agosto 30, 2012

I've got that summertime, summertime sadness


Eu acho mesmo que sim, que acontece o mesmo todos os Verões e aqui mais do que nunca. Há um momento que ainda não sei bem definir em que percebemos, com alguma melancolia, que o Verão acabou. Aqui esse momento aconteceu durante esta semana. As temperaturas mínimas já baixaram aos nove graus e ainda há (teoricamente) um mês de Verão pela frente, às nove da noite já está escuro e às seis da manhã o Sol ainda não nasceu.

Tive um Verão que, na prática, não o foi. Foram uns quinze dias de calor a sério, como manda a cartilha das estações e o resto uma mistura entre chuva torrencial, céus cinzentos e vento. Não houve praia, apenas dois dias de piscina, não estamos morenos, não comemos caracóis, não bebemos imperiais em esplanadas, não sentimos o gosto do sal. Não usámos ventoinha ou ar condicionado, não ficámos na rua até às tantas. Para alguém que vem de um país com tantas horas de Sol percebe-se que isto faz toda a falta do mundo. Tive saudades de ver as ondas de calor a subirem desde o alcatrão, do silêncio das tardes ser apenas cortado pelo vento e pelas cigarras, tive saudades do Agosto em Lisboa. Mas este ano não haverá mais Verão, nem nós seremos os emigrantes saudosos a regressar em autêntica peregrinação ao sítio que é nosso. Restam-me as memórias dos cheiros e do azul de Lisboa, dos quarenta graus pela manhã e planícies queimadas de Portalegre e eu aqui, longe de tudo, longe de todos.

agosto 29, 2012

Deixar para amanhã (e depois de amanhã...)

Eu sou a pior pessoa que conheço a procrastinar. E ainda pioro a minha situação ao meter-me em demasiadas coisas ao mesmo tempo. Já há alguns (largos) meses que não mexia no diário (real) do bebé Vicente para registar o que vem acontecendo com ele, marcando os seus progressos, imortalizando as suas birras e palavras preferidas. 

Quando trabalhava em Portugal, sentia que não tinha tempo. Depois despedi-me e não tinha mesmo tempo porque havia tanta, tanta coisa a tratar. A seguir mudámo-nos para aqui e mais burocracias, procuras de emprego e de creche, mais criação de rotinas a impedir-me de actualizar o bom do diário. E depois voltei a trabalhar e a fazer malabarismos com o tempo. Desculpava-me, pensando que me faltava o papel para imprimir as fotografias tal como o idealizámos e isso lá me ia fazendo sentir melhor.

Mas agora há mais tempo. E o papel também já me chegou à caixa do correio. Só me resta descobrir como vou registar tudo o que aconteceu ao bebé Vicente nestes meses sem que ele, no futuro, veja aqui um hiato gigante no seu crescimento. Vamos lá meter mãos à obra! (e recordar tudo o que já passámos hoje que passam 23 meses desde o seu nascimento, o que significa que, de repente, somos pais de um rapaz - e não bebé mas eu não gosto de lhe chamar outra coisa- com quase dois anos... E depois não hei-de eu estar cheia de cabelos brancos...)

agosto 28, 2012

...


- Do que é que vais sentir mais falta?
- De sermos só nós dois.

(não das festas, das manhãs a acordar tarde, dos dias em que não nos apetecia fazer jantar, das noites em que dormia horas seguidas, das refeições que conseguia comer quentes e a horas, da liberdade. Só saudades de sermos os dois, das semanas que passámos separados, da magia dos reencontros à Sexta, daquela certeza que eras aquilo que sempre quis, das horas passadas ao telefone para enganar a geografia, de ser tudo tão perfeito que o nó da garganta não desaparecia nunca, de termos tempo só para a contemplação e de nos olharmos vendo o futuro, de tratarmos com delicadeza o nosso bem mais precioso, o nosso Amor, sem deixarmos que as trivialidades da vida tomassem conta de nós. E tantas saudades da noite em que arranjava para sair, cabelo ainda molhado, e tu a partilhares este video e eu de repente desfeita em lágrimas porque era tudo tão maior que nós. Ainda é assim, eu sei, mas conto os dias para aquele intervalo em que vamos viver outra vez como se o tempo tivesse parado ali.)

