novembro 30, 2006

E agora, de repente, tudo faz sentido.



Já dizia o outro que 'Sorte ao jogo, azar do...'. Hoje foi um dia assim. Ganha-se um bilhete para ver A Naifa amanhã, no Teatro Maria Matos, e ganha-se outro bilhete para ver os Yo La Tengo na Aula Magna, no Domingo. Eu, que nunca participo em nada porque acho que estou condenada à partida, excedi-me. E até meti um boletim no Euromilhões para ver se isto é sorte ou apenas coincidência. Daqui retiro uma lição valente e prometo que, um dia destes, volto a arriscar. Mas desta vez mesmo mesmo a sério.

Fotos emprestadas daqui e daqui.

novembro 29, 2006

Thank God it's Christmas


Já caiu a noite há muito tempo. Não está frio mas já sabe bem fechar o casaco até acima. Costuma-se dizer que as sortes estão contra nós. Pelo menos contra mim estão.

Hoje foi dia de jantar de Natal da empresa, antecedido por uma maravilhosa palestra sobre o crescimento da mesma pelo nossos chefes ingleses. Acho que me consigo lembrar de poucas coisas tão aborrecidas e tão perigosamente sonolentas como esta apresentação sobre o crescimento da empresa. Diz que fazemos biliões de pounds, que planeamos crescer muito nos tempos que se avizinham, que já estamos em terceiro lugar no mercado inglês. É tudo muito bonito e muito entusiasmante. Quer dizer, seria, se ao menos sentíssemos nas nossas contas bancárias o reflexo desse crescimento massivo. Não sentindo, resta-nos aproveitar a happy hour patrocinada pelo bolso de cada um dos oradores naquele hotel citadino para beber tantas Carlsbergs quantas somos capazes de aguentar, sem antes dar cabo da nossa preciosa bexiga.

Depois há o jantar de Natal na Trindade. Há um salão daqueles só para nós e bebida que chega a rodos a todas as mesas. Ninguém pergunta com quem estamos, somos apenas parte daquelas mesas já previamente nomeadas (T-Mobile, E-Plus, TMN, Talk Talk ou outros bonitos nomes que tais) e em que, absurdamente, distribuíram as pesssoas de todos os departamentos. A mim, e como a sorte nunca me abandonou, calha-me uma mesa de 10 pessoas em que não conheço absolutamente ninguém, o que, sabendo de antemão o meu feitio anti-social, só podia resultar em muitos copos de imperiais e copinhos de vinho para disfarçar o (tremendo) mau estar. Não satisfeitos, entregam prémios inesperados, distinguindo as pessoas que mais contribuíram para o sucesso dos departamentos. Nem sequer sabia que existiam, quanto mais esperar ganhar. Mas depois de me segredarem que tinha morrido na praia, apeteceu-me gritar: não importa o que faças a mais, não interessa o que pões de ti num projecto ou as tuas contribuições para o seu desenvolvimento. Vais sempre perder para alguém que... enfim, que ganhou na tua vez.

Sento-me na paragem sozinha. Apetece-me mesmo chorar mas presumo que já seja um bocadinho do alcóol a querer sair. Prometo a mim mesma que nada disto interessa, que hoje mesmo vou deixar de me preocupar. Mas imediatamente sei que só vou conseguir fingir até às sete da manhã, hora em que volto a trabalhar. O eléctrico chega e eu subo. Ainda bem que é Natal e há luzes nas ruas. Vou-me deitar a pensar em milagres de Natal e naqueles olhos castanhos sentados na mesa errada. Um dia destes sou eu que ganho o prémio e é ele que está sentado à minha frente. E aí sim, é Natal.

novembro 26, 2006



A noite está muito fria. Quando na Serra da Estrela começam a cair as primeiras neves, os nossos ossos são os primeiros a ressentir-se. Na minha terra, a meteorologia sempre foi e sempre será feita de contrastes - é uma cidade com personalidade, com carisma. No Verão sufocamos com os vapores da interioridade, no Inverno entra-nos o frio pelas frestas das portas, congelando tudo. Não passeio as vezes suficientes para saber se as luzes de Natal estão acesas há muito. Hoje elas estão acesas para ninguém. Para ninguém, a não sermos nós, que caminhamos sem pressa.

Peço um gin tónico. Sei que não gosto de gin tónico mas peço porque me apetece forçar-me a fazer qualquer coisa. Peço-o porque me apetece o glamour que não vem servido num copo de imperial. O gin tónico revela-se, é uma espécie de epifania. Depois do meu vêm mais gins tónicos. As damas do jet set olham para os nossos copos, nós estamos sentadas no balcão e elas na mesa. Elas querem o que nós temos. Elas querem todas gin tónico. O empregado pisca-me o olho, enquanto me diz que os delas não são preparados com o mesmo amor. Amor de barman, hã?, sabes o que quero dizer. A mim já me apetece bebê-los de palhinha, assim como quem bebe um refresco.

