma casa e dos filhos. Não posso ler ouvir ver histórias destas sem me sentir um pouco mais miserável e duvidar das minhas capacidades de organização, de parentalidade, do meu sentido estético. Não é inveja, é simplesmente não entender o que é que me falta a mim para ter tempo para ter uma vida. E também saber que debaixo de tanta perfeição tem que haver alguma coisa que não está certa.
Ter um filho é mudar de estratégia constantemente, isso eu já sabia. Mas também é poder cometer erros que se vão reflectir para sempre na sua vida. Quero poder ter a certeza que estamos a criar um ser humano tolerante, consciente da sua liberdade, aberto ao mundo - só que nesta coisa da sua educação nunca há segundas oportunidades. Ou pelo menos é difícil desfazer o que já foi feito.
Mas depois acordei e era Segunda-feira. E, quando nos permitimos um espaço para respirar, olhar para trás e ver que nem tudo é negro, a coisa melhora. São lições atrás de lições, já sei. Tomara poder lembrar-me disto a toda a hora.

abril 06, 2013

Volta Primavera, estás perdoada!


Eu não queria falar nisto, a sério que não. Mas são dias atrás de dias a acordar para temperaturas negativas, é o Sol que só se deixa ver de vez em quando, é a falta da vitamina D que nos ataca a todos. O Vicente até se tem aguentado neste Inverno, talvez por já ser maiorzinho, mas os grandes aqui de casa já tiveram que ficar em casa pelo menos uma vez para curar as gripalhadas. De verdade que não me lembro de ficar em casa doente em Portugal, só para tratar do miúdo e nada mais. 

Mas este ano está a ser demais: já vamos em Abril e visto-me como se fosse o pico do Inverno; o aquecimento central não pára de funcionar enquanto estamos em casa; há uma neblina que parece uma película que se colou definitivamente ao Luxemburgo e não deixa um raiozinho de Sol que seja chegar ao chão; sair da cama é uma valente tortura, apesar de os dias estarem mais claros. Há um ano atrás podiam não estar vinte graus e podia nem fazer Sol todos os dias mas este frio é que não estava. E hoje dei comigo a pensar: e agora, se resultado do fracasso das políticas ambientais, os meses de Inverno se estendessem por metade do ano e deixasse de existir o calor tal como o conhecemos? E se não houvesse mais tempo de praia, um bocadinho de pele bronzeada, as janelas de casa abertas para ouvir as cigarras cantar? Obriguei-me a parar de pensar nisto, claro está. E vou mas é tratar de espremer laranjas e encher a família de vitamina C para me esquecer da falta que me faz o Sol.

abril 05, 2013

Ainda a Páscoa (um post atrasado)

Em Portugal nunca tínhamos ligado muito à Páscoa. Nunca fizemos nada com o Vicente: nunca nos tinha ocorrido esconder os ovos pela casa, nem pintá-los nem nada. A Páscoa era para mim sinónimo de costeletas de chibo panadas comidas em família, demasiadas amêndoas em casa, filmes bíblicos a metro em todos os canais de televisão.

É claro que a Páscoa em Portugal era sinónimo de muitos ovos de chocolate, aliás, chocolate em todas as suas formas, amêndoas em destaque nos supermercados mas aqui a coisa vai um bocadinho mais além. Além das guloseimas há muitos elementos de decoração à venda para enfeitar jardins e parapeitos de janela, há materiais para a caça aos ovos espalhados por todo o lado, há bolos em formato de cordeiro de Deus para aqueles com um sentido de humor retorcido e/ou os mais crentes. Há muitos coelhos, mas também muitos patos e pintainhos, muitos veados e muitas cenas na floresta. A nossa vizinha velhinha enfeitou a porta dela com uma cena destas feita exclusivamente em papel e era a coisa mais fofa que já vi à porta de uma casa por alturas da Páscoa. Vá, foi a primeira vez que vi uma porta decorada nesta altura - até aqui, era mesmo só no Natal.

Só que este ano foi um bocadinho diferente. Não houve chibo para ninguém e a família resumiu-se a nós os três e a mana que veio de Londres de propósito para nos visitar. Não vimos nenhum filme alusivo à época mas metemos mãos à obra para oferecer qualquer coisa ao Vicente. Peguei numa ideia que vi aqui e tratámos de lhe dar forma. Depois arranjámos uns bichinhos para juntar à colecção do Vicente e juntámos umas amêndoas. Ele gostou muito e nós ainda mais: a sensação de ver tudo acabado e depois ver a cara dele ao abrir são satisfação mais que suficiente! E o bom disto é que uma coisa simples de fazer, barata e rápida, sem exigir grande queda para os trabalhos manuais ;)