Ver isto hoje foi fatal: lembrou-me que, mais do que saudades da minha barriga e dos nove delicados meses da gravidez, eu tenho saudades do meu filho recém-nascido. E ver isto também me fez descer à realidade e voltar a uma certeza já antiga: não há espaço para erros nas relações com um filho. Não há começar de novo, não há corrigir e emendar as falhas, o que fizermos hoje ficará para sempre na vida deles sem que possamos voltar atrás. Isto não é uma experiência, é uma vida que se tem entre mãos (e braços e peito e pensamento a toda a hora), é o nosso maior feito e também o que mais facilmente nos desarma, é o que nos dá a esperança de um mundo melhor e o que nos faz temer por esse futuro que teima em não chegar. Eu gostava de poder voltar atrás e não perder tempo com pormenores enquanto amamentava o meu filho. Gostava de não ter sofrido por antecipação, gostava de nunca ter estado exausta, gostava de poder ter sido inteira em todos os dias da sua curta vida. Gostava de não odiar secretamente as histórias de bebés perfeitos e mães sempre impecáveis e noites sempre bem dormidas, gostava de ter confiado mais na minha intuição e menos nos livros e nos testemunhos de gente que nem conheço, gostava de ler lido menos e experimentado mais. Gostava de ter aceite mais o filho que me calhou em sorte, perceber desde a primeira hora que ele é diferente dos outros, nem melhor, nem pior, apenas o milagre espantoso que eu gerei com outra pessoa. É claro que tenho a vida toda para ser a mãe que ele merece mas todos estes dias para trás, todas as tardes em que caí um pouco de cansaço, todas as noites em que senti o terror de não poder dormir, todas as vezes em que pensei que me tinha calhado uma criança difícil - nada nem ninguém poderá apagar o tempo que não passei a apenas cuidar dele, nada me fará esquecer os momentos em que não confiei que saberíamos o que fazer.
E lembro-me dos primeiros dias, aterrorizada com a avalanche de sentimentos e esmagada pelos medos irracionais, em que não lhe dei banho com medo de o deixar escorregar na banheira. E agora vi isto e desejei, mais do que nunca, que o tempo voltasse atrás e eu pudesse conhecer e transmitir toda esta tranquilidade. Aprendi, é verdade, mas aquele recém-nascido indefeso e desconhecido já ficou para trás. Quase nunca há uma segunda oportunidade.