maio 29, 2012

Status update: sem tempo para teclar!

Isto de trabalhar é muito giro mas se lhe juntarmos um filho de vinte meses, uma casa para cuidar e muita vontade e possibilidade de passear, então é fácil perceber como estou tramada. Atenção: esta não é uma queixa, antes a constatação já repetida que o tempo não chega para tudo o que eu gostaria. Tenho, por exemplo, umas ideias de bricolage para o bebé Vicente mas nem isso ainda consegui pôr em prática.

Há dois fins de semana recebemos visitas muito esperadas de Bruxelas! A viagem é curta, nós já tínhamos lá estado e esperávamos agora que nos retribuissem a visita. Aproveitámos para passear pelo centro da cidade, para almoçar num restaurante típico luxemburguês (maravilhoso: perdido numa rua facilmente confundida com um caminho rural, com um velho e sonoro soalho de madeira, flores de plástico em cada mesa, velhinhos bem postos falando baixinho e um riacho a correr à janela!) e para passearmos em plena floresta. Conseguimos comer sempre bem nesse fim de semana e ainda comemorar os feitos profissionais daquele e deste lado da fronteira.


E neste fim de semana resolvemos ir até Berna. Planeámos com alguma antecedência, pegámos no carro e fizemos os quatrocentos quilómetros tranquilamente. Gostámos muito da cidade mas (como em todo o lado nesta zona da Europa) está sempre tudo fechado a horas impróprias. A cidade não é tão limpa como eu pensava que todas as cidades suiças seriam mas está estupendamente conservada. Adorei o Aar e a sua corrente quase demoníaca que os habitantes aproveitam para contornar a cidade sem esforço, o jardim zoológico à beira rio cheio de gente a passear debaixo de um céu e calor de trovoada. Também aproveitámos para ver amigos e passar um dia óptimo com eles e a sua varanda inacreditável! Vi o maior parque relvado de que me lembro, com um relvado natural e em plena montanha, cheio de famílias, cestas de piquenique e grelhas de barbecue. Aí também tive direito à aterragem dum helicóptero de socorro e ainda ao maior ataque de alergia de sempre: parecia que as árvores e a relva tinham tirado o dia para me atacar.

E agora? Agora suspiro por um fim de semana sem planos. Por agora, só estar era bom. Isso e arranjar alguém que me viesse cá tratar da roupa!

maio 18, 2012

Um desabafo maternal

(Escrevo a propósito deste post, desta capa e deste artigo.)

Ter um filho nos dias que correm (pelo menos em grandes centros urbanos e caso gostemos de ser pessoas informadas) é viver paredes meias com o excesso de informação e com a falta de tempo. Nunca a minha mãe se viu confrontada com metade das dúvidas que tive durante a gravidez e nos últimos dezanove meses. Posso mesmo dizer que aprendeu mais com mezinhas antigas do que com artigos e livros de pediatras, sites de gente informada, blogues de outras mães.

Eu li tudo o que devia e não devia nestes últimos dois anos. Eu comprei livros sobre a gravidez, vasculhei a internet à procura de opiniões e de consolo, à procura de mães que tivessem a mesma experiência que eu para me sentir menos sozinha e também menos culpada. Eu fiz um curso de preparação pré-parto, li os panfletos oficiais sobre alimentação, sobre vacinação e sobre o sono, fiz a asneira de comparar o meu filho com os outros, assustei-me com sintomas de doenças que ele nunca teve. Até que me cansei de prestar atenção a tudo.

Deixei de amamentar o Vicente aos oito meses de forma espontânea. Ele não ficava satisfeito apenas com o meu leite, eu estava exausta de tantas vezes acordar durante a noite e estava cansada desta dependência que começava assim que ele regressava a casa da creche. Lutei muito para sobreviver a esses oito meses porque tinha metido na cabeça que o iria amamentar mas nunca imaginei que fosse tão difícil. Para mim foi mas conheço muitas mães para quem todo o processo foi o mais natural do mundo. Não me senti minimamente culpada por deixar de amamentar mas senti-me, isso sim, triste por não prolongar esse laço com o meu filho. Na verdade, e para ser totalmente honesta, senti uma ponta de frustração, está dito. Mas ele alimentava-se bem e crescia sem precisar disso, pelo que depressa ultrapassei isso. Ler o artigo da Time fez-me admirar as mães que conseguem levar a amamentação a estágios que para mim continuam a ser impensáveis. Mas também me deixou um pouco enojada com esse conceito de ser mãe suficiente. E essa coisa do attachment parenting também me chateia um bocado porque os seus adeptos (talvez como eu e outras pessoas) comportam-se como se essa fosse a única maneira de criar e educar filhos. Não é, toda a gente sabe disso.