(Ainda os terrible two...)

Por muito que tentemos, por muito que respiremos fundo três e quatro vezes tem sido muito difícil lidar com os terríveis dois (anos) do bebé Vicente. Não chega ler o que há à mão sobre parentalidade positiva, não chega racionalizar comportamentos que são (à vista de um adulto) irracionais porque este bebé foi buscar forças sei lá onde. 

Há umas semanas atrás cheguei a pensar que estávamos numa fase de namoro com ele: ele estava gentil, acedia aos nossos pedidos com alguma facilidade, choramingava sem chegar a fazer birra. Depressa mudei de ideias. As últimas semanas têm sido uma absoluta loucura no que diz respeito ao comportamento do bebé Vicente: não quer tomar banho e grita e esperneia; não quer mudar a fralda e grita e esperneia; não quer usar o cinto de segurança na cadeira e grita e esperneia; só quer descer todas as escadas do prédio sozinho ou grita e esperneia; se não faz o segundo lanche do dia grita e esperneia; não quer nenhum jantar e grita e há mãos no prato da sopa e há pratos pelo ar e comida espalhada pelo chão. Tentamos verdadeiramente falar com ele, num tom de voz (que nos parece) calmo, explicando o que fez de errado, tentamos que seja ele a exprimir-se e dizer o que lhe falta, o que lhe apetece mas ainda estamos muito longe de conseguirmos manter qualquer coisa parecida com uma conversa.

Passamos o dia longe uns dos outros e é normal que ansiemos pelo final da tarde para voltarmos a estar juntos. Não consigo descrever como é gratificante ver a cara dele, enquanto sobe as escadas, em antecipação do abraço que me está prestes a dar. Mas isto demora uns dois minutos e assim que se sente em casa começam as exigências e as travessuras. Não liga nenhuma a brinquedos, está numa fase em que nem os livros o entretêm e, resumindo, só quer fazer aquilo que não pode (ligar o forno, abrir a máquina de lavar, tirar café, atirar coisas pela janela, desligar e ligar a televisão até à exaustão, mexer no lixo).

Se eu acho que era suposto ser diferente? Na verdade não, parece-me tudo normal quando falamos de um bebé de dois anos activo e curioso. Se às vezes nos sentimos esgotados, incapazes e aterrados com a possibilidade de estar a falhar na educação dele? Vezes demais, é aquilo que sinto. Mas como não há grande coisa a fazer, respiramos fundo (muito fundo) e preparamo-nos para mais umas horas de agitação. Afinal, ninguém disse que ter um filho era fácil.

agosto 23, 2012

Passear nas Ardenas

Fomos passar o fim de semana à Bélgica (na região das Ardennes) com amigos*. Ficámos numa casa de campo numa aldeia minúscula, onde só podíamos ouvir os tractores passando carregados de fardos de feno, as moscas que se abrigavam em casa da onda de calor e um sino ocasional assinalando alguma festa nas proximidades. Os nossos anfitriões ajudaram-nos com os planos para ocupar alguma parte dos nossos dias e, já familiarizados com a qualidade do nosso vinho, sorriram abertamente quando dissemos que éramos portugueses. Foram dias de tranquilidade, em que passámos a maior parte das horas do dia debaixo de água, em cenário natural ou complexos para famílias com temperaturas tropicais, buscando alívio no fresquinho que se fazia sentir em casa. O bebé Vicente ganhou a sua primeira bicicleta (esta, bem apropriada para o ajudar a ganhar equilíbrio) e foi vê-lo a gritar Kika! Kika! com a maior felicidade que já lhe vi depois de receber um presente. Foi muito bom sair do nosso campo para um sítio tão bonito e calmo e aproveitar uns verdadeiros dias de Verão belgo-luxemburguês!

