agosto 28, 2011

Chegámos ao fim da canção


Que é como quem diz, acabaram-se as férias. Ter tido estas duas semanas já foi sorte bastante, visto que só agora completo os primeiros seis meses de trabalho, portanto há que ficar grata. É claro que a ideia de que vou ter que regressar ao trabalho me está a revolver o estômago e é mais do que certo que a maior parte da noite de hoje vai ser passada em claro com aquele nervoso miudinho do regresso somado à sensação de que já não sei nada do que faço. É típico dos regressos, só ainda não passou àquela fase da chamada depressão pós-férias, em que se precisa de mais férias para esquecer.

As primeiras férias com o nosso filho foram francamente boas. Fizemos exactamente o que nos apeteceu, sem grandes planos e sem grandes expectativas, limitando-nos a aproveitar o bom (e o mau) tempo e escolhendo, sempre que possível, actividades e cenários novos para o bebé Vicente. A verdade é que foi tudo mais aproveitado por nós do que por ele mas não digam a ninguém. Ainda esperámos que o Zoo pudesse despertar a atenção dele mas era difícil: os animais estavam quase todos a dormir a sesta e ele também não os conseguia distinguir entre a vegetação ou o comedouros ou os bebedouros. E no Museu do Oriente, as exposições permanentes devem ser vistas debaixo de tamanha escuridão que o Vicente não ficou particularmente entusiasmado com nada. Apenas vibrou a sério com esta exposição e é compreensível, até nós gostámos bastante.

Agora que uma nova temporada de trabalho está à porta, resta-me colocar no calendário pequenos e breves objectivos que me ajudam a passar melhor o tempo. Agora estamos a braços com novas fotografias nas paredes lá de casa e vamos amanhã começar o álbum de fotografias do Vicente e entretanto temos todos os preparativos para o aniversário dele, o que significa que temos um mês agitado à nossa frente. Depois os anos do pai, da tia e da mãe e é um tirinho até ao Natal. É assim que funciono melhor: um acontecimento de cada vez. E agora os preparativos continuam: a realidade espera-nos já hoje à tarde.

agosto 21, 2011

A coragem é uma coisa que ainda não nos assiste



De há uns tempos para cá, algumas pessoas profetizam que vamos assistir a um regresso ao campo: incapazes de fazer frente às dificuldades e solidão das grandes cidades, as pessoas irão preferir regressar às origens e revitalizar com o seu regresso uma agricultura que está hoje pouco mais do que moribunda. O preço das casas nas grandes cidades atingiu valores ridiculamente altos, as despesas com transportes e outros serviços não param de crescer, não há vagas em creches e escolas, não há como envelhecer saudavelmente numa cidade.
Nós, que fizemos o caminho inverso há uns anos atrás, damos connosco agora a equacionar um futuro diferente e já há alguns meses que sonhamos com a tranquilidade da vida no campo. Eu sonho com as estradas secundárias desertas e esburacadas, ele com velhas casas abandonadas que podíamos restaurar; eu sonho com terra a perder de vista e o bebé Vicente a correr feito maluco entre oliveiras, ele sonha com um negócio e uma vida auto-sustentável. Não há nenhuma viagem em terras alentejanas em que não suspiremos por saber que a terra onde pertencemos nada nos oferece e sem lamentarmos não termos um pedaço de terra a que chamaríamos nosso.

Falta-nos um plano. E também uma estratégia. E ainda a certeza que essa seria a melhor decisão para o bem estar do bebé Vicente. E falta-nos acima de tudo a coragem de assumirmos uma mudança tão brutalmente radical nas nossas vidas, nas nossas rotinas e hábitos, nas nossas expectativas. E não sei se alguma vez teremos a coragem de mudar o que quer que seja, seja para o campo, para uma cidade pequena ou o estrangeiro. Mas temos que começar por algum lado e sabemos que something's gotta give. Quem sabe, um dia qualquer...

agosto 19, 2011

A Sudoeste


 
Escolher esta zona do país para férias, e logo em Agosto, foi uma espécie de acto de fé. Nesta semana, já tivemos tempo parecido com Novembro e dias dignos de Agosto. Já houve nevoeiro até ao chão e calor húmido e pegajoso, o que significa ataque kamikaze de melgas. Já dividimos os nosso banhos pelo Alentejo e pelo Algarve e temos passeado sempre ao longo da costa. Para nós, as boas notícias é que já conseguimos que o bebé Vicente goste da água da piscina, sem gritar assim que molha um dedo do pé. Hoje lá deu para mantê-lo na piscina dos pequenos durante os minutos suficientes para ele não enregelar.