Depois há essa questão das creches. Parece que não é saudável que os bebés passem lá muitas horas, como se isso fosse uma espécie de notícia de última hora. Será que alguma mãe deixa o seu filho conscientemente feliz numa creche, sejam quais forem as condições? Eu não o faço e por isso falo apenas por mim. Não gosto de imaginar que lhe pegam ao colo, que lhe dão beijinhos, que o podem tratar de forma negligente, que briga com os outros meninos, que come mal. Mas as mães e os pais de hoje têm alguma alternativa? Em Lisboa nós já estávamos sozinhos mas aqui a falta de ajuda tem outra dimensão. Alguma vez eu poderia prescindir de uma creche nesta situação? A resposta é não e em Portugal ainda mais NÃO é. As sociedades não estão feitas para que as crianças possam crescer nos seios das famílias: não há apoio social suficiente na maternidade/paternidade, não há prestações familiares, os patrões odeiam mulheres que engravidam, há quem precise de dois ou mais empregos. As coisas aqui no Luxemburgo são diferentes mas a essência é a mesma: eu preciso de trabalhar para podermos viver melhor e preciso de uma creche para que isso possa acontecer.

Isto tudo para dizer o quê? Que me fartei das opiniões dos outros, especialmente daquelas mães fundamentalistas que sabem tudo e sabem até o que é melhor para os nossos filhos, dos especialistas que defendem essas verdades La Palice e até das pessoas, que não tendo filhos, se acham as maiores e desatam a dar palpites sobre a educação dos outros. Pelo menos com o nosso filho muita coisa daquela by the book não funcionou, bem como muitas opiniões nossas e dos outros. E essa é sinceramente a maior magia dele: um ser insondável, impossível de agradar, difícil de acalmar mas que no fim de tudo está a aprender a dar beijinhos e já sabe dizer cocó. E quando eu o vejo a rir, mesmo que seja depois da birra mais monstruosa de todos os tempos, isso diz-me que ele é feliz. O resto, suficiente ou não, certo ou não, que se lixe.

maio 17, 2012

Voltar a viver

Esta semana voltei a trabalhar. Digo isto com o alívio gigante de quem gostava muito da tranquilidade da sua casinha mas que já desesperava por ver a sua vida também a continuar. Com um marido a trabalhar há muito, um bebé já na rotina da creche, faltava eu.

Fui relativamente nervosa no meu primeiro dia. Não tive dificuldades em acordar cedo porque com um filho de dezanove meses não há quem possa dormir para lá das sete, oito da manhã. Tratei de mim com tempo, saí de casa tranquilamente para voltar a andar de transportes, misturei-me com a agitação da cidade e em vinte minutos lá estava. Para mim, o mais difícil em começar num sítio novo não é o trabalho em si: o que me assusta ou o que me custa mais é toda a criação de relações com chefes e colegas. Sou demasiado auto-consciente e às vezes paranóica e fico com a impressão que podem não gostar de mim e depois nãok quero parecer chata nem aborrecida nem desinteressante e estes esforços todos cansam-me um bocado. Ainda vai demorar uma eternidade até que me sinta à vontade mas enfim, uma pessoa habitua-se sempre.

Foram demasiadas caras e nomes para um primeiro dia. Fui apresentada a tanta gente que nem sequer pude reter qualquer informação e prometi a mim mesma trabalhar nisso nos próximos tempos. Passei muito tempo sem fazer nada porque parece que aterrei lá num período um pouco caótico e saí mais cedo. Mas não saí sem antes ser apresentada ao director que me esperava com este ramo de flores. Quando disse que era para mim, eu fiquei especada a rir e a dizer Ah, está a brincar. Assim mesmo com aquela cara idiota de cepticismo dos filmes. Mas não, ele insistiu e era mesmo para mim! Disse-me que os homens costumam receber uma caixa de chocolates e pareceram-me os gestos mais simpáticos e atenciosos que já vi num local de trabalho. Com a minha cara de parva, levei-as para o meu lugar, onde agora as posso admirar até secarem definitivamente.

