maio 24, 2011

Mais coisas novas: a praia!


Dizer que passo o ano inteiro a pensar neste dia é talvez um exagero mas a verdade é que eu sou muito mais uma pessoa do Verão, apesar dos desconfortos provocados pelo calor que às vezes se faz sentir nesta estação. Não passo os dias inteiros a pensar no Verão mas trabalho e suporto muito melhor os dias chuvosos e escuros pensando que não passam de um caminho para os cinco melhores meses do ano.

Já tinha visto as reportagens que davam conta de praias cheias de gente, especialmente na zona de Lisboa mas nunca tínhamos tido oportunidade de dar um salto à praia: ora o tempo estava uma autêntica porcaria, ora era fim de semana de ir a casa. Neste último fim de semana, todos os factores se conjugaram a nosso favor e lá fomos os três à praia. Tínhamos grande expectativa sobre as reacções do bebé Vicente e esperávamos alguma resistência a tantas coisas novas mas não podíamos estar mais enganados: pisou a areia sem se queixar ou fazer caretas, dormiu uma sesta como em casa não dormiria e, sentado à beira mar, não se queixou uma única vez da temperatura da água. A única coisa que o incomodou (ainda que ligeiramente) foi não poder comer toda aquela areia molhada e o restinho de ondas que ainda lhe cobriam as pernas até à barriga. Ficámos todos orgulhosos com as reacções do nosso homenzinho!

É claro que tudo isto tinha de ter um revés, ou não fosse esta a epopeia do bebé Vicente. Depois de um Sábado tranquilo, eis-nos na manhã de Domingo levantando o Vicente da cama quando damos de caras com um cenário meio dramático: o corpo dele estava coberto de manchas vermelhas muito vivas e quase com relevo! Foi um susto mas depois de ligar para a linha Saúde 24 (onde já devemos ser conhecidos como os pais mais mariquinhas do Mundo) ficou assente que devia ser uma alergia alimentar. Só que as manchas não desapareciam, pelo contrário espalhavam-se cada vez mais e foi assim que acabámos novamente nas urgências (onde também devemos ser conhecidos pelo mesmo epíteto). Resulta que o senhor Vicente fez alergia ao quê? À bolacha maria que tinha comido no Sábado? Não. À areia da praia, suja de tanta gente porca por aí? Não. À água do imenso mar que banha a nossa costa? Também não. O menino fez alergia ao próprio do protector solar e bem, quando a médica nos disse isso, pensei Tal é a flor de estufa que temos lá em casa! Mas acabou tudo em bem, como diria um rapaz que eu conheço, e tudo está bem quando acaba bem (já diria outro rapaz bem conhecido).

maio 16, 2011

Ainda o pós-parto: o trauma do espelho

Eu sei que é feio mas tenho muita inveja daquelas mães que falam da amamentação como se fosse o mais natural método de emagrecimento: o simples facto de amamentarem um bebé é suficiente para perderem peso e voltarem à imagem que tinham antes da gravidez. Naturalmente, sinto isso porque não aconteceu o mesmo comigo. Ainda hoje luto com a imagem da pessoa que vejo no espelho.

Tive a sorte de não ficar com nenhuma marca da gravidez: a pele continua como antes, não aumentaram estrias nem a barriga ficou flácida mas a verdade é que restaram muito quilos que antes da gravidez não eram meus. Eu, que tinha começado a gostar de correr e que tinha facilmente moderado os excessos alimentares, agora estava (e estou) diferente. O derradeiro teste chegou ontem: convencida de que este fim de semana vamos poder estrear-nos na praia, fui obrigada a experimentar biquinis. E bem, não fiquei propriamente contente com o que vi ao espelho.

Não é que eu tenha sido cega até aqui: compreendo as alterações pelas quais o meu corpo passou e aceito em grande parte as suas consequências. Mas, e não interessa dizer como uma pessoa às vezes até se esquece, a auto-estima ficou gravemente abalada no pós-parto. A amamentação não me emagreceu, não segui uma dieta tão equilibrada quanto gostaria e, no momento em que me sentia pronta a regressar às corridas, chegou um trabalho novo e com ele uma cambalhota gigante nas minhas rotinas. E agora falta um mês para o Verão, e já estão vinte e oito graus lá fora e eu desejo levar o Vicente à praia. Portanto, estou a tentar mudar - hey, baby steps agora para depois dar o salto que falta. Nada de pão, muita salada, nada de fritos, fruta quanto baste e, terminado o mês de Maio, o regresso às corridas na Estrela.