* a vantagem do Luxemburgo nos ter escolhidos como seus habitantes é que nos colocou bem no centro da Europa, tornando as nossas deslocações mais fáceis e fazendo dos encontros com alguns amigos que se espalham por aí uma coisa quase trivial. Melhor só mesmo se fizesse o mesmo com a nossa família mas os milagres ainda não acontecem. Não é difícil perceber porque é que cada vez mais nos sentimos em casa aqui!

agosto 22, 2012

(Muito) Devagar se vai ao longe

Tinha feito um compromisso comigo mesma ainda antes das férias começarem: correr sempre que pudesse nestes dias livres. Até agora a coisa nem vai muito mal, se pensar que só não corri no feriado e nos fim de semana que estivemos fora (podia até ter levado o equipamento mas trinta e tal graus de manhã à noite eram motivo suficiente para nem me equipar). 

O que me está a chatear mais nisto tudo é que não tenho conseguido avançar muito em termos de distâncias percorridas e o meu (modesto) sonho era poder chegar a Setembro a correr aí uns cinco quilómetros. Tendo em conta que me falta uma semana e dois dias de férias, acho que é seguro dizer que isso não vai acontecer. Tenho estabelecido outras metas mais realistas e tenho conseguido cumprir, por isso nem tudo é mau. Sinceramente, só me faltava ver alguns resultados práticos mas também tenho consciência que não são estes minutos de exercício que me vão trazer o milagre que preciso mas há que começar por algum lado. E além disso, apesar de gostar da corrida solitária, sinto falta de poder ter alguém que aguente mais ao meu lado para me motivar a ultrapassar aqueles que acho que são os meus limites. Infelizmente, aqui não podemos correr juntos porque não temos ninguém que fique com o bebé Vicente e correr em parceria está fora de questão. Também não me queria juntar a nenhum clube ou grupo, só queria alguém que me fizesse ir buscar as forças onde elas estão escondidas (mesmo sabendo que só eu é que posso saber onde elas estão).

Neste momento, o que quero é conseguir manter o ritmo até ao final das férias e depois tentar conciliar a corrida com o novo emprego. Acho que já desisti de correr depois do trabalho. Em Lisboa isto parecia funcionar muito bem mas apenas por um (enorme) pormenor: quando corria na Estrela ainda não tinha um filho! Agora preciso desse tempo à tarde e não vejo outra alternativa senão começar o dia a correr, mesmo que isso me custe uns minutos de sono. De mais a mais, trabalhar depois de correr faz-me sentir um bocado imparável e mais capaz de enfrentar as horas do dia que ainda tenho pela frente. E também já penso no Inverno: como manter algum ritmo entre neve e temperaturas negativas? Por muita força de vontade que se tenha, acho que facilmente irei sucumbir ao conforto de me manter em casa mas não sei, alguma alternativa surgirá.

agosto 15, 2012

Saudades de 2000 e poucos

Houve um tempo (digamos há uns oito anos atrás) em que havia blogs verdadeiramente genuínos escritos por gente normal e com muita graça (lembro-me, entre outros, deste e deste). A maior parte deles foi ficando esquecida pelo caminho, por falta de tempo dos autores, por falta de público que os lesse, ou por outras razões quaisquer. Ri-me bastante com estas pessoas que construíam personas tão divertidas, tão cuidadosamente imaginadas, pioneiras nessa coisa de se dizer o que se pensa sem que a opinião dos outros importe. Era tudo gente que escrevia bastante bem, aposto até que se calhar até perteciam a um mesmo círculo de amigos ou de conhecidos - eram os bloggers que eu admirava por me faltar essa criatividade.