Fecho o casaco e pego no chapéu de chuva que trouxe sem necessidade. Andamos uns metros, subimos aquelas ruas tortas e estreitas e despedimo-nos, que eu tenho que continuar a subir. Já vou em modo piloto automático, as pernas já sabem o que fazer. Está muito frio e o ar está tão denso que a respiração começa a pesar. Não sei se estou a andar depressa ou se estou a molengar, só ouço o eco dos meus passos na estrada. Quando entro em casa já o sono tomou conta das pernas e dos braços e do resto do corpo todo. Dispo-me à pressa e enfio-me debaixo do edredon. Hoje bebi gins tónicos e dormi tranquilamente.

novembro 25, 2006

O senhor Fonseca*

Todas as pessoas que insistem em negar a capacidade criativa e performativa do David Fonseca deviam, obrigatoriamente, ter assistido ao concerto da quinta-feira. Para se desenganarem, para se deixarem esmagar por ele, para rirem com ele como não esperavam rir-se. Todas essas pessoas se deviam ter arrepiado quando ele cantou 'Song to the siren' de Tim Buckley ou 'When you hit the floor' de sua autoria. Todos deviam ter ido para se derreterem com o piano e voz da menina ex-Atomic Bees. Com uma voz límpida e ampla ou com um sussurro arrancado ao fundo de si, o senhor Fonseca espantou uma plateia. A mim não, que sempre lhe senti ali uma magiazinha.

[fotos naturalmente más, gentilmente cedidas pelo telemóvel cessante]


* como foi carinhosamente tratado por umas miúdas da plateia.

novembro 23, 2006

(PS:) You rock my world.

Quando penso na forma como devem ter escolhido este presente, fico contente por saber que gostam de mim. Os meus colegas ofereceram-me, no aniversário, um bilhete para ver o David Fonseca, coisa que muito me alegrou. Hoje é o dia de me sentar na Aula Magna e esperar uma noite inolvidável, entre tantas recordações e esperanças futuras.

novembro 22, 2006

Ode à vida moderna

Levantas-te e ainda o Sol não desceu sobre nós.
Descobres na cozinha alguma coisa que o estômago possa aguentar.
Sais de casa numa manhã fria e juntas-te aos estranhos a caminho do trabalho.
Fazes sempre a viagem ao som de música, dias inteiros a fio a ouvir o mesmo álbum.
Trabalhas/és explorado/não fazes nenhum durante uma manhã cinzenta.
Divertes-te ou chateias-te ou ignoras os teus colegas.
Abres o saco e o almoço é o mesmo que comeste ao jantar.
Descansas durante minutos na sala comum do emprego quando o que mais querias era dormitar na tua cama.
Trabalhas/és explorado/não fazes nenhum durante uma tarde cinzenta.
Acabas o dia e enfias-te nessa sala de tortura moderna que é um autocarro/metro/engarrafamento em hora de ponta.
Entras finalmente em casa. Sabe-te bem.
Quando queres dedicar-te aos deveres tens sono.
Quando queres dedicar-te aos prazeres tens preguiça.
Ouves as mesmas palavras de todos os dias, enquanto cozinhas o jantar/almoço.
Lês em silêncio o que consegues antes de cederes à hora (pouco) tardia.
A casa não faz eco mas é como se fizesse. Adormeces.

Obrigada vida moderna, por nos deixares (quase sempre) saber exactamente o que vem a seguir.

novembro 19, 2006



Talvez se deva ao facto de já fazer isto à nove anos consecutivos mas estas viagens a casa já se tornam penosas. Se, por um lado, são momentos muito propícios a pôr os pensamentos em ordem, por outro são um poço de stress e irritações. Nem sequer está em questão deixar de viajar assim ao fim de semana - mas há dias em que o teletransporte não era assim tão má ideia...

Primeiro eram os autocarros da Rodoviária. Eram viagens intermináveis mas baratas. No início, ainda existia assim uma emoção que nos fazia falar e estar excitados por podermos estar sozinhos em Lisboa. Com o passar do tempo, as viagens começaram a fazer-se de maneira mais silenciosa (para alguns, porque para outros era sempre motivo de festa). Eu arranjava sempre uma maneira de ir entretida, quer fosse com música ou com alguma coisa para ler. Esquivava-me às conversas de ocasião com aqueles conhecidos sempre com tanta coisa para dizer ou garantia que escolhia bem o/a companheiro/a de viagem. Recordo especialmente as viagens feitas no expresso das oito e quarenta e cinco da manhã, nas manhãs mais frias e cinzentas, em que passava a viagem a ver a geada a levantar, o gado já a pastar bem cedo e os primeiros raios de sol a ferirem-me os olhos.

