“I had a secret meeting in the basement of my brain”, The National
Talvez tenha sido assim que me senti quando saí do cinema depois de ver El cielo gira, documentário de Mercedes Alvarez. Bem sei que não tenho nem perto de 60 anos e que não nasci numa aldeia no meio do nada (para falar a verdade, nasci numa cidade no meio do nada, essa é a única diferença.). Mas a inevitabilidade do esquecimento, que rodeava aquelas 14 pessoas sem que elas se sentissem derrotadas, foi uma das coisas mais desarmantes que vi nos últimos tempos.
Quanto mais o filme avançava, mais revia a minha visão nos olhos da realizadora: aquela aldeia está condenada mas um dia sentiu-se por ali a esperança da prosperidade, a força para fazer um futuro. A aldeia do passado era a minha infância: aquele tempo em que achava que as coisas só podiam melhorar, não existia qualquer outra hipótese. Era aquele o mundo que importava, era o único que conhecíamos. E depois começámos a subir a encosta (belíssima metáfora no final do filme) e de repente percebemos que, a partir de agora, é subir até mais não podermos, sem sequer olhar para o que deixámos para trás - o que interessa (o quê?) estará sempre no estreito mais inclinado da encosta.
As palavras daquela gente chegaram até mim na boca do meu avô. Eu olhava para o ecran e era ele que eu via. Porque ele já não fala mas quando falava era assim: sem pressa, com a sabedoria de quem passa os dias embrenhado no trabalho mas sabendo que Ela um dia há-de vir. Agora o meu avô pensa n´Ela todos os dias, espera por ela porque não lhe resta mais nada. Não consegue atender um telefone, não consegue cumprimentar um amigo e voltou a ter a vergonha de quem tem 10 anos e fez uma asneira. É preciso ter coragem para aceitar a vida como aquela gente o faz: com gratidão, com calma e com a certeza que se viveu tudo o que havia para viver. Não sei se alguma vez chegarei a ser uma velha assim.
Talvez tenha sido assim que me senti quando saí do cinema depois de ver El cielo gira, documentário de Mercedes Alvarez. Bem sei que não tenho nem perto de 60 anos e que não nasci numa aldeia no meio do nada (para falar a verdade, nasci numa cidade no meio do nada, essa é a única diferença.). Mas a inevitabilidade do esquecimento, que rodeava aquelas 14 pessoas sem que elas se sentissem derrotadas, foi uma das coisas mais desarmantes que vi nos últimos tempos.
Quanto mais o filme avançava, mais revia a minha visão nos olhos da realizadora: aquela aldeia está condenada mas um dia sentiu-se por ali a esperança da prosperidade, a força para fazer um futuro. A aldeia do passado era a minha infância: aquele tempo em que achava que as coisas só podiam melhorar, não existia qualquer outra hipótese. Era aquele o mundo que importava, era o único que conhecíamos. E depois começámos a subir a encosta (belíssima metáfora no final do filme) e de repente percebemos que, a partir de agora, é subir até mais não podermos, sem sequer olhar para o que deixámos para trás - o que interessa (o quê?) estará sempre no estreito mais inclinado da encosta.
As palavras daquela gente chegaram até mim na boca do meu avô. Eu olhava para o ecran e era ele que eu via. Porque ele já não fala mas quando falava era assim: sem pressa, com a sabedoria de quem passa os dias embrenhado no trabalho mas sabendo que Ela um dia há-de vir. Agora o meu avô pensa n´Ela todos os dias, espera por ela porque não lhe resta mais nada. Não consegue atender um telefone, não consegue cumprimentar um amigo e voltou a ter a vergonha de quem tem 10 anos e fez uma asneira. É preciso ter coragem para aceitar a vida como aquela gente o faz: com gratidão, com calma e com a certeza que se viveu tudo o que havia para viver. Não sei se alguma vez chegarei a ser uma velha assim.
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