Cheguei a casa completamente rota. Cheguei naquele estado em que é preciso um esforço hercúleo só para manter os olhos abertos e no autocarro devia mesmo parecer um zombie. Cheguei a casa feliz por poder aprender coisas novas, tristes por estar outra vez bem longe do meu filho, aliviada por sentir a minha vida a regressar novamente àquilo que deve ser sempre: activa. E agora é assim: mais vontade de dormir, mais vontade de aprender e menos tempo para relaxar. Vamos a isso.

maio 13, 2012

Cair na realidade


Apesar de já caminharmos a passos largos para os dois meses desde que chegámos, ainda tenho muitos momentos em que é difícil acreditar que vivemos aqui. No outro dia, tinha umas quantas coisas para fazer no centro e entretanto resolvi continuar a andar a pé. As ruas do centro são tão cheias de vida, há tantos grupos de turistas prontos para fazer os percursos turísticos e para visitar as Casemates, há dezenas de senhores de gravatas que trabalham nas centenas de bancos que aqui têm sede, há (é claro) portugueses em cada esquina mas especialmente na zona da Gare Central. E depois eu, no meio desta gente e desta paisagem que ainda não consigo entender completamente, sinto-me uma turista, é-me difícil sentir-me alguém daqui, alguém que não veio por duas noites, alguém que começou a reconstruir uma vida nos arredores. É uma sensação estranha: primeiro começamos a perceber de linhas de autocarro e da sua periodicidade; depois, estudamos a vizinhança especialmente calma e silenciosa; de seguida, começamos a saber o nome das ruas e a reconhecer bairros inteiros. Mas não me posso esquecer que foram dezassete anos em Portalegre, quinze anos em Lisboa - uma pessoa começa a não saber de onde é verdadeiramente. Por agora, é enfiar os phones nos ouvidos e aproveitar a oportunidade de me espantar sempre com os detalhes.

maio 07, 2012

Porque nem tudo são rosas...

No Sábado, graças à instalação eléctrica pouco potente que temos aqui em casa, rebentou-se um fusível. Agora podemos dizer isto com alguma naturalidade mas nessa noite o acontecimento foi tudo menos natural. Como a casa está toda ligada por fases, reparámos que não havia corrente em algumas divisões e fomos directos ao quadro ver se estava tudo bem com o disjuntor - e estava. Ficámos um pouco desarmados porque se estava tudo bem, não fazíamos ideia do que se poderia estar a passar. Isto implicava não ter água quente também, pelo que queríamos resolver a situação o mais rapidamente possível.

Começámos a busca ligando para o nosso fornecedor de energia que, além do clássico já desligou e voltou a ligar? e pouco mais, deixou claro desde logo que não nos podia ajudar porque não era uma avaria na rede. Depois foi procurar um electricista ou alguma empresa da área que trabalhasse fora de horas para nos ajudar: zero! Não existem, pelo menos não anunciadas na internet, o nosso único meio à disposição num Sábado à noite. Encontram-se muitas oficinas mas electricistas nem vê-los. Voltámos a ligar para o nosso fornecedor de energia para perguntar se, por um estranho acaso, não teriam contactos do género, para logo sermos despachados (não sabemos nada disso). Passámos a noite com o frigorífico desligado, pelo que era mesmo obrigatório encontrar uma solução rápida.

No Domingo, um electricista conhecido - português, claro! - passou rapidamente por cá para concluir que era o fusível queimado e emprestou-nos um que podia ajudar, embora a amperagem fosse inferior. Não ajudou, pois, mas sempre se trocaram os que ainda funcionavam para, pelo menos, conseguirmos energia para o frigorífico. O problema a seguir? Não há nenhuma loja aberta neste país num Domingo. Isto, que se resolvia comprando só um mísero fusível para trocar, arrastou-se Domingo fora porque o comércio está sempre encerrado. Eu entendo a lógica do fim de semana ser sagrado mas enfim, nós viemos habituados aos Continentes e Akis abertos todos os dias, à excepção de um ou dois feriados e estar sem luz ou água quente durante tantas horas pareceu-nos uma eternidade. Em Portugal, tínhamos arranjado um electricista em menos de nada (bastava procurar os autocolantes nas caixas de correio), tínhamos pago uma quantia obscena pelo serviço mas a coisa tinha-se resolvido logo à partida. Assim não: foi um Domingo perdido em casa, maldizendo este país tão desenvolvido. Ah Portugal, tivemos saudades tuas...

maio 04, 2012

Lisbonne, tu me manques...


