Foi há exactamente seis anos que soubemos que podíamos finalmente viver juntos. Não tinha ainda passado um ano desde o começo do nosso namoro mas tinha sido tempo suficiente para sabermos que não era vida namorar assim. Foram muitas horas passadas ao telefone, muitas sms trocadas durante o dia e durante a noite, muitas viagens para cá e para lá, muitas saudades e corações pequeninos sempre que a distância passava a duzentos e doze quilómetros. Namorar à distância pode ter piada ou fazer algum sentido quando somos adolescentes ou quando não podemos escolher mas torna-se numa tortura quando já somos adultos, responsáveis pela nossa vida e simplesmente não podemos mudar. Tudo se resolve, encarregou-se a vida de me ensinar, e no dia um de Fevereiro de dois mil e dez chorámos ao telefone por saber que a distância ia ter finalmente um fim.
Curiosamente, foi também neste dia que, há quatro anos atrás, soubemos que ia terminar outra distância, esta com mais de dois mil quilómetros de extensão. Ele a dormir num hostel como um adolescente, eu regressada a casa dos meus pais mas já com um filho nos braços. A procura tinha finalmente dado resultados e havia uma casa para os três. Fim às noites a partilhar um quarto com estranhos, fim aos serões a fugir do taxista psicótico, fim às chamadas com um bebé que não percebia que o pai estava longe, fim da incerteza. O dia um de Fevereiro tem tanta importância para mim, para nós como família!
Não posso dizer que a nossa vida a dois tem sido um mar de rosas, que não tem. E acho que nunca pensei que fosse uma das partes da minha vida em que mais tivesse de investir, em que mais precisasse de me adaptar. Vivi sozinha durante os anos suficientes para apreciar algum silêncio, para gostar do meu espaço, para esperar ter as coisas à minha maneira. Aprendi a desentupir o lavatório, a abrir garrafas de vinho, entrei em casa pela janela das traseiras quando fiquei sem chaves. Eu chegava-me e era tudo, nessa época em que pensava que estaria para sempre sozinha. E depois entra-me ele pela vida dentro, com a sua ordem e o seu feitio, com uns braços que parecem intermináveis quando me tenta proteger. Ainda luto contra isso porque me programei para me proteger a mim mesma. Ainda o empurro quando me tenta amparar as quedas porque o meu orgulho está acima da minha necessidade de protecção.
Mas há seis anos que partilhamos o mesmo espaço, mesmo depois do cepticismo de alguns, mesmo depois das cambalhotas que a vida nos fez dar. Eu cá acho que a tendência agora é simplesmente melhorar: somos uma equipa a funcionar bem mas ainda nos falta encontrar aquilo que nos tornará numa máquina. E ainda se aprende mas mal seria se já tudo estivesse sabido...
1 comentário:
Up with you, both!
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