maio 04, 2012

Lisbonne, tu me manques...


Que saudades. Quem me dera que, ao abrir esta enorme janela no quarto, pudesse olhar para o Tejo em vez dos telhados vizinhos e do arvoredo já ali. Que saudades tenho de Lisboa, tão imperfeita nas suas colinas, abençoada pelas longas horas de Sol. Sairia de casa agora e subiria as escadas a correr a tempo de apanhar o eléctrico. Desceria a calçada da Estrela entre turistas nórdicos e as velhas que moram ali no Poço dos Negros, bem agarrada à mala para fintar os carteiristas. Antes de chegar ao Calhariz, havia de agradecer termos vistas como na rua da Bica, o rio impondo-se atrás do elevador espelhado. E depois teria pena de tanta sujidade, tanta nódoa na beleza desta minha cidade, tantos pombos desfazendo estátuas e beirais, o Camões já cheio de vida a esta hora da manhã. Tenho muitas, muitas saudades de andar a pé em Campo de Ourique, dos nossos vizinhos dos cafés, do miradouro da senhora do Monte, das tardes em Belém, de me perder na Ajuda. Tenho saudades de uma manta estendida na relva da Estrela, do mau serviço na esplanada, dos miúdos todos iguais a saírem do Pedro Nunes. É que hoje espreitei à janela, os raios de Sol a alternarem com as nuvens escuras e senti assim um apertozinho no peito. Que vontade de chegar a Santa Luzia e ficar a olhar o rio estender-se até à margem Sul, olhar os pinhais, as fábricas provavelmente já abandonadas, os pequenos barcos de pesca, confundir-me com os turistas. Tenho saudades da música de Lisboa, das paragens da Carris onde cada minuto dura uma eternidade, tenho saudades da ponte 25 de Abril e do miradouro no largo das Necessidades, da briga pelos melhores pastéis de nata. E por isso ouço canções que me falam de Lisboa sem serem preciso palavras, escolhi canções portuguesas mas acima de tudo lisboetas, que é assim que eu as ouço. E durante mais um tempo vou dar-me a esse luxo que é recordar as coisas boas da minha cidade, imaginando que faço a pé o caminho entre a Estrela e o Rato. E páro mesmo, mesmo antes da lágrima chegar.

4 comentários:

Nuno Guronsan disse...

Quando acontecem aqueles momentos em que as saudades batem mais forte, a mínima coisa pode deixar-nos à beira das lágrimas. Felizmente, para gente forte (como tu), é apenas um momento, e depois segue-se em frente, e ouve-se a mesma música com a certeza de que as forças vão sair renovadas e prontas para um novo dia. Força, M.!

E esses senhores conseguem "pintar" em sons toda a nossa portugalidade. Mesmo quando estão nuvens negras sobre Lisboa, como é o caso de hoje. Negras metafóricas e reais ;)

Beijocas!

Dalma disse...

Querida, como te compreendo! Eu quando no 20ºandar via ao fundo o rio ST.Laurent sentia uma nostalgia imensa do nosso Tejo, tão grande, tão largo e quase sempre tão sereno... Não te digo que isso passa, mas atenua-se!
a tua professora

Helena Barreta disse...

As saudades são tramadas.

Um beijinho

Katy disse...

quando estamos longe sentimos saudades dos mínimos detalhes.. Adorei este teu texto, sinto tudo tal com dizes.. que vontade de abraçar a nossa Lisboa a partir da Esplanada da Graça .. e ela lá tão longe.

Beijinhos