Depois, ocasionalmente, ainda tentámos os comboios. Eram, talvez , o meio de transporte mais barato e mais confortável (bem, a noção de conforto vai mudando) mas, em contrapartida, ofereciam maiores desvantagens. A estação fica a onze quilómetros da cidade (será que alguém esperava que a cidade se estendesse até lá?), o que implica um pai disponível ou mais um bilhete de autocarro. Os transbordos faziam-se em Abrantes e no Entroncamento, o que dava sempre origem a entrarmos no comboio errado e sair de lá, de malas penduradas assim que percebíamos. E depois havia aquela parte do percurso (Chança-Mata-Crato, que coisa mais musical!), em que o comboio andava tão devagar que podíamos sair, colher fruta nalguma árvore à beira da linha e voltar a entrar. Ou então os rebanhos de ovelhas que se atravessavam à frente da locomotiva, que colhia três ou quatro. Havia a automotora, mais velha que qualquer pessoa a viajar naquele comboio e que levava os passageiros ao fim da linha, na Beirã.

E hoje, sou eu e o meu carro. São quase ciquenta euros de gasolina para ir e voltar porque nem sempre se arranja alguém para partilhar a viagem. E são quase três horas a tentar não soltar todas as asneiras que sabemos, a tentar não gritar e insultar todos os condutores que se arriscam e que arriscam a minha vida ao mesmo tempo. São muitos minutos a insultar quem vem a menos de ciquenta à hora onde se pode andar a noventa, a ver como todos os homens se sentem ameaçados quando são ultrapassados por um Panda. Um dia destes prometo que tiro um curso qualquer para me sentar sossegadinha ao volante, sem stressar e sem achar que está tudo louco. Até lá, páro o carro a semana inteira e esqueço-me da falta de civismo na estrada. Até à próxima viagem.

novembro 15, 2006

All is full of love


A filha do meu chefe chama-se Eva e desenhou isto para mim. Não foi a pedido meu, porque nem sequer a vi ainda. Levei uns rebuçados de ovos feitos pela minha avó, distribuí pela malta. O meu chefe gostou bastante e levou mais para casa, onde os ofereceu à Eva. E ela gostou tanto que tomou a iniciativa e pegou nos lápis de cor para me oferecer isto. O gesto, a espontaneidade, o inesperado... Nem sei o que me fez gostar mais dele. Gosto especialmente da Eva se ter desenhado de rebuçado na boca!

Depois disto, o post anterior merecia ser apagado. Vai ser, pelo menos, esquecido :)

novembro 13, 2006

Da tristeza


Ela pergunta-lhe

Achas que a tristeza já está dentro de nós quando nascemos?

Ele responde-lhe, docemente

Sim, acho que já nasce conosco. E só nós é que podemos mudar a nossa tristeza. *


Muitas vezes estive imersa na minha própria tristeza. Tempos houve em que passava os dias literalmente enfiada na cama, a sentir-me miserável durante horas infinitas, a tentar remendar (erradamente) todos os erros que não conseguia evitar. Noutros tempos, sentia apenas a dor de não saber para onde exactamente estava a caminhar e tentava não ceder aos ataques de pânico. Muitas vezes sentei-me perto duma janela, a tentar perceber onde tinha errado, a afundar-me cada vez mais na pena que tinha de mim mesma. A melancolia ainda me ataca muitas vezes: parte de mim revive momentos passados (as expressões, as mãos, as palavras doces, escritas e ditas), outra parte sofre com a inquietação de não saber o que vem aí.

Quantas vezes nos forçamos a ouvir a música mais triste que temos, a canção mais deprimente e que nos fala mais ao coração? Quantos filmes fomos ver e acabámos por sermos nós a sofrer no ecran, por sermos nós os abandonados e os esquecidos? Eu sei que o continuarei a fazer. [porque gosto] Mas agora também sei que há mais do que a tristeza. E, mesmo tendo ela nascido comigo (como com toda a gente, ainda que em doses diferentes), eu sei que há outras coisas que me fazem feliz. E nem sequer precisei de saltar de uma ponte.

* citação muito livre de Dans Paris

novembro 09, 2006

Home *


* é onde o coração está. Mas também é onde há um corredor por onde nos passeamos, orgulhosos. E onde há luzes no tecto, a lembrar revistas de decoração. E é um sítio pelo qual nos vamos apaixonando lentamente, como todos os (grandes) amores que já tivemos.

novembro 08, 2006

Think twice cuz' you gotta long way 2 go *


Estou sentada no meu sofá, acompanhada por um café servido nas chávenas que, com enorme bom gosto, me ofereceram pelo aniversário/inauguração da mansão. Baixei o som da televisão, constantemente ligada na MTV, na esperança de uma surpresa, um vídeo mais antigo, qualquer coisa que não seja do hip-hop ou que não tenha demasiada carne à mostra. [Em vão.] Estou a pensar que talvez não tenha sido a melhor maneira de me fazer anunciar aqui - ter os vizinhos a bater-me à porta à meia-noite de ontem: a vizinha de baixo tinha uma queda de água maravilhosa no quarto de arrumações com nascente na minha casa. E estou a desejar cair na cama hoje para não mais acordar. E especialmente não acordar com as vozes irritadas dos vizinhos, que além disso debitam palavrões a uma velocidade invejável.

