Finalmente é Natal. Não sei o que me deu este ano mas acho que estou contente por ser Natal. Lembrei-me daquele Natal em que revolvemos os papéis dos embrulhos e as caixas à procura de um envelope com uma nota de 500 paus que alguém tinha perdido. Ou de como, em todos os Natais, a minha tia Isaura contava sempre - mas sempre - a mesma anedota (imaginem algo que envolva um cagalhão no esgoto e a estrela de cinema Gina Lolobrigida ou lá como se escreve). Lembro-me do jantar de Natal em que, na sala fria da minha avó, essa escolha tão invulgar, assistimos angustiados ao fuzilamento de Ceausescu na televisão. E houve aquela noite em que todos acabaram a chorar, tudo culpa do mal que o ex-marido da minha tia lhe tinha feito e eu sem perceber bem o que estava a acontecer.
Hoje a mesa já não é tão comprida. Somos só 8 (digo só mas sei como sou afortunada por ter comigo todos os meus avós), já não se contam anedotas mas fala-se inevitavelmente dos que morreram ontem ou daqueles que estão para morrer. Os meus avós dormitam na sala, um deles não fala porque a língua se enrola demasiado. O bacalhau é o mesmo, a alhada continua a ser servida e há cacau quente depois de abrirmos as prendas - a hora de abertura varia conforme a disposição dos velhotes para se manterem acordados. De novo só existe um Franchicola, que deixou de ser vizinho do lado mas continua a alegrar a malta com aqueles olhões castanhos.
Este ano acabaram as férias de Natal e, pela primeira vez, tive saudades das duas semanas absolutamente secantes, em que se fazia sempre o mesmo: nada durante o dia e combinar a passagem de ano à noite. Este ano só tenho os dois dias da praxe e queria que eles esticassem até mais não dar. A magia do Natal promete voltar, pelo menos para mim.
Feliz Natal :)
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