Que saudades. Quem me dera que, ao abrir esta enorme janela no quarto, pudesse olhar para o Tejo em vez dos telhados vizinhos e do arvoredo já ali. Que saudades tenho de Lisboa, tão imperfeita nas suas colinas, abençoada pelas longas horas de Sol. Sairia de casa agora e subiria as escadas a correr a tempo de apanhar o eléctrico. Desceria a calçada da Estrela entre turistas nórdicos e as velhas que moram ali no Poço dos Negros, bem agarrada à mala para fintar os carteiristas. Antes de chegar ao Calhariz, havia de agradecer termos vistas como na rua da Bica, o rio impondo-se atrás do elevador espelhado. E depois teria pena de tanta sujidade, tanta nódoa na beleza desta minha cidade, tantos pombos desfazendo estátuas e beirais, o Camões já cheio de vida a esta hora da manhã. Tenho muitas, muitas saudades de andar a pé em Campo de Ourique, dos nossos vizinhos dos cafés, do miradouro da senhora do Monte, das tardes em Belém, de me perder na Ajuda. Tenho saudades de uma manta estendida na relva da Estrela, do mau serviço na esplanada, dos miúdos todos iguais a saírem do Pedro Nunes. É que hoje espreitei à janela, os raios de Sol a alternarem com as nuvens escuras e senti assim um apertozinho no peito. Que vontade de chegar a Santa Luzia e ficar a olhar o rio estender-se até à margem Sul, olhar os pinhais, as fábricas provavelmente já abandonadas, os pequenos barcos de pesca, confundir-me com os turistas. Tenho saudades da música de Lisboa, das paragens da Carris onde cada minuto dura uma eternidade, tenho saudades da ponte 25 de Abril e do miradouro no largo das Necessidades, da briga pelos melhores pastéis de nata. E por isso ouço canções que me falam de Lisboa sem serem preciso palavras, escolhi canções portuguesas mas acima de tudo lisboetas, que é assim que eu as ouço. E durante mais um tempo vou dar-me a esse luxo que é recordar as coisas boas da minha cidade, imaginando que faço a pé o caminho entre a Estrela e o Rato. E páro mesmo, mesmo antes da lágrima chegar.

maio 03, 2012

Os astros têm sempre razão! *

Hoje recebi o telefone que tanto esperava e (re)começo  em breve a trabalhar! O meu ritual matinal foi quase sempre o mesmo em todas as manhãs desde que cá cheguei: ligar o computador, ver primeiro as ofertas de emprego dos sites que subscrevi e depois vasculhar todas as outras. Desanimei muitos dias porque há imensas ofertas de emprego, sim, mas para quem tem formação ou experiência na área financeira, o que claramente não é o meu caso. Desanimei muitos dias porque recebi muitas respostas em que o argumento era sempre o mesmo: o meu perfil não era adequado e algumas vezes duvidei de mim. O meu próximo passo era a inscrição no centro de emprego e provavelmente em agências de trabalho temporário mas, felizmente, posso evitar ambas as inscrições.

Eu sei que o meu currículo não é minimamente impressionante e que a minha formação provavelmente não se destaca no meio de outros candidatos. Sei que tenho a meu favor a queda para as línguas e esse era (é) o meu mais importante trunfo neste mercado. O problema aqui é que o país é tão pequeno e faz fronteira com países de onde vêm também candidatos muito fortes e isso limita (com toda a certeza) as minhas hipóteses. Só que eu acho que nesta coisa de arranjar um emprego há um factor decisivo, especialmente porque o vi acontecer várias vezes na minha vida: também é preciso estar no sítio certo à hora certa. E mesmo a juntar a este factor completamente aleatório (ou não, dirão os que seguem escrupulosamente os astros), também é muito importante causar uma boa impressão. Ora, o primeiro factor ultrapassa-se à custa de muitas tentativas, o segundo treina-se e é especialmente fácil se não inventarmos muito. Por isso a minha estratégia é a da honestidade total e a de tentar vender-me realçando qualidades verdadeiras em vez de competências imaginárias. Misturamos um pouco de nervosismo (o que, depois de parir um filho, passa a ser uma brincadeira de adultos), humildade e empatia e há boas hipóteses de sair qualquer coisa dali. Desta vez saiu e eu reconheço que foi muito mais pela primeira impressão do que pelas minhas qualificações. Agora só há uma coisa a fazer: arregaçar as mangas, vestir a camisola e trabalhar muito. Tudo o resto, a seu tempo, virá. Façam figas!

* ou eu preciso mesmo de me libertar deste meu cepticismo e confiar nas posições dos planetas e assim