Olho para a borra do café no fundo da chávena e espero ver qualquer coisa de revelador, qualquer coisa que me vai surpreender e deixar a pensar. Não vejo nada. Os olhos começam a ficar preguiçosos e moles. Combato esta urgência em deitar-me mas com muito pouca vontade: a habituação ao café já não o deixa fazer efeito. Na MTV continuam a rodar as mesmas músicas fabricadas em série. Lembro-me que tenho que passar no cartório, que tenho que ir ver o Dans Paris e que tenho que tirar medidas em casa para os últimos retoques. Há alguém que canta não te deixes encantar por quem nunca se encantará de ti. Eu sorrio, pois claro. É uma pena isso não ser tão fácil como eu agora levantar-me e enfiar-me debaixo do edredon.

* ou o perigo de ver demasiada MTV.

novembro 06, 2006

São vinte e sete...


e não se está nada mal.

novembro 05, 2006

Meine Stadt



Há um ano atrás, estava com a minha irmã em Berlim. Aproveitei um fim de semana livre para mostrar-lhe a minha cidade preferida e, simultaneamente, comemorar os meus anos. Não é que eu pense nisso todos os dias mas de vez em quando dá-me assim um daqueles ataques de saudades. Não sei se já desisti de morar lá um dia ou se estou apenas a fazer uma pausa nessa minha vontade.

A horas de me juntar ao clube dos vinte e sete, penso que chegar aos trinta já não me assusta assim tanto. A minha madrinha uma vez disse-me que aos trinta estava quase a chegar ao seu melhor. Não sei se é realmente assim mas sei que hoje gosto mais de mim. E, como dizia o anúncio, se eu não gostar de mim quem gostará?

Gostava ainda mais de mim se a esta hora estivesse sentada num café turco, a acabar um dönner e a preparar-me para ir dançar numa sessão de Karrera Klub. Mas enfim, já não é nada mau ter dançado como se estivesse possuída ontem no Lux e estar prestes a sair para um filmezinho, para depois regressar ao conforto da mansão da Lapa.

Até já. Quando voltar estarei um ano mais velha.

novembro 04, 2006

São onze e meia da manhã e eu já atingi os objectivos do dia inteiro, o que devia equivaler a dizer Ok pessoal, já trabalhei o que tinha a trabalhar, vou mas é voltar à caminha. Mas, obviamente, as coisas não funcionam assim. Também é verdade que podia fazer ronha até às quatro da tarde, que ninguém ia notar. Mas isso também não faz parte dos planos porque seria demasiado aborrecido. Não trouxe almoço, o dia está uma autêntica bosta e mal consigo abrir os olhos com o sono. Comi à frente do computador, os (poucos) colegas só querem ouvir Monster Magnet e Ozzy Osbourne.

Enfiei os phones nos ouvidos e sinto-me como se estivesse protegida numa redoma: sossegada. Com música a isolar-me do resto do mundo feio, tenho tempo para estar sozinha comigo. Olho para o Ipod e leio 'Soft and melting'. A reacção instantânea é pensar num beijo. E eis que me encontro a desejar beijar alguém durante um fim de semana inteirinho de seguida. Assim como aquelas pessoas que tentam bater recordes mas sem querer bater recorde nenhum. Só a sentir outra boca na minha boca. E eis também que descubro que já não sei o que estou a escrever, já perdi o fio ao raciocínio. Volto-me para o trabalho. Ter demasiado tempo nas mãos deixa-me sem saber para onde ir.

novembro 02, 2006

Work in progress



Aqui não há formigas. Não preciso ter nojo do que pode estar atrás do fogão. Não preciso empurrar as gavetas perras até não conseguir mais. Aqui o colchão não tem manchas não identificáveis. Aqui não divido espaço nenhum com estranhos. Há um jogo de estratégia para conseguir arrumar todas as mercearias. Há espaços tão pequenos quanto acolhedores. Aqui há silêncio de noite, nas ruas há gente do bairro, há lojas que resistem. Estacionar é difícil mas há sempre um buraquinho para mim. Sou eu que escolho a mobília e sou eu que pago os novos contratos. Ainda há muito espaço para ocupar, muita fotografia para colar na parede. Há uma história inteirinha para começar a construir.

Muito prazer, é a minha casa.