É verdade que não fiquei com mais vinte ou trinta quilos, como muita mulher por aí. Mas também é verdade que não são as quantidades que determinam a forma como nos relacionamos com o nosso corpo: há quem morra de desgosto por ter apenas um quilo a mais. Eu não sei ainda muito bem como mas vou arregaçar as mangas e vestir qualquer coisa mais confortável porque há por aí muito vestidinho mesmo fofo a chamar por mim. É fechar a boca e dar corda aos sapatos.

maio 08, 2011


Ultimamente tem sido assim: uma peça de teatro ou uma noite de concerto só a dois; a procura dos sinais da Primavera pelo campo e pela beira das estradas; uma casa com muitas tabancas de fruta e carne num bairro improvável; alguns passeios à beira Tejo, saboreando a ventania que se faz sentir, depois de uma exposição de fotografia a três. Há momentos em que as coisas são simples e não é preciso grande coisa para respirar fundo e estar tranquila. Depois, podemos voltar aos sonos difíceis, aos dentes que não rompem, aos dias de trabalho em toda (toda, toda) a gente tira o dia para nos chatear. Equilíbrio delicado...

maio 05, 2011

É hoje


Um homem sobe por um trilho íngreme ladeado por flores de pétala amarelas. Está muito vento, tanto vento que o farol parece vergar-se por momentos, cortando o caminho ao homem que avança sem hesitar. Fuma um cigarro que enrolou antes de se fazer ao caminho, sabendo que o teria que acender uma e outra vez, cobrindo-o com as suas mãos ossudas. Um homem, que também poderia ser uma mulher, dá passos confiantes, alheio a papéis, telefonemas e contas, alheio a deveres, tempestades e notícias. Vai imerso em si mesmo, inspirando fundo o vento que parece abraçar toda a pequena ilha. Um homem avança destemido e vai juntando dentro de si as peças de uma harmonia que só ele conhece. É hoje que vou voltar a vê-lo. Tantas noites passei a ouvir a sua música, sem nunca conseguir dormir. Tantas vezes acordei e era sempre dele a música que tinha na cabeça. É dele a banda sonora da minha ilha, este lugar imaginário onde me escondo do Mundo. É hoje.

maio 03, 2011

Um recado

Recebi hoje uma mensagem (muito simpática e elogiosa, mesmo) em que a pessoa escrevia que o meu blogue tinha perdido o "encanto existencial de outros tempos", estando agora completamente imerso na maternidade. Sem saber, esta pessoa fez-me corar, fez-me pensar e fez, acima de tudo, com que eu olhasse de frente para o que já há mais de um ano vem acontecendo por aqui.

No dia em que descobri que estava grávida, houve inconscientemente uma mudança em mim. A ideia de ir gerar vida, as preocupações naturais da gravidez, os desconfortos habituais da gravidez (e foram muitos) fizeram que deixasse de olhar tanto para o meu umbigo e passasse a pensar mais na vida que aí vinha. Estava, como todas as grávidas (acho eu), maravilhada com a sensação única de carregar um ser dentro de mim, de o ver desenvolver e tentando construir uma imagem do filho que gostaria de ter. Depois do bebé nascer, as coisas mudaram novamente: foram demasiadas noites mal dormidas, cólicas e demais trapalhadas que fazem parte dessa actividade estranha e maravilhosa que é ser Mãe. Faltou-me sempre muito tempo, embora estivesse em casa durante cinco meses, para me aventurar lá fora. E depois chegou o emprego novo, que a juntar à nova condição de progenitora, contribuiu ainda mais para que me sobrasse pouco tempo e paciência para escrever. E chegámos aqui, em que tenho um post sobre o dia da Mãe para escrever mas não encontro tempo nem vontade de o passar à prática.

Tudo isto não significa que me esteja a desculpar por ter deixado a maternidade invadir este espaço: era inevitável que isso viesse a ocupar um grande espaço na minha cabeça. Mas a verdade é que eu nunca quis que este blog se tornasse num dos tão criticados baby blogs, onde só as gracinhas e os cocozinhos do bebé têm graça. Eu sempre quis continuar no mesmo ritmo, no mesmo registo mas o problema é que eu ainda não consegui encontrar o meu espaço no meio de uma relação a três. Ainda me deixo absorver demasiado pelas exigências que acarreta o facto de eu ser uma mãe trabalhadora e não fui capaz de me reconciliar com a forma como antes via e escrevia o Mundo. É verdade que hoje sou ainda muito Mãe e menos Mulher e a responsabilidade é minha, que ainda não consegui encontrar o equilíbrio de que tanto sinto falta. E já uma vez aqui escrevi que sabia que ia perdendo leitores mas que pensei que talvez fosse esse o curso natural das coisas.

Não gosto de fazer promessas mas gostava de conseguir separar as águas e olhar outra vez o Mundo como antes. Só que a maternidade é um acontecimento tão brutalmente fracturante que não sei se um dia conseguirei voltar. Gostava de ser Mulher e Mãe à vez, para não confundir as matérias mas ainda não sou capaz. O dia há-de chegar, eu espero por ele.