setembro 14, 2015

Um adeus tardio



Foram quase dois meses de Sol e céu daquele azul único. Quase dois meses que acabaram na passada Sexta e que vão deixar imensas saudades.

Eu ia com o intuito de descansar muito. Tinha-o prometido a mim mesma, devia-o a mim e aos miúdos mas eles precisaram de mim mais do que esperava e há coisas que só uma mãe pode resolver. Eu ia a pensar que ia ter tempo, que ia ter silêncio mas foram poucas as vezes que consegui um pouco dessas coisas, verdadeiros luxos quando se é mãe de dois.

Visitas fiz muito poucas. Como o verdadeiro bicho do mato que sou, a ideia não era ser social: era respirar um pouco, era poder ter tempo para não ser mãe enquanto espreitava os miúdos mesmo ao lado. Mas até as poucas visitas e os encontros mais curtos me fizeram bem e me distraíram, que era tudo o que podia pedir.

Os meus pais foram tudo. Perdoaram as impertinências do mais velho e ampararam-lhe as birras; brincaram, jogaram dominó e Uno com ele, compraram-lhe gelatina e levaram-no ao parque inúmeras vezes; deitaram-no e tentaram não ceder aos seus caprichos. Encheram-me a pequena também de amor: acalmaram os seus sonos difíceis, roubaram-lhe sorrisos todas as manhãs, deliciaram-se com os banhos dela. Deram aos nossos filhos todo o mimo permitido aos avós mas elevado ao quadrado para compensar a distância. Fizeram de tudo para que eu descansasse, desligasse um pouco e só não tiveram mais sucesso porque a biologia é mais forte e eu não consigo desligar dos meus filhos.

Fiz os passeios que o meu coração pedia quase sempre em silêncio. Revolvi memórias e dores de crescimento, constatei mais uma vez como seria doloroso e, ao mesmo tempo, gratificante viver na cidade que me viu nascer. Só que eu, é sabido, nunca poderia ficar. É e foi sempre mais forte do que eu. No final, tinha saudades da minha casa, de estar noutro lugar, de ser apenas mais uma estranha.

Doeu regressar, depois de ser tão agraciada com o amor incondicional da minha família, também estendido aos meus filhos. Custou ver o mais velho a chorar porque não queria sair dali nunca. Custou deixar para trás o Sol e o azul para fazer o caminho de regresso à chuva e ao frio. Mas era uma viagem necessária, como era necessário que os meus filhos estivessem novamente com o pai.

Acabaram as férias e voltámos ao silêncio, à ordem, à disciplina e às nossas coisas. É o mal de não pertencermos verdadeiramente a nenhum sítio: queremos simultaneamente ficar e voltar. Sempre até à próxima vez.

2 comentários:

M de M disse...

tenho verdadeiramente pena que não dê para tudo. Mas parece que aqui ou acolá é só mais uma das muitas "desculpas" que vamos encontrando para conseguirmos sobreviver ao dia-a-dia. Que a dada altura é só o que mais precisamos. Bom regresso e até já
*

Dalma disse...

Querida, coragem, aos poucos irás aceitando e vendo as vantagens do lugar que escolheste para viveres e trabalhares. Portugal e o Alentejo estarão cá sempre para te receber. Mt bjis