Termos escolhido este sítio para ficar foi uma boa aposta. Há quase mais crianças do que adultos, o que torna uma possível birra do bebé Vicente numa casualidade que passa sem ninguém notar. As condições são bastante boas e podíamos mesmo nunca sair do parque e mesmo assim assegurar a nossa sobrevivência e diversão. Depois, é como se estivesse a reviver os festivais de Verão sem os habituais desconfortos: os caminhos são de terra mas não há pó por estes lados; há um agradabilíssimo cheiro a pinheiros e eucalipto em toda a parte; há tendas e outros alojamentos sem as barulheiras dos djambés e sem os miúdos desorientados que não conseguem encontrar a tenda. É claro que não há concertos mas da mesma forma não há casas de banho imundas, barracas de cerveja a preços proibitivos e tendas de electrónica a acabarem com o silêncio.

O bebé Vicente faz ainda mais sucesso aqui: assumiu completamente a sua faceta de oferecido e sem vergonha e estende a mão a toda a gente que passa, sorri quando se cruza no carrinho com outros bebés e gosta de ser o centro das atenções. Está a tornar-se num bebé muito curioso e gosta especialmente de todo o tipo de animais: não tem medo de fazer festinhas em cães ou em burros e delira com qualquer coisa que mexa. Também gosta de árvores e aviões e acho que as ventoinhas de tecto são o seu novo objecto favorito. Não quero agoirar mas anda a dormir muito melhor à noite: as sestas durante o dia é que só dentro do carro e em andamento. De resto, que as durma eu.

Aproveitamos o final do dia para nos actualizarmos e pormos a notícias em dia. Ele dorme e pouco mais ouvimos do que as cigarras junto ao lago. Amanhã é dia de mais passeio, por isso até breve. As férias retomam dentro de momentos.

agosto 12, 2011

De partida

Felizmente, lá no trabalho desde de cedo nos deram a possibilidade de marcar férias, mesmo ainda não tendo completado os primeiros seis meses de contrato. Por isso, estamos hoje de partida [suspiro de alívio].

Infelizmente, as minhas férias começaram mais cedo com a tosse do bebé Vicente a não dar descanso, sendo que pai, mãe e filho ainda passaram umas noites menos felizes. Não nos parece que seja alguma coisa grave, provavelmente vem aí a nova fornada de dentes mas a verdade é que este calor também não tem propriamente ajudado e o Vicente acaba por suar como gente grande os dias inteiros. Como temos estado por casa, a única solução é deixá-lo andar em pelota e espera que se vá refrescando como der. Mas ele está a atravessar uma fase tão gira e já tem as gracinhas decoradas: bate as palmas, dar apertos de mão à mãe e high fives ao pai e bate na boca como um índio. Adora ver os cães e os pombos passar e, como é um sem vergonha, estende a mão a toda a gente que passa, mesmo que depois fique envergonhado.

Mas enfim, o que interessa é que estamos de partida. Vamos dividir o nosso tempo entre a Zambujeira do Mar, Portalegre e ainda daremos um saltinho a Lisboa, Crato e Campo Maior. Estamos, acima de tudo, a precisar deixar as paredes de casa para trás e respirar um ar um bocadinho diferente. É escusado dizer que a logística agora é substancialmente diferente (onde é que vamos meter tudo?!) e o medo de deixar alguma coisa para trás é ainda maior. Mas estamos ansiosos por fazer piscinas na areia para o bebé Vicente pegar pela primeira vez no seu balde e pá. O nosso plano é estarmos deitados sempre que for possível, seja onde for. Se entretanto nenhum azar se fizer sentir ou se a carrinha aguentar as viagens, daqui a uns dias já estaremos debaixo do Sol do litoral alentejano. Contamos vir morenos e recompostos. Isto é portanto um Até já.

agosto 08, 2011

Ainda sobre o post anterior...