Depois, a coisa evoluiu e até se democratizou. Hoje em dia muita gente tem um blog, algumas pessoas já são trend setters à custa das visitas que recebem diariamente, há muitos, muitos wannabes. Mas sinceramente já há poucas pessoas que me interessem ler. O que eu sempre procurei na blogosfera foram janelas para outras vidas, pessoas que escrevessem bem, que fossem interessantes (e nisto pode caber quem fale dos filhos, de música, de viagens, de livros, da televisão e do Mundo em geral). Fico sempre fascinada com pessoas que sabem relatar a sua vida com algum recato, sem procurarem ter a vida dos outros, conseguindo trasmitir a sua maneira peculiar de ver o Mundo.

Isto tudo para dizer que tomei hoje a decisão de deixar de ler alguns blogs porque já não suporto a publicidade misturada com um pouco de hipocrisia (ah eu recebo os produtos mas sou livre de dizer que não gosto...), já não suporto a ausência dos conteúdos que lhes conseguiram a popularidade, já não suporto a superficialidade daquilo tudo e as caixas de comentários a rebentarem de fel. Sinto algumas saudades do tempo em que as estatísticas, as opiniões, a moda, as discussões sobre o dinheiro que se ganha e se gasta não eram os temas principais. Sinto pena por ver cada vez mais blogs nascerem e crescerem à sombra de da imagem de outros, de ver as pessoas a aspirarem apenas a serem importantes, o que quer que isso seja. Não perdi totalmente a fé porque há sempre gente com ideias, com bom gosto, com vidas com menos glamour mas com mais substância, gente que me embala com a sua escrita. Eu só decidi não ler mais o que notoriamente me irritava mais do que agradava e assim deixo de ter que lidar com toda essa decepção. Uma pessoa até se sente mais leve!

agosto 09, 2012

Perita em despedidas

Esta que vos escreve começa a sentir-se uma fada da despedidas. 

Na Segunda-feira foi o meu último dia no escritório. Dada a falta de tempo para fazer bolos para aquela gente toda, resolvi levar qualquer coisa que me representasse e corri ao supermercado português. Levei umas línguas de gato, umas cavacas, umas broas de mel, decorei uns básicos pratos de plástico, disse até já em várias línguas e espalhei tudo pelo escritório. Não sei se tive muito sucesso: pareceu-me que enquanto lá estive os pratos estiveram quase sempre na mesma mas para falar a verdade não me podia importar menos. Não que seja uma cabra insensível mas algures no caminho, e especialmente desde que soube que ia sair, resolvi não me apegar a ninguém para não sofrer desnecessariamente.

Tinha pedido ao meu chefe para espalhar a notícia, o que ele falhou em fazer. Faltavam uns dois dias para me despedir e quase ninguém ainda sabia. Quando o boato se começou a espalhar, as pessoas começaram a vir ter comido e eu falei mais e com mais gente em dois dias do que em três meses inteiros ali. Coisa estranha mas enfim. Descobri que toda a gente procura um novo emprego, que o ambiente no meu departamento era de cortar à faca e fiquei desconsolada por nunca ter percebido o que se passava à minha volta. Fiquei com a sensação de houve gente que se aproximou de mim nesses dias para saber onde há vagas, sem se interessar minimamente por mim. Percebi que podia ter feito uma boa amiga ali: no penúltimo dia almoçei com uma colega espanhola e o tempo passou sem darmos por isso, resultado das nossas afinidades. Fiquei com aquele sabor amargo de saber que as promessas de telefonemas e cafés nunca se concretizarão.

O meu chefe levou-me à porta e, imediatamente antes de sair, insinuou que vou fazer a escolha errada mas que poderei, se necessário, regressar. Não gostei desta atitude: posso passar de cavalo para burro, pode o ordenado não compensar as restantes condições, posso não simpatizar com ninguém - mas assumirei as consequências da minha decisão. Esperava dele que aceitasse a minha decisão sem tentar interferir de maneira alguma e não que se comportasse de maneira algo infantil mas agradeci o tempo que ali passei e a oportunidade que me foi dada e saí. De bem com a minha consciência e ainda sem perceber verdadeiramente que me esperam quatro semanas de férias. Tantos dias de férias antes de recomeçar! E muito tempo para pensar que não me quero despedir de mais nada/ninguém tão cedo.