abril 23, 2014

Sobre o auto-conhecimento


Eu gostava de ter uma nota de quinhentos euros por todas as pessoas que acham que eu sou uma pessoa forte e assertiva. Também por todos os que me acham decidida e ainda pelos que pensam que nunca vacilo, seja em que for. E gostava de saber ainda onde vão as pessoas buscar a ideia de que sou capaz de grandes feitos. Sinto-me lisonjeada com esta imagem que algumas pessoas têm de mim, a sério que sinto. Tenho a certeza que outras pessoas terão impressões menos positivas, também elas fundadas talvez apenas em impressões, mas essas não mas costumam transmitir directamente.

Muitas vezes sinto uma diferença abismal entre o que as pessoas pensam que sou e, acima de tudo, que consigo e aquilo que realmente tenho em mim. Não se enganem: não me considero totalmente inútil ou de fraco carácter mas a minha postura é quase sempre a realista em vez da optimista. Tenho pensado tanto, tanto nisto e gostava de sentir a mesma inspiração que pareço exalar. Gostava de acordar todos os dias, olhar-me no espelho e perguntar o que vou conquistar hoje em vez de perguntar quando conseguirei fazer alguma coisa de que realmente me orgulhe (filhos à parte). Tenho-me debatido interiormente com esta diferença aparentemente irreconciliável entre o que os outros me acham capaz e aquilo que eu sinto que consigo fazer. São dois mundos tão distantes! Contradizem-se, apontam em direcções totalmente opostas, fazem-me duvidar de mim. Posso eu ter uma auto-imagem tão debilitada que me torne totalmente cega ao que sou capaz de fazer? Podem os outros ser enganados por um escudo de defesa que ergui sei lá quando e que me tornou dura, talvez?

A verdade é que espero que um milagre volte o meu mundo de pernas para o ar, ao mesmo tempo que sei que isso nunca vai acontecer: os milagres fazemo-los nós. E posso eu deixar de ser a pessoa que penso que sou e passar a ser a pessoa que pensam que eu sou? Falta-me a coragem. Falta-me o conhecimento. Falta-me o risco. Faltam-me os meios. Sobra-me a vontade. Sobram-me os medos e as ansiedades. Falta-me a direcção. Reconheço nos outros a determinação que nunca soube onde encontrar porque nunca a achei possível.

Eu sei que não sou tão frágil e incapaz como eu penso, nem tão poderosa e decidida como posso parecer. Encontro-me no centro e é assim cada vez que penso mais e mais nisso. Custa-me estar a chegar aos trinta e cinco anos sem ter cumprido uma vocação que sinto, um aperto no estômago, uma ânsia difícil de descrever e ainda mais de concretizar, cumprindo uma existência previsível, ordenada e banal. Custa-me sentir que estar profissionalmente bem não é estar profissionalmente feliz. Custa-me não aceitar cegamente que é assim que vai ser mas também não ser capaz de desafiar os planos que eu mesma vou fazendo para mim. Mas já estive mais longe, muito mais longe. Houve tempos em que não questionei nada. Houve tempos em que não sabia escutar este desafio interior. Estou mais perto e esta visão de uma mulher capaz de coisas, com pleno controlo sobre o seu tempo e as suas forças ajuda-me a progredir. É muito bom saber que, além das pessoas que provavelmente têm uma impressão negativa do que sou e do que sou capaz, se encontram pessoas que acreditam quase cega e totalmente em mim. A bola está agora no meu campo.

1 comentário:

M de M disse...

talvez não to tenha nunca dito com todas as letras, mas realmente ás vezes, baralhas-me...

Um beijo enorme, desta que também é aquilo que não é , mas que pensa ser aquilo que se calhar nem é ;-)