Chego a casa no outro dia e, apesar de ter um daqueles autocolantes anti-publicidade-não-endereçada, encontrei isto na caixa do correio. E eu, que até sou rapariga para acreditar em coincidências, começo a achar que isto está tudo ligado e no fundo é tudo uma cabala contra a minha (pouca) fé.

agosto 02, 2011

Sobre uma coisa chamada karma (também conhecido como azar)

Ando um bocado zangada com esta ideia de karma e de destino: o que fazemos será devolvido em dobro ou qualquer coisa do género. Ultimamente temos andado numa maré de azar tão gigante (e quando digo temos falo da minha família mais próxima em geral) que é absolutamente inacreditável como não aconteceu ainda algo pior *. Rodeada de pessoas que respeitam e, acima de tudo, acreditam nas forças sobrenaturais, é quase impossível não pensar que alguém nos rogou uma gigantesca praga. Os motivos, esses, não os conheço.

As peripécias que já nos aconteceram com a nossa carrinha, que comprámos usada há menos de um ano atrás, já chegam a roçar o absurdo e muito dias houve em que o simples facto de acordar de manhã me fazia temer pela minha sanidade mental: que avaria nos estaria reservada hoje? Os últimos tempos também não foram particularmente meiguinhos no que a saúde diz respeito: entre idas às urgências, consultas de recurso e de pediatria, doenças mal curadas e faltas ao trabalho também acho que já levamos a nossa dose para este ano.

O que eu não percebo é: se o conceito de karma supõe que nos devolvem todo o mal ou o bem que fazemos, isto significa que eu e restante família temos sido uns grandes filhos da mãe? Onde ficaram as nossas boas acções, os nossos actos desinteressados de civismo, o aumento forçado da nossa tolerância aos outros, o bom uso da crescente maturidade? Onde ficam todos os esforços que fazemos para ser pessoas melhores e dar ao mundo pessoas igualmente porreiras, honestas e serenas? Não somos perfeitos, longe disso, mas não seria de esperar que esse lado oculto premiasse a nossa vontade de ser melhor em vez de nos castigar com provações sucessivas e muitas vezes kafkianas? Eu, uma céptica em relação aos trânsitos dos planetas, leituras de búzios, auras e demais demonstrações do oculto já dei por mim a ponderar se não preciso abandonar este meu cepticismo e deixar que o oculto me ajude a compreender esta fase maligna que estamos a atravessar. De cada vez que penso que isto já não tem por onde piorar, lá acabamos a bater mais fundo do que esperávamos.

Eu espero. Eu resigno-me e espero que tudo não passe da fase mais longa de azar de que me lembro. Até lá, esforço-me por não me tornar numa panela de pressão, pronta a explodir a qualquer momento. Confesso que já me faltou mais para parar o meu trabalho e, calma mas revoltadamente, ir até à casa de banho gritar a minha raiva. É respirar fundo cinquenta mil vezes e esperar que passe.

* pior só mesmo a notícia de um muito infeliz acidente de uma pessoa conhecida, que me abalou de uma forma que não sei explicar. A partir do momento em que soube, é como se a recriação do mesmo não me saísse da memória. O facto de agora ser mãe influencia agora a minha percepção das coisas: ter filhos obriga-nos a estar aqui, vivos, sãos, prontos para valer a estes pequenos seres que ainda não saem debaixo das nossas saias. E estas desgraças, responsabilidades ou merecimento à parte, doem muito no meu coração de mãe. Isso e imaginar a dor da família, impotente perante tamanho desafio do destino. A verdade é que muitas, muitas vezes o karma parece acertar ao lado. E, sem saber novidades, o meu coração de mãe deseja apenas que esta família se refaça do susto a correr.