fevereiro 25, 2005

A carta (reflexão tardia)
Não sou filiada em nenhum partido. Não simpatizo especialmente com nenhum dos dirigentes partidários em funções. Votei no último domingo, infelizmente muito pouco consciente porque estava ausente do país aquando da dissolução do Parlamento ou da campanha eleitoral. Votei na mesma linha de eleições anteriores, depois de ouvir lamentos de familiares e amigos sobre a pobreza da já referida campanha. Mas votei.
Hoje, um dia após José Sócrates ser indigitado Primeiro Ministro, abro a minha caixa do correio e encontro uma daquelas cartas, uma das estratégias eleitorais mais usadas este ano (e que supostamente devemos fingir que é dedicada especialmente a nós...). Uma carta tardia, diria eu (e repararam vocês). "Escrita" pelo candidato Pedro Santana Lopes, não seria estranha, se não fosse o discurso lamechas, a roçar o patético.
Passo a citar: "Tenho defeitos como todos os seres humanos, mas conhece algum político em Portugal que eles tratem tão mal como a mim?". Fim de citação.
Fiquei estupefacta, ri-me. Em que medida, exactamente, é que esta pergunta vai levar um eleitor às urnas? De que forma se pensa convencer um leitor a votar? O apelo à compaixão é agora uma importante ferramenta eleitoral? Onde está o programa eleitoral, as propostas concretas (ainda que raramente postas em prática)?
Bem sei que a campanha destas eleições não foi feliz por parte de quaisquer forças partidárias mas este foi o exemplo mais concreto que me chegou às mãos. Quando Pedro Santana Lopes termina a carta com "É um favor que lhe peço!", eu assusto-me e penso "Não posso envolver-me com este senhor ou um dia ele acusa-me de lhe ter dado uma facada nas costas...".



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