julho 02, 2015

Questões existenciais

Foi ontem depois do jantar. Eu tinha ido deitar a miúda no nosso quarto e ainda havia muita luz. Ele veio a correr e deitou-se na nossa cama, ao meu lado.

Começou uma série de perguntas sobre o crescimento dos avós, até que chegámo ao ponto em que notou que lhe falta conhecer uma avó, que infelizmente partiu mais cedo. O diálogo que se seguiu foi mais ou menos assim:

Ele: Então e onde está a mãe do pai?
Eu: A mãe do pai morreu, querido.
Ele: (ficou pensativo durante uns instantes) Então mas as pessoas morrem?
Eu: (da maneira mais calma e ponderada que pude) Sim, todas as pessoas morrem. Normalmente ficam velhinhas e é aí que acontece.
Ele: Então mas e tu estás a morrer?!
Eu: Não, querido, ainda não! Ainda falta muito para isso.
Ele: Mas mãe, eu não quero ficar velhinho e morrer!
Eu: É o curso normal das coisas, querido. Mas não te preocupes nem penses nisso agora, és muito pequenino.

Provavelmente não é assim que a pedagogia diz que se deve abordar o tema mas foi a melhor maneira que arranjei para falar sobre isto, especialmente porque fui apanhada de surpresa. Não queria falar-lhe da ideia de Céu: apesar de achar a ideia de ter alguém lá em cima muito reconfortante, não queria entrar na perspectiva religiosa da coisa.

Suponho que a partir de agora estas questões vão suceder-se de mesma maneira imprevisível e inocente. É tão difícil explicar-lhe alguns conceitos mas para mim só faz sentido aproximar-me o mais possível da realidade, mesmo que isso possa significar uma história menos cor de rosa. Não quero que ele viva numa redoma mas também não faço tenções de lhe mostrar já como pode ser cruel o mundo. Para isso, ele ainda tem muito tempo. Ainda eu me queixava dos tempos de bebé - os verdadeiros desafios começam agora.

1 comentário:

Dalma disse...

Querida, mais perguntas virão e ás vezes difíceis de responder quando desprevenidas. Às vezes formulam "desejos" impossíveis de concretizar, tal como o do meu neto N aí pelos 3anos: mamã, eu queria morrer para depois nascer da tua barriga! O N foi adotado pela minha filha qd tinha um ano de idade!